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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O QUE FAREMOS AGORA? - HIRTIS LAZARIN



O QUE FAREMOS AGORA?
HIRTIS LAZARIN

      Pat e Juliane conheceram-se na pré-escola e nunca mais se separaram.  Pareciam gêmeas univitelinas.  Além do cabelo loiro e dos olhos azuis, eram iguais no jeito de pensar, de se comportar e até no jeito de gostar.

          Além de boas alunas, lidavam com as opções que o computador nos oferece como se estivessem brincando.  E foi através das redes sociais que conheceram Paulo Roberto, rapaz de 25 anos, carioca e fotógrafo de agência de modelos.  A profissão que exercia atraiu as adolescentes como o mel atrai as moscas.

          Troca de fotografias... Promessas mil...

          Hoje, qual é o sonho de nove entre dez adolescentes?  Todo mundo "tá careca" de saber que é ser modelo, pisar nas passarelas, ganhar o mundo e um mundo de dinheiro, protagonizar a primeira capa de revista.  Sucesso e fama.

          Fugiram de casa e, inconsequentes, embarcaram para o Rio de Janeiro.  Essa é a idade dos sonhos e fantasia.  Fantasiar a realidade é com elas mesmas.  Não se preocupam com o depois, topam qualquer parada, dormem em qualquer cantinho.  Dá-se um jeitinho pra tudo.  E a inocência encobre-lhes a visão do mal.

          De táxi chegaram ao endereço combinado.  Era um bairro bem antigo do Rio.  A casa número 339 era pintada de branco, restaurada, colonial.  Uma senhora, ao ouvir a campainha, espiou por uma fresta da cortina. Abriu a porta e as recebeu com presteza.  Essa atitude teve um efeito positivo, mas a roupa que vestia provocou risinhos sarcásticos nas meninas.  Era um vestido longo multicolorido, turbante na cabeça, batom vermelho carmim e nas orelhas duas argolas  com um diâmetro que quase alcançava os ombros.

          A sala era decorada com sofás vermelhos de veludo brilhante, cortinas com franjas douradas e tapete de oncinha. A breguice do lugar não tinha nada a ver com o estúdio fotográfico que imaginavam:  Um ambiente espaçoso e sofisticado, posters de famosos espalhados, tapete de afundar o pé, flores naturais e uma mesa farta de frutos.  Ali tiveram  a primeira decepção.

          A aparição de Paulo Roberto causou-lhes um estremecimento maior ainda. Ele aparentava ser bem mais velho, pouco cabelo, bigodes espessos que cobriam o lábio superior.  Trocaram poucas palavras e encaminhou-as ao quarto onde ficariam alojadas.  O corredor era comprido com uma sequência de portas nos dois lados da parede.  E muito... muito escuro.  Garotas em trajes provocantes circulavam pelo local.  

De mãos agarradas, choro reprimido pelo medo, chegaram a uma escada em caracol que não tinha mais fim.  Ali no alto e isolado estava o quarto reservado às duas.  Uma cama de solteiro, um armário de uma porta só, um vitrozinho lá no alto quase encostado no teto.  Uma cela de prisão e um cheiro insuportável de mofo.  As bolsas de mão foram subtraídas e o celular também.

          Elas entraram em desespero.  Sentadas na cama e abraçadas choraram um choro silencioso que parecia não ter fim.  Pensaram nos pais e na loucura que fizeram.  De cansaço, adormeceram.  Juliane acordou primeiro.  Achou que estava tendo um pesadelo.  Abriu os olhos, o pesadelo era real.  No escuro tateou as paredes até encontrar o interruptor.  A luz era tão fraca que, mesmo acesa, deixava o quarto  na penumbra.  Acordou a amiga.  Tremiam de medo, de frio e de fome.

          Não restava a menor dúvida.  Caíram numa grande cilada.

          O que faremos agora?

          Juliane tinha ainda seu celular. Enquanto as duas aguardavam na sala de espera, Juliane foi ao banheiro e, num ímpeto de lucidez, escondeu o aparelho nas peças íntimas.  Tinham, então, a possibilidade de serem salvas.

