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quarta-feira, 27 de abril de 2022

IMPOTÊNCIA - Henrique Schnaider

 



 IMPOTÊNCIA

Henrique Schnaider

 

O automóvel zuniu no asfalto molhado, a alta velocidade desestabilizou o veículo que derrapou na curva, e acelerado ziguezagueou até bater no muro de arrimo.

Alceu era um rico empresário do ramo de autopeças e muito guerreiro. Começou do nada. Teve uma infância pobre. Era filho único e tanto ele como seus pais, batalharam para ter um mísero prato de arroz e feijão na mesa. Carne ou frango eram raridades.

Na juventude Alceu começou a trabalhar como empilhador de autopeças numa grande Empresa do ramo.

Tinha um sonho. Abrir uma lojinha de autopeças, pois entendia tudo do negócio.

Juntou com muito sacrifício, todo salário que ganhava e depois de cinco anos na batalha, finalmente conseguiu abrir na periferia, uma lojinha de autopeças.

O começo foi difícil, mas Alceu era inteligente e corajoso. Entrou de cabeça numa luta sem tréguas. Cresceu no ramo que gostava e daí subiu a montanha rapidamente. Abriu outra nova loja e desta vez, maior e num ponto bem melhor.

Foi de vento em popa e logo já possuía cinco lojas do ramo. Começou a alimentar o sonho maior que era comprar a grande loja onde começou a vida profissional.

O sonho não demorou muito para se tornar realidade e o menino humilde, se tornou o rei do mercado de autopeças.

Conheceu Mirtes, namoraram e logo se casaram com direito a festa de arromba.

A vida mudou para Alceu, pois na medida em que cresceu financeiramente, os problemas cresceram na mesma proporção. Começou a ser visado por uma quadrilha especializada em sequestrar e extorquir enormes quantias para poupar a vida de seus sequestrados.

Alceu passou a andar de carro blindado. Naquele dia saiu para viajar com Mirtes para o interior do Estado. Alceu cometeu uma falha imperdoável, dispensou os seguranças que sempre o acompanhavam.  

No começo da viagem tudo seguia normalmente. Porém Alceu notou que estava sendo perseguido por um carro preto. Como o carro de Alceu era potente, ele começou a aumentar cada vez mais a velocidade para poder escapar dos seus perseguidores.

E de fato o carro dos bandidos acabou sumindo do retrovisor, que por precaução continuou em alta velocidade por um bom tempo. De repente Alceu deu de cara com uma curva muito fechada. O tempo não ajudava pois caia uma garoa fina, suficiente para deixar o asfalto escorregadio.

Alceu tentou frear, mas o carro derrapou deslizando sem controle e bateu violentamente em um muro de arrimo, destruindo a frente e prensando o casal dentro do carro.

Mirtes estava presa nas ferragens, gemendo de dor e permanecendo por um tempo desnorteada. Finalmente voltando a si, olhou para o marido ao lado, muito machucado. O sangue escorria da boca e da cabeça.

Alceu mal se mexia gemendo baixinho. Mirtes se sentia impotente pois presa nas ferragens, não conseguia nem cuidar dela mesma. As forças se esvaiam lentamente, e o casal ali preso parecia condenado a uma morte lenta e dolorosa.

A noite caiu, o frio chegou e durante a madrugada Mirtes ouviu os últimos suspiros de Alceu, que pelo menos parou de sofrer. O dia clareou e os primeiros raios de sol surgiram.

Mirtes estava muito mal com dores no corpo todo. Mas, às vezes, a sorte sorri para as pessoas no momento certo. A cachorrinha Laika que estava passeando com o dono do Sítio situado do outro do muro de arrimo, começou a latir e se aproximar do carro acidentado, fazendo com que o senhor Antenor viesse atrás dela para ver o que chamava a atenção da Laika.

Antenor chegou e viu aquele quadro triste do carro destruído e dentro Alceu morto e Mirtes muito ferida. Imediatamente chamou por ajuda lá do sítio. Retiraram com todo cuidado Mirtes das ferragens, levando-a para o hospital mais próximo e também o corpo morto de Alceu.

Mirtes sobreviveu, mas nunca mais foi a mesma depois da perda de Alceu.


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