TRABALHANDO COM OS SENTIDOS
Dinah Ribeiro de Amorim
Acordo de repente, assustada.
O barulho forte que ouço parece o som de um trovão.
Levanto-me rápida e penso em fechar totalmente a
janela. Deixo sempre um pouco aberta.
Ameaça despencar forte chuva, penso logo, e fico
com medo.
Escancaro as cortinas e examino o vidro.
Enxergo, maravilhada, um céu azul, cheio de nuvens
brancas, que escondem, atrevidas, o brilho de um Sol ardente.
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Entro na sala fechada e fria.
Algumas pessoas, sentadas, calmamente esperam sua
vez.
Um cheiro estranho permanece no ar. Seria falta de
janelas, penso eu. Pouca ventilação no ambiente.
Dr. Ricardo abre sua porta e exclama:
— Quem é o próximo?
O avental branquíssimo e o odor de clorofórmio
denunciam a sua presença.
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A cozinha da fazenda é enorme.
As várias bocas do fogão a lenha, acesas, suportam
o peso das pesadas panelas de ferro. Estão fumegantes.
As fumaças que exalam denunciam vários tipos de
alimentos: arroz, feijão, e, principalmente, carne.
Possuem aquele cheirinho especial...
Maria, a chefe da cozinha, recebe-me gentilmente e
pergunta se estou com fome.
Aquele perfume apetitoso desperta o meu paladar.
Aceito o delicioso prato de carne ensopada que me
oferece.
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A pele macia e nova transforma os meus sentidos.
Tapam-me os olhos e pedem-me para não olhar.
Tento adivinhar o que é? O porquê da brincadeira.
Apalpo delicadamente e sinto que é algo leve,
suave, macio, perfumado.
Quando exclamam: “Pronto, pode olhar! Percebo,
encantado, que seguro um gorducho recém-nascido, cheio de curvinhas e dobras.