A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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FERRAMENTAS LITERÁRIAS

quarta-feira, 25 de maio de 2022

A HISTÓRIA DA ESCRITORA SANDRA LEE - Henrique Schnaider

 



A HISTÓRIA DA ESCRITORA SANDRA LEE

Henrique Schnaider

 

Sandra Lee era uma garota típica inglesa. Nasceu numa família de classe média alta e teve uma infância bem assistida pelos pais, que a enchiam de mimos e carinhos. Desde pequena demonstrou interesse pelas histórias que abordavam casos e costumes fantasmagóricos próprios dos ingleses.

Já na adolescência devorava livros sobre castelos e suas histórias recheadas de crimes e suspense, e outros fatos que aconteciam dentro dos enormes aposentos e de seus misteriosos moradores. Sandra começou a ensaiar na carreira de escritora abordando mistérios envolvendo os moradores destes castelos.

Não satisfeita como escritora, desenvolveu-se também como fotógrafa profissionalmente, onde acabou por receber vários prêmios e se tornou, ainda jovem, renomada escritora e fotógrafa unindo de forma genial as duas coisas numa só, já que seus livros eram emoldurados pelas fotos que ela tirava.

Sandra Lee viajava muito dentro do seu País a procura de material para fotos dos castelos e procurando inspiração para escrever novas histórias. Já aos trinta anos era muito admirada e respeitada pelos seus leitores e admiradores dos seus álbuns fotográficos emoldurando seus livros.

Nesta altura da vida já consagrada, surgiu uma oportunidade que seria o sonho da vida da escritora. Uma Empresa fez uma oferta irrecusável para Sandra. Seria a compra do Castelo de Castle Combe localizado a 12 milhas da cidade de Bath, que levava a fama da Vila mais bonita da Inglaterra. É um dos destinos mais bizarros e incomuns do País. Tudo isso por apenas 1 euro.

Porém havia algumas exigências para tomar posse do Castelo, mas que para Sandra seriam fáceis de cumprir todas elas. Teria que morar no Castelo e cuidar da conservação do mesmo, e escrever sua próxima história baseada em Castle Combe e seus antigos personagens.

Realizados todos os trâmites legais, assinados os papéis a escritora que estava passando uma temporada nos EUA, chega ao Aeroporto de Heathrow em Londres. Sandra aluga um carro e se dirige ao Castle Combe.

Guiou o seu Rolls Royce vagarosamente pelas estradas inglesas em um dia ensolarado, tudo num verde luxúria como só os ingleses possuem.

Sandra estava excitadíssima com a nova vida que passaria a levar, vivendo no Castelo, como se estivesse dentro e ao vivo das próprias histórias que escrevia. Já se imaginava convivendo com os fantasmas moradores daquela enorme moradia.

Quando foi chegando já bem próxima do local, pensando no fundador de Castle Comb, Norman Bates, ela sentiu um frio que percorreu toda sua espinha. Recebendo toda a energia do local por todo seu corpo.

Parou em frente ao Castelo, desceu do veículo e ficou por um bom tempo apreciando a beleza do local, e a entrada daquela enorme moradia, que agora lhe pertencia. Teria que cuidar dela, como se cuida de um filho e imaginando quanta inspiração teria para escrever novas histórias.

Ela não podia acreditar que por apenas um euro, adquiriu aquela Edificação!

Abriu os enormes portões com uma chave adequada para o tamanho deles. Assim que teve as portas abertas sentiu algo diferente e o mistério que predominava no interior da casa.

Adentrou ao enorme salão principal, bem conservado e de uma sobriedade digna e cheia de beleza que só os Castelos ingleses possuem. Sandra Lee não conseguia controlar as ideias que pululavam em sua mente efervescente. Pronta para criação de histórias fantásticas, pois estava ali para conviver com os seres que já não eram deste mundo e que habitavam aquele lugar.

Seu novo livro já estava em elaboração mental. Ela sentiu-se emocionada e com lágrimas doces de alegria. A sua próxima história teria tudo a ver com Castle Comb e ela como personagem e protagonista, acompanhada logicamente dos moradores do mundo espiritual que habitavam aquela magnífica Edificação.

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

INTERPRETAÇÕES - Helio Fernando Salema

 


INTERPRETAÇÕES 

Helio Fernando Salema

 

“NÃO HÁ FATOS, APENAS INTERPRETAÇÕES”

Nietzsche (1844-1900)

“A própria frase gera diferentes interpretações e posicionamentos”

 

Meu time precisava vencer para não ser rebaixado. Num lance duvidoso o juiz optou, com a ajuda do auxiliar, por uma decisão que prejudicaria o meu time.

