PROJETO MEU ROMANCE
BUSCAS E MAIS BUSCAS
PARTE I
Como fazia todas as tardes,
Homero caminhava pela ruazinha que adormeceu sossegada, bem antes da hora.
Essa tranquilidade
contrastava-se com seus pensamentos rebuliçados que não se esqueciam do
Valentim, seu gato de estimação. Fazia dois dias que Valentim saiu
para o passeio habitual e não voltou. Procurou-o apenas no quarteirão que
rodeava sua casa, pois sabia que o bichano costumava ir bem longe… Ele
já tinha sete anos e conhecia tudo e todos.
Homero alterou o trajeto
costumeiro e dobrou a segunda esquina da rua. Sentiu vontade de entrar na
capela de Santa Rita. Sua mãe era devota de Santa Rita. Tinha um pequeno altar
em casa, onde não faltavam, uma vela perfumada sempre acesa e uma rosa fresca.
Ela acreditava piamente que, através de orações à santa das causas impossíveis,
conseguiria a graça da cura da irmã, desenganada pelos médicos. A moça sarou e
a família creditava a cura ao milagre da santa. Homero tinha, então, seis anos
e aprendeu tudo sobre a Santa Rita. A mãe obrigava-o a rezar todas as noites diante
do altar. O hábito permanece até hoje. Se tenta dormir sem orar, o pensamento
não lhe deixa sossegado.
Homero aumentou os passos e
entrou na igrejinha. Estava deserta e levemente perfumada de lírio-branco,
ambiente de paz e propício à meditação. Era a capela mais acolhedora que ele
conhecia. O padre responsável e as obreiras cuidavam dela como se cuida de uma
obra rara.
Mal acabara de se ajoelhar na
terceira fileira de bancos, ouviu palavras sufocadas de socorro misturadas a
gritos estridentes e desconexos.
Como bom e experiente
investigador, o homem ligou seu sistema de alerta. Correu em direção à
sacristia. Era lá que acontecia a cena que descreverei: o padre Juliano estava
esparramado no chão perto da porta, provavelmente na tentativa de fuga. O corpo
com excesso de gordura, com certeza, amorteceu-lhe a queda. Sangue escorria de
sua cabeça, percorria o pescoço e manchava a vestimenta sacerdotal de cor
clara. O padre era das antigas e, no local sagrado, usava batina.
Respirava com dificuldade e balbuciava algumas sílabas. Tinha sido
agredido fortemente na cabeça por objeto contundente. O mais importante: estava
vivo. Sem perder segundos, pois em segundos pode-se perder uma vida, Homero
chamou a ambulância. Por sorte, uma delas estava de prontidão e levaria não
mais que quinze minutos para chegar. Fez travesseiro de um casaco pendurado
atrás da porta e acomodou a cabeça do padre.
Só então ele se preocupou com o
criminoso. Não viu ninguém fugir e se tivesse tentado, seria impedido.
Homero era um homem fisicamente forte e forte nas decisões. A postura imponente
e um metro e noventa de músculos impunha-lhe muito respeito.
Nem foi preciso procurar. De
trás de um armário forte e largo, apareceu uma mulher ostentando uma faca. Uma
faca de açougueiro. Ao se deparar com o intruso, começa a movimentar os
braços descontroladamente para cima e para baixo. Parecia um robô programado. O
investigador de sobrancelhas grossas, arqueadas e testa franzida, veste-se de
olhar frio e ameaçador. Assume postura altiva e se fixa num ponto próximo à
mulher. Ela não se intimida, ao contrário, ignora-o e grita. Grita muito,
grunhidos de um animal furioso com vontade de atacar.
As vestes rasgadas mal cobriam o
corpo magro de costelas saltadas. Os cabelos compridos, um amontoado de teias
de aranha, cobriam parte do rosto. Uma fita vermelha prendia-se ali numa cena
de enforcamento. Chamava a atenção as unhas compridas, dos pés e das mãos,
pintadas de vermelho escarlate. Vaidade que não combinava com aquela aparência
de total abandono.
Homero manteve-se imóvel e calado. Compaixão e dó foram os primeiros sentimentos que a mulher lhe provocou. Um ser humano que sofria e precisava de ajuda. E, ao mesmo tempo, criminoso.
Lá fora, uma sirene em som alto
e distinto avisava que a ambulância acabava de chegar. Homero deixa a sala e
tranca a porta à chave. A igreja, em segundos, estava cheia de burburinhos e de
gente curiosa. Dona Hermelinda, vizinha da capela e muito amiga do padre,
responsabiliza-se por acompanhá-lo até o hospital. Homero tinha outra
missão. Durante a remoção, Juliano recobrou os sentidos e abriu os olhos.
Não se lembrava de nada, mas gemia de dor.
O investigador volta à sacristia
na expectativa de encontrar a mulher, ainda mais furiosa e revoltada. A cena é
inusitada. Ela está sentada no chão ao lado do facão. Com os cabelos afastados
do rosto, podia-se ver que seus traços eram finos e a pele delicada. E que,
talvez, um dia, já foi bem cuidada.
