A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

“... que seja infinito enquanto dure” - Hirtis Lazarin

 



 “... que  seja  infinito  enquanto  dure”

Hirtis Lazarin

 

Vanda não tem preguiça.  Levanta cedinho, na ponta dos pés pra não acordar o esposo nem o filho. Prepara o café da manhã com todo o requinte como se cada dia fosse especial.

Ela se casou com o príncipe que desenhou na adolescência.  A beleza física do amado não era o mais importante. Tinha que ser superada pelos atributos de um cavalheiro educado e cortês. Nada econômico na distribuição de carinho.

 Encontrou Arpígio.

Moça romântica e apaixonadíssima gritava pra quem quisesse ouvir: juntos escalaremos a mais alta montanha; juntos atravessaremos mares revoltos; Juntos construiremos uma linda história de amor.  E, realmente, criaram um filho na mais perfeita harmonia.

Vanda, dona de casa organizada, caprichosa e criativa na cozinha. O dia  era curto pra tantos afazeres, mas o acúmulo de tarefas e a monotonia da rotina diária enchiam-na de prazer. Esperava o marido para o jantar sempre com uma novidade culinária.  Ele, pontualíssimo, não atrasava nem segundos. 

Arpígio cumpria horários rigorosos de segunda à sexta-feira: saía para o trabalho às nove horas da manhã e retornava às dezoito e trinta. Ligava pra casa três vezes ao dia, sempre preocupado com o bem- estar de todos. Os finais de semana e feriados eram dedicados à família.

Uma linda história de amor!

Filho já criado, a casa bem planejada e construída com esmero em cada detalhe, economias guardadas, tudo para uma aposentadoria de desfrutes e realização de outros sonhos.

Malas prontas para a primeira viagem internacional do casal, destino Paris.  Muita ansiedade, as horas não passam, horário do voo consultado vezes e vezes, lista pronta dos melhores restaurantes e cafeterias da “Cidade Maravilhosa”, roupas escolhidas a dedo, para um inverno rigoroso. E todos os documentos conferidos e conferidos.

Véspera do embarque.  O filho e esposa chegam à casa dos pais pra despedida. Beto toca a campainha mais que três vezes; bate na porta com força;  ninguém aparece. Espia o interior da casa pela vidraça da janela lateral; luzes acesas; não vê ninguém.

Esquisito. Falou com o pai antes do almoço e avisou que passaria por lá ao final da tarde.

Ele tem a cópia da chave da cozinha. Entra “muiiito” preocupado. Chama pelo pai, pela mãe e ninguém responde... Faz um “tour” pela casa e encontra Vanda descordada e caída sobre o tapete do quarto. Está inconsciente. O rapaz toma-lhe o pulso e ela respira com dificuldade.

Pouco tempo depois, o mais rápido que conseguiu em meio ao trânsito confuso, chegam ao hospital.  Depois de uma sequência de exames, horas e horas de observação, o médico constata que é gravíssimo o estado da paciente.

Desesperado, liga ao pai uma, duas, três, quatro vezes.  Só cai na caixa postal.  Tudo muito estranho.  Depois de aposentado, não deixava a esposa sozinha.  Que ele soubesse...

Já é de madrugada quando Arpígio chega ao hospital. A reação dele não é a que se esperava, mas o momento não é para explicações. É rezar e confiar em Nossa Senhora de Fátima, a queridinha da mãe em todas as horas de apuro e aflição. Incontáveis vezes, Beto encontrou-a ajoelhada no quarto, rezando e acendendo velas aos pés da santa de fé.

 Vanda recuperou os sentidos, mas não conseguiu mais falar.  Seus olhos redondos e arregalados transmitiam ódio.  A língua enrolada balbuciava sons ininteligíveis. Quando os mais próximos tentavam decifrar, percebia-se sua irritação, sua raiva por não se fazer entender. Momentos de angústia e muito sofrimento.

 O pai, o tempo todo,  inquieto e em silêncio, não  deixava transparecer os sentimentos. Parecia indiferente ao estado doloroso da mãe.  Uma personalidade que Beto desconhecia. Onde estava o esposo amoroso e dedicado?  Até exagerado, em situação de doenças passageiras. Aquele não era o esposo de Vanda...

Arpígio saía do quarto sem falar nada, parava na cantina e se enchia de café.  Não se lamentou nem chorou uma única vez.

Beto tentou arrancar-lhe alguma coisa sobre aquele dia, véspera da viagem, Nada conseguiu.

E, uma semana depois, pra muita tristeza, a mãe faleceu.

Apaixonada pela vida, Vanda sempre foi muito cuidadosa com a saúde.  O casal fez um “check up “ tão logo decidiram viajar e tudo estava sob controle.

“É...  pra morrer, basta estar vivo” – Como dizia minha querida e saudosa avó.