Uma confusão logo se formou, envolvendo jogadores de ambas as equipes e pessoas próximas ao campo.

Os comentaristas se dividiram. Alguns afirmavam que valia a interpretação do árbitro. Outros alegavam que o mesmo estava equivocado. E também aqueles que justificavam, dizendo que a posição em que ele se encontrava, no momento em que ocorreu o episódio, não lhe era favorável.

Mas como árbitro não lhe cabia outra alternativa, tomou a decisão.

Em casa, enquanto aguardávamos com expectativa a informação do VAR, também houve divergências. Revendo o lance inúmeras vezes, também não foi possível afirmar com precisão o que aconteceu. Cada ângulo mostrado, nos dava uma visão ou interpretação diferente, e assim a dúvida persistiu.

Muito tempo depois o VAR alegou que por falta de iluminação adequada não foi possível definir com precisão o fato ocorrido.

No dia seguinte o assunto era bastante comentado, principalmente com a participação de pessoas que estiveram no estádio, aumentando ainda mais a polêmica.

Podemos concluir que divergem profundamente as conclusões sobre o fato…apesar de todos os recursos tecnológicos, das interpretações de quem esteve presente, acrescida dos que assistiram pela televisão.

Restando-nos a incerteza diante de tantas “certezas”.



quarta-feira, 11 de maio de 2022

Ilusão de óptica que mudou minha vida - Alberto Landi


Ilusão de óptica que mudou minha vida

Alberto Landi

 

Era um final de tarde, ainda havia um resto do pôr-do-sol.

Estava no terraço de meu apartamento olhando para uma janela um pouco distante da minha, e havia uma mulher que parecia estar dividida ao meio por uma vidraça.

Meus olhos não se enganam, não é ilusão de ótica ou vidro defeituoso.

Na primeira metade superior é uma mulher de cabelos super curtos, pretos, nariz afilado, olhos claros, pequenos e redondos e todo o seu rosto se afinava em direção à ponta do queixo. O seu olha, daqueles que parecem observar de tudo.

Na minha visão, a janela é relevante nesta história!

Ela é esverdeada escura, multicolorida, sabe, aquelas em que as mãos e o pano de uma faxineira deixam marcas, desenhos e contornos, faz até um arco-íris no vidro?

Não tem divisão, é uma peça única.

Ela está lá, em pé, me olhando. Difícil imaginar que há uma pessoa dividida ao meio pelo vidro.

Sua segunda metade se mostra forte, vigorosa e ardente.

A dupla metade que faz um inteiro.

Continua me fitando, seu olhar penetrante vem em minha direção através do vidro que recebe os últimos raios solares, fazendo um bom reflexo. Nossos olhares se encontram como se fosse uma representação estática de uma película de cinema.

Cortada ao meio continua naquele lugar. Nem quebrando o vidro, ou estilhaçando não vai deixar de estar lá, estará ainda, nos mil pedaços, todos divididos ao meio pela vidraça.

É impressionante a interpretação do que vemos no mundo exterior.

Já se descobriram mais de 30 áreas diferentes no cérebro usadas para o processamento da visão.

Umas parecem corresponder ao movimento, outras a cor, outras a profundidade.

E o nosso sistema visual e o nosso cérebro tornam as coisas mais simples do que aquilo que elas são na realidade.

E é essa simplificação, que nos permite uma apreensão mais rápida da realidade exterior, que dá origem às ilusões de óptica.

Enfim, essa ilusão me aproximou da mulher que hoje é minha esposa, minha vida, mãe dos meus filhos, meu amor eterno porque nos encontramos no café da esquina e imediatamente nos reconhecemos e daí nunca mais nos sentimos separados por uma janela porque estamos juntos na riqueza e na pobreza...

A dupla metade que faz um inteiro.



 Dica:




VERDADE OU DELÍRIO? - Cida Micossi

 


VERDADE OU DELÍRIO?

Cida Micossi


Lá no alto da serra, onde o ar é fresco e a terra foi fértil, ali, tudo se plantava e tudo se colhia. Eram tempos de crescimento do país, tempos do ouro verde. Hoje, infelizmente, a cana de açúcar tomou conta. O solo, explorado ao extremo, quase nada produz. Resultado do progresso, que utiliza o combustível tão caro nos dias de hoje e que proporciona lucros exorbitantes aos investidores.

