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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Pé Grande - Christianne Vieira



Pé Grande
Christianne Vieira

Osvaldo e Ester caminharam muitos quilômetros até chegar à clareira. A cada passo o caminho se tornava ainda maior.  Calcularam  andar vinte quilômetros por dia, mas essa meta estava longe de ser cumprida.

Uma viagem de Aventura, seria o  tempero para suas novas vidas.

O roteiro foi pensado, por meses. Atravessariam um grande parque estadual. Planejaram o tempo e as áreas de acampamento. A mochila, outro desafio, devia ter o menor peso possível.

Eles se conheceram em um grupo de ecoturismo,  ambos gostavam da Aventura, de Liberdade, do desconhecido.

Já haviam percorrido três dos pontos de apoio do roteiro. As pernoites anteriores transcorreram tranquilas, muito  cansados, apos o jantar, nem o céu estrelado os mantivera acordados.

A próxima etapa seria puxada, montanha acima, Trecho íngreme, cheio de precipícios.. A vista era um bálsamo, para aliviar  os pés doloridos e   bolhas. A felicidade  em  chegar à cachoeira dourada compensaria qualquer sacrifício.

Atravessaram a clareira cheia de flores. O sol brilhava inclemente, só o céu trazia ânimo. Até o acampamento  da noite faltava um bom trecho, resolveram acelerar o passo. Osvaldo dava as coordenadas  tentando manter Ester animada. O cansaço ia e vinha como a brisa.

Após duas subidas pararam para tomar água e descansar um pouco. As mochilas pesavam tanto, como se o mundo estivesse nelas.

Ester estava faminta, queria montar  o acampamento da noite. Osvaldo começou  pela  barraca, e o fogo com gravetos. A comida desidratada, parecia um banquete. Ela pegou uma toalha, o sabonete três em um,  e a  roupa. Foi até o rio  se banhar. Osvaldo lhe deu um beijo carinhoso, disse que logo a encontraria. Ao entrar na água fria seu corpo ficou  anestesiado, acalmando os ferimentos. Quando já estava acostumada à temperatura, começou a relaxar. Ouviu o marido se aproximar.  Ele entrou no rio também. Trocaram carinhos, brincaram na água.  Ao sair Ester não achou a roupa. Osvaldo vinha logo atrás dela, enrolado na toalha, também não as encontrou. Estranho, algum animal poderia tê-las levado.

Encafifados, seguiram para o acampamento. O cheiro de comida estava delicioso. Sentaram-se em torno da fogueira e jantaram. Anoiteceu depressa, apenas  conseguiam ver, o tapete de estrelas  forrando o céu, de uma noite escura. Até que o sono falou mais alto. Apagaram o lampião, deixando só a fogueira para manter o calor. Eis que um vulto enorme passou próximo da barraca.  Um gigante  chacoalhando as folhas , e um cheiro azedo ficou no ar.

Eles se abraçaram, assustados. O melhor seria ficarem em silêncio. Não conseguiram dormir e a noite se arrastou, lentamente, até o amanhecer.

Já claro, saíram da barraca, amassados e devastados pelo cansaço, foram em busca de alguma pegada deixada pela criatura.

Viram enormes rastros. Tão grande que Ester cabia inteira dentro delas. O que podia ser aquilo? Resolveram partir para o próximo ponto. No caminho havia um empório de suprimentos, poderiam se informar. Foi um trecho difícil de cumprir. 

Chegaram à loja no entardecer, e no balcão um homem baixo com bigodes volumosos os atendeu. Após separarem alguns itens, foram até o caixa, e perguntaram sobre o gigante. Ele respondeu que havia uma lenda sobre o Pé Grande.

A criatura morava  em uma caverna do Parque. Nas noites de lua minguante, saia para caçar. Suas pegadas eram assustadoras. Como um Alert, levava o que encontrasse, como roupas e suprimentos, por exemplo. Existiam muitas histórias a seu respeito, diziam que era inofensivo, se alimentava de pequenos animais, mas encontrá-lo certamente seria um perigo.

O casal se entreolhou com expressão de dor e medo. Não gostariam de passar por isso novamente. Se amavam demais, nada de ruim os separaria.


Pagaram o homem, e seguiram para a Estrada. Iam pegar um ônibus de volta para casa. A aventura chegara ao fim.

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