Arpígio ficou recluso durante uma semana. Após a missa do sétimo dia, a família se reuniu.

Beto aconselha o pai a vender o apartamento e morar com o casal.  Além da economia mensal, o netinho de quatro anos preencheria um pouco o vazio deixado pela esposa.  Sabia que não seria fácil pra ele viver só, depois de uma vida de  quarenta anos juntos.

O pai ouviu atento o conselho. Fechou a cara, pensou um pouco, cerrou as sobrancelhas e, pausadamente, pronunciou palavra por palavra o que pretendia fazer:

“Nada disso! Vou refazer minha vida. Isabel vem morar comigo. Ela é minha amante há mais de dez anos. Eu a amo mais que tudo nesta vida”.

Último Pileque - Helio Salema

 



Último Pileque

Helio Salema

 

Ana Helena, minha vizinha e amiga de infância, na década de 50, me envia um convite para a festa de sua formatura de Segundo Grau. Dia 04 de dezembro de 1965. Fiquei muito contente e emocionado. Quase 10 anos passaram e ela ainda se lembrou de mim. Sempre brincávamos com as outras crianças na rua. Na sua casa quando éramos só nós os disponíveis naquele momento. Sua mãe sempre fazia pipoca, além de outras guloseimas.

Até que seu pai, que era bancário, foi transferido para outra cidade, também no interior do Estado. Depois poucas vezes eu a vi. Lembro de eles terem vindo no casamento de um amigo do seu pai. Eles foram até lá em casa e conversamos por alguns minutos. Ela já demonstrava feições bem diferentes, já era uma mocinha. Não sei se seria capaz de reconhecê-la agora.

O melhor meio de transporte, para quem não tinha automóvel, era o trem Maria Fumaça, que ligava várias cidades naquela época. Às 20:30 horas peguei o trem, depois de me arrumar, impecavelmente. Terno, gravata e camisa social branca, além do tradicional sapato preto.

Cheguei ao local da festa pouco depois das 22. Havia poucas pessoas e ninguém conhecido.

Por algum tempo fiquei preocupado, olhando atentamente para ver se reconhecia minha amiga. Muitas pessoas chegando juntas, quando me assustei com ela, que pelas minhas costas chegava e me chamou pelo nome. Virei e a vi junto com seus pais e um rapaz que ela me apresentou como seu noivo. Todos ficaram surpresos e contentes com a minha presença. A mãe dela disse que foi a primeira pessoa a me reconhecer.

A festa foi uma maravilha. A dança da valsa, em que ela primeiro dançou com o pai, depois com o noivo. Convidou-me para dançar a última. Como não podia deixar de acontecer. Acabou ao som de um carnaval sensacional. Era quase 5 cinco horas quando me despedi deles. Também de algumas amigas dela que me proporcionaram horas de agradáveis companhias, inclusive a irmã do noivo.

Saí apressado em direção à estação, mas perdi o trem. No quadro de horário indicava que o próximo sairia às 8 horas. Mas o pior era o vento frio. Naquela serra parecia que o verão dera lugar ao retorno do inverno. Olhei em volta e não vi nenhum comércio aberto, nem boteco.

Fiquei caminhando na plataforma da estação, tentando me aquecer, sem solução.

Algumas pessoas que, provavelmente estavam na festa, vinham caminhando pelo meio da rua. Cantavam e riam como não querendo ver a realidade do fim da festa. Notei que um rapaz carregava uma garrafa que parecia ser de vodca. Fui ao encontro deles. A garrafa estava pelo meio.

Perguntei se ele me vendia, pois estava com muito frio. Ele riu e disse que custava cem vezes o que eu tinha no bolso. Respondi que mesmo que tivesse seria pouco pela minha necessidade e esperança de aquecer. Ele tomou uma golada, riu e me passou a garrafa. Saiu dizendo:

— Bom proveito.

Agradeci, mas creio que ele nem ouviu. Voltei para a estação e procurei um lugar mais afastado para ficar sem ser perturbado. Encontrei um banco ao lado do prédio, onde poderia ficar longe dos curiosos. Bem acomodado, em pequenos goles fui aos poucos espantando o frio do meu corpo. Já um pouco aquecido e cansado, senti a presença do sono. Não tive dúvidas. Tomei uma dose dupla ou tripla, deitei no banco, com preocupação de proteger bem a garrafa já quase vazia, para não desperdiçar o restante que ainda poderia ser útil. Também evitar que alguém tentasse pegá-la.

Os raios de um sol maravilhoso, que tantas vezes curti e me deram a gostosa sensação de que nascera um novo e promissor dia o sentia em todo o meu corpo, só não conseguia abrir os olhos. A boca amargava, o estômago parecia embrulhado em papéis sujos de todas as porcarias que havia no mundo. Numa rapidez de uma vaca estourada, começaram a sair. Firmei as mãos no banco. Talvez tenha perdido os sentidos. Lembro de que olhando para o chão vi a garrafa, intacta. Menos mal. Ninguém por perto. Melhor ainda. Alguns respingos de sujeira nas mangas do paletó.

