A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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terça-feira, 15 de junho de 2021

CINQUENTA ANOS DEPOIS - Hirtis Lazarin

 



CINQUENTA ANOS DEPOIS

Hirtis Lazarin

 

As dores nas costas eram bem maiores que a vontade de dormir.  Com dificuldade, acendi a luz fraca do abajur e vi que já era depois de uma hora da manhã.

Liguei a televisão e fiz um “tour” com o controle remoto.  Poucas opções.  Bem, notícias são sempre bem-vindas, mesmo que repetidas.

“O vilarejo de Curon, ao norte da Itália, acaba de emergir, após o esvaziamento das águas da represa para conserto de equipamentos da hidroelétrica”,

Levei um choque e, até agora, momento em que estou escrevendo este texto, não me restabeleci.

Escombros do que foram paredes, muros, risos, preces, degraus, parabéns à você, cômodos, sonhos estavam ali misturados feito barro.  Ainda gritando...

Foi então que, sem querer, destampei o frasco como o de um perfume, e liberei lembranças guardadas por cinquenta anos. Cinquenta anos!  Acreditava que a passagem do tempo já as tivesse descolorido.  Que nada!  Saltaram vivas e multiplicadas.

Pés descalços, cabelo desgrenhado, mãos abanando para a felicidade e sorriso atravessado de poesia.  Era assim que nossa turminha, cheia de pensamentos longe de compreender a vida, virava e revirava os cantos do vilarejo de Curon.

Algumas de nossas tantas alegrias eram: correr atrás das cabras até se perderem no descampado, saltar muros, pular cercas em busca de manga verde apanhada no pé, colher matinho e flores pra enfeitar o altar da padroeira, Santa Catherina, aquela à quem os adultos tanto rezavam e faziam pedidos.

O padre Piero tinha o rosto cheio de preguinhas e ensinava-nos o catecismo toda sexta-feira. A gente nunca faltava porque ele nos servia suco de groselha e pão com queijo fresco.  Podíamos comer quantas vezes quiséssemos. 

Obrigava-nos a rezar dez ave-marias e dez padre-nossos quando ficava bravo com nossas sapequices.  Descobrimos que a moradora que não se casou e ia rezar todos os dias era quem nos dedurava.  De bronca, a gente batia na porta da sua casa e saía correndo.

A torre da igreja era tão alta que cutucava as nuvens.  O sino, não sei como, avisava que já eram seis horas da tarde.  Ai de nós se não estivéssemos de banho tomado e prontos pro jantar, comida quentinha e cheirosa na mesa preparada por Mamãe  Rosina.  Lembro-me que todo dia, papai repetia: “Ela não é uma artista?  Mas comer que é bom ... só depois de cinco minutos de oração.

 Nosso maior sonho era poder subir a escadaria que levava ao pico da torre.  Eram mais de mil degraus.  O padre, muito cuidadoso, pendurava no pescoço a chave da porta que dava acesso às escadas.  Era de ferro, bem pesada e maior que duas mãos juntas.  Ele só permitia chegar ao primeiro degrau.  Era ali que esticávamos tanto o pescoço e nossa fantasia brotava como grama no pasto.  A torre escura e gelada deixava os pelinhos do corpo arrepiados.  Lá no alto, com certeza, moravam fantasmas.  Podiam-se ouvir sussurros e gemidos.  Acho que as pessoas que morriam viravam fantasmas.

A maravilha de tudo era que, para nós, tudo era maravilha.

Até que um dia, três homens desconhecidos, vestidos de terno escuro e gravata vermelha, chegaram a nossa vila, num carro Ford.  Nunca me esqueci desse nome “FORD”.

A notícia era de que, no prazo de trinta dias, deixaríamos as casas e seríamos transferidos pra outras aldeias. Era uma ordem e não opção.  Curon seria inundada para a construção de usina hidroelétrica.

Foi a primeira vez na vida que vi tanta gente junta agarrada a uma dor tão intensa e tão igual.

 Era sofrimento de alma.