A cada vez que visito aquela cidade, sou impelida a ir até a estrada de terra, a estrada velha, como dizem. Circundadas por essa estrada de chão batido, rochas enormes: o extremo da Serra de Borborema. No alto, uma fazenda em pleno progresso, à época. Abaixo, a mata virgem abraça ainda hoje o sopé da serra.

Ali viveram os escravos, tão sofridos, tão injustiçados. Explorados ao extremo, apenas com direito a alimentação e moradia rústica. Quantos acontecimentos esta terra presenciou: com os olhos, com os ouvidos ou com o coração, este o que mais sofria. Escravos eram castigados, torturados e seus gritos ecoavam na imensidão...

Abolida a escravidão, vieram os imigrantes, seus descendentes e outras gerações. Ali viveram experiências diversas, algumas reais, outras talvez imaginadas. Em noites de lua cheia, quando o luar clareava a mata toda, uma dessas imigrantes, mocinha toda cheia de bondade e amor, ouvia gemidos, gritos de horror, o estalar do chicote e o barulho das correntes. Quanta judiação! Quanto sofrimento!

Hoje, quem passa ao redor da montanha, alçando o olhar bem acurado, consegue identificar, entre as ranhuras das rochas, os rostos tatuados pelos gritos de alguns desses seres escravizados, mostrando que o tempo pode passar, mas as marcas ali ficarão para sempre, testemunhas dos horrores a que foram submetidos.

A mocinha de outrora ouvia, e a sonhadora de hoje vê entre as pedras. Será verdade? Será ilusão?

SONHO OU REALIDADE - Henrique Schnaider

 


SONHO OU REALIDADE

Henrique Schnaider

 

Quando eu tinha por volta de 7 ou 8 anos, à noite eu dava muito trabalho aos meus pais. Era medroso ao extremo, chorava muito, tinha pesadelos, tinha que dormir com as empregadas. Na verdade, eu tinha horror quando chegava a hora de dormir.

De dia, aí eu era uma figura oposta. Estava sempre na rua na molecagem, jogo de bola, bolinha de gude jogo de taco com bola ou com graveto. Saiamos dando volta no quarteirão, apertando campainhas e pernas para que te quero.

Dávamos muito trabalho para nossas mães. Para parar de brincar e ir almoçar, mas logo em seguida lá estávamos de novo brincando e aprontando. No jantar outra briga com as mães, mas logo em seguida lá estávamos de novo nas brincadeiras.

Depois de tanta estrepolia eu e meu amigo Carlos Azolini, entrávamos na minha casa e íamos para perto da empregada de minha mãe, a Maria, faladeira que ela só. Ela não perdia tempo e já começava a contar histórias, as mais loucas ou assombrosas, de arrepiar os cabelos.

Certa vez disse que estava no quarto acordada, quando viu uma sombra na parede que tinha a figura de um homem. Morrendo de medo levantou-se vagarosamente tremendo de medo e foi mais perto da parede e aí não viu nada e acabou ficando na dúvida se tinha ou não visto aquela sombra, mas por via das dúvidas deitou-se e cobriu a cabeça para dormir.

Eu e meu amigo ficávamos com os olhos arregalados, tremendo de medo, mas a curiosidade era mais forte doque o medo e queríamos continuar ouvindo as histórias da Maria, éramos todo ouvidos, pois ela sabia como ninguém contar histórias que ela jurava que eram verdadeiras.

Terminada a jornada o Carlinhos ia embora e eu apavorado, pois era hora de ir dormir, começava a ver coisas, ouvir barulhos, não conseguia pegar no sono. Achava que tinha alguém no quarto. Começava a chorar e enquanto minha mãe não me deixasse ir dormir no meio dela e do meu pai, eu não sossegava.

Certa noite, já de madrugada e eu me lembro como se fosse hoje, de repente eu acordei e com os olhos arregalados de verdadeiro pavor, vi um casal de noivos girando numa dança misteriosa próximo ao teto do quarto. Ela estava com um buquê de flores e ele todo vestido de terno com fraque e cartola e o perfume da flor dama da noite envolvia todo o quarto. A visão era muito real, tanto que me lembro até hoje dos detalhes da visão fantasmagórica.

Fico analisando o porquê só lembro deste pesadelo, já que eu tive tantos e não me lembro de nada. Só sei que ei dei um tremendo grito apavorado que os meus pais acordaram muito assustados.

