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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Rumo a Veneza - Alberto Landi



Rumo a Veneza - Alberto Landi


Saí do hotel de Florença, me dirigi a passos lentos para a Estação Santa Maria Novella, para apanhar um dos primeiros trens rumo ao norte, na cidade de Veneza.

Contando com um pouco de sorte, consegui apanhar o das 7.30 am.

O sol começava a despontar em toda região da Toscana, refletindo no teto lustroso do trem. No percurso, traçava um gracioso arco ao longo da zona rural.

Aproximadamente 2 horas após, cheguei à Estação ferroviária de Santa Lucia, com diversas paragens curtas.

A estação é uma construção baixa, elegante, de pedras cinzentas e concreto.  Foi projetada em estilo bem moderno, com a fachada graciosamente desprovida de qualquer sinalização, exceto por um único símbolo “FS- Ferrovia Dello Stato”.  A sigla fica no meio de 2 asas, o logotipo do sistema ferroviário italiano.

Nessa estação chegam trens de quase toda a Europa.    Mas o que me chamou muito a atenção quando cheguei, foi a paragem do Expresso do Oriente, todo em preto e dourado. Havia saído de Paris, rumo a Istambul. Lembrando que a escritora Agatha Christie, autora de vários livros, se inspirou no Expresso do Oriente.

A primeira coisa que me chamou a atenção ao desembarcar além do   

Expresso do Oriente, foi o cheiro peculiar, uma mistura de maresia com aroma de pizza, vendida pelos ambulantes em frente ao desembarque.

Devido ao vento que havia, o ar trazia também o cheiro de óleo diesel, da longa fila de táxis aquáticos que aguardava sobre as águas do Grande Canal, com os motores ligados.

Havia desde cedo um engarrafamento flutuante de táxis, gondolas, vaporetto e lanchas particulares. Um verdadeiro caos sobre as águas.

Veneza é um museu ao ar livre, mas que está afundando aos poucos.

Atravessando o canal, há a lendária cúpula de San Simeone. A igreja apresentava uma das arquiteturas mais ecléticas da Europa, seu Duomo mais escarpado do que o habitual e seu santuário circular em estilo bizantino.

O nártex de colunas de mármore era inspirado na entrada grega clássica do Panteão de Roma.

Caminhando em direção a Basílica de San Marco, já próximo ao Mar Adriático, havia navios de cruzeiro, que mais pareciam prédios flutuantes, e a marola que produziam ao passar, faziam as outras embarcações chacoalharem, como se fossem rolhas na agua.

A arquitetura de Veneza lembra um tempo de esplendor e abundancia de seu comércio. Mas o que causou a decadência, do século XIV foram os ratos escondidos nos navios mercantes que levaram a peste mortal da China até a cidade. Na China já havia dizimado 2/3 da sua população e agora já contaminava os portos da Europa. 1 em cada 3 pessoas faleciam.

A fúria da peste era enorme.  Do século XIV ao XVI foram 20 surtos.  Os governantes instituíram um decreto em Veneza, obrigando todas as embarcações que chegassem a ficar ancoradas longe da costa durante 40 dias completos antes de poderem descarregar suas mercadorias.

Essa foi a sombria origem da palavra quarentena.

Enfim sempre os chinos iniciando as epidemias.

 A viagem continua em sua última etapa em Istambul.


UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM - Do Carmo

 

                    

UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM

Do Carmo                                                             

Hoje, exatamente hoje, está completando treze dias que este mal-estar começou. Sempre que acordo, abro as janelas de meu apartamento, porém nunca esse ritual incomodou-me como me perturba agora, pois lá está ele: o grande dinossauro, meio de ébano e meio de marfim; olha-me, mostra-me seus dentes bem enfileirados e retorna a costumeira postura: sentado caprichosamente e com negligência repousa seu vigoroso corpo e lá fica até que outra vez eu abra as janelas para um outro angustiante dia.

Como estou aposentada, procuro manter um planejamento diário diversificado, tenho meu dia movimentado e sem rotinas: ocupo-me muito trabalhando na cozinha, minha tarefa predileta, eu gosto de ser elogiada com os tão famosos UH!!!! VOVÓ, QUE DELÍCIA!  Embora tenha uma excelente ajudante, mais companheira que serviçal, existem coisas que são feitas, exclusivamente por mim. Para essas tarefas eu dedico dois dias alternados da semana e os outros três dias úteis, são para meu deleite – meus cursos de Redação e de Jornalismo na USP e mais dois na Casa das Rosas – Escrevivendo e Estudo sobre obras de Machado de Assis, ficando o final da semana para que eu compartilhe com meus filhos e netos.

Mesmo com toda a azáfama do meu dia a dia, meu cérebro não tem conseguido se desligar da persistente angustia causado por essa visão, que não sei dizer, com segurança, se é real ou apenas fruto de minha imaginação. Mas tenho certeza de que me sinto muito desconfortada e inibida a comprovar sua legitimidade.

Mas hoje, exatamente hoje, décimo terceiro dia, acordo com o toque da campainha do interfone e o porteiro anuncia a presença de um vizinho desejoso em falar comigo e pergunta-me se o deixa subir. Respondo que sim, porém peço que me aguarde por alguns minutos, uma vez que preciso   preparar-me para receber o visitante. Eu estava dormindo quando o interfone tocou. Rapidinho, visto uma roupa caseira e sem maiores esmeros; então, peço ao porteiro, pelo interfone, que o faça subir e como é de meu hábito, abro a porta e fico esperando.

Meu Deus! Quem é que sai do elevador? O dinossauro de ébano e marfim. Sinto uma vertigem, tudo gira ao redor e lentamente com o mais lindo sorriso já visto, aproxima-se e com voz firme, mas envolvente, diz:

      — O seu dinossauro  de ébano e marfim, está aqui.

Com um sobressalto de emoção e coberta de suor frio, acordo realmente, levanto-me e corro até a janela, e para minha mais absoluta frustração, o dinossauro de ébano e marfim, não esta ali.

Tudo não passou de uma mentira, ou fruto de minha imaginação.


O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

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