Levantei e fui lentamente, em direção ao banheiro. Alguém entrava. Esperei até que saísse. Chegando à porta certifiquei de que não havia outra pessoa.

Rapidamente, lavei as mãos e o rosto. Mesmo não tendo espelho, tentei ajeitar o cabelo. Consegui limpar os respingos do paletó.

Fui andando até o bar da estação. Preocupado com minha aparência. Não deveria estar ruim, pois não houve nenhuma reação desagradável da parte da moça que me atendeu. Bebi a água aos poucos. O relógio na parede marcava 08:40. Perdi o trem outra vez. O próximo só às 13:40h. Agora não adiantava ter pressa. Sentindo que passaria ali uma boa parte do domingo, saí e fui caminhando. O estômago parecia estar recuperado. Pois solicitava algo, desta vez, mais adequado, para satisfazê-lo. Não demorei a ver um bar que parecia agradável e confortável, tinha mesas com cadeiras. Depois de um misto quente com Coca-Cola degustados, com muita calma, me senti vivo e bem-disposto novamente. Informaram-me que antes do trem só indo para a estrada tentar uma carona. Coisa que nunca tinha feito, parece que isso demonstrei, ao ouvir que não era difícil. Com sorte poderia conseguir em pouco tempo. A palavra “Sorte” me desanimou um bocado. Lembrei que estava sem escovar os dentes há muitas horas. Talvez ainda com um pouco de bafo da vodca. Comprei um pacote de biscoitos que poderia ser útil na viagem e um drops Dulcora para melhorar a boca. Como ninguém sugeriu outra solução, agradeci desejando um bom domingo a todos. Responderam com boa viagem, sem mencionar a palavra “Sorte”.

Na estrada, carros e caminhões a toda hora. Poucos pararam, mas não passavam pela minha cidade. Vi ao longe uma Rural Willys verde e branca, assim que acenei parecia que ia diminuindo a velocidade. Apreensivo fui ficando cada vez mais à medida que se aproximava.

Um casal na frente e alguém no banco de trás que não consegui identificar. Passou por mim e parou alguns metros à frente. Fui pelo lado do motorista e perguntei se passava pela minha cidade e se poderia me dar uma carona.  Muito sério respondeu que sim e que poderia entrar atrás. Por um instante fiquei inseguro, não sei porquê. Foi quando ele repetiu que podia entrar. Então abri a porta com um pouco de dificuldade, era a primeira vez que abria a porta traseira de uma Rural. Ao entrar percebi que no outro canto havia uma moça. Cumprimentei e pedi licença, respondeu sem me olhar. Tranquei a porta.

 Por alguns minutos a viagem transcorreu em silêncio. Quebrado pela senhora que me perguntou seu eu fui à festa de formatura. Respondi que sim.  Bateu um medo enorme. E se perguntassem o porquê eu não tinha ido nos dois trens que passaram. Pensei em várias respostas que não me comprometessem.

Resolvi falar que fui convidado por uma antiga amiga, Ana Helena. A senhora virou-se para trás e perguntou à filha se a conhecia, que respondeu, afirmativamente. 

Surpreendentemente, olhou para mim e disse que ano que vem será a formatura dela. Pensei “ meu Deus, tudo de novo? Não. Nesta cidade não quero voltar nunca mais. ”

Meu silêncio foi interrompido quando ela perguntou se eu gostava de festa. Respondi que sim.

Ela me olhando descreveu em detalhes a festa que há anos ela ajuda. Seria no próximo sábado. O intuito é arrecadar para compra de brinquedos para o Natal de crianças pobres.

Reparei nos olhos azuis tão lindos como o mar que eu tanto admiro quando vou à praia. Sempre de frente para ela lembrei do drops Dulcora. Ao oferecê-lo, ela aceitou com um sorriso que provocou um tsunami em mim. Todo o meu corpo, instintivamente, reagiu ao esplendor daquela boca, que como uma obra de arte, contrastava o vermelho dos lábios e a pele branca.

A voz como o som de um violino, suave e magistralmente tocado. Cada palavra que penetrava nos meus ouvidos atingia a alma jovem e esperançosa, que algumas horas antes se sentia no purgatório.

Creio que o pai ouvindo nossa conversa transformou a Rural num helicóptero, que num instante aterrissou na entrada de minha cidade. Despedi dos pais dela agradecendo pela carona. Ao me despedir, DELA, senti como sua mão suave estava bastante aquecida. Bem baixinho perguntei:

 

— Seu nome?

—Helena. E o seu?

— Cláudio.