Acenderam logo a luz e para minha alegria e tranquilidade não havia mais nada do que eu havia presenciado. Meus pais me deram a maior bronca e não me deixaram mais dormir com eles.

A vida continuou, a molecagem também. A Maria continuou contando as suas histórias e eu continuei enfrentando meus pesadelos. Mas eu posso jurar que eu tive uma visão do mundo fantasma e eu me lembro como ainda fosse hoje.

Igreja de Santo Ignácio de Loyola - Alberto Landi

 


Igreja de Santo Ignácio de Loyola

Alberto Landi

 

Em Roma existem mais de 900 igrejas, uma mais impressionante que a outra, mas essa em especial tem um efeito ótico interessante, se levarmos em conta que foi feito há tanto tempo, em 1626.

Esconde uma ilusão incrível, a chamada cúpula falsa, que funciona da seguinte forma: Perto do altar, procure um círculo no piso de mármore, fique parado bem em cima do círculo e olhe para o alto, para o teto da igreja.

Vai ver uma belíssima cúpula, agora, dê um passo em qualquer direção e veja que a cúpula se deforma diante de seus olhos.

Na verdade, a cúpula não existe! É uma obra de arte, uma pintura em 3 D incrivelmente realística feita pelo pintor, arquiteto jesuíta Andrea Pozzo, um dos principais artistas da arte barroca católica.

Precisa estar exatamente no ponto marcado,  o círculo no piso, de qualquer outro local, nada acontece.

Incrível essa ilusão de ótica!

O MARAVILHOSO PALAZZO SPADA - Alberto Landi

 



O MARAVILHOSO PALAZZO SPADA

Alberto Landi

 

O Palazzo Spada localizado em Roma, tem um local secreto que é mais um efeito ótico que passa despercebido pelas pessoas que visitam.

É chamado de “A falsa perspectiva de Borromini”.

Ele foi um dos grandes arquitetos do barroco romano, além de Bernini e Pietro da Cortona.

Tudo teve inicio no ano de 1632, quando o cardeal Spada adquiriu um palácio, e sentiu falta de algo grandioso e espetacular capaz de deixar qualquer um boquiaberto. Fez a reforma do palácio, ficando com características do estilo barroco.

O arquiteto fez sua mágica, transformando o corredor de 8 metros que dá acesso ao jardim, em um corredor de 37 metros, ou pelo menos aparenta ter, já que é pura ilusão de ótica.

Ele construiu uma sequência de colunas que diminuem de tamanho ao avançarem pelo corredor adentro. O piso também vai se elevando gradativamente e tudo isso cria uma perspectiva falsa que faz com que um corredor de 8 metros pareça ter 37 metros. Utilizou a convergência das paredes laterais, do chão e do teto, criando um efeito similar de um binóculos.

O arquiteto se especializou e se destacou pelo dinamismo e originalidade ao idealizar fachadas e criar novas formas arquitetônicas com deliberada alteração das proporções.

Na parte inferior da galeria, em um jardim iluminado pelo sol, há uma escultura do deus Marte que parece ser de tamanho natural, mas na realidade tem 60 cm.

Ele contou com ajuda de um matemático, Giovanni Maria, para essa perspectiva incrível!

Esse local abriga um museu e há obras do século 16 e 17.

Em 1927 o Estado italiano comprou o palácio com todos os móveis e galeria, atualmente é sede do Conselho de Estado e Galeria Spada.

Em 1990 foi emitida moeda comemorativa de 200 liras representando o palácio. Em 2011 um selo postal de 0,60 euros, homenageia a galeria e as colunas com esse efeito ótico!  

PEDRO, O ESCRITOR POLICIAL - Alberto Landi

 

PEDRO, O ESCRITOR POLICIAL

Alberto Landi

 

Pedro Rosenthal escritor de profissão, sentado em um banco de uma praça próximo a sua casa, foi abordado por três indivíduos, pertencentes a uma quadrilha.

Um deles, pelo celular informa ao mentor do sequestro.

— Nós o pegamos, estava fumando cigarro no jardim da praça. Paramos com um carro roubado, vidros escuros, baixamos só o do motorista e pedimos informações. Ele se aproximou e o capturamos, apontamos uma arma, ele não sabe, mas é de brinquedo.

Pedro escreve romance e conto policial, menciona nomes e detalhes de pistolas e revólveres, é conhecido pelos seus livros de detetives e criminosos, foi ironicamente rendido por uma arma de brinquedo!

