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sábado, 18 de outubro de 2014

PRIMAVERA AO ENTARDECER! - Dinah Ribeiro de Amorim



PRIMAVERA AO ENTARDECER!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Sentada num banco de jardim que frequentava todas as tardes, ouvia o barulho da criançada e o bate papo de suas mamães.

  Distraia assim a sua vida mansa, ausente de trabalho e novidades.

  Vivia sozinha, seus filhos adultos, casados, morando longe, mal apareciam para uma visita.

  Era uma senhora alegre apesar de só e espantava facilmente tristezas quando observava outras vidas, mais moças do que ela.

  Lembrava-se então do seu passado e de como fora feliz também.

  Numa dessas tardes, quando a brisa de folhas terminou, brotando as primeiras flores nas árvores, prenúncio de primavera, aproximou-se dela um senhor idoso,  portando bengala, que há muito a observava. Pediu licença e se sentou. Não falava nada, só queria ficar ao lado dela.

  Não se incomodou com isso, deixando-o sentar-se todas as tardes ao seu lado, embora não conversassem.

  Com o tempo, acostumou-se com ele. Chegava primeiro ao parque, sentava-se, examinava aquele lugar bonito, alegre, perfumado, primavera no ar, e, logo depois, ele chegava. Mancando levemente, pedindo licença, sentava-se ao seu lado. Continuava sem falar nada, olhando simplesmente o mesmo que ela.

  Houve uma tarde em que ele não apareceu. Preocupada, procurou-o com o olhar, mas não o achou. Pensou em perguntar a alguém,  mas não sabia nada dele!  Andou um pouco pelos arredores e encontrou um vendedor ambulante, cujo ponto era ali. Perguntou-lhe sobre o senhor de bengala, que vinha todas as tardes, e ele prontamente respondeu: “Seu Ailton, aquele que vem sempre? Mora ali na esquina. Enviuvou há dois anos e nunca mais conversou com ninguém. Vai ver que adoeceu!”

  Ansiosa, vai até a esquina para saber dele. Achou sua casa através de uma vizinha e tocou a campainha. Notou que a porta estava aberta. Como ninguém respondesse, entrou e subiu as escadas velhas. A poeira e o cheiro de mofo tomavam conta do lugar. Algumas plantas, na entrada, pediam água há muito tempo, mas teimavam em viver!

  Foi subindo, curiosa, abrindo janelas, observando lugares, chamando Sr. Ailton em voz alta.

  Encontrou-o deitado num quarto, estava sonolento, meio delirante de febre, aparentando forte gripe. Não a reconheceu, olhando-a com curiosidade, chamando-a, às vezes, de Elisa.

  Quem seria Elisa! Com certeza a esposa falecida.

  Cuidou dele, chamou um farmacêutico local, deu-lhe os remédios receitados e ia todas as tardes vê-lo, ao invés de ir ao parque.

  Sr. Ailton, aos poucos, foi melhorando. Sua aparência ficou mais sadia, faces coradas, mais risonho e forte. Alegrava-se ao ver quando Esperança aparecia, sempre trazendo um caldo quente ou uma carninha bem temperada. Até a casa estava diferente, mais limpa, cheirosa, alegre, ensolarada, com algumas flores trazidas pela estação que chegava.

  Pois é, Primavera no tempo e na alma daqueles idosos que se encontravam no entardecer da vida, mas, ainda com sentimento de amor, carinho, amizade, sonho!


 Esperança entrou na vida do Sr. Ailton e ele na dela também!

NO DESAMOR OS ANJOS DISSERAM AMÉM - M.Luiza de C.Malina


NO DESAMOR OS ANJOS DISSERAM AMÉM     
M.Luiza de C.Malina

Deborah. Te quero muito!

Não estranhe, você estará recebendo esta carta por parte do meu amigo Juan, assim será mais seguro.

Passamos lindas semanas juntos. Eu sei que escrevo enciumado. Não ria de mim. Aquele rapaz que estava conosco na festa. Se, não me engano, o nome dele é Felipe, lembra-se dele? Conversamos muito com ele.

Percebi que ele te admirava, estava encantado. Eu fumava muito, já não sabia se lhe dava um murro na cara, me retirava ou sei lá o quê! Vocês riam animados. Procurava uma brecha para poder dançar agarradinho com você. Mas, não conseguia interromper o assunto. Nunca fumei tanto. Acredito que ele deve ter percebido. Sinalizava que, você era dele.

