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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Princesa Isabel - Alberto Landi

 




Princesa Isabel

Alberto Landi

 

O Palácio de São Cristóvão estava estranhamente silencioso naquela manhã de novembro, num silêncio pesado que contrastava com o burburinho febril vindo das ruas do Rio de Janeiro.

A princesa, com seus olhos azuis geralmente firmes, observava a névoa cinzenta que cobria o jardim.

Ela não precisava de jornais para saber o que estava acontecendo, o ar estava carregado de traição.

Ela não era uma rainha, mas carregava o peso de uma coroa que nunca usaria plenamente. Seu legado, a abolição, o ato de libertação que selou o destino da Monarquia, agora era a bandeira usada contra o seu próprio trono.

Seu marido, o Conde d’Eu, entrou na sala, o rosto pálido, dizendo:

— Isabel, o Imperador assinou. Não haverá resistência, eles estão nos forçando ao exílio.

Isabel assentiu lentamente, sem surpresa, apenas com uma tristeza profunda.

Caminhou até a janela e lá fora o rumor da multidão mudava de tom: do protesto para a celebração ruidosa.

A República havia chegado, não como um grito de união, mas com um sussurro de conspiração militar.

Eles não entenderam, Gastón, ela disse com a voz baixa, mas clara. Eles pensaram que o trono era a coroa, o cetro, mas o trono era a responsabilidade, era assinar a lei Áurea, sabendo que isso custaria tudo, era olhar para o futuro mesmo que ele nos rejeitasse. 

— Nós não caímos por fraqueza, mas por sermos excessivamente rígidos em nossos princípios. A nação que libertamos não soube nos proteger.

Ao embarcar no navio que os levaria para longe, sob o olhar frio de canhões republicanos, Isabel não chorou. Olhou para a costa brasileira que se afastava. O golpe havia sido rápido, cirúrgico, mas sabia que a verdadeira marca de seu reinado não estaria nos decretos derrubados, mas na liberdade conquistada.

Enquanto o navio ganhava o mar aberto, ela apertava um relicário, buscando conforto e proteção no objeto. Era a herdeira que nunca reinou. Nele residia a figura de uma era imperial que se recusava a morrer nos corações dos fiéis, um símbolo de poder deposto, mas de honra e dever ainda vivos.

O exílio era a prova final de sua renúncia, não a dignidade.

A República tinha o poder, mas Isabel levava a memória do que foi justo.

 

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