           Ligaram pra casa, passaram o endereço aos pais, enlouquecidos há dois dias.

          Vinte e quatro horas depois, a polícia mais treinada do Estado invadiu a casa.  Mais um prostíbulo foi denunciado e, desbaratada uma quadrilha internacional de tráfico de mulheres bonitas e jovens.

           Três meses depois, quase trinta integrantes já estavam encarcerados. 
.

    

Smoke get’s in your eyes - Dinah Ribeiro de Amorim


São Paulo, 10 de outubro de 2014.

                                      Querido Amigo,

  Sentada na sala, sozinha, assisto a um filme antigo pela televisão. Ouço, de repente, a música que traz grandes recordações: “Smoke get’s in your eyes”. Lembro-me de você, resolvo lhe escrever.

  Volto lentamente ao nosso passado, época distante, quando éramos adolescentes apaixonados e essa a nossa música.

  Parece incrível como o coração não envelhece. Basta uma faísca, uma pequena chama, para sentirmos, instantaneamente, as mesmas emoções.

  Nós éramos jovens, românticos, sadios, gostávamos de dançar na sala de sua casa, criávamos passos novos e músicas recentemente gravadas.

  Sinto sua falta! Falta dessa época! Que surpresa! Você ainda mexe comigo.

  Embora avós, experientes, tantas passagens em nossas vidas, se o encontrasse novamente, talvez recomeçássemos tudo de novo!

  Incrível o sentimento humano! O amor entre duas pessoas! Como perdura quando achamos que já morreu.

  É como a Fênix, renasce das cinzas.

  Até breve ou, quem sabe, até nunca mais!


                                                        Abraços, Dinah.

Na varanda - Jany Patricio


Na varanda
Jany Patricio
  
        Um olhar. Triste à luz do luar.
        Lágrimas molham a varanda.
        Gotículas de amor e de saudade.

        Saltam imagens da tela. Passam o que passou.
        Não mais teus olhos, teu sorriso, teu abraço.
        Não mais teu calor.

        Renúncia! Doce palavra que acalenta os corações que sangram.
        Viver! Experimentar a entrega e sair do desconhecido para o real.
        Um mergulho na dor para acalmar o coração.


Para um amor perdido - Dinah Ribeiro de Amorim



São Paulo, 10 de outubro de 2014.

                                                       Para um amor perdido:

  Quantos momentos felizes tivemos juntos, e não soubemos aproveitar.

  Tanta coisa boa nos aconteceu e deixamos escorregar pelos dedos.

  Nosso rompimento foi triste. Sentia que nunca fui amada, realmente. Separamo-nos.

  Traçamos destinos diferentes: eu, uma escritora pretensiosa, você, um profissional brilhante.

  Soube, mais tarde, que lia meus contos, principalmente um em que a heroína sentia lhe afagarem os cabelos.

  Foi uma invenção minha! Você interpretou diferente. Na sua doença terminal, quando fui chamada, seu primeiro gesto foi afagar meus cabelos. Senti, naquele momento, um pedido de perdão, vontade de realizar um carinho que nunca fizera. 

  Compreendi  também que me amara, a seu modo, embora não o demonstrasse.

  Saudade de você. Do pouco tempo que vivemos juntos. Sua presença fez falta, mesmo vivendo separados.

  Quem sabe, um dia, nos reencontramos!

                                                                    Beijos, Dinah.

A MELHOR RECOMPENSA - JORGE DA PAIXÃO


A MELHOR RECOMPENSA
JORGE DA PAIXÃO

Da alma do sonhador....
Se extrai a saudade.....
De um passado que restou...
Sobejo de felicidade....     

O lar é uma divina luz....
O coração seu refletor...
Onde harmonia traduz...
Doce paz com muito amor...     

Suplicar é uma apelação....
Feita com humildade....
Desejando o coração....
Divinal felicidade...

No dia que eu morrer....
O meu amor vou deixar...
Com carinho para você....
Comigo sempre sonhar...   

A melhor recompensa...
De presente é uma flor...
O coração nunca pensa...
Quem pensa é o amor...      