 

CURON - Henrique Schnaider

 


CURON

Henrique Schnaider

 

Eu tinha 7 anos de idade quando começaram as obras para criação do lago da cidade. Acompanhava caminhões fazendo centenas de viagens para fazer o aterro enorme onde iriam criar o lago.

Este tempo ficou marcado para mim, pois as coisas caminhavam muito bem, eram tempos felizes. Meu pai tinha um sítio próximo da cidade de Curon onde morávamos numa casa boa, com muito conforto. Meu pai cuidava para que não faltasse nada, pois uma boa parte do que era consumido,  vinha de tudo que cultivava.

A aroma dos doces e pães que minha avó e minha mãe faziam, enfeitavam de delícias nossa casa. Meu avô se sentava na cadeira de preguiça e me contava histórias na língua italiana macarrônica. Eu ouvia com toda atenção e sonhava juntamente com ele participando das aventuras da sua juventude.

Aos domingos todos os moradores da cidade participavam da missa rezada pelo Padre Jousepe. No final da missa havia uma confraternização e cada família trazia comida típica. Macarronada, Polpetone, brachola, pernil de porco e deliciosas sobremesas e doces variados.

Conforme fui crescendo, passando pela juventude, devido ao lago, a igreja foi reconstruída em um novo lugar, mas eu não esquecia da antiga e da sua torre e da missa e das reuniões dominicais, doces momentos guardados para sempre na lembrança.

Foi na antiga igreja que conheci Lina. Enquanto nossas famílias conversavam e trocavam guloseimas e fofocas quentinhas, nós dois brincávamos de corre-corre, pega-pega. Corríamos um do outro num  esconde-esconde que mexia com nossos pequenos corações.

Foi com Lina que me casei, numa cerimônia inesquecível ainda na antiga igreja antiga e celebrado pelo ancião, Padre Jousepe. Depois da cerimônia do casamento, a festa ficou na lembrança de todos. A alegria e a felicidade tomaram conta dos moradores de Curon, presentes naquele que foi o dia mais feliz da nossa vida.

Eu e Lina formamos uma família dos sonhos, 3 filhos encantadores,  2 meninos e uma menina. O tempo se encarregou de fazer a sua parte e meus avós e meus pais partiram, e os da Lina se foram, da mesma forma.

Passei a cuidar da pequena lavoura que meu pai me deixou e continuei com os mesmos costumes que meus pais me deixaram, e que eu e Lina passamos aos nossos filhos.

Estes dias a prefeitura da cidade iniciou pela primeira vez desde a criação do lago, a drenagem e limpeza do mesmo e à medida que a água baixou, começou a aparecer a torre da Igreja e da mesma forma vieram à minha mente as doces lembranças da minha infância e juventude e dos melhores momentos que vivi na minha querida Curon.

Emoções memoráveis. - Dinah Choichit

 



Emoções memoráveis.

Dinah Choichit

 

Que emoção! Quantas histórias já ouvi de minha vó sobre minha terra natal! E, a última trouxe-me inquietação. Agora a cidade estaria emergindo.  A primeira coisa que apareceu foi justo a igreja. Fiquei tão feliz que resolvi convidar toda a família, incluindo os familiares dos países de fora, para ver aquele milagre.

Todos chegaram cedo, com seus filhos, para conhecerem a história das origens da vovó.

Fomos ver também os escombros das casas do lago, havia algumas que estavam completamente danificadas e outras ainda mantinham sua fachada completa com seus detalhes e desenhos. Decidimos tirar algumas fotos e principalmente da casa de minha avó que era uma bela mansão

O passeio foi muito agradável, principalmente por reunir a família novamente. Depois, procuramos um Restaurante ali perto, e encontramos, era um dos que eu frequentava quando pequena. Conversamos bastante e fiquei conhecendo os sobrinhos que nasceram quando eu estive fora.

Resolvi entrar na casa de minha avó, antes de partir.  Fiz muitas fotos para mostrar aos familiares, algumas fotos de utensílios que pertenceram à igreja do lago. E, e encontrei a foto da vovó na porta da igreja.

