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quinta-feira, 23 de março de 2017

ERA MUITO MAIS QUE AMOR - Hirtis Lazarin


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ERA MUITO MAIS QUE AMOR
Hirtis Lazarin

          Eu teria que criar um texto sobre um objeto que me recordasse alguém ou algum momento especial.

          Empreendi uma viagem pelo tempo que já se foi.  Encontrei vários objetos preciosos ao meu coração.  Um crucifixo de rubi que ganhei ao completar quinze anos, uma peça decorativa em Murano que foi de minha avó Virgínia, uma caixa de madeira que meu bisavô fez pra mamãe guardar trecos de costura.

          Nesse percurso de busca acabei chegando quase no início da história da minha vida.  Lembrei-me, então de uma caixinha de papelão envelhecida e bem amassada, tantos foram os acontecimentos que se sobrepuseram a ela.  Estava ali guardada a minha relíquia mais valiosa.   Não era um objeto palpável.  Era um  "SENTIMENTO" que brotou quando eu tinha apenas cinco anos e já frequentava o jardim de infância.  Um sentimento tão intenso que me amparou nos momentos mais difíceis e, podem crer, foram muitos.  Permanece vivo dentro de mim e, após tanto tempo intocável,   compartilho com vocês. 

          Nosso quintal era imenso.  Uma maravilha pra brincar.  Havia laranjeiras, um limoeiro do limão rosa, alguns pessegueiros cujos frutos eram ensacados ainda verdes pra que os passarinhos não os roubassem de nós.  Pra eles cresceram duas goiabeiras que frutificavam o ano inteiro.  Nunca consegui chegar antes deles e só comi goiaba cheia de furinhos.  Havia também um espaço bem grande de grama verdinha, cercado de arame e madeira.  Ali pastava o cavalo mais querido do mundo.  Mas não foi sempre assim.

          Papai era apaixonado por cavalos.  Lia tudo sobre eles.  Trouxe o Tufão de Minas Gerais.  Um cavalo selvagem.  Acostumado à liberdade, era rústico e agressivo.  Porte majestoso e olhar desafiador.  Não podíamos nos aproximar do cercado. Era prepotente, relinchava feito doido e sapateava até arrancar toda grama a sua volta.

          Desde a sua chegada, com papai foi um pouco diferente.  Ele entrou no espaço proibido falando manso, encarando-o nos olhos e sem demonstrar medo. Mas levou patadas e cabeçadas. Tombos e mais tombos.  Teve o joelho enfaixado por semanas.  Não desistiu até conquistar-lhe a confiança e Tufão passou a obedecer todos os seus comandos.   Tornaram-se grandes amigos. Bastava apenas um gesto de papai e ele obedecia. Pudemos, então, ser apresentados a ele.  

          Nascia ali o grande herói da minha vida: papai, um homem forte e corajoso, capaz até de dominar uma fera.

          E ao grande amor que eu já sentia por ele, juntaram-se confiança e admiração.  Sentimentos tão intensos que já nem cabiam mais dentro de mim.

          Papai foi meu porto seguro, a quem recorri sempre, enquanto esteve perto de mim.  Um exemplo que segui na sua ausência.

          O encantador de cavalos que me encantou.


          E foi pra sempre...

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