O céu azul é sublime...
Misterioso e encantador...
O verde do mar exprime....
Aventuras de amor...     

O risco que meu coração tem....
É perder o seu amor...
E ficar sem o seu bem..

Sem sentir o seu calor...

Meu amado - Jany Patricio


Meu amado
Jany Patricio

Não pense que me afastei por não te amar, jamais!
Ainda sinto o toque do seu corpo, os seus beijos quentes, o coração pulando sob o pulôver azul.
A sua voz transformando o meu mundo, despertando sentimentos adormecidos.
Não pense que te esqueci, jamais!
Ainda sinto a eternidade do seu abraço, a minha aquiescência aos seus arroubos de paixão.
Ainda ouço aqueles blues que embalaram nossos sonhos.
Você sabe que sou...


Eternamente sua

Se o amor não existisse - Jorge da Paixão


Se o amor não existisse
Jorge da Paixão

Meu coração é todo teu,
com toda naturalidade...
Aonde o amor floresceu.
repleto de felicidade...  

O amor não tem idade,
nem também o coração...
Sinto a tua felicidade,
com a minha dada a mão...  

Vou preparar meu coração,
para quando eu for partir...
Poder viver na solidão,
sentindo saudade ti...   

Se o amor não existisse....
Eu não queria viver...
O mundo seria tolice...
Sem eu, te conhecer...

A saudade comigo vai...
Meu coração fica aqui...
Com a esperança que não sai...

Da minha vida a sorrir...

O HOMEM QUE TINHA MUITOS SEGREDOS - HIRTIS LAZARIN

Jardineiro- óleo sobre tela - Fernando Gopal


O HOMEM QUE TINHA MUITOS SEGREDOS
HIRTIS LAZARIN



                  Num pequeno descuido da babá, Bruninho de quatro anos desapareceu.  A casa grande, ou melhor, a mansão entrou em alvoroço.  Um angu de caroço.  Serviçais irritados e desviados de suas funções.  Sufoco que dura o tempo pra deixar todo mundo louco...

                  Sentadinho na terra batida do jardim e protegido pelas folhagens, observava com curiosidade Jeremias, o jardineiro dos dedos verdes.

                  Desde então, uma amizade sem igual se formou entre os dois. A maior alegria do garoto era estar junto de Jeremias e aprender coisas que só ele sabia.  Desprezava todos aqueles brinquedos sofisticados e caros.

                 Jeremias era um homem diferente e especial.  Não entendia palavras que se escrevem.  Só entendia palavras que se falam.

                As mãos pesadas e rústicas eram capazes de tocar as pétalas da mais delicada flor, contá-las uma a uma sem feri-las.  Com o olhar fixo era capaz de transformar uma margarida amarela numa hortênsia lilás e singela.  

Era capaz de fazer um botão bem fechadinho desabrochar, apenas com leve toque do seu indicador.   No seu jardim a primavera não ia embora.  Fizesse sol, fizesse frio, todas as flores floresciam.

                Uma família de bem-te-vis laranjeira eram seus assíduos companheiros.  Toda manhã, não o deixavam perder a hora. As seis em ponto, a cantoria colocava-o cama afora.  Porta aberta, aceno de Jeremias, missão cumprida, revoada de partida.

                Junto ao muro que cercava o enorme quintal, Jeremias plantou árvores de frutos: jabuticaba, pitanga vermelhinha, laranja doce de gosto e acerola azedinha.  As árvores ficavam carregadas o ano inteirinho.  O segredo?  Só Jeremias e Bruninho sabiam.

               No jardim e no quintal recebia visita matinal.  Borboleta e colibri, andorinha e pardal, curió, sabiá e bem-te-vi.  Comunicavam-se entre si.  Obedeciam às regras do jardineiro: era proibido alimentar-se dos frutos que amadureciam nos pés.  Apenas os derrubados pelo vento e espalhados pelo chão.

                No jardim, só visita de borboletas e colibris, num voo bem sutil.  As flores alvoroçadas, num fuxico acalorado, ofereciam-lhes o néctar em troca de um beijo delicado.