Colocado em cativeiro numa sala, ele está sendo forçado a fazer um conto policial e não vai ser libertado até que a família pague o resgate, e que sejam produzidos pelo menos dois contos policiais.

Enquanto isso, uma testemunha liga para família e informa:

Eu vi tudo, sei de tudo! Não paguem nenhum resgate!

O esconderijo onde ele se encontra, fica na periferia, ao lado de um deposito de ferro velho.

Esse grupo, na realidade, é de fãs dele, que tiveram a idéia de praticar esse ato, obrigá-lo a escrever algo bom, porque há muito tempo não escrevia nada, sendo que a última coisa que fez foi uma poesia, nada a ver com o seu perfil.

Os “sequestradores” querem um conto policial com tensão, crimes, submundo. Pensaram que ele tivesse perdido a inspiração ao vender as obras policiais anteriores a produtores de filmes.

O tempo está escasso, o grupo está muito tenso e preocupado pela ação criminosa cometida.

Nos noticiários matutinos em TV e radio, a policia informou que há um retrato falado dos criminosos, mas estes pensam que se trata de uma grande jogada policial para amedrontá-los.

Mal sabe a polícia que são meros leitores de livros policiais e de jornais, conhecem a lógica dos detetives.

A família informa aos criminosos, que não tem dinheiro para o resgate. Além dos romances, contos e poesia, ele é um escritor eclético, não é rico, os livros não dão tanta grana como pensam.

— É impossível que ele tenha torrado todo o dinheiro, pois ele vendeu toda a obra policial, comentava um deles.

Pedro, mal conversava, escrevia um livro a pedido da quadrilha. Ele só permitia ler os contos depois de terminado.

A tensão aumentou, com o decorrer dos dias. O carro usado na captura foi identificado bem como o seu proprietário, para investigações.

Mas o fato é que uma testemunha viu e sabia de todo o plano, pois rejeitou a oferta dos criminosos para participar.

O local foi descoberto, cercada por várias viaturas, sendo todos eles presos, e Pedro libertado.

O autor intelectual do delito confessou, alegando que só queriam ter em sua posse no mínimo um conto policial, produzido em cativeiro e sob estresse, para dar mais emoção.

Tudo isso reaproximou Pedro da ficção policial.

No local do cativeiro foram encontradas anotações, arma de brinquedos, notebook e celulares.

Isso foi uma grande jogada de marketing para o escritor, porem o sequestro realmente ocorreu e os criminosos punidos de acordo com a lei!

Pedro tornou-se famoso e inspirado após o ocorrido, pois sentiu na pele toda tensão e medo de um “real”  sequestro!

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Parece que é...ILUSÃO DE ÓTICA

 

Parece que é...ILUSÃO DE ÓTICA


O QUE VEMOS NESTA IMAGEM?




E nesta figura abaixo: Uma jovem ou uma idosa?





OS PONTOS BRANCOS NO CENTRO DO QUADRADO, PARECEM MUDAR MUDARA A COR CINZA




PAREIDOLIA



E temos outros tipos de ilusões, como aquela quando temos a impressão de ter visto isto, mas na realidade vimos aquilo. Ou quando nos deparamos com uma imagem ambígua, como veremos nos vídeos.




Praça Benedito Calixto. - Do Carmo

 


Praça Benedito Calixto.

Do Carmo


Ao fazer uma revisão em objetos de recordação, há tempos guardados, vi uma fotografia bastante antiga, bem anterior à minha aposentadoria.

Praça Benedito Calixto, sábado à tarde, Feira de Artesanato e Antiguidades.

A praça ainda continua com o comércio nas duas calçadas laterais, o centro muito movimentado aos sábados, com a Feira de Artesanato, que hoje está totalmente diferente da de outrora.

Anos se passaram, tudo mudou, os artesãos expositores são desconhecidos para mim, pois já passarão mais de trinta anos.

Aposentei-me, não mais visitei os artesãos amigos, mas ao ver as fotos, senti-me transportada para o burburinho de muitos sábados passados, até senti o cheirinho gostoso dos doces e salgadinhos, com os quais me deliciava, e não satisfeita, sempre levava para casa uma bandejinha de doces e outra de salgadinhos, para meu jantar de final de semana. Recordei os papos sem compromisso com os artesãos, diferente dos que tínhamos ao entrevistá-los para admissão de aquisição de credencial como Profissional da Arte.

Incrível, eu ficava andando e conversando com os artesãos, anotando as ideias decorrentes do comportamento dos visitantes, desde as nove horas da manhã, até as dezoito horas, quando começava a desmontagem das bancas.