Assim, deixo-te livre do nosso compromisso de três anos, para que siga seu caminho. Seguirei com meus compromissos e, dificilmente, este ano retornarei ao Brasil.  Pretendo fixar-me em Mônaco para maior facilidade de negociações. Logo que eu tenha endereço fixo, avisarei.

Espero que compreenda minha atitude. Felipe é mais jovem, um tipo esportista e  tem muito a te oferecer. Você sempre foi boa, meiga e sincera amiga. A minha namorada amante. A esposa ideal.

Por te amar tanto, meu presente de Natal para você neste ano é um marido.  Quero que o procure e case-se com ele. Eu nada posso te oferecer.

Não me procure e nem a Juan. Já lhe avisei que também não te procure. Isto está assim resolvido.

Adeus!

Hugo.


A grande força do bem - Jorge da Paixão


A grande força do bem
Jorge da Paixão           

Pela estrada da esperança...
Perfumada pela flor...
Meu coração feliz avança...
Num belíssimo esplendor...

Na luz do Sol que revela,
a Natureza em ação...
Expressa a rosa amarela,
o amor em evolução...    

O amor é uma raiz...
No meu peito a crescer...
Meu coração bate feliz....
Quero a Deus agradecer...    

Deus eterno rei do mundo...
Comanda a força do bem...
Com seu amor profundo...
É o nosso juiz também...     

Vivo plantando a paz...
Para a felicidade colher...
Sinto que o amor é capaz...
De todo mal combater...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O QUE FAREMOS AGORA? - HIRTIS LAZARIN



O QUE FAREMOS AGORA?
HIRTIS LAZARIN

      Pat e Juliane conheceram-se na pré-escola e nunca mais se separaram.  Pareciam gêmeas univitelinas.  Além do cabelo loiro e dos olhos azuis, eram iguais no jeito de pensar, de se comportar e até no jeito de gostar.

          Além de boas alunas, lidavam com as opções que o computador nos oferece como se estivessem brincando.  E foi através das redes sociais que conheceram Paulo Roberto, rapaz de 25 anos, carioca e fotógrafo de agência de modelos.  A profissão que exercia atraiu as adolescentes como o mel atrai as moscas.

          Troca de fotografias... Promessas mil...

          Hoje, qual é o sonho de nove entre dez adolescentes?  Todo mundo "tá careca" de saber que é ser modelo, pisar nas passarelas, ganhar o mundo e um mundo de dinheiro, protagonizar a primeira capa de revista.  Sucesso e fama.

          Fugiram de casa e, inconsequentes, embarcaram para o Rio de Janeiro.  Essa é a idade dos sonhos e fantasia.  Fantasiar a realidade é com elas mesmas.  Não se preocupam com o depois, topam qualquer parada, dormem em qualquer cantinho.  Dá-se um jeitinho pra tudo.  E a inocência encobre-lhes a visão do mal.

          De táxi chegaram ao endereço combinado.  Era um bairro bem antigo do Rio.  A casa número 339 era pintada de branco, restaurada, colonial.  Uma senhora, ao ouvir a campainha, espiou por uma fresta da cortina. Abriu a porta e as recebeu com presteza.  Essa atitude teve um efeito positivo, mas a roupa que vestia provocou risinhos sarcásticos nas meninas.  Era um vestido longo multicolorido, turbante na cabeça, batom vermelho carmim e nas orelhas duas argolas  com um diâmetro que quase alcançava os ombros.

          A sala era decorada com sofás vermelhos de veludo brilhante, cortinas com franjas douradas e tapete de oncinha. A breguice do lugar não tinha nada a ver com o estúdio fotográfico que imaginavam:  Um ambiente espaçoso e sofisticado, posters de famosos espalhados, tapete de afundar o pé, flores naturais e uma mesa farta de frutos.  Ali tiveram  a primeira decepção.

          A aparição de Paulo Roberto causou-lhes um estremecimento maior ainda. Ele aparentava ser bem mais velho, pouco cabelo, bigodes espessos que cobriam o lábio superior.  Trocaram poucas palavras e encaminhou-as ao quarto onde ficariam alojadas.  O corredor era comprido com uma sequência de portas nos dois lados da parede.  E muito... muito escuro.  Garotas em trajes provocantes circulavam pelo local.  

De mãos agarradas, choro reprimido pelo medo, chegaram a uma escada em caracol que não tinha mais fim.  Ali no alto e isolado estava o quarto reservado às duas.  Uma cama de solteiro, um armário de uma porta só, um vitrozinho lá no alto quase encostado no teto.  Uma cela de prisão e um cheiro insuportável de mofo.  As bolsas de mão foram subtraídas e o celular também.