  Sem pensar disse:

— Até sábado.

Com um sorriso e dois olhos fumegantes! Respondeu.

— Sim, até sábado.

Como um cachorro que sabe que vai ser preso, mesmo assim, segue a direção que o dono manda, peguei o trem pela manhã. Quando aproximava da estação vi a praça com várias barracas.

Desci e fui naquela direção. Passei por duas ou três, logo a vi dentro de uma delas. Por instinto ou transmissão de sentimento ela se vira e ao me ver explode num sorriso. Eu não me continha de tanta emoção. A amiga mais próxima dela percebe e olha na minha direção, cochicha no ouvido dela e sai sorrindo. Dando a entender que sabia o que estava para acontecer.

Conversamos por poucos minutos, quando aquela amiga chega e pede para ela ir até uma certa casa pegar algo. Ao chegarmos na tal casa ela entrou. Quando saiu disse-me que já tinham levado. Fiquei desconfiado de que era uma boa armação para ficarmos sós.

Na volta ao passarmos perto da praça a convidei para sentarmos. Aceitou e deixou escapar um sutil sorriso. Pronto, a desconfiança cedeu lugar a certeza. Falamos sobre como foi a nossa semana. Ansiedade para saber se iríamos nos encontrar dominou a conversa. Quando ela disse que naquela noite ficou muito tempo acordada pensando em mim, não resisti. As bocas silenciosamente se comunicaram. O mundo parou. A vida parou.  Aliás, tudo parou.

Um novo mundo, uma nova vida e uma nova história começava.

 

Hoje é dia de Finados, como sempre nos últimos anos. Voltei àquela cidade.

Desta vez meu filho estava junto. Não por vontade, mas pela minha insistência e a presença da namorada, que conseguiu convencê-lo. Fomos ao cemitério, como de praxe e não poderíamos deixar de ir. Na saída sugeri darmos uma volta para Stefanni conhecer a tão falada pequena, mas cativante cidade a que eu sempre me referia.

Parei o carro na praça, descemos e vimos que estava bem cuidada. Ao passarmos por um conhecido banco, parei e falei:

— Meu filho, aqui eu e sua mãe começamos a namorar.

Todos riram. Minha esposa aproveitou para sugerir que fôssemos também à igreja em que casamos. Lembrou que pretendemos fazer uma festa no próximo ano, quando completaremos 25 anos de casados.

A igreja estava muito bem conservada. Passamos pelo colégio que embora reformado, com aparência de novo, minha esposa não gostou. Para ela a quadra, embora necessária, prejudicou a beleza do prédio. Por sugestão minha fomos até a estação do trem. Desativada há muitos anos, mesmo assim continuava como eu sempre a conheci. Stefanni ficou fascinada com a “janelinha”, segundo ela, onde eram vendidos os bilhetes. Conduzi todos ao outro lado.

Chegando foi a minha vez de ficar surpreso e fascinado. Aquele banco ainda estava lá. Parecia que fora pintado há poucos dias.

Decidi contar com todos os detalhes o que ocorreu ali. Meu segredo bem guardado, só então revelado.  Minha esposa ficou espantada tanto quanto os demais. Jamais pensaria que coisa semelhante poderia ter ocorrido. Completei dizendo que tudo aconteceu poucas horas antes de conhecer o grande amor da minha vida. Resolvi revelar outro segredo. Naquele dia quando cheguei em casa.

“Jurei que esse seria meu último pileque, pois com certeza o raio da sorte não cai duas vezes na mesma pessoa”

FIM INESPERADO - Henrique Schnaider




FIM INESPERADO

Henrique Schnaider

 

Claudio era o tipo do homem sem vergonha, pessoa sem carácter, não merecia a mulher com quem se casou. Mentiroso contumaz, dado a aventuras baratas com mulheres descompromissadas, e elas estando com ele juntavam-se a corda e caçamba.

Sueli uma santa mulher, casou-se com o safado, seu primeiro namorado. Inocente, pura, acreditando que Cláudio era o melhor marido do mundo e que chegava tarde da noite, apenas por excesso de trabalho. Enquanto isso, o sujeito estava na gandaia deitando e rolando.

A ingênua da esposa estava sempre disposta a acreditar nas deslavadas mentiras que o vigarista contava. Lorotas que corriam as pessoas só de ouvir o lero-lero do picareta. Que não tinha nenhum problema de consciência ao enganar Sueli descaradamente. Sueli era mesmo do tipo do que me engana que eu gosto.

Enquanto isso, o irresponsável do Claudio ao chegar tarde todas as noites já nem se preocupava em arranjar desculpas muito bem elaboradas e contava as mais esfarrapadas mesmo. Assim a vida ia tomando o seu rumo diário, sem novidades na vida do casal. Ele sempre com novas aventuras e se esforçando para acreditar no vigarista.

