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quarta-feira, 6 de março de 2024

O Sequestro - Um dia de grande tensão - Alberto Landi

 



O Sequestro

Um dia de grande tensão

Alberto Landi

 

Flavia, uma estudante de 17 anos, residente em São Paulo, estava no segundo colegial.  Muito esforçada, independente e inteligente. Vitório Cunha e Manuela estavam orgulhosos pelo empenho da filha. Herdeira das empresas, Vitório acreditava em seu potencial de liderança administrativa.  Afinal, eram bem-sucedidos, de situação financeiramente estável, e reconhecidos como sendo detentores de uma das maiores empresas do ramo têxtil.

A família Cunha faz curtas viagens nos finais de semana, passam dias na fazenda de gado leiteiro no oeste paulista, ou na casa de praia em Ubatuba no litoral norte, onde residem numa pequena ilha. É comum vê-los chegar ou sair de helicóptero do prédio onde estão localizados os escritórios de comando das empresas, ou embarcando para o exterior e voltarem repletos de compras.

Tanta ostentação atraiu olhares...

Manuela, certa manhã, estava no escritório quando recebe um telefonema desconhecido:

— Estamos em poder de sua filha, se quiser vê-la com vida, siga as instruções. Ponha 50 mil dólares numa valise preta, e deixem-na no altar da igreja Boa Morte, coluna da esquerda, às 16 horas de hoje.

Manuela sentiu uma vertigem passar pela espinha dorsal e paralisar seus movimentos, as mãos trêmulas não obedeciam aos gestos, a vista turva inibia caminhos. Alguém a sacudiu querendo saber se estava bem.  Aquela voz ainda estava turbinando seus ouvidos:

— Liguem para Vitório, é urgentíssimo! – Gritou com a voz titubeante. E depois contou ao assistente o que estava acontecendo. “Hoje é um dia que ela ficaria na escola até o final da tarde”.

Prontamente, ele telefonou para a escola de Flávia, afinal, poderia ser um trote. Mas, a direção da escola confirmou que a jovem não compareceu à aula. Seguidas vezes ligou para o celular da moça, e não obteve resposta.

“Então não é trote! Meu Deus!”

Rapidamente contataram Lobato, um amigo da família, padrinho da Flávia, um policial aposentado que atualmente trabalha com investigações, que logo se prontificou em ajudar rastreando a origem do telefonema, acionando reforços para capturar o sequestrador, e a família foi orientada para que fizesse exatamente o que o sequestrador exigiu.

Manuela estava prostrada no sofá, o médico já a examinava, a mulher se apresentava em estado de choque. Ela gemia aflita, e Vitório tentava acudi-la, mas como urgia que as providências fossem tomadas e tudo acabasse bem, ele voltava-se para o grupo policial.

Planejam qual seria a estratégia dali por diante. O tempo corria e não poderiam perder a oportunidade de resgatar Flávia e, ao mesmo tempo, prender os sequestradores.

A maleta preta, contendo os 50 mil dólares exigidos, já estava sobre a mesa. Além do dinheiro, um GPS instalado na alça mostraria o destino do objeto. Um grande time de policiais à paisana foi orientado a não perder a maleta de vista.

A família estava desesperada, desequilibrada em suas ações e pensamentos. Contra eles, o medo, o pavor, e o tempo… havia pouco tempo para a quantia ser levada à Igreja da Boa Morte, na Luz.

Vitório estava preparado para sair, tinha escutas por dentro da camisa, e micro câmera na armação dos óculos. Na igreja, já estavam a postos alguns “fieis” espalhados entre os assentos, e um mendigo à entrada estendia a mão suja para alguns visitantes.

Vitório, temia por Flávia. Seguiu determinado quando saiu do automóvel. À sua frente a imponente construção amarela onde, possivelmente, devolveriam sua filha. Ao entrar, lembrou de fazer uma ligeira oração. Na mão direita, a maleta. Seus olhos correram o espaço dourado do interior da igreja. Deveria seguir pelo corredor lateral esquerdo, entrar no hall do altar e lá deixar a maleta. Os passos cautelosos ecoavam no assoalho amadeirado. Procurava pelos cantos alguém que fosse suspeito, procurava por Flávia. Teve vontade de gritar seu nome. Nesse momento ouviu Lobato falar no ponto do ouvido: “siga em frente, Vitório. Não titubeia, estamos a postos”. Acelerou e subiu os poucos degraus que o levariam ao altar. Arriscou olhar em volta, e nada lhe chamava a atenção. Viu o amigo no primeiro banco, ajoelhado como se rezasse fervorosamente. Quem sabe rezava mesmo, ele era padrinho de Flávia.

Depositou a maleta ao lado da coluna dourada, como exigido, o coração apertado gritava para que ele não cometesse erros. Voltou ao átrio. Tentou relaxar os músculos, postou-se ao lado da última capela, observando o silêncio que o ambiente guardava. Os outros policiais estavam atentos, disfarçados de fiéis, confundiam até Vitório.

 

Enquanto isso, na casa, Manuela recebe uma ligação. Era do celular da Flávia. A mãe congelou. Certamente seriam os sequestradores. Nervosamente atendeu. Não era. Era a própria Flávia:

“Vim fazer um trabalho na casa da Sofia, e acabei faltando à aula. Na pressa de terminar o trabalho, esqueci de avisar você, mamãe. Então, não vá me pegar na escola, vou para casa mais tarde, vou de táxi”.

Manuela teve uma injeção de dinamismo no mesmo instante. Sua menina estava bem.

— Ela está bem, não foi sequestrada! – Gritou para o assistente.

Precisava avisar o marido. Mandou uma mensagem, sabendo que as mensagens dela sinalizavam diferentemente no celular dele. Imediatamente ele leu, abriu um sorriso enorme, mas conteve-se. O coração aos pulos, mas agora mais controlado, transmitiu para Lobato, através do ponto do ouvido, todo o texto de Manuela.

E as ordens mudaram agora:

“Troque imediatamente aquela valise pela valise vazia que trouxemos, e vá embora, Vitório. Vá acudir Manuela. Deixe o resto conosco. Os bandidos não sabem que a Flavinha está bem e que já sabemos disso. Vamos pegar esses vagabundos! ”.

Não deu tempo de fazer a troca, uma mulher bem-vestida entrou no corredor central da igreja, foi direto para o altar. Às vezes olhava para os lados, mas percebia-se que seus olhos fixaram a valise. Apanhou-a de modo repentino e urgente.

Os policiais a cercaram e a levaram algemada para a delegacia.

Mais tarde, Lobato voltou a se encontrar com a família. Flávia riu dos fatos, mas depois percebeu que era uma boa armadilha, essa dos sequestradores.

 

— Esse é um golpe que está em vigor, infelizmente, diante do medo de perder o ente familiar, muitas famílias pagam o resgate para o falso sequestro - disse Lobato.

No entanto, como Flávia era jovem e esperta, levantou uma dúvida:

— Mas, como eles podiam saber que eu não iria à aula?

— Não sabiam, querida. Só tinham certeza de que, se desse certo, embolsaram 50 mil.

 

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