Durante esse período, eu ia duas ou três vezes à Livraria do Alberico Rodrigues, até hoje, somos amigos, para descansar e tomar um delicioso cafezinho, bem como usar o bem higiênico banheiro particular dele.

Mesmo cansando-me horrores, pois nessa época eu era absurdamente obesa, hoje consegui, por conta de uma operação bariátrica, eliminar sessenta e nove quilos, restando ainda, alguns muitos quilinhos. Com minha tenra idade atual, Dr. Malheiros, não aconselha.

Bem, voltando a praça, sinto saudade dos anos, que em todos os sábados, lá estava eu conversando, comprando coisas banais e desnecessárias, comendo tudo o que não devia, exausta, mas imensamente feliz.

Hoje, a Praça Benedito Calixto, só existe para mim em minhas amorosas recordações. Ela continua com seus sábados de festas, mas mesmo sendo muito próxima de meu apartamento, nunca mais a visitei, pois jamais seria para mim, a Amada Feira de Artesanato que, por conta do meu trabalho na SUTACO - "Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades", transformava em festa todos os meus sábados.     



segunda-feira, 2 de maio de 2022

Aqueduto das Águas Livres - Alberto Landi

 




Aqueduto das Águas Livres

Alberto Landi

 

Todos nós sabemos que a água é fundamental para a vida de todos nós.

Atualmente é um ato de irresponsabilidade abrir uma torneira e deixar a água fluir livre ao desperdício.

No passado não foi sempre assim, as águas corriam livres sem nenhum zelo a preservação e estocagem.

Levar água às populações passou a ser uma preocupação contínua. Surgiu a necessidade de uma estrutura na criação de adutoras na captação e no transporte.

O dia 22 de março é o dia mundial da água, o elemento mais importante para o sistema de vida no universo, e que a cada dia se torna mais escasso.

Uma verdadeira obra de engenharia, o Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa, um monumento que vai resistindo ao longo dos séculos, uma arte fantástica, onde as águas correm livres, saciando a população lusitana.

Em 1755, quando um terremoto arrasou grande parte da cidade, a notícia se espalhou rapidamente pela Europa toda, causando uma consternação geral.

Essa tragédia resultou numa intensa produção literária e filosófica.

O que mais se destacou foi Voltaire, gostava de imortalizar os aquedutos através de sua obra literária, e Lisboa tornou-se o destino de muitos escritores que fizeram daquele momento o carro chefe de suas obras e relatos.

Naquele cenário de devastação, há um monumento que se destacou intacto, foi esse Aqueduto. Ganhou notabilidade e é uma das mais magníficas obras de construção moderna na Europa. O sentimento de admiração é algo indescritível, creio que nos falta capacidade para descrever com detalhes.

Autêntica obra de arte se igualando com castelos e palácios, diria que é uma engenharia e arquitetura praticada com verdadeira magia, superando monumentos modernos construídos com recursos tecnológicos da atualidade.

Construído durante o reinado de D. João V para fornecer água a Lisboa, viria a ser terminado em 1744, tendo resistido ao terremoto.

Incluía uma passagem para que os habitantes pudessem atravessar o vale de Alcântara, desde Lisboa até Monsanto, chamado Passeio dos Arcos.

Em 1844 foi fechada essa passagem motivada pela presença de um serial killer, de nome Diogo Alves, natural da região de Galícia. Ele roubava quem passasse e lançava suas vitimas do alto do aqueduto, simulando suicídio.  O bandido do aqueduto como foi chamado, em 1840 foi condenado à morte.

Essa ação criminosa lembra o famoso fora da lei, o cangaceiro Lampião, que morreu emboscado pela polícia, depois de aterrorizar o nordeste brasileiro.

Desde o tempo dos romanos que a água potável era bem escassa em Lisboa, mas o problema agravou-se quando esta se tornou a capital de um império.

No século 18, D. João V incluiu na sua política de opulência uma solução monumental para abastecer a cidade, um gigantesco aqueduto inspirado no Tratado de Vetrúvio.

Marco Vetrúvio Pollio, viveu no século 1 a.C., ele foi arquiteto, engenheiro, agrimensor, pesquisador e teórico romano. Ficou conhecido pelo tratado da arquitetura, é o único tratado europeu do período Greco-romano que chegou aos dias atuais, sendo inspiração aos elementos arquitetônicos e estéticos das construções, são 18 volumes.