Claudio tinha tanta sorte que ao chegar em casa com aquela cara de santo do pau oco, ainda Sueli, na maior boa vontade, se levantava da cama e muito prestativa era toda atenção e carinho com o marido. Preparava o prato dele de comida e sentava-se para ouvir as balelas do falastrão desavergonhado.

Como o sujeito tinha uma coleção de amantes e nem todas agiam da mesma maneira. Algumas não se conformavam em ser a segunda da fila e com isso davam um jeito de descobrir o telefone da casa dele e assim, Sueli começou a receber telefonemas anônimos persistentes contando para ela que o marido não era fiel.

Sueli dentro da sua inocência, começou a criar minhocas na cabeça e já não se sentia tão confortável. Começou a desconfiar que o marido não era o companheiro que merecia todo aquele amor e carinho que ela lhe dedicava.   Muito pelo contrário. Depois de uma conversa com a mãe que era uma sogra para valer e sempre desconfiou do Claudio, resolveu tomar uma atitude.

Contratou um detetive para investigar as escapulidas do Claudio e a sujeira veio toda à tona, pois Claudio ignorava a mudança de atitude da mulher e continuava suas farras. O investigador lhe mostrou fotos e gravações que deixaram a esposa furiosa e dessa forma começou a pensar numa vingança que doesse fundo no marido.

Sueli pegou no ponto fraco de todos os homens, ou seja, o fato de ser traído, o que mexe com o ego e os brios, e ainda mais Claudio que se achava o tal e que tinha a mulher no bolso do colete. Assim ela mudou de atitude e saiu também em busca de aventuras e para uma mulher vistosa e bonita, foi muito fácil e logo já estava envolvida.

Só que Sueli queria que o marido desconfiasse e jogou abertamente e deu todas as dicas para Claudio desconfiar, e ficar com um incômodo na cabeça. Ele parou com as aventuras e começou a seguir as escapadas da Sueli, que saiu de casa sabendo que o esposo a estava seguindo. Encontrou o suposto amante e foram para o motel.

Claudio furioso quebrou a porta do quarto e pegou a mulher em pleno ato libidinoso. Ele começou a gritar desesperado e falou poucas e boas para Sueli e ameaçou agredir o amante. A esposa olhou de forma fria para o marido e falou dura e seca. Meu caro você me traiu inúmeras vezes e ainda vale o velho ditado” Quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Fim do casamento e Claudio saiu no prejuízo, pois perdeu uma mulher que era uma santa para ele e ganhou a fama de cornudo perante as pessoas. Já que o escândalo foi enorme e o arrependimento que veio, foi tarde demais.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

AS FLORES - O PILEQUE - LEON ELIACHAR - Uma pitada de humor

 

Nos  dois textos abaixo, ambos de Leon Eliachar, temos uma pitada de humor no desfecho. 

Vejam que o humor oferece ao leitor um tipo de emoção capaz de reter o texto no subconsciente do leitor. 

E é sobre esse assunto que falaremos em nosso encontro de 23 de setembro 21. Sugiro que pesquisem sobre o autor e sobre sua literatura.




As flores  -  Crônica de Leon Eliachar


Há dois meses que Iracema recebia flores, sem cartão. Colocava tudo nas jarras, vasos, copos; mesas, janelas, banheiro e até na cozinha. Quando o marido lhe perguntava por que tantas flores, todos os dias, ela sorria:

— Deixe 
de brincadeira, Epitácio.

Ele não percebia bem o que ela queria dizer, até que um dia:

— Epitácio, acho bom você parar 
de comprar tanta flor, já não tenho mais onde colocar.

Foi aí que ele compreendeu tudo:

— O quê? Você quer insinuar que não sabia que não sou eu quem manda essas flores?

Foi o diabo, ela não sabia explicar quem mandava, ele não conseguia convencê-la 
de que não era ele.

— Um 
de nós dois está mentindo — gritou, furioso. 

— Então é você — rebateu ela.

No dia seguinte, 
de manhã, ele decidiu não sair, pra desvendar o mistério. Assim que as flores chegassem, a pessoa que as trouxesse seria interpelada. Mas não veio ninguém:

— Já são duas horas da tarde e as flores não chegaram Epitácio. É muita coincidência. 
Vai me dizer que não era você. 

Ele não tinha por onde escapar. Insinuou muito 
de leve que a mulher devia ter conhecido alguém na sua ausência. Ela chegou a chorar e se trancou no quarto. A discussão entrou pela noite até o dia seguinte. Epitácio saiu cedo, sem mesmo tomar café. Bateu a porta com força e levou o mistério para o trabalho. 

Meia hora depois, a mulher saiu e foi ao florista.

— Como vai, Dona Iracema? A senhora ontem não veio, hein? Aconteceu alguma coisa?