                Bruninho aprendeu coisas que não se aprendem nos bancos da escola, nem nos livros e nem na educação do dia-a-dia.  Conheceu e conviveu com um homem que conversava com flores e aves.  Tanto amor, tanto carinho, jamais viu igual em todo seu caminho.  Jeremias era o homem solitário que encontrou na natureza a razão de seu viver.  O homem que Bruno viu resgatar de dentro da piscina um pássaro morto afogado.  Com o calor das suas mãos e com o sofrimento das lágrimas que de seus olhos caíam, devolveu-lhe a vida.  O pássaro cantou e alçou voo livre.

                Um homem com poderes sobrenaturais.  Um homem que guardava muitos segredos...


                Jeremias não está mais neste mundo.  Morreu bem velhinho.  Com certeza, sua alma, assim que se libertou do corpo gasto, também voou livre em direção ao infinito.

Um amor verdadeiro - Jorge da Paixão


Um amor verdadeiro
Autor: Jorge da Paixão     

Ó bela jovem de sorriso encantador, que pena eu ter nascido muito antes de você...

Mas, acredito que o amor não tem idade por ser uma dádiva divina.

Sinto-me um homem realizado quando estou perto de você, o seu sorriso me ilumina, o seu olhar fortalece a minha esperança, a sua voz me transmite com docilidade a  verdadeira paz dentro do meu humilde coração. Querida, estou perdidamente apaixonado por você, o fantasma da ilusão apoderou-se do meu conteúdo material e espiritual.

Mesmo acordado estou sempre sonhando com você, é um sonho maravilhoso que me  invade a alma.... A tua imagem não sai do meu pensamento. Toda vez em que lhe vejo meu coração fica descompassado batendo no ritmo da felicidade. O meu desejo é saborear o mel dos seus lábios sensuais,  e me aquecer no calor do seu corpo sentindo o seu perfume, para me embriagar de amor.

Querida em prol da nossa felicidade me dê o seu coração, porque o meu já pertence a você.

Minha xuxuzinha...

DESPEDIDA - HIRTIS LAZARIN


DESPEDIDA
HIRTIS LAZARIN

          Eram apenas nove horas da noite e Marcos já dormia um sono profundo.  Cobri seu corpo nu, afaguei seus cabelos negros e  fartos que cobriam-lhe os olhos.
          Quando o conheci, eu tinha concluído meu curso de jornalismo.  Pretendia viajar o mundo, mochila nas costas, queria chegar até os monges tibetanos, antes de entrar no mercado de trabalho.

          Ele já tinha 32 anos e eu apenas 22.  Era forte, másculo, experiente e seguro.  Sabia muito bem o que queria.  Carregava-me no colo e eu me sentia a criança mais protegida do universo.

          Foi uma paixão alucinante, invadiu-me através de todos os meus poros, entrou-me na corrente sanguínea e fixou morada no meu coração.  Contrariava todos os meus planos.

          Hoje, dois anos após nosso casamento, um vazio começou a me incomodar.  Não se preenchia com o amor de Marcos, com a casa dos meus sonhos, nem com a segurança financeira que ele me proporcionava.

          A minha razão vinha brigando com meu coração.  Uma luta que começou desigual, teve reviravolta.  O coração se rendeu, jogou a toalha no ringue.  Nossos objetivos de vida tomavam rumos diferentes.  Ele sonhando com filhos e eu sonhando em viver livre como o vento, dançar, saborear a vida, banho de sol e de lua, conhecer o certo e o errado, juntos e misturados.  Carregar o meu violão, rimar meus versos, cantar com emoção.  Sair sem ter hora pra voltar, dormir no chão, pisar na grama sem reclamar.

          Beijei-o com delicadeza e muito carinho.  Guardei todos os porta-retratos espalhados pela casa.  Acariciei nosso vira-lata que me olhava com tristeza.  Sem bater a porta, saí.  A ponta da minha blusa serviu- me de lenço.

          Entrei no carro e parti, levando apenas uma mochila de roupas.

          Despedida assim evita o choro e as lágrimas, lágrimas trazem lamento, lamento traz dor da perda e perda traz sofrimento.

