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sábado, 18 de outubro de 2014

PRIMAVERA AO ENTARDECER! - Dinah Ribeiro de Amorim



PRIMAVERA AO ENTARDECER!
Dinah Ribeiro de Amorim

  Sentada num banco de jardim que frequentava todas as tardes, ouvia o barulho da criançada e o bate papo de suas mamães.

  Distraia assim a sua vida mansa, ausente de trabalho e novidades.

  Vivia sozinha, seus filhos adultos, casados, morando longe, mal apareciam para uma visita.

  Era uma senhora alegre apesar de só e espantava facilmente tristezas quando observava outras vidas, mais moças do que ela.

  Lembrava-se então do seu passado e de como fora feliz também.

  Numa dessas tardes, quando a brisa de folhas terminou, brotando as primeiras flores nas árvores, prenúncio de primavera, aproximou-se dela um senhor idoso,  portando bengala, que há muito a observava. Pediu licença e se sentou. Não falava nada, só queria ficar ao lado dela.

  Não se incomodou com isso, deixando-o sentar-se todas as tardes ao seu lado, embora não conversassem.

  Com o tempo, acostumou-se com ele. Chegava primeiro ao parque, sentava-se, examinava aquele lugar bonito, alegre, perfumado, primavera no ar, e, logo depois, ele chegava. Mancando levemente, pedindo licença, sentava-se ao seu lado. Continuava sem falar nada, olhando simplesmente o mesmo que ela.

  Houve uma tarde em que ele não apareceu. Preocupada, procurou-o com o olhar, mas não o achou. Pensou em perguntar a alguém,  mas não sabia nada dele!  Andou um pouco pelos arredores e encontrou um vendedor ambulante, cujo ponto era ali. Perguntou-lhe sobre o senhor de bengala, que vinha todas as tardes, e ele prontamente respondeu: “Seu Ailton, aquele que vem sempre? Mora ali na esquina. Enviuvou há dois anos e nunca mais conversou com ninguém. Vai ver que adoeceu!”

  Ansiosa, vai até a esquina para saber dele. Achou sua casa através de uma vizinha e tocou a campainha. Notou que a porta estava aberta. Como ninguém respondesse, entrou e subiu as escadas velhas. A poeira e o cheiro de mofo tomavam conta do lugar. Algumas plantas, na entrada, pediam água há muito tempo, mas teimavam em viver!

  Foi subindo, curiosa, abrindo janelas, observando lugares, chamando Sr. Ailton em voz alta.

  Encontrou-o deitado num quarto, estava sonolento, meio delirante de febre, aparentando forte gripe. Não a reconheceu, olhando-a com curiosidade, chamando-a, às vezes, de Elisa.

  Quem seria Elisa! Com certeza a esposa falecida.

  Cuidou dele, chamou um farmacêutico local, deu-lhe os remédios receitados e ia todas as tardes vê-lo, ao invés de ir ao parque.

  Sr. Ailton, aos poucos, foi melhorando. Sua aparência ficou mais sadia, faces coradas, mais risonho e forte. Alegrava-se ao ver quando Esperança aparecia, sempre trazendo um caldo quente ou uma carninha bem temperada. Até a casa estava diferente, mais limpa, cheirosa, alegre, ensolarada, com algumas flores trazidas pela estação que chegava.

  Pois é, Primavera no tempo e na alma daqueles idosos que se encontravam no entardecer da vida, mas, ainda com sentimento de amor, carinho, amizade, sonho!


 Esperança entrou na vida do Sr. Ailton e ele na dela também!

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