          Elas entraram em desespero.  Sentadas na cama e abraçadas choraram um choro silencioso que parecia não ter fim.  Pensaram nos pais e na loucura que fizeram.  De cansaço, adormeceram.  Juliane acordou primeiro.  Achou que estava tendo um pesadelo.  Abriu os olhos, o pesadelo era real.  No escuro tateou as paredes até encontrar o interruptor.  A luz era tão fraca que, mesmo acesa, deixava o quarto  na penumbra.  Acordou a amiga.  Tremiam de medo, de frio e de fome.

          Não restava a menor dúvida.  Caíram numa grande cilada.

          O que faremos agora?

          Juliane tinha ainda seu celular. Enquanto as duas aguardavam na sala de espera, Juliane foi ao banheiro e, num ímpeto de lucidez, escondeu o aparelho nas peças íntimas.  Tinham, então, a possibilidade de serem salvas.

           Ligaram pra casa, passaram o endereço aos pais, enlouquecidos há dois dias.

          Vinte e quatro horas depois, a polícia mais treinada do Estado invadiu a casa.  Mais um prostíbulo foi denunciado e, desbaratada uma quadrilha internacional de tráfico de mulheres bonitas e jovens.

           Três meses depois, quase trinta integrantes já estavam encarcerados. 
.

    

Smoke get’s in your eyes - Dinah Ribeiro de Amorim


São Paulo, 10 de outubro de 2014.

                                      Querido Amigo,

  Sentada na sala, sozinha, assisto a um filme antigo pela televisão. Ouço, de repente, a música que traz grandes recordações: “Smoke get’s in your eyes”. Lembro-me de você, resolvo lhe escrever.

  Volto lentamente ao nosso passado, época distante, quando éramos adolescentes apaixonados e essa a nossa música.

  Parece incrível como o coração não envelhece. Basta uma faísca, uma pequena chama, para sentirmos, instantaneamente, as mesmas emoções.

  Nós éramos jovens, românticos, sadios, gostávamos de dançar na sala de sua casa, criávamos passos novos e músicas recentemente gravadas.

  Sinto sua falta! Falta dessa época! Que surpresa! Você ainda mexe comigo.

  Embora avós, experientes, tantas passagens em nossas vidas, se o encontrasse novamente, talvez recomeçássemos tudo de novo!

  Incrível o sentimento humano! O amor entre duas pessoas! Como perdura quando achamos que já morreu.

  É como a Fênix, renasce das cinzas.

  Até breve ou, quem sabe, até nunca mais!


                                                        Abraços, Dinah.

Na varanda - Jany Patricio


Na varanda
Jany Patricio
  
        Um olhar. Triste à luz do luar.
        Lágrimas molham a varanda.
        Gotículas de amor e de saudade.

        Saltam imagens da tela. Passam o que passou.
        Não mais teus olhos, teu sorriso, teu abraço.
        Não mais teu calor.

        Renúncia! Doce palavra que acalenta os corações que sangram.
        Viver! Experimentar a entrega e sair do desconhecido para o real.
        Um mergulho na dor para acalmar o coração.


Para um amor perdido - Dinah Ribeiro de Amorim



São Paulo, 10 de outubro de 2014.

                                                       Para um amor perdido:

  Quantos momentos felizes tivemos juntos, e não soubemos aproveitar.

  Tanta coisa boa nos aconteceu e deixamos escorregar pelos dedos.

  Nosso rompimento foi triste. Sentia que nunca fui amada, realmente. Separamo-nos.

  Traçamos destinos diferentes: eu, uma escritora pretensiosa, você, um profissional brilhante.

  Soube, mais tarde, que lia meus contos, principalmente um em que a heroína sentia lhe afagarem os cabelos.

  Foi uma invenção minha! Você interpretou diferente. Na sua doença terminal, quando fui chamada, seu primeiro gesto foi afagar meus cabelos. Senti, naquele momento, um pedido de perdão, vontade de realizar um carinho que nunca fizera. 

  Compreendi  também que me amara, a seu modo, embora não o demonstrasse.

  Saudade de você. Do pouco tempo que vivemos juntos. Sua presença fez falta, mesmo vivendo separados.

  Quem sabe, um dia, nos reencontramos!

                                                                    Beijos, Dinah.

