A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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terça-feira, 27 de outubro de 2020

ANTOLOGIA MEMORISTA - ATÉ 20 NOVEMBRO 2020

  


ANTOLOGIA


MEMÓRIAS DE NÓS


PARTICIPE!

ESCREVA! 

DIVIRTA-SE!


Contar histórias vividas, segredos guardados, lembranças, amigos, risos...faz  parte da vida de cada um.

Venha para nossa antologia MEMÓRIAS DE NÓS.

Participe com até 2 textos: conto, crônica ou poesia.

Até 20 de Novembro de 2020.

Veja mais detalhes no site da Editora Literatum: 

www.literatum.com.br






Foi só um descuido - Hirtis Lazarin

 



Foi só um descuido

Hirtis Lazarin     

 

A primavera bateu mansamente na porta da mansão como faz todos os dias.  Desta vez não conseguiu entrar.

Na cozinha, o casal toma café.  Hoje está diferente.  Cada um senta numa ponta da mesa comprida.  Não se olham nem se falam.   Abatida e olheiras profundas mostram que Christina passou a noite acordada.  Roberto, vez ou outra, disfarçadamente, lança lhe um olhar enfurecido e cheio de azedume.  Sai apressado e bate a porta com raiva.

Estão casados há quase trinta anos.  Dois filhos: Lucas, engenheiro e casado, mora no exterior; Vitor estuda Direito.

Um casal esforçado e bem-sucedido.  Ele, administrador de multinacional; ela psicóloga e orientadora vocacional.

Colecionam amigos e não lhe faltam motivos para comemorar a vida.  A casa espaçosa está sempre movimentada e aberta a todos.

 Naquele dia, Fernando voltou do trabalho bem mais tarde que o habitual.  Estacionou na garagem por volta das vinte e duas horas.  A casa estava no escuro.  Era quinta-feira e toda quinta era dia de um jantarzinho especial.   A comida era repartida na panela; os problemas, divididos, as soluções, somadas e o carinho multiplicado.

Roberto percorreu o corredor comprido e estreito, paralelo à construção, até alcançar a cozinha.  Porta aberta.  Acendeu as luzes.  Sobre a mesa da cozinha, o caderno de receitas especiais, aberto às páginas quarenta e cinco, comia farinha de um saco rasgado; no chão, ovos quebrados viraram lama amarela e escorregadia.

Na sala de jantar, ao pé da escada de mármore em caracol e que dá acesso ao piso superior, Christina está caída, rosto voltado para cima.  Um fio grosso de sangue escorreu da cabeça e o fluxo interrompeu-se no canto esquerdo dos lábios volumosos.  

Roberto desespera-se.  Agacha e tenta reanimá-la.  Infelizmente, não há sinal vital.  O corpo gélido diz que não há mais nada a fazer.

Um mal súbito e Christina despencou escada abaixo?  Desequilibrou-se no sapato de salto altíssimo?

O laudo expedido pelo IML indica morte causada por forte golpe na cabeça com traumatismo craniano.

MISTÉRIO!  Não havia sinais de arrombamento, nada fora levado.  

Ela fora morta na cozinha e arrastada.  O luminol indicava rastro de sangue até as escadas. 

Enquanto pessoas eram convocadas a depor, a casa foi liberada.  O viúvo demorou semanas para enfrentar a nova realidade.

A governanta Amália, inconformada com tamanha brutalidade, foi autorizada a encaixotar os pertences de Christina para doação.  Foi muito estressante sentir o perfume impregnado nas roupas finas da patroa, desfazer os armários rigorosamente organizados, tantos sapatos novos de salto alto...  Sua presença, seus conselhos acompanhados de reprimendas suaves fariam muita falta.  Trabalhava ali desde que os meninos eram pequenos.

