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segunda-feira, 27 de março de 2017

O Ingresso de Jaime na Vida Adulta - O mundo de Jaime - Rejane Martins


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O Ingresso de Jaime na Vida Adulta
Rejane Martins

Jaime não suportava mais aquela fase da vida, não era nem criança, nem adulto. Como ser adolescente é chato. Ser cobrado em suas responsabilidades como adulto e no instante seguinte ser julgado como uma criança, e sendo assim não tinha direito à vontades e exigências.

Mas naquela manhã tudo mudou, Jaime foi acordado com o insistente som do interfone, irritado questionava onde estariam todos naquela casa, nem de férias podia aproveitar a cama um pouco mais de manhã.

Injustiça, injustiça, injustiça.

Alô. Bom dia Sr. Robesval. O quê? O senhor tem certeza? Sim, sim sou eu mesmo. Não, não precisa esperar pela minha mãe. Eu já estou descendo. Só um minuto

Bem vejamos, hoje não é meu aniversário, não estou esperando nenhum material do Carlinhos para acabar algum trabalho da escola, pô estamos de férias. Quem será que me enviou uma encomenda? Entrega expressa? Deve ser algo muito importante.

Opa os chinelos, me esqueci. Pronto elevador onde você está? Nãooooo, no décimo oitavo andar. Vai Dona Rosalva libera o elevador, não precisa segurá-lo enquanto conversa com a empregada.


Isso. Valeu Dona Rosalva. Não, parou no décimo andar onde está realizando aquela obra sinistra. Quer saber, vou de escadas mesmo, chego mais rápido.

E aí, Sr. Robesval o que chegou para mim. Uau, é mesmo uma encomenda via sedex 10. Deve ser bem importante o conteúdo. O que será? Meu Deus minhas mãos estão tremendo, é a minha primeira correspondência pessoal.


Por um momento Jaime sentiu-se o protagonista principal do livro “O mundo de Sofia”. Seria legal se o conteúdo fossem enigmas, que questionassem nossa existência ou o mundo em que vivemos. Foi revelador para ele se sentir como personagem de uma trama literária onde o desafio maior é desvendar os mistérios do mundo.


O Mundo de Jaime


Jaime abriu o envelope pardo e encontrou um livro velho, amarelado pelo tempo. Abriu com todo cuidado, ansioso com o conteúdo, tamanha era a ansiedade que nem percebeu suas vistas embaçarem, focar o texto naquele momento era impossível.

 Respirou fundo, se acalmou e novamente abriu com delicadeza o presente, constatou vários termos grafados, alguns em vermelho outros em azul e alguns poucos em verde. Fixou nestes termos e ficou atônito, eram hieróglifos, que piada de mau gosto é esta? Quem será o engraçadinho que está tentando deixá-lo confuso.

Percorreu, em pensamento, todos que poderiam ter feito aquilo com ele. Mas sua investigação mental era sempre interrompida com o desafio de desvendar o enigma do livro. Até que por fim o autor de tudo aquilo não mais importava para Jaime.

Confinado em seu quarto, mergulhou naqueles símbolos. Se irritava todas as vezes que alguém o trazia para a realidade ao chamar seu nome. Não tinha sede, a fome era só a do mistério, o que será que significava tudo aquilo.

Teve um lampejo, será que os símbolos estavam espelhados? Em frente ao grande espelho atrás da porta olhou para a imagem das páginas, eureca!

Ah! Não está escrito em grego antigo? Já sei, só pode ser coisa do Prof. Jarbas. Ele disse que escolheria um aluno para disseminar as ideias filosóficas estudadas naquele ano.

Bom pelo menos agora ficou fácil, é só resgatar aquele dicionário de grego antigo que ele mandou por e-mail, e traduzir o texto, pelo menos era um texto pequeno.

Em pouco tempo, o texto estava todo em português. Tratava-se de uma resenha do Ética a Nicômaco, virtudes que Aristóteles elencou para seu filho Nicômaco.

Emocionado Jaime percebeu que este presente do Prof. Jarbas, era mais que um presente para um aluno. Somente um pai presentearia um filho com as regras de conduta que o conduziriam a felicidade.