A MELHOR RECOMPENSA - JORGE DA PAIXÃO


A MELHOR RECOMPENSA
JORGE DA PAIXÃO

Da alma do sonhador....
Se extrai a saudade.....
De um passado que restou...
Sobejo de felicidade....     

O lar é uma divina luz....
O coração seu refletor...
Onde harmonia traduz...
Doce paz com muito amor...     

Suplicar é uma apelação....
Feita com humildade....
Desejando o coração....
Divinal felicidade...

No dia que eu morrer....
O meu amor vou deixar...
Com carinho para você....
Comigo sempre sonhar...   

A melhor recompensa...
De presente é uma flor...
O coração nunca pensa...
Quem pensa é o amor...      

O céu azul é sublime...
Misterioso e encantador...
O verde do mar exprime....
Aventuras de amor...     

O risco que meu coração tem....
É perder o seu amor...
E ficar sem o seu bem..

Sem sentir o seu calor...

Meu amado - Jany Patricio


Meu amado
Jany Patricio

Não pense que me afastei por não te amar, jamais!
Ainda sinto o toque do seu corpo, os seus beijos quentes, o coração pulando sob o pulôver azul.
A sua voz transformando o meu mundo, despertando sentimentos adormecidos.
Não pense que te esqueci, jamais!
Ainda sinto a eternidade do seu abraço, a minha aquiescência aos seus arroubos de paixão.
Ainda ouço aqueles blues que embalaram nossos sonhos.
Você sabe que sou...


Eternamente sua

Se o amor não existisse - Jorge da Paixão


Se o amor não existisse
Jorge da Paixão

Meu coração é todo teu,
com toda naturalidade...
Aonde o amor floresceu.
repleto de felicidade...  

O amor não tem idade,
nem também o coração...
Sinto a tua felicidade,
com a minha dada a mão...  

Vou preparar meu coração,
para quando eu for partir...
Poder viver na solidão,
sentindo saudade ti...   

Se o amor não existisse....
Eu não queria viver...
O mundo seria tolice...
Sem eu, te conhecer...

A saudade comigo vai...
Meu coração fica aqui...
Com a esperança que não sai...

Da minha vida a sorrir...

O HOMEM QUE TINHA MUITOS SEGREDOS - HIRTIS LAZARIN

Jardineiro- óleo sobre tela - Fernando Gopal


O HOMEM QUE TINHA MUITOS SEGREDOS
HIRTIS LAZARIN



                  Num pequeno descuido da babá, Bruninho de quatro anos desapareceu.  A casa grande, ou melhor, a mansão entrou em alvoroço.  Um angu de caroço.  Serviçais irritados e desviados de suas funções.  Sufoco que dura o tempo pra deixar todo mundo louco...

                  Sentadinho na terra batida do jardim e protegido pelas folhagens, observava com curiosidade Jeremias, o jardineiro dos dedos verdes.

                  Desde então, uma amizade sem igual se formou entre os dois. A maior alegria do garoto era estar junto de Jeremias e aprender coisas que só ele sabia.  Desprezava todos aqueles brinquedos sofisticados e caros.

                 Jeremias era um homem diferente e especial.  Não entendia palavras que se escrevem.  Só entendia palavras que se falam.

                As mãos pesadas e rústicas eram capazes de tocar as pétalas da mais delicada flor, contá-las uma a uma sem feri-las.  Com o olhar fixo era capaz de transformar uma margarida amarela numa hortênsia lilás e singela.  

Era capaz de fazer um botão bem fechadinho desabrochar, apenas com leve toque do seu indicador.   No seu jardim a primavera não ia embora.  Fizesse sol, fizesse frio, todas as flores floresciam.

                Uma família de bem-te-vis laranjeira eram seus assíduos companheiros.  Toda manhã, não o deixavam perder a hora. As seis em ponto, a cantoria colocava-o cama afora.  Porta aberta, aceno de Jeremias, missão cumprida, revoada de partida.

                Junto ao muro que cercava o enorme quintal, Jeremias plantou árvores de frutos: jabuticaba, pitanga vermelhinha, laranja doce de gosto e acerola azedinha.  As árvores ficavam carregadas o ano inteirinho.  O segredo?  Só Jeremias e Bruninho sabiam.

               No jardim e no quintal recebia visita matinal.  Borboleta e colibri, andorinha e pardal, curió, sabiá e bem-te-vi.  Comunicavam-se entre si.  Obedeciam às regras do jardineiro: era proibido alimentar-se dos frutos que amadureciam nos pés.  Apenas os derrubados pelo vento e espalhados pelo chão.