          É triste?  Eu sei. 

Dá vontade de chorar?  Eu sei. 


Mas, toda despedida exige um recomeçar.  Dentro de cada recomeçar mora um encanto.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

COVARDIA OU AMOR? - Dinah Ribeiro de Amorim




COVARDIA OU AMOR?
Dinah Ribeiro de Amorim

  Rolo na cama revolta, lençóis amassados e espalhados pelo chão, não consigo dormir! Viro e espio a hora, ansiosa em ouvir o barulho da chave na fechadura. São duas e meia da manhã. Já deveria estar acostumada com isso, mas a ansiedade da espera é sempre a mesma. Toda noite a mesma coisa. Ele demora a chegar e eu sem saber se vem. Sai cedo de manhãzinha, dá um beijo leve em minha testa e um até logo distraído, avisando que talvez chegue tarde.

  No começo, perguntava o porquê desse trabalho noturno e, suas desculpas eram sempre as mesmas: excesso de trabalho, reuniões tardias, serões, sempre respostas atrapalhadas que saiam meio baixas, envergonhadas, até que desisti de interrogar. Acostumei-me com isso, com medo de perdê-lo para sempre.

  Afinal, tantos homens agiam assim! Eu não era a primeira mulher e nem seria a última a ser traída. Ficava às vezes pensando como seria ela: mais moça, claro, mais bonita, agradável, boa de cama, com certeza! Alguém com qualidades muito especiais para satisfazê-lo tanto!

  Fomos felizes no início de nosso casamento, parecendo que nunca haveria nuvens escuras a nos atrapalhar. Dificuldades financeiras surgiram, mas logo se dissiparam com sua mudança para um cargo melhor.

  Foi com essa mudança que aconteceram: excesso de trabalho, reuniões tardias, talvez alguma secretária nova, não procurei saber.

  Uma grande amiga, com quem me abri algumas vezes, aconselhou-me a segui-lo, ir verificar pessoalmente a causa da minha preocupação. Não tive coragem! E se realmente o encontrasse com alguém e tivesse que tomar uma atitude! Seria o fim. Prefiro esperar que, com o tempo, tudo passe e ele volte a ser o marido que sempre foi: amável, amante, presente, não tendo mais que olhar o relógio todas as noites, esperando-o chegar para dormir em paz.

  O tempo está passando, estou envelhecendo, nós estamos envelhecendo e percebo que aguento essa situação há muito tempo! Não tomo uma atitude nem ele! Se quisesse uma separação já teria falado. O que acontece conosco é meio sem explicação. Acho que nos acostumamos a viver assim. Eu sem reclamar, e ele a se acomodar.

  Covardia, medo de mudanças, falta de iniciativa, hábito, amor... Não sei!

  Quando pessoas íntimas me perguntam “como aguenta”, respondo: “Tem sido assim há muitos anos... Não tenho coragem de viver sem ele!”
                                 


MÃOS AO ALTO! É UM ASSALTO.- Dinah Ribeiro de Amorim



MÃOS AO ALTO! É UM ASSALTO.
Dinah Ribeiro de Amorim

  Minha turma era da pesada mesmo! Andávamos em bandos, saíamos à noite e voltávamos para casa ao amanhecer, quando tentávamos dormir e descansar um pouco das nossas atividades noturnas. Não temíamos nada e achávamos que, juntos, podíamos tudo. Não usávamos armas, chacos ou outros tipos de defesa, pois contávamos uns com os outros. Sentíamo-nos fortes, valentes, invencíveis.

  Mas, sempre acontecia alguma coisa, e, mais tarde, quando reunidos, lembrávamos muito dessas façanhas.

  Certa ocasião, na saída de uma festa, tivemos, como sempre acontecia, um imprevisto.

  Éramos esperados por outra turma ou gang conhecida no bairro, muito da pesada também, querendo medir força e avisando logo que era um assalto!

  _ Mãos ao alto! – ordenaram eles. Ou passávamos a grana ou entrávamos no pau.

  Preferíamos a briga porque éramos fortes,  e grana não tínhamos mesmo!