O violino - Christianne Vieira


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O violino
Christianne Vieira

Ricardo chegou ao mundo no meio de  uma briga familiar. Nascera em uma família italiana, passional e barulhentaonde o amor e o ódio andam juntos.
Seu avô Milton era o primogênito, e tinha duas irmãs, Wilma e Christina. Para a bisavó, seu avô era o príncipe, contava com todas as regalias e prestígio. Sempre ele era poupado, ou agraciado de alguma forma.

O seu bisavô  Salvador era músico tocava um violino Estradivários. Esse objeto tinha grande valor sentimental para sua família, além de valer  muito dinheiro.
Salvador  tocava muito bem, não só para os seus, mas no cinema mudo de seu irmão. Todos tinham muito respeito e orgulho dele. Quando Ricardo nasceu, seu bisavô estava muito doente, acamado, e seu avô sugeriu que o violino deveria ser dado a ele. Primeiro bisneto menino.

Criou-se uma grande confusão, sua tia avó  Wilma, tinha um filho músico, e ela não gostou nada dessa situação. A outra tia avó, Christina   protegia muito o irmão, e ficou ao seu lado. Pronto confusão instalada.

A bisavó Alice, guardou então o violino, remediando assim a disputa. Muitos anos se passaram, Ricardo cresceu, seu bisavô se foi, e ninguém sabia o paradeiro do Stradivarius.

Seu avô e as irmãs ficaram muitos anos brigados, e até hoje, depois de algumas décadas, ninguém toca nesse assunto.

Todos acreditam que o violino esteja com o Ricardo, mas na verdade esse se tornou um grande mistério. Alguns primos arriscam que ele já fora  vendido, ou que seu avô, muito velhinho, ainda o guarde.

Da sua família, muitos  se foram, os que ficaram, desistiram de brigar por ele. Até mesmo seu primo musico, que  é um critico musical,  se esqueceu dele. O violino significava doces dias, cheios de tumulto, gritaria, e muitas risadas em torno de uma mesa repleta de comidas.

Significava um domingo alegre e ensolarado, de visita aos bisavós. Eles eram a razão, e o verdadeiro significado de uma família.

Sem eles, o Stradivarius, mesmo valioso não tinha  a menor importância.


Nenhum objeto , poderia ser melhor que o colo de seu avô.

Um Amor Real - Rejane Martins


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Um Amor Real
Rejane Martins

Certo dia o corsário John Smith, um verdadeiro súdito do trono inglês, recebeu uma importante missão da própria Rainha. Guardar em um lugar muito seguro e inexpugnável, um verdadeiro tesouro pessoal de Vossa Majestade.

Sem questionar a incumbência, não tinha dúvidas sobre o melhor lugar para cumprir a missão. Um lugar distante das rotas europeias, que ele só o conhecia por comandar as várias expedições inglesas à China.

Na primeira visita àquele país, ele registrara em seu mapa a posição de uma ilha de areia cintilante e num tom tão alvo que feria a vista do marinheiro. Porém nas expedições subsequentes, deduziu que ela havia submergido, uma vez que não encontrara mais aquele banco de areia. Até o dia que ele se assustou ao avistá-la imponente e rodeada por aquelas águas azuis e límpidas.

 Conferiu por diversas vezes os instrumentos de navegação e o mapa que ele próprio havia atualizado. Não havia dúvidas eram as mesmas coordenadas, a ilha era a mesma. Por mais que puxasse da memória não encontrava nenhuma explicação técnica para tal fenômeno.

Temendo ser rotulado de louco pela tripulação, não mencionou o fenômeno. A partir dessa data, todas as vezes que se encontrava no local, primeiramente se sabatinava a respeito de datas, fatos e conhecimentos científicos para atestar sua sanidade. Somente após todo este ritual, anotava em seu diário de navegação a situação encontrada.

Em terra firme, com todas as anotações, estudava naquela região a interferência lunar nos dias. Após exaustivos cálculos e pesquisas conseguiu determinar com bastante precisão a frequência das marés, e com isto os períodos em que a ilha ficava exposta.

Por ser um estudo pessoal e sigiloso, somente ele tinha o conhecimento de quando visitar a ilha e usá-la como esconderijo para as cartas e lembranças de amor entre sua querida rainha e o seu padrasto Thomas Seymor.