Em seguida nos despedimos e todos estavam muito emocionados com as histórias desse lindo lago.

Em tempos de pandemia - Alberto Landi

 



Em tempos de pandemia

Alberto Landi

 

 

Isa levava uma vida simples e tranquila. Morava num pequeno vilarejo ao pé de uma das montanhas mais altas da Serra da Estrela, em Portugal, mas ela não sabia que essa tranquilidade estava prestes a acabar.

Isa, uma menina meiga, não queria mais amar ninguém, pois seu coração havia sido ferido várias vezes. Mas, tudo mudou!

O mundo entrou em pandemia, milhares de pessoas não se viram mais, isolamento quase total das famílias.

Isa tinha casa, mas não tinha família junto de si.

Os dias iam passando e ela reencontrou um amigo de infância. Tudo estava bem até que um dia ele fez uma revelação, confessando o quanto a admirava e o quanto gostaria de estar com ela.

Isa se emocionou diante da confissão e pensou que, sempre em algum lugar existe alguém que se ama em segredo. Ela acreditou que seu amigo estava sendo sincero, e talvez estava sendo mesmo. Mas os dois eram como água e óleo, estavam na mesma fase da vida, mas não se misturavam. O coração até queria, mas a razão prevaleceu, não daria certo essa mistura.

Uma amiga de Isa, a convidou para participar de um grupo nas redes sociais, objetivando conhecer novas pessoas e assim afastando sua tristeza.

Prontamente aceitou, afinal o que fazer em uma quarentena sem família junto de si, sem trabalho e sem um amor para curtir.

Começou a se interessar pela informática, para afastar uma possível depressão de estar só.

A quarentena foi péssima para alguns, mas para ela foi o melhor que pode acontecer.

Num dos grupos que participava havia pessoas que se tornaram interessantes. Havia um que chamou sua atenção, por terem muitas coisas em comum, era o Marcos, formado em Ciências Econômicas.

Com as trocas de mensagens escritas e as vezes por viva voz, Marcos confessou a Isa que a voz dela era muito sensual. Isso fez com que ela se sentisse lisonjeada.

Os dias se passaram, as conversas aumentaram. Após um período ela resolveu se afastar, as trocas de mensagens cessaram, e o medo tomou conta.

Alguns meses se passaram e a quarentena continuava. Isa resolveu se reaproximar. Aprendeu que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. A pessoa corajosa não é aquela que não sente medo, mas o que conquista esse medo. Não importa quantas vezes você caia, mas o mais importante é como você se levanta.

Pensou: hoje estou renascendo. Nessa pandemia estava se reencontrando, percebendo suas fraquezas, mas também seus pontos positivos.

As nossas vidas são como um ímã que atraem ao seu lado as pessoas certas, no momento certo, e você precisa estar consciente e reconhecer.

Uma coisa é certa a pandemia estava lhe favorecendo.

Na semana que antecedia o dia dos namorados, Isa resolveu fazer uma surpresa a Marcos, e para isso estava consultando o site de compras em seu computador.

Começaram a descobrir algo muito além de uma amizade, mostrando mesmo que em tempos de pandemia, a felicidade pode ser encontrada....

E assim a vontade de viver voltou para Isa.....  

O bom deputado - Dinah Choichit

 


O bom deputado

Dinah Choichit

 

Alberto era um deputado estadual muito querido, pois o que ele fazia era se preocupar com a educação da sua cidade. Tudo que ele prometia, ele colocava em prática. Alberto procurava andar com amigos que tinham a mesma preocupação, assim ele conseguia apoio aos projetos, e dava andamento às ações. Com todo esse apoio ele conseguiu colocar mais quatro deputados que defendiam a mesma causa dentro da Assembleia.

Durante o seu mandato Alberto conseguiu abrir muitas escolas, e todas com professoras competentes que possuíam ricos currículos. Porém, havia uma escola que era da preferência dele, e que ele não saia de perto, mas ninguém sabia o porquê. Apenas eu. Eu descobri o seu segredo bem rápido! Ele estava apaixonado pela professora Camila, uma das mais queridas da cidade.