Essa ambiciosa obra hidráulica teve engenheiros português, italiano, alemão e húngaro, iria ligar 58 nascentes do concelho de Sintra a Lisboa e levaria esse bem à zona ocidental da cidade.

Os romanos foram os maiores especialistas nesse tipo de construção, tinham deixados testemunhos vários espalhados por Portugal.

Desenhos, maquetes e plantas de aquedutos da cidade de Roma, foram consultados para desenhar o de Lisboa. Este se tornou resistente ao grande terremoto, admirado por pintores e viajantes como obra de arte, sobre o vale de Alcântara.

Iniciado em 1732 e terminado em 1799, recebe ainda apontamentos do barroco, e um passeio público ao longo dos grandes arcos, onde se chegava a Monsanto.

No final a água era armazenada no reservatório das Amoreiras de onde partiam galerias subterrâneas que serviam os novos chafarizes.

Tem 58 km de extensão, uma obra ambiciosa que nasceu para abastecer a cidade e cumprir a visão de um rei.

São 21 arcos de volta perfeitos e 14 arcos centrais em ogiva. Abastecia 34 chafarizes.

Era o reino mais rico da Europa, até então a água vinha de poços, de fontes e da chuva acumulada em cisternas.

Com ouro e diamantes vindos do Brasil, não foram suficientes para financiar a totalidade do projeto, então, durante mais de 70 anos, é cobrado à população um imposto adicional chamado o Real de água.

Durante 220 anos abasteceu a capital portuguesa, quando foi desativado pela Empresa de Águas Livres.

Uma das mais importantes obras do Brasil colonial, inspirada no de Lisboa, mas apenas com 270 metros de extensão, foi o aqueduto da carioca, ligando o morro de Santa Tereza ao de Santo Antonio, inaugurado em 1750 com o objetivo de levar água à população. A partir de 1896, passou a ser utilizado como viaduto para os novos bondes de ferro.

O vale de Alcântara representa uma importante estrutura sobreposta ao sistema hídrico e um relevante eixo verde, ligando a área planáltica e a frente ribeirinha, na zona de Campolide a Alcântara.

O Aqueduto das Águas Livres continua sendo um dos grandes monumentos e símbolo da capital portuguesa!





AQUELA VOZ MISTERIOSA - Helio Fernando Salema

 



AQUELA VOZ MISTERIOSA

Helio Fernando Salema

 

Cheguei a casa mais tarde do que o normal. Preocupado em responder, sem titubear, ao infalível questionário da Dona Ciumenta.

Por sorte estava dormindo, ou quem sabe, fingindo. Fui até a cozinha para fazer um café e comer um pedaço do pão que ela avisou que faria. Assim, menos suspeita talvez ficasse, ao perceber que o saboreei.

Quando comecei a elaborar o meu impecável lanche, o celular tocou. Saí correndo com receio de que ela acordasse. Uma voz feminina dizia:

— Eu sei de tudo… Eu sei de tudo.

 A voz abafada, com certeza para que não fosse identificada. Desligou rapidamente.

Não imaginei quem poderia ser. Carminha certamente não era, pois pela hora que saí da casa dela já estaria dormindo.

Preparando o lanche e pensando quem poderia ser?  A voz não me ajudava em nada. Será que vai ligar novamente e dar mais detalhes? Comendo meu lanche e pensando. Cada mordida era mais forte ainda, como querendo extrair do pão o que a memória não me revelava.

Durante toda à noite aquela voz martelava meus tímpanos, neurônios e a consciência. Cada vez que acordava vinham nomes de pessoas que ultimamente tiveram algum contato comigo.

Clientes, amigos, amigas íntimas, outras não tão próximas. Tudo em vão.

Depois de um curto sono levantei o mais rápido que pude, antes que a inquisidora acordasse. Temi que ela também tivesse recebido o maldito telefonema, e eu, certamente, não saberia o que dizer.

Quando cheguei ao trabalho, uma luz finalmente surgiu. Vi no meu celular o número da ligação da noite anterior. Anotei num papel e imediatamente fiz a ligação. Tocou o tempo todo sem que ninguém atendesse. Insisti por mais alguns minutos sem êxito.

Minha secretária entra na minha sala e avisa que chegou a Dra Cláudia. Um forte temor apossou-se de mim tão rápido, que só o percebi ao sentir minhas pernas bambas, coração disparando e uma pequena dor no peito.

Dra. Cláudia era minha cliente e ultimamente demonstrava insatisfação com os resultados do meu trabalho.