Alheia à presença de Homero, ela
começa a cantarolar. Canções dos contos de fada.
Tira um caderninho da sacola,
põe-se em pé e declama. A voz era clara e compassada:
“Se
não puder voar, corra.
Se
não puder correr, ande.
Se
não puder andar, rasteje”.
Temendo que Homero a
interrompesse, pergunta:
— Posso ler mais um?
Agora a voz era doce e
aveludada:
“Não
tenho garantia e nem certeza de nada.
Vivo tentando”.
Olhou fixamente para o homem
atônito e desarmado de intenções:
—” O que você faz quando te tratam mal”?
Esperou alguns segundos e,
diante do silêncio, deu alguns passos à sua frente. Chegou bem próximo a
ele e falou com ênfase:
— ”Eu me trato bem e vou embora”.
A moça sem nome guardou a agenda
no saco, pendurou-o nos ombros e andou até a porta. Olhou para trás
certificando-se de que não estava sendo seguida e jogou-lhe um beijo:
— Sou Isabely.
Desapareceu na noite cheia de
estrelas.
Homero permaneceu sentado, sem
reação; era a única múmia viva que ele conhecia.
Lembrou-se, então, do seu gato
Valentim que desaparecera no dia anterior.
Sentiu saudade e chorou.
OSSOS DO OFÍCIO.
PARTE II
O mundo parecia desabar sobre Homero. As últimas descobertas e a concretização de suas suspeitas exigiam uma tomada de decisão urgente. Uma reunião de emergência agendada com sua equipe de trabalho pegou a todos de surpresa. A pauta não foi apresentada com antecedência. Ele passou horas durante a noite organizando materiais que mostrariam uma verdade inquestionável.
Amanheceu, e Homero não ouviu o despertador tocar.
Pulou da cama num sobressalto e escorregou no tapete redondo. “Maldito!” O
cachorro do Cláudio arrancara-lhe um pedaço. “Maldita a hora em que não
joguei esse tapete no lixo”.
Ele não teve tempo para caprichar no visual como
era seu costume e a colônia importada ficou esquecida no armário.
“Paciência, Homero. A vida continua”.
O trânsito estava congestionado. Um homem
esbravejava dentro do carro. “Adivinhe quem era?” O investigador até
pensou em cancelar a reunião, mas desistiu por conta da gravidade da situação.
”Tudo tem que ser resolvido hoje”. Esse pensamento não lhe dava paz.
Com duas horas de atraso, ele chegou ao
Departamento de Justiça onde os auxiliares preocupados o aguardavam na sala de
reuniões. O chefe era exigente e pontual. Não perdoava atrasos. Encaminharam-no
várias mensagens e nenhuma teve resposta. “Você acha que Homero, na angústia
do atraso e da seriedade do momento, prestaria atenção aos toques do celular?”
Entrou no prédio a passos largos e não cumprimentou
ninguém. Nem teve paciência de esperar o elevador. Subiu as escadas, não
eram tantos degraus e chegou ofegante. Percorreu o corredor comprido e entrou
na sua sala. Sentou-se à mesa, inspirou e expirou profundamente, não sei
quantas vezes, mas sei que não parou até que a respiração voltasse ao
normal; e a cabeça também. Mandou mensagem aos colegas desculpando-se pelo
atraso. Abriu uma das gavetas e se propôs a trancar ali seu
mau-humor. Sabe leitor, é o que ele mais queria antes de chegar à sala de
reuniões. A secretária, que, há cinco anos, trabalhava com ele e
conhecia todas as variantes do temperamento do chefe, entrou na sala,
serviu-lhe água e café e retirou-se leve e silenciosa. Um gato caminhando…
Há duas semanas, um banco foi assaltado. O
gerente abria o estabelecimento no momento em que foi interceptado por um
assaltante com um fuzil apontado à sua cabeça. Três homens encapuzados e
armados esvaziaram o cofre e sequestraram o gerente pra garantir segurança
durante a fuga. O funcionário foi liberto ao final da tarde.
O caso era bem simples e de fácil solução para o
nosso investigador, um dos profissionais mais bem preparados e experientes
do Departamento. Dez anos de estudo, prática profissional e muita dedicação.
Desvendou crimes complexos, aqueles em que há numerosos componentes
interligados que precisam ser desmembrados. Mas a investigação do banco, tão
simples, não andava. Misteriosamente, documentos importantes desapareceram,
outros foram trocados e duas das cinco câmeras que filmaram o crime apareceram
danificadas. Homero começou, em segredo, uma investigação paralela. O objetivo
era descobrir o sabotador da equipe. Ele tinha uma suspeita e a suspeita
foi confirmada com provas inquestionáveis. E havia dinheiro envolvido.
Leo era o mais velho do grupo. Um homem de
cinquenta anos, esforçado, mas insatisfeito com suas realizações profissionais.
