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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Somos todos iguais - Alberto Landi

 




Somos todos iguais

Alberto Landi

 

Todo ano, no dia 2 de novembro tenho o costume de visitar meus parentes que não estão mais nessa vida e levo flores ao túmulo gelado de mármore de meus avós.

Penso que cada um deve fazer a sua homenagem como pode.

Este ano aconteceu comigo uma coisa muito estranha depois de ter cumprido essa triste missão.

Veja o que aconteceu!

Aproximava-se o horário de fechamento do cemitério, eu vagarosamente estava para sair e me distrai, admirando algumas sepulturas que mais pareciam obras de arte. Mas uma delas me chamou atenção que tinha os seguintes dizeres:

Aqui dorme em paz um nobre industrial, proprietário de vários imóveis, falecido em 31 de dezembro.

Ali havia brasão e coroa, uma cruz feita de lâmpadas, vários buquês de rosas com uma lista de luto, velas e castiçais.

Bem ao lado deste ilustre morador, havia outro pequeno tumulo, abandonado, sem nenhuma flor, somente uma pequena cruz. E sobre a cruz lia-se apenas: gari  Domenico Pazzi.

Olhando o túmulo, dava pena, nem sequer havia uma lamparina.

Esta é a vida, pensei! Este pobre homem não esperava ser um mendigo no outro mundo.

Enquanto refletia sobre isso, já era noite e o cemitério foi fechado.

Fiquei trancado como se fosse um prisioneiro, com muito medo na frente das velas.

De repente, o que vejo de longe?  Duas sombras se aproximando de mim 

Estranho! Estou acordado, durmo ou é fantasia?

Era o industrial, com charuto, chapéu e, sobretudo, o outro atrás dele com uma ferramenta com uma vassoura na mão, era o gari.

Eles estão mortos e aqui presentes?

Quando estavam bem próximos, o industrial parou de repente, se volta lentamente... Calmo , diz a Domenico:

— Meu jovenzinho! Eu gostaria de saber de você, seu bastardo, com que ousadia e como você se atreve, ser enterrado, ao meu lado, eu que venho de uma família nobre. Cheguei há pouco de uma viagem à Terra Santa, contemplei os mares intermináveis do deserto, as curvas e arabescos das mesquitas e o chamado à prece dos fieis sarracenos, experimentei as especiarias aromáticas, as cores vívidas, o gosto apimentado da comida, e o brilho do sol lindo, ao se por sobre Jerusalém, e agora infelizmente estou aqui. E você?

— Sou apenas um gari, uma das profissões mais nobres.

— Linhagem é linhagem, tem que ser respeitada, mas você perdeu o senso e a medida, seu corpo foi enterrado no lixo.

— Não posso suportar a sua proximidade fedorenta, é necessário que você procure uma vala e que seja distante!

— Mas senhor empresário, não é culpa minha eu não fiz nada de errado, minha família me deixou aqui, o que fazer se eu já estava morto? Se estivesse vivo seria diferente, levariam em uma caixa os ossos e iria para outra vala.

— E o que você está esperando? Que minha raiva atinja você? Se eu não fosse um nobre, já teria dado lugar à violência. Essa conversa está me chateando, se perco a paciência, esqueço que estou morto e queimado.

— Mas quem você pensa que é um deus? Responde o gari.

 — Quero que você entenda que aqui dentro somos todos iguais. Você está morto e eu também.

— Porco imundo, como você se atreve, a se comparar comigo? Sou ilustre e de fazer inveja a muitos príncipes reais.

— Você é fantasioso diz o gari. Um rei, um magistrado, um grande homem ao passar por este portão, já perdeu tudo, a vida e o nome também, você não se deu conta ainda?

— Portanto me escute, não se faça de orgulhoso, suporta-me vizinho. Essas diferenças são feitas apenas pelos vivos. Pertencemos a outro mundo!

Estamos no mesmo nível a sete palmos!

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