Ao me recuperar pedi à secretária que a fizesse entrar. Assim que passou pela porta levantei-me e fui em sua direção. Ela com um sorriso me cumprimentou e disse que estava com pressa. Que desejava apenas me pedir desculpas, pessoalmente, pelo que me dissera, pelo telefone no dia anterior.

 Silenciosamente suspirei fundo. Disse que ela não precisava se desculpar e que eu entendi tudo o que ela havia dito como um desabafo. Com sorrisos e apertos de mãos nos despedimos.

Assim que ela transpôs a porta, atirei-me na cadeira e elevei as mãos ao céu. Senti que tudo estava resolvido, nada mais a me preocupar.

Até que o celular toca. Era aquele número maldito. Pensei que o problema estivesse sanado e eis que me ressurge, com certeza, ainda pior. Novamente os tremores e a dor no peito.

 Era aquela voz feminina, agora bem nítida:

— Desculpe o que fiz ontem à noite. Foi engano.

COMPORTAMENTOS ESTRANHOS - Leon Vagliengo

 


COMPORTAMENTOS ESTRANHOS.

Leon Vagliengo

Existem hábitos que permanecem desde a infância. Alguns são esquisitos.

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        Acordou com o toque insistente e distante do telefone. Sábado, quatro horas da manhã! Isso não é hora de alguém telefonar, a não ser que seja algo muito importante, pensou, alarmado, o sonolento e gordinho Waldemar.

        Olhou para a esposa, Luciana continuava a dormir a sono solto. “Dorme, meu amor, você merece, você é muito especial. Só mesmo você para aceitar e ainda achar graça dos meus costumes”, pensou, enquanto vencia a preguiça de sair da cama.

O toque era do telefone fixo, lá embaixo, na sala. Waldemar desceu as escadas apressado, de chinelos, ainda meio adormecido e carregando com alguma dificuldade o excesso de peso acumulado em seus trinta e oito anos de vida, arriscando-se a um tombo.

        ― Alô! – Atendeu, ansioso, mas não a tempo: a ligação caiu. Soltou um palavrão, com raiva e frustração pelo insucesso, mas logo a seguir o telefone tocou outra vez.

        — Alô! — Atendeu, novamente ansioso, agora já completamente desperto. Do outro lado, uma voz desconhecida, meio ameaçadora, e meio zombeteira, lhe disse:

        — Eu sei de tudo! — Disse e desligou.

        De imediato, Waldemar ficou surpreso e preocupado: “Tudo o quê? ”, estremeceu.

Superado, porém, o espanto do primeiro momento, pensou bastante no que ouvira; e quanto mais pensava, mais se convencia de que a misteriosa e sutil ameaça não podia ser verdadeira, não tinha fundamento. Em toda a vida sempre primou pelo bom comportamento, pela seriedade e pelo respeito a todos; por mais que refletisse não encontrava lembrança de ter cometido qualquer irregularidade, social ou profissional, e, com certeza, não haveria nada escuso que alguém pudesse saber dele para poder ameaçá-lo.

        A não ser... a não ser que o interlocutor soubesse de algo de sua vida pessoal e que estivesse querendo explorar a sua privacidade.  Mas o quê? Matutou bastante sobre o que poderia ser, mas também nada lhe veio à cabeça, considerava-se uma pessoa absolutamente normal, como todo mundo.

        — Acho que ligaram para o número errado, não era comigo — concluiu.

        Mais tranquilo após ruminar aquele susto sem nada encontrar que pudesse comprometê-lo, bastante cansado pelo sono interrompido e pela tensão que experimentara, resolveu voltar para a cama; subiu as escadas e voltou para o quarto. Beijou os lábios de Luciana suavemente para não a despertar, colocou novamente a chupeta na boca, ajeitou a camisola, deitou-se e dormiu, abraçado ao ursinho de pelúcia; dormiu profundamente, dormiu o sono tranquilo daqueles que não têm nenhum peso na consciência e não devem nada a ninguém.

        Aquele beijo delicado não despertou Luciana, mas o leve sorriso que imediatamente surgiu em seu rosto revelou que ela sentiu profundamente o carinho que tinha recebido. Algumas horas depois ela acordou, esticou todo o corpo espreguiçando longamente, e saiu da cama. Waldemar ainda dormia profundamente, de chupeta e camisola, abraçado a seu ursinho. Luciana olhou para ele divertida e compreensiva, sorriu ternamente e disse, bem devagarinho, para si mesma, em voz baixa:

        — Esse meu marido é uma figura...!


O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

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