Estava sempre atento às orientações de Homero e pronto a seguir
suas ordens, mesmo quando discordava delas. Todos notaram que, aos
poucos, essa admiração foi crescendo… crescendo… e ele não conseguia mais
esconder que queria ser o chefe. Homero tinha maturidade suficiente
pra lidar com o problema, pois sabia que o invejoso faz de tudo pra prejudicar
o outro. O invejoso acredita que, pra ter o que você tem, você precisa perder.
É uma dor psicológica difícil de ser controlada. E Aristóteles, que viveu no
século IV A.C., já dizia: “Tudo o que traz felicidade, estimula a inveja”.
Essa era a pauta da reunião: denunciar e demitir o
sabotador.
Homero ajeitou-se física e psicologicamente. Lavou
o rosto, olhou-se no espelho e passou os dedos entre os cabelos desalinhados.
Não gostou das olheiras profundas. Pegou um amontoado de papéis e dirigiu-se à
sala de reuniões. A conversa animada foi interrompida bruscamente com a entrada
do chefe. A mesa de madeira de lei, redonda e
oval, acomodou-os com ar de nobreza. A reunião foi interrompida antes
mesmo de começar. Leo não estava presente e ninguém tinha notícias dele.
Passou uma semana, passaram duas… três… um ano, até
que as notícias chegaram. Leo vivia como um rei no exterior ao
lado de uma rica mulher.
POR QUE TANTA PRESSA?
Parte III
O telefone tocou várias vezes e ele não atendeu.
Fingiu que não ouviu. Não queria interromper o momento de prazer que, há tempo,
o excesso de trabalho não lhe permitia desfrutar. A cerveja gelada e os
pasteizinhos quentes e crocantes encheram sua boca de saliva. Apenas a luz
branca do abajur e o som clássico de Chopin. Um ambiente solitário, mas cheio
de querer. Homero e o gato Valentim.
Ah! Já ia me esquecendo… Depois de uma semana,
perdido na rua, o bichano abatido e assustado voltou pra casa. Não sei se
aquele olhar espremido era de vergonha ou de arrependimento. Cheirava mal
e mancava; uma das patas estava ferida e sangrava. A visita urgente ao
veterinário, alguns dias de tratamento e alimentação saudável o colocaram em
forma novamente.
Homero ficou viúvo há dois anos e seu filho único
estuda em Londres. A ausência da esposa causou-lhe um sofrimento sem fim. O
casal parecia estar sempre em lua-de-mel, apesar dos dezessete anos juntos. Havia cumplicidade, confiança e
apoio em todas as decisões. Um exemplo de casal feliz. Acredito que o
ideal é enxergar o parceiro como realmente ele é, sem expectativas irreais ou
fantasias românticas. É o que os dois faziam.
O telefone tocou novamente. E insistiu… Não
contei quantas vezes, mas foram muitas. Essa insistência tirou o homem do
sério. Ele esbravejou em voz alta e potente, soltou alguns palavrões, coisa
rara no vocabulário desse cavalheiro. Até Valentim estranhou, pôs-se em pé,
balançou o rabo e miou forte.
E se fosse uma emergência? A profissão de
investigador assemelha-se à de médico. Os chamados não têm hora pra acontecer.
Esse pensamento arrastou-o até o telefone que pretendia continuar esquecido e
longe de mãos irrequietas. Olavo, seu supervisor, estava do outro lado da
linha e não precisou de muitas palavras para convencê-lo a assumir um crime
horrível que acabara de acontecer numa pousada que abrigava vinte
turistas.
Adeus às férias programadas com tanto carinho e
expectativa. Um roteiro na Grécia que provocaria inveja a qualquer agência de
turismo. Mais de um mês de pesquisas no Google pra tudo se transformar numa
frase tão curta: “Já era”. Desfazer as malas e devolver as roupas ao armário.
Que missão difícil!
Homero voltou onde estava sentado anteriormente. A
cerveja estava quente e os pastéis frios e prontos pra serem descartados. O
lixo vazio foi inaugurado com esse presente. Ele sentiu vontade de chorar, mas
lembrou-se de sua avozinha que dizia “Homem não chora”, todas às vezes que ele
abria um berreiro por coisas insignificantes. Um menino mimado e “cheio de não
me toque”. Esse pensamento arrancou-lhe um sorriso comprido e cheio de
saudade da infância. A casa simples e bem arrumada; janelas grandes e muita
grama no quintal; o cheiro gostoso que vinha da panela grande que mamãe mexia
com doce de abóbora.
“Acorda, homem, você não tem tempo para
devaneios! Sei que há lembranças que grudam na gente e são difíceis de
esquecer, mas esse não é o momento. Há, pela frente, um roteiro que você
deve seguir: adiar os planos, embalar os sonhos e convocar a equipe de
trabalho. Homero olhou com tristeza as duas malas prontas. As
roupas, devolvê-las ao armário, até hoje não conseguiu.