Uma floreira especial - Ana Catarina SantAnna Maues




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Uma floreira especial
Ana Catarina SantAnna Maues

     Minha bisa era uma pessoa de postura majestosa. Lembro-me dela balançando na velha cadeira, com ar autoritário, de olhar aguçado e penetrante, que alcançava a alma da gente. Não havia quem a encarasse, nós crianças então, abaixávamos logo a cabeça quando de frente a ela.

     Recordo como se fosse ontem do dia em que após sua morte, reuniram-se para a partilha de seus bens. Fui logo imaginando as inúmeras joias e objetos de valor envolvidos, a monta de dinheiro na certa escondido e agora descoberto. Estávamos ricas, pensei em mim e na minha mãe.


     Hoje sou bisa também e de vez em quando olho para aquela floreira de grossa porcelana, enfeitada com flores baratas, objeto herdado naquele dia frustrante e isto me inspira e reforça o desejo de não proceder como ela. Seu temperamento amargo distanciou netos e bisnetos. Ela deixou sim uma herança, que não foi material, mas um legado, o de não reproduzir sua imagem, copiar seu exemplo e repetir seus hábitos.

A FESTA - Christianne Vieira

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A FESTA
Christianne Vieira

Clara levantou  cedo, estava muito animada, teria um dia cheio de compromissos  e uma festa a noite.

Pensara a semana toda no que vestiria, e desejava ser a mulher mais bonita da noite. No metrô, indo para a faculdade, pensava em seu armário e com a ajuda de uns looks, que vira em uma postagem, combinava suas peças.

Tinha uma grande amiga, Paula. Elas se conheciam desde o primeiro ano da faculdade, e agora, que já estavam quase se formando, eram inseparáveis.

Elas estudavam moda, o que tornava ainda mais difícil se imaginar maravilhosa em uma roupa. Passavam os dias montando figurinos, com  assistentes  na produtora onde trabalhavam.

Conviver em uma ambiente, repleto de celebridades, tinha um alto custo. A exigência era enorme, o tempo corrido, as produções,  feitas da noite para o dia com os prazos curtos demais.

Paula, vendo que Clara havia chegado muito preocupada, se aproximou da amiga, querendo saber o motivo? Clara lhe contou que a festa da revista que iriam a noite, teria muitos famoso, e mulheres lindas, bem vestidas, por mais que ela tentasse, não conseguia montar um look apropriado.

Ela sabia que encontraria Ronaldo, sua paquera  há muitos meses. Queria impressioná-lo, e estar maravilhosa.

Paula se lembrou de um vestido que uma loja nova havia mandado como amostra de sua nova coleção. Era de cor azul marinho, com caimento perfeito, nem justo, nem largo, ficaria lindo em Clara, já que ela tinha olhos azuis, e cabelo loiro cacheado.

Ela o experimentou, e por ser bem magra, ficou perfeito. Faltava um sapato, uma bolsa de mão e uma maquiagem bem feita.

Mas como ela poderia usa-lo?

No inicio, Clara não queria, mas depois, pensou melhor, e imaginou que esse empréstimo, não estaria lesando ninguém, ela era uma pessoa honesta e trabalhava na produtora há três anos. Cansara de ver roupas serem emprestadas.

Foram para casa, se arrumaram e partiram para a festa.

O evento aconteceria em um casarão antigo, com pequenos traços do já modernismo arquitetônico, decorado em estilo anos vinte desde a fachada de pedras com videiras até o cortinado pesado que cobria as imensas janelas. A banda tocava   Louis Armstrong ao vivo no jardim de inverno, e o estilo quase clássico dominava o ambiente.

As celebridades da moda, bafônicas, esbanjando  sensualidade, em vestidos de alta costura.

As amigas maravilhadas, estavam muito felizes, e saboreavam cada flash, cada minuto. Clara procurava por Ronaldo, já havia passado por todas as salas e não o vira.

A noite estava muito quente, e com tantas luzes, parecia ainda mais. Depois de várias tacas de espumante, Clara resolveu dançar, seria uma boa ideia para esquecer seus contratempos. Foi quando viu Ronaldo, ele estava aos beijos com uma ruiva.