                No jardim, só visita de borboletas e colibris, num voo bem sutil.  As flores alvoroçadas, num fuxico acalorado, ofereciam-lhes o néctar em troca de um beijo delicado.

                Bruninho aprendeu coisas que não se aprendem nos bancos da escola, nem nos livros e nem na educação do dia-a-dia.  Conheceu e conviveu com um homem que conversava com flores e aves.  Tanto amor, tanto carinho, jamais viu igual em todo seu caminho.  Jeremias era o homem solitário que encontrou na natureza a razão de seu viver.  O homem que Bruno viu resgatar de dentro da piscina um pássaro morto afogado.  Com o calor das suas mãos e com o sofrimento das lágrimas que de seus olhos caíam, devolveu-lhe a vida.  O pássaro cantou e alçou voo livre.

                Um homem com poderes sobrenaturais.  Um homem que guardava muitos segredos...


                Jeremias não está mais neste mundo.  Morreu bem velhinho.  Com certeza, sua alma, assim que se libertou do corpo gasto, também voou livre em direção ao infinito.

Um amor verdadeiro - Jorge da Paixão


Um amor verdadeiro
Autor: Jorge da Paixão     

Ó bela jovem de sorriso encantador, que pena eu ter nascido muito antes de você...

Mas, acredito que o amor não tem idade por ser uma dádiva divina.

Sinto-me um homem realizado quando estou perto de você, o seu sorriso me ilumina, o seu olhar fortalece a minha esperança, a sua voz me transmite com docilidade a  verdadeira paz dentro do meu humilde coração. Querida, estou perdidamente apaixonado por você, o fantasma da ilusão apoderou-se do meu conteúdo material e espiritual.

Mesmo acordado estou sempre sonhando com você, é um sonho maravilhoso que me  invade a alma.... A tua imagem não sai do meu pensamento. Toda vez em que lhe vejo meu coração fica descompassado batendo no ritmo da felicidade. O meu desejo é saborear o mel dos seus lábios sensuais,  e me aquecer no calor do seu corpo sentindo o seu perfume, para me embriagar de amor.

Querida em prol da nossa felicidade me dê o seu coração, porque o meu já pertence a você.

Minha xuxuzinha...

DESPEDIDA - HIRTIS LAZARIN


DESPEDIDA
HIRTIS LAZARIN

          Eram apenas nove horas da noite e Marcos já dormia um sono profundo.  Cobri seu corpo nu, afaguei seus cabelos negros e  fartos que cobriam-lhe os olhos.
          Quando o conheci, eu tinha concluído meu curso de jornalismo.  Pretendia viajar o mundo, mochila nas costas, queria chegar até os monges tibetanos, antes de entrar no mercado de trabalho.

          Ele já tinha 32 anos e eu apenas 22.  Era forte, másculo, experiente e seguro.  Sabia muito bem o que queria.  Carregava-me no colo e eu me sentia a criança mais protegida do universo.

          Foi uma paixão alucinante, invadiu-me através de todos os meus poros, entrou-me na corrente sanguínea e fixou morada no meu coração.  Contrariava todos os meus planos.

          Hoje, dois anos após nosso casamento, um vazio começou a me incomodar.  Não se preenchia com o amor de Marcos, com a casa dos meus sonhos, nem com a segurança financeira que ele me proporcionava.

          A minha razão vinha brigando com meu coração.  Uma luta que começou desigual, teve reviravolta.  O coração se rendeu, jogou a toalha no ringue.  Nossos objetivos de vida tomavam rumos diferentes.  Ele sonhando com filhos e eu sonhando em viver livre como o vento, dançar, saborear a vida, banho de sol e de lua, conhecer o certo e o errado, juntos e misturados.  Carregar o meu violão, rimar meus versos, cantar com emoção.  Sair sem ter hora pra voltar, dormir no chão, pisar na grama sem reclamar.

          Beijei-o com delicadeza e muito carinho.  Guardei todos os porta-retratos espalhados pela casa.  Acariciei nosso vira-lata que me olhava com tristeza.  Sem bater a porta, saí.  A ponta da minha blusa serviu- me de lenço.

          Entrei no carro e parti, levando apenas uma mochila de roupas.

          Despedida assim evita o choro e as lágrimas, lágrimas trazem lamento, lamento traz dor da perda e perda traz sofrimento.

          É triste?  Eu sei. 

Dá vontade de chorar?  Eu sei. 