Duas horas depois, três homens desembarcaram na
“Pousada da Concha”. Os policiais já tinham isolado o local e os hóspedes
colocados fora das dependências. A equipe deslocou-se até o primeiro andar. O
corpo quase nu de uma jovem estava caído à entrada do quarto número dez. A
porta aberta mostrava um quarto revirado e coisas emboladas pelo chão: roupas
de cama, roupas de gente, latas de cerveja… Manchas de sangue próximas ao corpo
e nas paredes também.
Antes de começar a análise das evidências e
levantar questões sobre o crime, Homero desce bem rápido as escadas, em direção
à cozinha no andar térreo. Estava com sede e com fome. Saiu de casa com
tanta pressa que deixou, na mesa, a comida quentinha preparada por Dona Nina.
Um escorregão nos primeiros degraus e o seu corpo roliço desceu feito uma bola
de futebol.
Acordou instantes depois, gritando de dor na perna
direita. Não conseguia levantá-la do chão. E horas mais tarde, o raio-x
apresentava-lhe o que deveria fazer nos próximos meses: repouso e muita
fisioterapia.
FLASHBACK
Parte IV
Homero passou dois dias no hospital. Não se
conformava com os últimos acontecimentos: cancelamento das férias e perna
quebrada. Nas primeiras semanas, recebeu muitas visitas. Cerveja, doses de
whisky e muita conversa fiada. Esquecia-se da dor e dos pensamentos negativos.
Nada de tristeza. Mas aos poucos a casa foi ficando vazia e a cabeça, cheia de
irritação. Livros, filmes, noticiário, nada mais o entretia. A vontade era
voltar ao trabalho: analisar cenas do crime, coletar informações e traçar o
perfil dos suspeitos. Muita ação envolvida e muita adrenalina. E, ao
final de cada investigação, a comemoração do sucesso.
Dona Nina não se intrometia em nada. Arriscava
alguns conselhos que a maturidade da vida já lhe permitia. Fazia seu
serviço, trocava algumas palavras com ele e tomava todo cuidado pra não
contrariá-lo. Até as músicas que ela gostava de ouvir e cantarolar ficaram
caladas.
Naquela quinta-feira, a senhora teve uma ideia, pra
ela genial: lembrou-se de uma rede comprada no Nordeste e que nunca foi usada.
Não sabia onde estava guardada, mas não teve preguiça para procurá-la. Foi
cansativo, subindo e descendo da escada. Encontrou-a no mais alto de um dos
armários da casa. A dor nas costas voltou, mas paciência… Armou-a na
varanda sombreada pelo imponente flamboyant de quase dez metros de altura. A
copa compacta de flores vermelhas era um chapéu gigante que protegia a
casa. Uma jarra de suco de amoras frescas, pasteizinhos crocantes e um dia
cheio de sol. Tudo isso seria capaz de proporcionar um pouco de prazer ao
patrão? Não sei se ele gostou da surpresa ou se foi apenas educado. Ajudado por
ela, acomodou-se à rede e ali passou a tarde toda sem gemer e sem
reclamar. Acredito que ele se esqueceu da perna imobilizada, do trabalho,
dos crimes. Teve tempo pra devaneios e até pra um flashback.
Lembrou-se de um passado triste e bem longe do seu
país que lhe custou muitas sessões de terapia. Lembrou-se também das tantas
cartas que a avó Leninha lhe escreveu naquela época. Guarda-as até hoje. Dona
Leninha foi a mulher generosa e forte que o protegeu e aceitou os desafios
de criar um menino órfão ao lado do esposo rabugento, com mania de
doença. Ela se reinventava todos os dias pra dar conta do recado e os
obstáculos nunca roubaram seu bom humor. As rugas do rosto não
conseguiram roubar-lhe a jovialidade e ela morreu linda com seu colar de
pérolas miúdas.
Era 1960, trinta anos atrás. Homero chegou
longe. Revê uma das muitas cenas que viveu naqueles dias infernais. Caminha a
esmo e pensa estar delirando. Olha ao redor e não acredita no que
seus olhos veem e seus ouvidos escutam. Corpos caídos, mortos e feridos;
gritos e gemidos; um barulho ensurdecedor; uma fumaça espessa que queima seus
olhos. O corpo está cansado e dolorido, a cabeça gira feito pião e a energia
não existe mais. Mal consegue suportar o peso da arma que carrega. Sente
vergonha dessa fraqueza física e mental. Não entende porque ali você mata ou
você morre.
Como será completar dezenove anos num campo de
batalha? Tentou cantar o “Parabéns a você”, mas as letras fugiram. Estariam
escondidas no tanque blindado?
Uma bomba explode às suas costas.
— Capitão, dois soldados foram atingidos e
despencaram morro abaixo. — Alguém grita.
Homero não olha. Ouve passos rápidos que pisam
forte no matagal. Arrasta-se até os escombros do que já foi uma casa.