  Foi um pega daqui! Bate acolá! Caras amassadas, narizes sangrando, moleques   no chão... Luta geral...

  Conclusão: se perguntavam quem ganhou, até hoje não saberíamos responder. Lembrávamos somente que todos nós ficávamos caídos, machucados e doloridos. As duas turmas levantavam com dificuldade. Íamos embora, cabisbaixos e mudos; amaldiçoávamos esse final de festa infeliz! Não pensávamos em revanche, achando que tudo fora normal!


  Já era a competição para descobrir o mais forte. Molecagens de nossa juventude imatura

domingo, 5 de outubro de 2014

REALIZAÇÃO DE UM SONHO! - Dinah Ribeiro de Amorim



REALIZAÇÃO DE UM SONHO!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Era uma Drag Queen, um artista transformista. Trabalhava à noite, nas boates de São Paulo, lá pelos lados da Rua Frei  Caneca. Seu nome de guerra, Valquíria. Gostava de cantar, fazer imitações de artistas famosas, vestir-se e se pintar como elas. Adorava seu trabalho e não pensava muito em vida amorosa, embora já tivesse amado algumas pessoas, do seu meio. Aos poucos, foi ficando conhecida e famosa, ganhando um bom dinheiro com suas interpretações. Era bom ator ou, para alguns, boa atriz.

  Apesar disso, Valquíria tinha um sonho ainda não concretizado. Sua maior ambição, sua maior realização seria imitar uma atriz que, para ela, era um luxo, o máximo de feminilidade, suavidade, beleza, voz de menina em corpo de mulher, sensual: Marylin Monroe. Para isso, via constantemente seus filmes, vídeos, fotos, principalmente cenas de sua vida como aquele momento emocionante em que cantou “Happy Birthday” ao presidente dos Estados Unidos, enlouquecendo os presentes. Treinava e imitava sua voz, pintura, peruca loira, colocava enchimentos nos lugares adequados e vestido colante e brilhante como o dela. Quando a imitava, era muito aplaudida, sendo considerada sua melhor performance. Sentia-se realizada.

  Sua fama nesse meio foi crescendo até que chega aos ouvidos de um empresário de Brasília, agente de artistas da noite, que necessitava de um número especial para uma festa de aniversário do presidente da república Epaminondas da Cruz e Souza, que estava se despedindo do seu mandato. Essa festa seria num famoso estádio, com entrada gratuita à população.

  Valquíria, emocionada, é convidada a participar dessa comemoração e interpretar seu número tão bem feito e famoso. Era tão perfeito que muitos até duvidavam que não fosse a atriz real.

  Chegada a noite da festa, com o estádio cheio, vários shows, bandas de música, corais, hinos, presidente e família em lugar especial, quando já iam se retirar, pensando que tudo tivesse acabado, aparece Valquíria, portando um grande bolo, iluminada por flash dourado, fazendo brilhar seu vestido de lantejoulas e peruca loira, linda mesmo em sua maquiagem, voz e gestos sensuais, cantando para o presidente o “parabéns a você” de um modo tão insinuante que, os presentes, boquiabertos, nem falavam. Até o  presidente duvidou e quase acreditou que fosse verdade! Mas, a atriz havia morrido!  Após a apresentação, Valquíria foi aplaudida de pé e cumprimentada pessoalmente pelo presidente e  sua família que, encantados, sem saber ao certo quem era ela, vieram  cortar seu bolo.


  O sonho estava realizado! 

PÉS RACHADOS BROTANDO SANGUE! - Dinah Ribeiro de Amorim



PÉS RACHADOS BROTANDO SANGUE!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Os pés de Mirela, calejados pela vida embora fosse muito jovem, já tinham rachaduras e, por algumas, brotava sangue! Há tempos que não viam sapatos, quando muito, chinelas de borracha conseguidas em botecos próximos, quando o dinheiro dava.

  A caminhada iniciada, desta vez, seria longa e, desde que saíram de casa em busca de outras paragens, não haviam feito um pouso, nesse caminho sem destino e fim.

  Chicão, o líder do grupo, não cedia! Acostumado a essa vida errante, sem ponto fixo, procurando condições mais favoráveis de vida para todos, só permitiria um descanso lá pela tardinha, quando escurecia.