Mas, toda despedida exige um recomeçar.  Dentro de cada recomeçar mora um encanto.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

COVARDIA OU AMOR? - Dinah Ribeiro de Amorim




COVARDIA OU AMOR?
Dinah Ribeiro de Amorim

  Rolo na cama revolta, lençóis amassados e espalhados pelo chão, não consigo dormir! Viro e espio a hora, ansiosa em ouvir o barulho da chave na fechadura. São duas e meia da manhã. Já deveria estar acostumada com isso, mas a ansiedade da espera é sempre a mesma. Toda noite a mesma coisa. Ele demora a chegar e eu sem saber se vem. Sai cedo de manhãzinha, dá um beijo leve em minha testa e um até logo distraído, avisando que talvez chegue tarde.

  No começo, perguntava o porquê desse trabalho noturno e, suas desculpas eram sempre as mesmas: excesso de trabalho, reuniões tardias, serões, sempre respostas atrapalhadas que saiam meio baixas, envergonhadas, até que desisti de interrogar. Acostumei-me com isso, com medo de perdê-lo para sempre.

  Afinal, tantos homens agiam assim! Eu não era a primeira mulher e nem seria a última a ser traída. Ficava às vezes pensando como seria ela: mais moça, claro, mais bonita, agradável, boa de cama, com certeza! Alguém com qualidades muito especiais para satisfazê-lo tanto!

  Fomos felizes no início de nosso casamento, parecendo que nunca haveria nuvens escuras a nos atrapalhar. Dificuldades financeiras surgiram, mas logo se dissiparam com sua mudança para um cargo melhor.

  Foi com essa mudança que aconteceram: excesso de trabalho, reuniões tardias, talvez alguma secretária nova, não procurei saber.

  Uma grande amiga, com quem me abri algumas vezes, aconselhou-me a segui-lo, ir verificar pessoalmente a causa da minha preocupação. Não tive coragem! E se realmente o encontrasse com alguém e tivesse que tomar uma atitude! Seria o fim. Prefiro esperar que, com o tempo, tudo passe e ele volte a ser o marido que sempre foi: amável, amante, presente, não tendo mais que olhar o relógio todas as noites, esperando-o chegar para dormir em paz.

  O tempo está passando, estou envelhecendo, nós estamos envelhecendo e percebo que aguento essa situação há muito tempo! Não tomo uma atitude nem ele! Se quisesse uma separação já teria falado. O que acontece conosco é meio sem explicação. Acho que nos acostumamos a viver assim. Eu sem reclamar, e ele a se acomodar.

  Covardia, medo de mudanças, falta de iniciativa, hábito, amor... Não sei!

  Quando pessoas íntimas me perguntam “como aguenta”, respondo: “Tem sido assim há muitos anos... Não tenho coragem de viver sem ele!”
                                 


MÃOS AO ALTO! É UM ASSALTO.- Dinah Ribeiro de Amorim



MÃOS AO ALTO! É UM ASSALTO.
Dinah Ribeiro de Amorim

  Minha turma era da pesada mesmo! Andávamos em bandos, saíamos à noite e voltávamos para casa ao amanhecer, quando tentávamos dormir e descansar um pouco das nossas atividades noturnas. Não temíamos nada e achávamos que, juntos, podíamos tudo. Não usávamos armas, chacos ou outros tipos de defesa, pois contávamos uns com os outros. Sentíamo-nos fortes, valentes, invencíveis.

  Mas, sempre acontecia alguma coisa, e, mais tarde, quando reunidos, lembrávamos muito dessas façanhas.

  Certa ocasião, na saída de uma festa, tivemos, como sempre acontecia, um imprevisto.

  Éramos esperados por outra turma ou gang conhecida no bairro, muito da pesada também, querendo medir força e avisando logo que era um assalto!

  _ Mãos ao alto! – ordenaram eles. Ou passávamos a grana ou entrávamos no pau.

  Preferíamos a briga porque éramos fortes,  e grana não tínhamos mesmo!

  Foi um pega daqui! Bate acolá! Caras amassadas, narizes sangrando, moleques   no chão... Luta geral...

  Conclusão: se perguntavam quem ganhou, até hoje não saberíamos responder. Lembrávamos somente que todos nós ficávamos caídos, machucados e doloridos. As duas turmas levantavam com dificuldade. Íamos embora, cabisbaixos e mudos; amaldiçoávamos esse final de festa infeliz! Não pensávamos em revanche, achando que tudo fora normal!


  Já era a competição para descobrir o mais forte. Molecagens de nossa juventude imatura

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...