Em um minuto tudo desmoronava, e seus sonhos com a noite especial, desapareceram.

Muito decepcionada, resolveu que seria uma ótima desculpa para beber ate não aguentar mais. Paula tentou em vão dissuadi-la, mas foi impossível. Após algumas horas, ela levou Clara para tomar um ar no Jardim, pensou que seria apropriado ela sentir a brisa, encher o pulmão de ar puro. O mundo dela estava do avesso, investira nesse sonho durante meses, pensava que essa noite conseguiria se aproximar dele.

Sentaram então no banco, os olhos de Clara cheios de lagrimas, o coração apertado, fechou os olhos, e adormeceu.


Quando acordou de um sono breve, não se lembrava de nada, a amnésia  era como um balsamo para aliviar a sua dor.

domingo, 26 de março de 2017

Uma Vida em um Quadro - Rejane Martins


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Uma Vida em um Quadro
Rejane Martins

Tornar-me a guardiã dos objetos guardados por tantos anos pela minha mãe foi um privilégio, apesar de que não haver disputa pela incumbência sinto um grande apreço pela designação.

Dentre todos os objetos há uma foto especial. No altar da Igreja Matriz Velha em São Caetano toda a família se reuniu para imortalizar as Bodas de Ouro de meus avós maternos. Imagino o trabalho hercúleo do fotógrafo para enquadrar os filhos, genros, noras, netos e bisnetos em torno daquele casal velhinho e orgulhoso.  

 Sempre que manuseava aquela foto, sentia o poder que ela tinha de congelar, somente em um clique, toda uma história. Ali está retratada uma vida de lutas, vitórias, decepções, angústias e recompensas.

 A aura da imagem é tão intensa que mesmo aqueles que já pertencem ao espaço saudades, continuam transmitindo uma energia vibrante não só daquele momento, mas do seu legado, e por um instante esquecemos o vazio imposto pela sua ausência e sentimos a alegria presente em cada rosto.

Há alguns anos presenteei minha mãe com uma ampliação desta fotografia que era tão cara para ela. O trabalho de ampliação revelou algo ainda mais surpreendente, cada coadjuvante retratado ali tornou-se um protagonista. Ficamos por um longo tempo relembrando de todos personagens e suas esquisitices, no final o saudosismo tomou conta de todos nós. Ainda me lembro das lágrimas que furtivamente teimavam em escorrer dos olhos dela.

Naquele momento percebi o tesouro que aquele objeto representava, não era apenas uma foto que marcava um evento, era toda uma história envolvendo muitas pessoas, e cada uma delas doou um quinhão de responsabilidade para que este objeto se tornasse tão precioso.


O original e a ampliação que revela a grandiosidade e o magnetismo sempre presente naquela grande família, são de tempos em tempos resgatados de seu esconderijo, pois não me permito esquecer a história nem as raízes estabelecidas por aqueles dois jovens anciãos, que se acabaram de se casar novamente.

Amor à Primeira Vista - Rejane Martins


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Amor à Primeira Vista
Rejane Martins

Era o primeiro carnaval de Otávio longe de sua terra natal. Aquele domingo estava mais pasmacento que o normal. O calor era insuportável e a ausência de transeuntes promovia ainda mais a morosidade daquele triste e enfadonho dia que insistentemente não terminava.

Otávio decidiu gastar algumas de suas horas ociosas no jardim de sua senhoria Dona Eulália, que cuidava com muito esmero de seu precioso tesouro vivo, como ela mesma o definia.

Recolheria as folhas caídas, libertaria cada flor de suas pétalas mortas, se ocuparia de qualquer serviço para não sentir aquele vazio na alma.

Estava tão absorto em seu trabalho de jardineiro que quase passou despercebido aquele rosto angelical emoldurado pelas viçosas rosas do jardim.
A visão dos cabelos negros depositados sobre os ombros desnudos era uma obra de arte que não devia nada aos grandes pintores renascentistas.

Se contrapondo ao dia sem cor e brilho de Otávio, aquela moça ostentava dois grandes olhos brilhantes e sagazes, que beirava ao desrespeito pela sua dor devido a solidão.