Lava o rosto num fio de água que escorre de uma torneira enferrujada. Num
amontoado de tijolos, vê pedaços de brinquedo. Carrinhos sem rodas e
os olhos da boneca, abertos e assustados. Ele não se lembra de mais nada e só
acorda com os gritos potentes do comandante acompanhado de um chute. Põe-se de
pé num salto e vê o dia amanhecido.
Era hora de enterrar os mortos, recolher os feridos
e voltar ao acampamento.
O TORMENTO TEM NOME: CIBERNÉTICA.
PARTE V.
Dois meses se passaram desde o acidente de Homero e a sua recuperação surpreendeu os médicos. Apesar dos cinquenta anos, estava em plena vitalidade. Na juventude, jogou muito futebol e participou de competições na natação. Nunca foi campeão, mas atingiu ótimas classificações.
Depois de alguns dias chuvosos, a segunda-feira amanheceu de tempo bom. Ele foi até a garagem e Valentim o acompanhou rosnando à sua volta. Abriu o carro e pôs o motor pra funcionar. Criou coragem e pela primeira vez saiu dirigindo. Sentiu um pouco de dor, mas nada que comprometesse a habilidade de um bom motorista.
Estacionou o carro à frente da capela de Santa Rita. D. Juliano estava rezando missa e bem recuperado da paulada que levou na cabeça. A cicatriz de dez pontos ficou escondida debaixo da cabeleira crespa e a “mulher sem nome” que o atacou nunca foi encontrada.
A próxima parada foi na delegacia. Queria rever os colegas e criar ânimo pra voltar às atividades. Sentia muita falta daquele ambiente cordial, construído ao longo de quinze anos com muito trabalho e desafios.
A recepção foi acalorada e cheia de brincadeiras.
— Oi, chefe! Suas férias foram longas demais.
— Não teve tempo pra fazer a barba?
— Gente, a barba dele está ficando branca.
— Vocês estão com inveja do charme de Homero! Aproximou-se dele a escrivã de polícia, meio encabulada, e deu-lhe um abraço apertado. Ganhou um beijo no alto da cabeça. Era baixinha e, mesmo na ponta dos pés, sumia à frente daquele homem de um metro e noventa.
Ele circulou entre as mesas, cumprimentou cada funcionário e respondeu
muitas perguntas sobre o acidente. Com o copo de água ainda nas mãos,
parou em frente à porta do chefe e deu duas batidinhas. Sem fazer barulho,
entrou. O homem que estava de costas, de tão concentrado, não percebeu a
entrada de alguém, nem desviou os olhos do computador.
— Oi, Doutor — Falou Homero em tom baixo.
O Doutor levou um susto, pois ninguém entra em sua sala sem autorização.
Seu primeiro movimento foi empunhar a arma e dar um salto da cadeira.
— Calma, sou eu, Homero.
— Oi, amigão, você me assustou. Por pouco não leva um tiro.
E caíram na risada.
Sem pressa, os dois puseram a conversa em dia e passaram a tarde juntos.
Homero voltou pra casa com “uma pulguinha atrás da orelha”. Uma pulguinha
que tinha nome: “cibernética”.
“Crimes cibernéticos começaram a aparecer na delegacia e a investigação exigia do profissional conhecimentos tecnológicos”. Essa frase, ele não sabia se o chefe repetiu-a várias vezes ou se o impacto ao ouvi-la foi tão grande que ela não saía de sua mente. Ia e voltava, ia e voltava.
Você, leitor, deve estar se perguntando: por que Homero ficou tão
incomodado?
Pense comigo: o avanço tecnológico trouxe mudanças significativas na forma como vivemos e trabalhamos. Não temos como fugir dessa tecnologia, a não ser aceitá-la e aprender a lidar com ela. E os mais velhos enfrentam-na com mais dificuldade e resistência.
Homero já não é mais um jovem. Tem conta no WhatsApp, passeia pelo Facebook, assiste a filmes no YouTube, mas sem muita afinidade com o notebook. Sempre fugiu dele. Jamais pensou que, depois de tantos anos de trabalho, tantos cursos de aperfeiçoamento e chegar ao ápice na carreira, teria que voltar à sala de aula pra aprender o “a-e-i-o-u” da informática.
Dormiu preocupado e sonhou. Sonhou com o tempo, com a velocidade com que
o tempo anda. Teria ele tempo e paciência pra dar conta de tantas coisas novas
pra aprender? Ele não poderia perder o status conquistado. Ajeitou-se na cama e
o sonho continuou. Andou a esmo, por lugares desconhecidos e chegou a uma
rua sem saída e sem direito a retorno. Uma casa amarela ao final da rua.
Precisa entrar nessa casa amarela. A porta não está totalmente fechada. Ele
entra cautelosamente. A sala está solitária, não tem flores e nem cor.
Não tem nada. Uma voz vem de algum lugar:
— Seja bem-vindo! Você chegou ao nosso mundo.
Homero sente calafrios. Procura por alguém e não encontra. Tenta
correr, mas as pernas compridas não saem do lugar. À sua frente, uma porta
enorme se abre automaticamente.