À noite, Epitácio viu as flores e não disse uma palavra, mas a mulher não parou:

— Seu cínico. Bastou você sair para as flores aparecerem e ainda tem coragem 
de dizer que não foi você.

Nessa noite ele teve insônia.


Texto extraído do livro "O homem ao zero", Editora Expressão e Cultura – Rio 
de Janeiro, 1968, pág. 275.



O Pileque – Crônica de Leon Eliachar

Airton saiu da boate cambaleando, não viu quando um automóvel quase o pegou. Não viu, mas ouviu:

– Sai da frente, ó palhaço!

Riu sozinho, porque nem levou susto. Olhou para o alto, viu uma porção de janelas iluminadas, como se fossem manchetes da solidão que domina Copacabana, às quatro da madrugada. Queria ir pra casa, mas não se lembrava onde morava. Seus amigos quiseram colocá-lo num táxi:

– Deixa que sei ir sozinho.

Veio andando, andando, sem rumo certo, duas moças o abordaram:

– Está sem sono, meu bem?

Airton disse um palavrão, ouviu dois, saiu resmungando, esbarrou num guarda:

– Tem fogo aí, o meu chapa?

O guarda acendeu seu cigarro, aproveitou pra filar um, tentou puxar um papo, mas Airton preferiu continuar andando. Agora o dia já estava clareando, o sol vermelho esticava as sombras de algumas pessoas que começavam a sair e ele ainda nem tinha voltado. Sentou-se no degrau de um edifício, chegou um homem pra reclamar, dizendo que era contra o regulamento. Airton achou graça do regulamento, porque o homem era um lavador de automóveis e estava complemente nu. Levantou-se, sem discutir, levou de sobra os respingos da mangueira, mas não perdeu a pose:

– Quanto é a lavagem?

Continuou andando, entrou num boteco:

– Média, pão e manteiga.

Comeu devagarinho, pagou, misturou-se com a multidão de homens e mulheres apressados que tentavam condução para o trabalho. Sentiu-se diferente dos outros, quis ficar com pena deles, mas acabou com pena de si mesmo, quando percebeu que estava com um dia de atraso: os outros já estavam vivendo o dia seguinte e ele ainda estava no ontem.

– Táxi! Táxi!

Saltou na porta de casa, decidido de que este seria o seu último pileque. Abriu a porta com cuidado, entrou devagarzinho, sem fazer o menor ruído. A mulher já estava na cozinha, preparando o café das crianças:

– É você, Airton?

Não teve outro jeito:

– Sou eu. Tive de fazer serão novamente, acabei num bar com os amigos, juro que foi a última vez, meu bem.

A mulher não disse uma palavra, deu-lhe um copo de leite:

– Acho bom você dormir um pouco, deve estar muito cansado.

Ele passou pelo quarto dos meninos, deu um beijo na testa de cada um. O menorzinho acordou, bocejando:

– Você já vai trabalhar, papai?

Sentiu vergonha de ser marido, de ser pai, de ser chefe de família. Retirou-se para o seu quarto, vestiu o pijama, cerrou as cortinas, para que a escuridão envolvesse o seu drama. Ficou pensando em Nina, sua amante, comparou-a com a mulher. Há três anos que a conhecera e há duas semanas que havia decidido romper, definitivamente, para salvar o seu lar. Mas não conseguia esquecê-la, daí ter apelado para a bebida. Saia sozinho, todas as noites, voltava de madrugada, não sabia sequer se a mulher aceitava suas desculpas ou se o aceitava assim mesmo como era, porque o amava muito. Não conseguia dormir, não conseguia trabalhar, não conseguia mais nada. Deitava-se às oito da manhã, levantava-se as duas. Há quinze dias não almoçava nem jantava em casa e sua família não merecia isso. No escritório, resistia a tentação de uma reconciliação com “a outra”:

– Diz que não estou.

À noite era um desajustado, um homem incompatibilizado consigo mesmo, tentando lavar com a bebida um passado ainda recente. Entrava nas boates, juntava o seu drama a outros dramas semelhantes, na efervescência do álcool. Todos sorriam, mas ninguém levava o sorriso pra casa. Pior que o cansaço, a insônia. Levantou-se, trocou novamente de roupa, foi tomar café com a mulher:

– Você não vai dormir, meu bem?

Sentiu-se forte com a doçura e a compreensão da mulher:

– Não tenho sono, preciso decidir um negócio muito importante hoje.

Tomaram café, ele saiu apressado. À noite, trouxe balas para os filhos e flores para a mulher. Jantaram juntos, com luz de vela. De madrugada, ao lado de seis garrafas de champanha vazias, os dois estavam caídos, também vazios. Acordaram quase juntos, com o primeiro raio de sol. Ela apertou sua mão, com um sorriso feliz, ele disse, sem virar o rosto do chão:

– Meu Deus, já é dia claro, tenho de voltar pra casa!