Pensou duas vezes antes de se aproximar e tentar conhecê-la. O medo foi mais forte e acovardou o interiorano, obrigando-o a recuar.

Agachou-se tentando se esconder e ao mesmo tempo espreitar aquela imagem que preencheu seus pensamentos. Percorreu o jardim, feriu-se várias vezes, até que se sentindo um tanto quanto boboca, decidiu se apresentar e iniciar uma conversa descompromissada.

Aprumou-se, retirou o espinho que alojara-se em seu braço, alinhou a roupa. E só quando em posição ereta olhou para frente, viu aquela deusa se afastar com seu colega de quarto Mateus. A cada passo dado, além de aumentar a distância, provoca um novo e mais forte aperto no coração.

Hoje após tantos anos passados, Otávio ainda não sabe nem o nome dela, não teve coragem de tocar no assunto com Mateus, temia que a realidade o decepcionasse, preferiu alimentar a doce ilusão que o acompanhou por toda a vida. Junto com os netos adolescentes, Otávio faz questão de frisar sempre que eles acreditem em amor à primeira vista, e que ele é testemunha viva desta teoria, afinal ele se apaixonou por uma mulher cuja a perfeição era o seu maior atributo.


Foi Traição? - Rejane Martins


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Foi Traição?
Rejane Martins

Conhecera Ricardo há um ano, durante a viagem para Lençóis Maranhenses. Os dois adquiriram o pacote turístico na mesma agência.

Já na sala de embarque do aeroporto de São Paulo, Rosana e Ricardo trocaram olhares insistentemente. Aquele elegante homem, alto com porte atlético, destacava-se na multidão alvoroçada com as férias.

Durante toda a viagem, o casal não se largava. Coitada da Aninha, sua amiga de viagem, precisou se integrar com outro grupo para não ficar sozinha. Para eles aquele lugar deslumbrante tornou-se mais paradisíaco que nunca. Tudo era magico e estonteante, foram dez dias pisando nas nuvens.

Rosana sentia-se outra pessoa quando regressou a São Paulo. Aninha tentava colocar seus pés no chão dizendo que ele não ligaria, que aquilo foi um amor de verão. Um homem daquele jamais estaria dando sopa nos dias de hoje. Era enfática ao aconselhar a esquecê-lo, esta era a única maneira de não sofrer. Pensar nele como uma boa companhia de uma viagem dos sonhos.

Contrariando todas as previsões Ricardo precisou de dois dias para colocar o sono em dia, assim que acordou ligou para marcar um encontro, já estava com saudades.

Casamento com data marcada, os preparativos exigiam da noiva toda sua atenção. Afinal ela queria que tudo estivesse perfeito naquele que seria o dia mais importante de sua vida.

Rosana e Aninha, aliás a principal madrinha, tiraram o dia para visitar a floricultura que ornamentará a igreja. De repente Aninha ficou nervosa e queria sair dali a qualquer custo, sem nenhuma explicação e sem ter visto ao menos uma planta. Não conseguia esconder seu desconforto.

Foi quando Rosana virou-se e seus olhos focaram Ricardo carregando uma linda menina colo, acompanhado de uma mulher elegante e atraente. Ele passava as costas de sua mão no rosto dela. Ela aceitava o carinho com um sorriso, e logo retribuía lhe com outro toque.

Sem conseguir pronunciar uma só palavra, com os olhos marejados Rosana aproximou-se da feliz família. Ricardo assustou-se e logo dirigiu o olhar para o chão, não tinha coragem para encará-la. Rosana saiu às pressas seguida pela preocupada Aninha, que recebeu a incumbência de cancelar todas as providências do enlace.


Rosana naquela noite, no escuro de seu quarto, decidiu realizar um antigo sonho, aprender inglês em Londres. Hoje ela tem consciência de que a decisão tomada foi fuga, mas o mais engraçado é que ela nunca saberá se aquilo foi traição mesmo.

Presentes Eternos - Rejane Martins

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Presentes Eternos
Rejane Martins

Durante anos fui presenteada com  objetos manufaturados por meu filho na escola.