E a voz continua:
— Aqui é o mundo dos computadores. A partir de hoje, você também é um computador! O menor de todos, o de menor importância.
Homero acordou assustado, deu um pulo da cama e sentiu dor. Se a perna
doeu, estava vivo e ele não era um computador.
Adeus, La Traviata
Parte VI
Dona
Nina esfregava as mãos no avental, ia pra cá e pra lá, andava pela casa toda. Estava
bem preocupada. Já fazia muito tempo que Homero estava debaixo do chuveiro;
pelo contrário, era rápido demais, era “banho de gato”. Ela bateu forte na
porta do banheiro, várias vezes, até que um vozeirão lá de dentro gritou:
—
O que foi, mulher?
—
Nada, não. Só queria saber se você está vivo.
Ela
sossegou e voltou ao fogão pra preparar um caldo verde. Queria servir ao
patrão antes que ele saísse.
Meia
hora depois, Homero estava diante do espelho, deu algumas voltinhas, ajeitou o
cabelo e gostou da imagem que viu refletida. Era a segunda vez que usava
o terno cinza-chumbo e a gravata vinho. Estreou-os no Teatro Estatal de Viena,
acompanhado da esposa e do filho adolescente. E agora, depois de doze anos, o
terno saiu do cabide cheirando a naftalina, passou alguns dias na lavanderia e
voltou pra casa perfumado de amaciante.
Essas
lembranças quiseram deixá-lo triste, mas expulsou-as tão rápido quanto se
expulsa o “bzzzz” fininho de um pernilongo. Essa noite seria especial. Ele
e Laura iriam ao Teatro Municipal assistir à ópera “La Traviata”, de
Verdi.
Ele
aprendeu a gostar de óperas, já na adolescência. Seu pai tinha voz de barítono
e, quando estava bem-humorado, imitava um ator em cena. O filho acompanhava-o como se fosse a prima-dona, expressando um lirismo
caricato. Essa brincadeira os aproximava, principalmente num período em que os
pais se desentendiam e as brigas eram constantes.
Afinal,
quem é Laura? Voltemos um pouquinho no tempo, seis meses atrás. O aumento e a
sofisticação dos crimes cibernéticos exigiram que Homero estudasse
mais e, bem contrariado, matriculou-se num curso de informática. Sabia de sua
dificuldade e de sua má vontade com a tecnologia. As primeiras aulas foram
insuportáveis, não conseguia prestar atenção e achava aquilo tudo muito
complicado. Várias vezes, desanimado e achando que não daria conta, saiu de
fininho da aula. Antes de chegar em casa, passava no Bohemio's Bar,
um ambiente aconchegante e cordial. Apenas dois drinks bastavam pra
acalmar, equilibrar seus pensamentos e ter uma noite bem dormida. Com certeza,
esquecia das teclas do notebook.
Homero
aproximou-se do balcão e ali ficou. O barman, que já o conhecia bem, preparou,
em poucos minutos, seu “dry martini”. Ele olhou ao redor e viu pouca gente,
ninguém que conhecia.
Nessa
noite, Laura estava lá. Sentada num ponto estratégico, podia ver quem chegava,
sem ser vista. Aquele homem elegante e bem-vestido que acabara de chegar
chamou sua atenção. Ela estava só e passou a observá-lo: ele falava baixo, ria
na medida certa e segurava o copo de um jeito masculino.
Não
se conteve e, bem atrevida, aproximou-se dele. Foi ignorada, mas não
desistiu e jogou todo seu charme. Homero não quis ser indelicado e ofereceu-lhe
um drink. E não é que a conversa fluiu? Interessante e descontraída,
falaram coisas sérias e coisas engraçadas. Nem viram o tempo passar. Homero
levou um susto quando consultou as horas, já era de madrugada. O dia que
amanhecia reservava-lhe um trabalho intenso e muita disposição. Estava
investigando um caso de latrocínio e tudo indicava que o assassino era alguém
da família.
Engoliu
às pressas os últimos goles do segundo drink, pagou a conta e, por educação,
ofereceu carona à Laura e ela aceitou o convite. Alguns encontros aconteceram
depois e chegamos, então, à noite da apresentação de “La Traviata”.
Os
dois descem do táxi à frente do Teatro. Encontram-se com dois
casais amigos que os aguardavam. Gente feliz e ansiosa, muitas luzes e
alguns policiais cuidando do espaço, todos à espera da abertura da porta
principal.
Dois
rapazes simpáticos e bem-vestidos circulam entre as pessoas. Conversam com
algumas, fazem perguntas, parece que procuram alguém. Um deles aproxima-se,
cautelosamente, de Laura. Posiciona-se bem às suas costas de um jeito que não
fosse visto pelos amigos. Sussurra ao seu ouvido:
—
Você não é a Sofia?
Ela
vira a cabeça num gesto simpático, tentando entender.
Ele
repete:
—
Você não é a Sofia?
Ela
franze a testa, olha firme no rosto do rapaz e tenta identificá-lo.
—
Você está equivocado. Eu não o conheço.