  Tomariam então, o pouco d’água que restava, bebendo um gole cada um. Abririam a sacola de comida escassa, que seria repartida igualmente: nacos de pão amanhecido, pedaços de rapadura, restos de toucinho defumado que sobraram da última compra feita no antigo empório do Seu Januário, preparariam espaço para dormida com os trapos que trouxeram, escolhendo uma sombra que a mata oferecia.

  Era essa a vida que levavam, andando sempre à busca de novos lugares, semelhantes a ciganos ou índios atrás de novas terras para plantio, água para viver, alimento para comer. Quando a região encontrada se esgotava, saíam procurando outra para se instalar.  

  Desde que se conhecia por gente, Mirela crescera assim,  fugindo dos lugares secos e achando água no fim.


  Pés rachados, brotando sangue, acostumaram-se enfim!

Uma partida feliz - Jorge da Paixão



Uma partida feliz
Jorge da Paixão      

Sr. Zezinho Pacheco, homem honesto e trabalhador, vive na labuta  diária  em sua rocinha lá na estrada da Virada.

Ao lado da esposa Mariquinha e um casal de filhos sadios todo dia  vão dormir com as galinhas, porque precisam levantar as 3:30 da  madrugada para ir buscar o dia.

Esteja chovendo ou não, faça frio ou calor eles pegam a estrada da virada e caminham mais de uma légua até quando a aurora começa a aparecer!

Então eles fazem o mesmo percurso até chegarem novamente na roça com o precioso Sol brilhando no magnifico céu azul.

Sr. Pacheco então vai trabalhar em companhia de Mariquinha feliz, aonde planta e colhe para vender na feira para sobrevivência da família enquanto  os filhos vão para o colégio na cidade.

A vida do Sr. Pacheco é assim, deitando todo dia com as galinhas e levantando as 3:30 da madrugada para ir buscar o dia...

O Sr Pacheco afirma com toda garantia: Eu vou buscar o dia porque ele tem sido assim há muitos anos... Não tenho coragem de viver sem ele!


VIAGEM DE TREM E PONTE ENCANTADA! - Dinah Ribeiro de Amorim



VIAGEM DE TREM E  PONTE ENCANTADA!
   Dinah Ribeiro de Amorim

  Ficara assim desde a morte da mãe. Distraído, sem controle, apático, deprimido, com algumas alucinações. Não era mais o mesmo.

  Aconselhado por amigos e familiares, resolve, meio a contragosto, fazer psicoterapia. Até que gosta, sente que está melhorando aos poucos, preenchendo espaços vazios de sua mente com meditações e assuntos mais profundos e reais.

  Numa tarde, entrando no consultório, depara-se com o médico caído no sofá, como se estivesse morto. Chama-o e ele não responde. Procura a enfermeira para  avisá-la do ocorrido e verifica que não está em seu posto. Pronto! O pânico, o descontrole, o medo, tomam conta do seu ser. Alguém havia assassinado seu médico e ele fora o último ou o primeiro a vê-lo. Seria considerado suspeito número um, lógico, afirma sua mente alucinada. Nem espera para verificar direito o ocorrido. Foge dali correndo, vai para sua casa, faz uma pequena mala, super-apressado e corre para a estação de trens, entrando no primeiro vagão disponível.

  Sentado,  fingindo calma, não sabendo ao certo para onde ia, relembra mais uma vez toda a história: médico caído, ninguém no consultório, ele o único a vê-lo, enfermeira ausente,  horário seu! Entra em surto. Vêm as alucinações. Guardas invadindo o trem à sua procura! Mostram sua foto para outros passageiros; não sabe definir ao certo se é sua mente imaginando ou realidade. Olha para a janela e vê o trem passando por uma ponte estreita. Parece um rio. Sempre nadara bem. Não tem dúvida. Essa ponte seria sua salvação! Joga-se pela janela tentando pensando alcançar o rio. A água o atraia! Quem sabe, com a correnteza, chegaria a um lugar seguro!

                                                                                        

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...