 

terça-feira, 21 de setembro de 2021

A CARTOMANTE - Alberto Landi

 


A CARTOMANTE

Alberto Landi

 

Caterina, recém-casada e ainda desfrutando da lua de mel, foi surpreendida com uma notícia bem triste.

O casal foi separado quando irrompeu a Segunda Guerra, e ele é enviado para o fronte de batalha na Sicília. Não havia alternativa   para dizer não diante da convocação.

Ele se foi entre prantos e soluços.

Caterina, desesperada saiu à procura de uma cartomante, que por sinal, era muito famosa, que atende com hora marcada, com pagamento adiantado e de um valor bem considerável.

Ela foi cordialmente recepcionada pela mesma numa sala em um ambiente à meia luz.

— O que deseja saber minha jovem?

— O meu esposo foi convocado para a guerra no fronte, e eu gostaria de saber se ele vai retornar! Por favor, veja nas cartas e na quiromancia o que dizem.

A cartomante começou a fazer seus ensaios, como de praxe fazia com outros clientes. Jogou as cartas, olhou... analisou...pensou... repensou...

Caterina continuava apreensiva e desesperada.

— Por favor, fale logo, pelo amor de Deus!

— Minha jovem, não é meu hábito falar aos meus clientes o que as cartas e a quiromancia me dizem. É isso que me difere das outras cartomantes que existem por aí.

— Você pode aguardar na sala ao lado, que a minha secretária te levará por escrito o resultado da consulta.

 Caterina foi para outra sala, um tanto angustiada. Recebeu o envelope pela secretária e não se contendo de tanta curiosidade e desespero leu o conteúdo.

— Graças ao bom Deus, pelas boas notícias!

 A mensagem dizia:  Irás Voltarás Nunca Morrerás

Passou muito tempo, um ano se foi e a guerra se findou. Passaram-se mais dias e nada do soldado retornar.

Caterina voltou à casa da cartomante, furiosa, esbravejando, disposta a tudo.

— Calma minha jovem, calma.

— Como calma? Você disse que meu marido voltaria, onde está ele? Paguei um valor considerável e tudo que foi dito era mentira.

— Calma, deixe-me ver o papel.

— Olhe aqui!

Irá  Voltará   Nunca Morrerá

A sábia e matreira  cartomante leu e explicou:

— Minha jovem, não te enganei.

— Como não?

— A minha secretária esqueceu de colocar a pontuação no pequeno texto. Veja;

Irá Voltará Nunca Morrerá

O correto é:

Irá. Voltará? Nunca. Morrerá!

MADAME SORAYA - Leon Vagliengo

 



MADAME SORAYA

Leon Vagliengo

 

        Mario conheceu Maria em Fátima, Portugal, num dia treze de maio, na festa de comemoração do dia da aparição de Nossa Senhora. Ambos muito devotos à Santa e ambos com vinte e cinco anos, comemorados também naquele dia. Não foram atributos de beleza que os atraíram; não eram feios nem bonitos, mas a simpatia e a bondade de Maria logo cativaram Mario, assim como a gentileza e o carinho de Mario logo cativaram Maria.

        Aquela amizade resultou em casamento um ano depois, realizado exatamente no dia treze de maio, data escolhida simbolicamente por ambos. Não tiveram filhos, mas viveram felizes, muito felizes, por treze anos, quando Maria, desgraçadamente, veio a falecer, ainda jovem, aos trinta e oito anos, acometida por um enfarte fulminante.

        A perda de sua esposa, companheira e amiga de todos os momentos, deixou Mario completamente perdido, não sabia mais como viver sem ela. Sentia-se muito só, frequentemente sonhava com Maria; mas sempre a via morta, sua imagem imóvel, sua tez muito pálida, seus lábios arroxeados. Eram pesadelos terríveis, acordava molhado de suor, chorando, em desespero.

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        Ao longo de quase treze anos esses pesadelos foram rareando por artes protetoras de sua mente. Mario foi se conformando, a vida encontrou seus trilhos; mas continuava infeliz, sempre com muitas saudades da companheira maravilhosa com quem compartilhara uma vida tão tranquila, com quem vivera tantos bons momentos. Algumas vezes até pensou em procurar um médium, tentar um contato espiritual com Maria, mas logo descartava isso, pois não se coadunava com a sua crença.

        Pouco faltando para que se completassem treze anos da morte de Maria, uma noite sonhou com ela novamente; porém, desta vez ela lhe sorriu e disse que estava bem, embora em outro plano, mas sentia a sua falta e não queria que ele estivesse tão triste. “Procura uma cartomante para conhecer a tua sorte” ela o aconselhou no sonho; e esse sonho se repetiu exatamente igual ainda duas vezes naquela mesma noite, o que não era nada comum.

