Princesa Isabel
Alberto Landi
O Palácio de São Cristóvão estava estranhamente
silencioso naquela manhã de novembro, num silêncio pesado que contrastava com o
burburinho febril vindo das ruas do Rio de Janeiro.
A princesa, com seus olhos azuis geralmente firmes,
observava a névoa cinzenta que cobria o jardim.
Ela não precisava de jornais para saber o que estava
acontecendo, o ar estava carregado de traição.
Ela não era uma rainha, mas carregava o peso de uma
coroa que nunca usaria plenamente. Seu legado, a abolição, o ato de libertação
que selou o destino da Monarquia, agora era a bandeira usada contra o seu
próprio trono.
Seu marido, o Conde d’Eu, entrou na sala, o rosto
pálido, dizendo:
— Isabel, o Imperador assinou. Não haverá
resistência, eles estão nos forçando ao exílio.
Isabel assentiu lentamente, sem surpresa, apenas com
uma tristeza profunda.
Caminhou até a janela e lá fora o rumor da
multidão mudava de tom: do protesto para a celebração ruidosa.
A República havia chegado, não como um grito de
união, mas com um sussurro de conspiração militar.
Eles não entenderam, Gastón, ela disse com a voz
baixa, mas clara. Eles pensaram que o trono era a coroa, o cetro, mas o trono
era a responsabilidade, era assinar a lei Áurea, sabendo que isso custaria
tudo, era olhar para o futuro mesmo que ele nos rejeitasse.
— Nós não caímos por fraqueza, mas por sermos
excessivamente rígidos em nossos princípios. A nação que libertamos não soube
nos proteger.
Ao embarcar no navio que os levaria para longe, sob
o olhar frio de canhões republicanos, Isabel não chorou. Olhou para a costa
brasileira que se afastava. O golpe havia sido rápido, cirúrgico, mas sabia que
a verdadeira marca de seu reinado não estaria nos decretos derrubados, mas na
liberdade conquistada.
Enquanto o navio ganhava o mar aberto, ela apertava
um relicário, buscando conforto e proteção no objeto. Era a herdeira que nunca
reinou. Nele residia a figura de uma era imperial que se recusava a morrer nos
corações dos fiéis, um símbolo de poder deposto, mas de honra e dever ainda
vivos.
O exílio era a prova final de sua renúncia, não a
dignidade.
A República tinha o poder, mas Isabel levava a
memória do que foi justo.
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