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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

OLHANDO ATRAVÉS DA JANELA - Leon Vagliengo

 


OLHANDO ATRAVÉS DA JANELA

Leon Vagliengo

Uma crônica do estágio urbano crônico.


A tarefa parecia simples: fotografar a paisagem através de uma janela de meu apartamento e depois escrever um texto sobre as imagens observadas. Essa proposta me fez lembrar que escolhi morar em andar alto justamente buscando uma visão panorâmica privilegiada, mas também me fez realizar que havia muito tempo, muito tempo mesmo, que eu não me detinha para apreciar a vista pelas janelas.

Para a escolha das imagens eu tinha quatro alternativas, uma para cada lado do prédio. Escolhi a que me pareceu mais promissora, uma janela voltada para o Parque do Ibirapuera, levantei a persiana e abri os vidros, preparando-me para me encantar com o que veria.

Não foi o que aconteceu.

Fiquei decepcionado ao constatar o que eu já deveria ter imaginado: No espaço onde a paisagem outrora oferecia boa amplitude e alguma vegetação, vê-se agora a prevalência quase absoluta do concreto, amontoado na forma de prédios de moradia. Nenhuma passagem visual para o Parque do Ibirapuera, como havia antes. No começo da Rua Tuim, há, sim, várias árvores. Vistas de cima, parecem um pequeno bosque. Porém, estão sufocadas pelos prédios, e parecem estar em plena e renhida batalha contra eles. Uma imagem muito estranha, provocando até, no observador, certo desconforto estético, se é que se pode dizer assim.

Tentei as outras janelas, não encontrei nada melhor em nenhuma delas, todas as paisagens com horizontes limitados pelos prédios. Voltei então para a primeira escolhida, pois a tarefa mal fora iniciada, e capturei a imagem.

A seguir, observando a foto, nela procurei alguma inspiração que alimentasse o pretendido texto. Mas o meu pensamento recusava-se a produzir ideias interessantes.

Resolvi suspender essa tarefa para aguardar um momento de maior inspiração e aproveitei para sair em busca de um presentinho para a fisioterapeuta que tem me atendido, pois ela anunciou que está esperando o seu primeiro bebê.

Andando pelas ruas de Moema, tranquilas e bem arborizadas, diluiu-se completamente aquela má impressão causada pelas imagens vistas das janelas. As ruas boas para passeios, o comércio variado e de boa qualidade, os bons restaurantes, a proximidade do Parque, tudo isso compondo um ótimo bairro para residir. Assim deveriam ser todos.

Voltando para casa examinei novamente a foto que não pode captar a antiga paisagem, prejudicada que fora pela barreira de concreto formada pelos prédios. Logo pensei nas vantagens oferecidas pelo bairro e me veio à mente o conhecido dito popular: “tudo tem o seu preço”.

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