Depois que cumpriu com tudo que prometeu, no fim do ano, pediu Camila em casamento. Ela aceitou e a cidade se maravilhou.

 

Surpresa na festa - Helio F Salema

 



Surpresa na festa

Helio F. Salema

 

Numa pequena cidade as crianças estão indo para o primeiro dia de aula. Duas chegam quase ao mesmo tempo. O suficiente para olharem uma nos olhos da outra. Assim começou uma amizade duradoura entre Jane e Jessica. Até completarem o segundo grau, todo ano na mesma escola, mesma sala e em encontros em casa. Em alguns passeios estavam juntas.

No último ano, do segundo grau, a família de Jane  resolveu que mudariam, no ano seguinte, para outra cidade onde havia faculdades. Jessica que já estava com casamento marcado para depois da formatura permaneceu na sua cidade natal.

Apesar da distância , a comunicação entre elas permaneceu constante, e-mails e telefonemas.

No casamento de Jessica, Jane  voltou para ser madrinha da amiga. Conversaram por longas horas na véspera do casamento. Após a cerimônia , uma enorme alegria para ambas, muitas fotos juntas e a promessa de continuar se comunicando.

 

No dia seguinte Jane retornou, pois tinha que trabalhar no escritório de advocacia de uma amiga do seu pai. Trabalhou neste emprego enquanto durou o curso de Direito.

Embora não tivesse acontecido nenhum contato pessoalmente com Jessica, durante este período, mantiveram telefonemas e e-mails. Jessica mencionava  pouco sobre o casamento e quando dizia era para lamentar o relacionamento.

Após se formar, Jane  passou num concurso,  mudou-se para a Capital e foi morar sozinha. Sempre em contato com amiga, falava  de sua nova vida agitada, porém proveitosa.

Nos últimos meses, Jessica várias vezes reclamou do relacionamento com o marido. Ciúmes era uma das principais queixas. Jane sempre dava a maior força para a amiga.

Até que um dia Jessica informa à amiga que estava se separando.

Depois de uma longa conversa Jane sugeriu que viesse morar junto com ela.

Jessica ficou contente, mas disse que já tinha aceitado convite de seus tios e padrinhos, para morar com eles. Eles viviam em outra cidade numa casa grande, mas sozinhos, pois não tinham filhos. Ela iria trabalhar na loja com eles.

A partir daí a comunicação entre elas retornou intensa como antigamente. Cada uma falando do seu dia e planos, ouvindo da outra, histórias, totalmente, diferentes.

Numa noite, Jane chega em casa toda eufórica. Pelo celular percebe que sua amiga está online e decide não esperar o dia seguinte para contar a novidade.

- Oi, Jessica, tudo bem?

- Olá, tudo certo.

- Acabei de chegar e não consegui esperar até amanhã para lhe dar uma notícia. Lembra daquele médico que conheci quando fui ao hospital visitar uma amiga?

- Sim, estou lembrando.

- Fui no aniversário de uma colega de trabalho. Quando cheguei vi vários casais. Eu era a única sem par, o que me deixou um pouco aflita. Apesar da minha colega e o namorado conversarem comigo.

Surpreendentemente, quem chega?

Justamente ele. Cumprimentou a todos e veio se sentar onde nós estávamos.

Você imagina como fiquei. Pouco depois minha colega e o namorado saíram e ficamos a sós.

Lembrou que tínhamos estado no hospital e perguntou pela minha amiga. Estávamos numa conversa muito agradável, quando o celular dele tocou. Pediu licença e ali mesmo atendeu.

Em seguida pediu desculpa,  pois tinha que atender uma urgência. Perguntou se poderia me ligar outra hora para continuarmos a conversa, eu disse que sim, pediu meu telefone, anotou no celular e saiu.

Amiga, agora penso, imagino e desejo uma mudança enorme na minha vida.

 

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