        Mario acordou e lembrou-se inteiramente do sonho com ela, como sempre acontecia. Achou muito, muito perturbador aquele sonho repetido. Embora fosse uma pessoa realista, não conseguia deixar de pensar que poderia tratar-se de uma recomendação vinda de Maria, vinda do Além. E imediatamente reagiu, não aceitando a ideia estranha de procurar uma cartomante em razão de um sonho. E nos dias que se seguiram, tudo acontecia novamente:  admitia tal hipótese, reagia, negava; admitia, reagia, negava.

        Após uma semana incomodado com aquela cisma que não cessava, Mario voltou a sonhar novamente o mesmo sonho: Maria dizendo que estava bem e que ele procurasse uma cartomante para conhecer a sua sorte.

Levantou-se da cama, ainda aturdido com mais uma repetição daquele sonho. Como fazia em todas as manhãs, recolheu a correspondência que o zelador do prédio deixou na porta da entrada de serviço de seu apartamento. Entre elas um folheto, onde leu: “As cartas não mentem jamais – venha conhecer a sua sorte com Madame Soraya”, seguido do endereço da cartomante.

        Assim já é demais! – Exclamou em voz alta, apesar de estar só.

        Mario, então, decidiu-se. Resolveria alguns assuntos pela manhã e iria à cartomante após o almoço. Teria que deslindar esse assunto que o estava atormentando. Afinal, pensou, “estou com cinquenta e dois anos, não devo nada a ninguém, o que me impediria de consultar uma cartomante? Que mal haveria? Seria como atender a uma recomendação póstuma de minha amada e saudosa Maria”.

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        O endereço era no bairro da Bela Vista, rua Treze de Maio. Mario logo percebeu a coincidência do endereço com aquela data tão importante para ele. Naquele contexto, parecia até mais do que uma simples coincidência, mas não quis acreditar nisso. “Estou imaginando coisas demais”, pensou.

O sobrado era simples, mas bem conservado. Mario tocou a campainha. Uma senhora de boa aparência, nem feia e nem bonita, veio abrir a porta, e ele perguntou por Madame Soraya.

        Sou eu mesma – disse ela sorrindo, revelando dentes brancos e perfeitos.

        Vim para consultá-la sobre minha sorte – respondeu Mario.

        Soraya pediu que ele entrasse e o encaminhou para uma saleta simples, com apenas uma mesa e duas cadeiras confortáveis. Convidou-o a sentar-se numa das cadeiras, pegou o baralho e sentou-se na outra.

        Eu já o esperava. Hoje eu tive um forte pressentimento, li a minha própria sorte e ela revelou que um senhor viria me consultar e mais algumas coisas...– deixou a frase no ar, sem concluir.

        Enquanto ela falava, Mario ia se encantando com aquela mulher muito bem conservada, de voz doce e suave, vestida com simplicidade e bom gosto, aparentando uns cinquenta anos. Bem diferente da imagem que tinha das cartomantes, que imaginava muito velhas, mal-educadas, gordas e desleixadas.

        Ela continuou a lhe falar, fez várias perguntas enquanto embaralhava e dispunha cartas sobre a mesa, e tornava a embaralhar e perguntar. Lendo nas cartas, aos poucos foi confirmando para Mario coisas que ele já sabia e conquistando a confiança dele nos seus vaticínios. Descobriu o sentimento de tristeza que o dominava e lhe assegurou: “a partir de hoje, treze de maio, o senhor será feliz novamente, pois assim dizem as cartas, e as cartas não mentem jamais”.

E sorriu para ele.

Mario teve a nítida impressão de que ela sabia mais alguma coisa que não contou.

Hoje é treze de maio? – Perguntou, surpreso, ao ouvi-la dizer, mas já lembrando que sim, e que era a data do seu aniversário e do de Maria.

A simples menção daquela data, tão significativa para ele, fez desencadear uma sequência de fatos em sua mente: os sonhos com os conselhos de Maria, os treze anos passados de sua morte e completados naquele dia, o endereço da cartomante, o pressentimento de Soraya...

Instantaneamente, tudo ficou muito claro! Mario sentiu, afinal, que havia compreendido os seus sonhos repetitivos, que havia compreendido as mensagens de Maria, que havia compreendido o presente póstumo de amor e carinho que ela lhe dera. O coração passou a bater muito forte e os olhos encheram-se de lágrimas, enquanto em seu pensamento dirigiu um profundo agradecimento a Maria.

Sim, para Mario ficou claro que Soraya, a cartomante, fora destinada para mudar o seu destino. E como ela disse que havia lido nas cartas a própria sorte, a sua atenção tão carinhosa deixava evidente que já sabia que seria a sua nova companheira, presente da sua amada e inesquecível Maria.

Naquele momento, de tão emocionado, Mario nem pensou na hipótese da reencarnação...

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O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...