Ele
continua falando e ela continua não entendendo.
Neste
momento, o outro rapaz chega perto e, com mão, rápida e firme como as garras de
uma águia, puxa e arranca o seu colar. Um grito de susto e dor. Uma confusão
generalizada.
Homero
havia percebido que Laura conversava com alguém, não se preocupou, mas ficou
atento. “Talvez seja alguém que ela conheça”. Viu quando aconteceu o roubo.
Saiu correndo, pois tinha certeza de que as pernas compridas alcançariam o
ladrão. A indecisão do rapaz pra qual direção seguir, facilitou o trabalho do
caçador. Ele alcançou-o assim que atingiram o segundo quarteirão. Dois
policiais chegaram logo em seguida e a joia foi recuperada.
Era
um colar valioso no preço e no sentimento que carregava. Um colar que Laura
ganhou da avó materna quando completou quinze anos. Um ano antes dela falecer,
inesperadamente. Era uma noite de verão
intenso. A casa ficou acordada até tarde e todos reunidos no quintal
grande e cheio de árvores. Dona Esmeralda não era de reclamar e ninguém
percebeu se ela sentia algum desconforto maior que a quentura da noite. Foi
dormir antes de todos e não acordou mais.
Homero ligou pra Laura, tranquilizou-a e tranquilizou-se porque ela passava bem ao lado dos amigos. E já estavam no Teatro, faltavam alguns minutos para o início da peça. A notícia inconsolável é que ele, o ladrão e os policiais teriam que comparecer à delegacia para registro da ocorrência.
Aceite,
Homero! E diga adeus à “La Traviata”.
A
Menina que gostava de ler
Parte VII
Fazia apenas um mês que Luíza assumira o cargo de bibliotecária na faculdade onde estudava. Naquela sexta-feira não voltou pra casa como fazia todas as noites por volta das vinte e duas horas. Ela não compareceu às aulas e nem ao trabalho nos dois dias seguintes sem qualquer aviso que justificasse sua ausência. E esse comportamento não combinava com aquela jovem tão responsável.
A família, os colegas, ninguém obtinha resposta. O celular não tocava mais. A busca começou e a polícia contou com a ajuda da população. A cidade era pequena e a jovem era muito querida. Homero e sua equipe chegaram no dia seguinte aos acontecimentos.
Quem
era Luíza?
Luíza estava na terceira série primária quando aprendeu a ler. Ninguém acreditava mais que isso fosse possível, mas teve a sorte de encontrar uma professora especial e juntas lutaram, durante um ano, pra que ela superasse todas as dificuldades. A menina ficou deslumbrada quando pegou um livro, leu a historinha do começo ao fim e soube contar o que leu. Nascia ali uma grande leitora.
E Luíza nunca mais foi vista sem ter um livro às suas mãos.
A leitura transformou a sua vida: desenvolveu a capacidade de concentração, raciocínio e aprendeu a argumentar, com muita clareza, pra aceitar ou discordar de uma ideia.
Cursava
o primeiro ano do curso superior quando passou a trabalhar na biblioteca da
faculdade. Fazia tempo que ela rondava a bibliotecária.
Dona Lídia, Do Li para os alunos, ocupava esse lugar há vinte anos e os familiares e amigos a aconselhavam a se aposentar. Não casou, não teve filhos e não aproveitou a vida. Deveria conhecer outros países e outras culturas, já que os conhecia muito bem através das tantas páginas de tantos livros que já lera.
Na
tarde da última sexta-feira do mês, ela chegou ao trabalho com os
cabelos soltos, maquiagem leve e roupa de “ir à missa”. Eu a conheço faz
tempo e sempre a vi com os cabelos presos. Acredito que até eles se estranharam
ocupando aquela nova posição, livres e leves, balançando ao vento.
Chamou a atenção e recebeu elogios, retribuindo com sorrisos de gente feliz. Provocou muitos buchichos. “Será que a Do Li arrumou um namorado”? Não leitores, ela não arrumou um namorado.
Colocou uma plaquinha na porta avisando que, naquela noite, não atenderia ninguém. Trancou-a por dentro antes que os curiosos se aglomerassem. Não tinha vontade de dar explicações. Sentou-se, confortavelmente, pela última vez, na poltrona bordeaux de florzinhas brancas que ela mesma comprou e reformou várias vezes. Respirou profundamente uma porção de vezes como se quisesse sentir e guardar pra sempre o perfume dos livros. Costumava dizer: “Esses são “meus livros”. Abriu as gavetas, minuciosamente organizadas, e guardou numa maleta todos os objetos pessoais de que dispunha para trabalhar. O trabalho rendeu.