Abrir aquele punhado de bolsas...  Numa pequena e antiga, encontrou a agenda do ano. Sem pensar abriu.   Havia anotações até a véspera do assassinato, dezenove de setembro.  A página estava toda preenchida. Muitos rabiscos e borrões de lágrimas.  Leu de cabo a rabo diversas vezes.  Chorou ajoelhada e rezou inconsolável.

"O relógio marca duas horas da manhã.  Reuni força e coragem.  Contei tudo ao Fernando.  Guardo esse segredo há mais de vinte anos.  Dezembro estava chegando e a formatura do Vítor também.  Eles tinham o direito de saber a verdade.  A mentira queimava-me.  Não suportei mais o peso desse fardo.  Olhei firme nos seus olhos, contei-lhe tudo.  Contei-lhe que o menino é filho de Afonso, meu primeiro namorado.  Encontramo-nos por acaso numa loja masculina.   Roberto viajava a trabalho e ficaria ausente quase um mês.

 Encontros amorosos, ardentes e rápidos, foram suficientes para eu engravidar.

A boca de Fernando espumava de raiva.  Ouvi uma ladainha de palavrões e ofensas.  Eu merecia...

Ergueu os braços, cerrou os punhos para me agredir, mas desistiu no caminho.  Gritou que não valia a pena.  Mas se vingaria.

Trancou-se no quarto de visitas e deu muitos murros nos móveis".

Uma oportunidade conduz diretamente à outra; assim como o risco leva a outro risco; a vida, à vida; a morte, à morte.

Amália sabia exatamente o que tinha que fazer...

O SEGREDO QUE GUARDAMOS... - Dinah Ribeiro de Amorim

 




O SEGREDO QUE GUARDAMOS...

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Guardamos segredos? Sim, muitos... Sou aquela pessoa amiga que, não sei o porquê, toda pessoa se abre e confia...Fiquei a pensar nisso quando ouvi pela primeira vez de uma amiga:" Posso contar a você! Sei que para aí!"

Entre as inúmeras coisas que ouvimos, boas, más, comuns, uma coisa me vem sempre à memória. Ainda bem jovem, acostumada a puxar conversa com todos, procurei ser simpática e iniciei um bate papo com uma senhora de aparência moça, ainda bonita, elegante, numa fila de ônibus. Iniciamos com algum comentário sobre condução, demora, ou outra coisa qualquer. Não lembro bem. Ela deve ter simpatizado comigo porque confessou que esperava um senhor amigo para levá-la em casa. O ponto de ônibus era o lugar do encontro.

Muito amável, perguntou em que direção eu ia, poderiam levar-me também. Felizmente, era uma época e um local em que existiam essas amabilidades, nem imaginávamos algum perigo ou má intenção. Eu aceitei e agradeci, contente pela nova amiga.

Logo após, estaciona uma perua que hoje seria considerada antiga ou, já nem existe mais, ela abre a porta, entra e me convida a entrar, dizendo ao amigo que me levariam também.

Espanto, surpresa, o senhor me olha e emudece e eu também. Ele não sabe se dá a partida, e eu não sei se continuo ou desço. Era o pai de uma grande amiga, um marido conhecido como exemplar, e eu frequentadora de sua casa.

Fingi não o conhecer e abaixei a cabeça, e ele, muito sem graça, levou-me ao meu destino. Quem não percebeu nada foi a senhora que pensei ter feito uma amiga. Agradeci a carona e desci rápido. Num lugar pequeno, onde todos se conhecem, imagino os apuros que esse homem passou. Se é que se importou muito com isso.

Muitos anos passaram, nem sei quem ainda existe, mas, chamada a escrever sobre guardar segredos..., esse fato me vem à lembrança e conto pela primeira vez. Não sei porque, não estou satisfeita. Devo ser amiga fiel, mesmo...


O cãozinho aventureiro - Alberto Landi

    O cãozinho aventureiro Alberto Landi                                       Era uma vez um cãozinho da raça Shih Tzu, quando ele chegou p...