Em cada evento que participava, precisava segurar as lágrimas ao abrir os pacotes. Eram sempre muito significativos para mim. Camisetas “sujas” com tintas coloridas que revelavam as impressões digitais das mãozinhas espalmadas por todo o tecido, ou ainda a inédita foto com um rosto sapeca tirada às escondidas. Na canga tingida no barbante, era inegável a exposição de sua identidade na escolha das cores.

Como usar esses objetos, são obras de arte confeccionadas especialmente para mim. Tudo ali foi pensado com a mente mais pura de uma criança, era declaração de amor mais verdadeira que alguém poderia fazer. Como ignorar toda aquela expressão de criatividade daquele pequeno ser. Mesmo sem dominar o idioma ou se utilizar de figuras de linguagem, criou um texto embasado no mais genuíno sentimento de amor em cada gesto, em cada cor, em cada expressão.

São objetos de valor inestimável, e representam toda a recompensa de um trabalho integral e desprendido. Sei que este legado no futuro não estimulará o interesse de ninguém, mas para mim é um tesouro precioso que merece toda minha reverencia.

Como não considerar cada um deles um artesanato exclusivo, apesar de cada mãe ter recebido uma obra de arte semelhante, acredito que todas avaliam o valor pessoal igual ao meu.

Nenhum presente que agrega valor monetário competirá com estes, por isso guardo-os com muito carinho, inclusive no coração para todo o meu sempre.


quinta-feira, 23 de março de 2017

Um bibelô de madeira - Jany Patricio

                
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Um bibelô de madeira
Jany Patricio

Tenho em minha estante um objeto de madeira, pintado com flores vermelhas e folhas e um verniz dando acabamento. Guardo este bibelô em homenagem a uma mulher à frente do seu tempo.

        É uma singela recordação da minha vó. Uma pessoa amorosa, como todas as avós. Brincalhona e sorridente.

        Em momentos da sua vida, ela precisou romper com tudo. Deixou os quatorze filhos crescidos e marido para ir para a Europa. Não um outro continente. O jardim Europa, na Vila Mariana  que na época  era formado por chácaras, onde havia muito verde. Diferente dos dias de hoje que tem estação de Metrô, prédios, lojas, residências e muito asfalto.

        Imagino que sua vida não foi fácil. Porém só me recordo dela com um sorriso no rosto, contando muitas histórias e amada por todos, apesar da sua rebeldia, para a época.

        Depois de viver alguns anos em São Paulo, ela voltou para Paulo Afonso. Sua casa, próxima a rua principal do centro, era aconchegante e aberta para os amigos, parentes,  filhos e netos,  que passavam por lá todos os dias para almoçar, tomar um café ou simplesmente para lhe dar um bom dia e um beijo.

        Lembro-me dela sentada em sua cadeira de balanço, cercada de gente, rindo muito com alguns dos filhos piadistas.


        Certa vez em que estive em Paulo Afonso, ela me deu uma xícara e pires de porcelana, que infelizmente quebraram e este bibelô que guardo com carinho. Quando olho para ele, me recordo dos momentos alegres que passei em companhia dela, da sua história, da sua leveza e da sua fibra.

ERA MUITO MAIS QUE AMOR - Hirtis Lazarin


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ERA MUITO MAIS QUE AMOR
Hirtis Lazarin

          Eu teria que criar um texto sobre um objeto que me recordasse alguém ou algum momento especial.

          Empreendi uma viagem pelo tempo que já se foi.  Encontrei vários objetos preciosos ao meu coração.  Um crucifixo de rubi que ganhei ao completar quinze anos, uma peça decorativa em Murano que foi de minha avó Virgínia, uma caixa de madeira que meu bisavô fez pra mamãe guardar trecos de costura.

          Nesse percurso de busca acabei chegando quase no início da história da minha vida.  Lembrei-me, então de uma caixinha de papelão envelhecida e bem amassada, tantos foram os acontecimentos que se sobrepuseram a ela.  Estava ali guardada a minha relíquia mais valiosa.   Não era um objeto palpável.  Era um  "SENTIMENTO" que brotou quando eu tinha apenas cinco anos e já frequentava o jardim de infância.  Um sentimento tão intenso que me amparou nos momentos mais difíceis e, podem crer, foram muitos.  Permanece vivo dentro de mim e, após tanto tempo intocável,   compartilho com vocês. 