Conversou com os livros e se despediu deles sem lágrimas nos olhos. Foi forte. Cumpriu rigorosamente o horário e saiu por último do prédio. Trocou algumas palavras com o segurança, pegou o carro no estacionamento e parou no portão de saída pra acender um cigarro. Era o único cigarro que fumava todo dia. Um ritual que a acalmava. Amassou com raiva um pedaço de papel e jogou-o pela janela. Olhou pra todos os lados e só viu o morador de rua que dormia ali todas as noites. Na segunda-feira de manhã, Dona Lídia solicitou aposentadoria ao reitor da faculdade e à noitinha bebia um vinho geladinho na primeira classe da Latam Airlines. Vinte dias na Itália. Não gastou a vida toda e podia se dar ao luxo de extravagâncias.
Na mesma semana, Luíza começou a trabalhar. Estava radiante e cheia de ideias. Queria incentivar a leitura e mostrar o livro como elemento transformador na nossa vida. Trazer palestrantes, atividades diferenciadas e até alunos de outras escolas, incentivando a competição. Aproveitaria tudo que aprendeu na vida e nos cursos especializados.
Voltemos ao início do texto. Homero vasculhou todos os lugares por onde Luíza costumava passar no dia-a-dia. Conversou com pessoas com as quais ela se relacionava e recolheu imagens das câmeras instaladas no prédio da faculdade e nas ruas. Reuniu um bom conjunto de provas, suficientes naquele momento, pra examinar e, provavelmente, descobrir onde estava Luíza, viva ou morta.
Saiu rápido do estacionamento da faculdade e, distraído, esqueceu-se de acender os faróis. Quase bateu num carro que passava pela rua. Pisou firme no freio, graças a Deus estava funcionando bem, e dos pneus, travados no piso da calçada, soltaram-se faíscas de fogo. Os dois motoristas desceram do carro e, é claro, armou-se uma confusão. Um xingava e o outro se desculpava. O morador de rua só observava e olhando pro alto pedia a Deus que se entendessem. E foi o que aconteceu. Uma hora a briga tinha que acabar.
Homero, por um tempo, permaneceu fora do carro, tentando esfriar a cabeça e se recompor. Foi, então, que notou a presença do maltrapilho. Aproximou-se dele, não sentiu cheiro de bebida e conversaram. O homem tinha ideias claras e o seu português era correto. Ele conhecia bem Do Li. Ela era atenciosa e sempre o levava até a cantina da faculdade pra jantar. Até contou que a viu no último dia em que trabalhou. Achou estranho porque ela não lhe deu o “boa noite” como fazia todas as noites. E, antes de ir embora, fez uma cara feia, de raiva e jogou um amassado de papel que acertou sua cabeça. Abriu o papel, mas não conseguiu ler o que estava escrito. “Estava escuro e a vista já não ajuda”.
O corpo de Luíza foi encontrado quinze dias depois, dentro de um poço num terreno abandonado perto da cidade.
O trabalho de investigação foi rápido e preciso. Dois homens já estavam presos, apesar de dizerem ser inocentes. A coleta de provas foi perfeita e as câmeras foram cruciais na identificação dos criminosos.
Dona
Lídia desembarcou no aeroporto e três policiais a aguardavam. Naquele
papelzinho amassado e sem importância que ela jogou e acertou a cabeça do
morador de rua estava escrito: “Eu me aposento, mas prometo que enquanto eu
viver, não deixarei ninguém entrar na minha cadeira”.
Parte VIII
Laura é uma jovem mulher de trinta e dois anos. Entusiasmada com a vida e cheia de planos. Chegou na vida de Alex no momento em que ele, com cinquenta e três anos e viúvo há muito tempo, necessitava da companhia feminina pra compartilhar a vida e usufruir as conquistas profissionais.
A missão como pai estava cumprida. Seu filho chegaria em breve de Londres, onde estudou por quatro anos. Estava formado, amadurecido e pronto pra assumir a vida.
Foi o encontro de dois mundos diferentes. A justiça de Alex e a arte de Laura se entrelaçam e desse entrelaçamento surge um grande amor, marcado pelo companheirismo, respeito e muito afeto.
Alex, investigador, como já sabemos, convive no dia-a-dia com o crime, um mundo que atenta contra a vida, a liberdade, a propriedade e a dignidade do cidadão. Envolve armas de fogo, assassinatos, roubos, sequestros, toda e qualquer ilegalidade. Uma vida estressante e cheia de pressão.
Laura é arquiteta e seu mundo envolve criatividade, sensibilidade e artes. Elabora-se um plano cujo objetivo é chegar próximo à perfeição. Eu definiria a arquitetura como a “construção da beleza”.
Já faz um ano que o grande sonho de Laura se concretizou. O vestido de noiva, o mais bonito de todos, o buquê de flores frescas do campo, a igreja cheirando a rosas e muita gente pra compartilhar esse momento tão especial para os dois. A lua de mel em Paris.
Alex e Laura deixam o consultório do médico abraçados. Catarina chegará daqui a sete meses. O pai parece mais bobo que a mãe. Nada melhor que um bom restaurante pra comemorar que tudo está bem com a mamãe e a bebê.
Ah!
Quase me esqueci… E comunicar ao filho do Alex que, depois de vinte e dois
anos, ele ganhará uma irmãzinha.
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