          Nosso quintal era imenso.  Uma maravilha pra brincar.  Havia laranjeiras, um limoeiro do limão rosa, alguns pessegueiros cujos frutos eram ensacados ainda verdes pra que os passarinhos não os roubassem de nós.  Pra eles cresceram duas goiabeiras que frutificavam o ano inteiro.  Nunca consegui chegar antes deles e só comi goiaba cheia de furinhos.  Havia também um espaço bem grande de grama verdinha, cercado de arame e madeira.  Ali pastava o cavalo mais querido do mundo.  Mas não foi sempre assim.

          Papai era apaixonado por cavalos.  Lia tudo sobre eles.  Trouxe o Tufão de Minas Gerais.  Um cavalo selvagem.  Acostumado à liberdade, era rústico e agressivo.  Porte majestoso e olhar desafiador.  Não podíamos nos aproximar do cercado. Era prepotente, relinchava feito doido e sapateava até arrancar toda grama a sua volta.

          Desde a sua chegada, com papai foi um pouco diferente.  Ele entrou no espaço proibido falando manso, encarando-o nos olhos e sem demonstrar medo. Mas levou patadas e cabeçadas. Tombos e mais tombos.  Teve o joelho enfaixado por semanas.  Não desistiu até conquistar-lhe a confiança e Tufão passou a obedecer todos os seus comandos.   Tornaram-se grandes amigos. Bastava apenas um gesto de papai e ele obedecia. Pudemos, então, ser apresentados a ele.  

          Nascia ali o grande herói da minha vida: papai, um homem forte e corajoso, capaz até de dominar uma fera.

          E ao grande amor que eu já sentia por ele, juntaram-se confiança e admiração.  Sentimentos tão intensos que já nem cabiam mais dentro de mim.

          Papai foi meu porto seguro, a quem recorri sempre, enquanto esteve perto de mim.  Um exemplo que segui na sua ausência.

          O encantador de cavalos que me encantou.


          E foi pra sempre...

Que tarde! - Carmen Lucia Raso

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Que tarde!
Carmen Lucia Raso

De longe pude vê-lo abraçado à outra. Pareciam tão íntimos, tão antigos.

Respirei fundo, contei até cem em alguns segundos, sem sequência ou coerência.

Parada quase no meio fio,  sem que me notasse, fiquei escondida atrás de uma árvore de tronco largo e galhos fartos que me dava total cobertura e eu observava com olhos de lince e coração de presa amedrontada.

Não sabia bem o que fazer, se atacava como caçadora ou me mantinha estática para que não me encontrasse.

Os abraços entre eles me arrepiavam de raiva, eles riam muito, ele passava as mãos nos seus cabelos e seus olhos percorriam aquela moça de linda aparência, de cabelos longos, cacheados, se afastavam de mãos dadas e logo vinha mais um abraço.

Tinha a sensação de que o tempo não passava, alguns segundos, uma hora, uma eternidade? Não saberia dizer.

Fiquei triste, brava e ao mesmo tempo decepcionada pelo que via do outro lado da rua.

De repente um vento gelado me acordou daquele transe, daquele turbilhão de sentimentos em que me encontrava.

Que horror! - pensava.

Um homem que passava por ali quis saber sobre uma doceria numa rua que eu não conhecia e lá fui eu desviada da minha espreita.

Onde estão? Perdi os dois de vista! Não acredito que sumiram. Onde foram?

Atravessei a rua em busca do que me aguardava.

De repente bateram de leve em minhas costas e quando virei meus olhos encontraram os daquela moça que ha pouco se abraçava ao meu namorado e me dei conta de que ela se parecia muito com ele. Em seguida ele chega com flores estendidas para mim.

— Pra você, meu amor!

Não entendi mais nada.


   Dois presentes, as flores, e minha irmã gêmea que foi criada na Itália, por nossos avós e acaba de chegar. Como eu vinha me encontrar com você resolvi marcar nosso encontro aqui mesmo em frente a Livraria para tomarmos nosso café. Não foi aqui que marcamos?

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...