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quarta-feira, 4 de agosto de 2021

FOI POR UM TRIZ - Hirtis Lazarin

 




FOI POR UM TRIZ

Hirtis Lazarin

 

Foi por um triz, apenas dois minutos de atraso no táxi e ela não conseguiu embarcar no trem.  Até abandonou parte da bagagem no porta-malas do carro.   Naquela hora decisiva, perder parte das roupas era o que menos importava.  Pode, ainda, ver o último vagão acenando-lhe adeus e desaparecer no túnel que atravessava a montanha de vegetação castigada pelo inverno rigoroso.

Estava inconsolável.  Um plano estudado em todos os detalhes; um projeto fracassado.  Ajudada por um funcionário que se comoveu com o desespero daquela mulher chorando e gemendo, Florence deixou-se cair num dos bancos de madeira puída e desbotada no corredor da plataforma.

Era a viagem tantas vezes adiada.   A dúvida, o medo de trocar o certo infeliz pelo incerto cheio de esperança.  A possibilidade de libertar-se de um casamento sufocante que já durava oito anos.  Ronald adiava sempre a paternidade.  Um filho, um empecilho aos negócios naquele momento tão produtivo no “seu” mundo empresarial.   A vida do casal era viajar e viajar...  Hotéis e hotéis...

O marido passava o dia em reuniões, congressos, assembleias, e Florence vagava solitária pelos hotéis à espera dele que tinha hora pra sair e nunca pra voltar.  Não raras vezes, adormeceu com fome na mesa do jantar.

“A pior coisa não é ficar sozinha, é ficar sozinha ao lado de alguém” – pensamento que começou a ficar recorrente na mente de Florence.

Fingia que se acostumara à situação.  Não tinha porque reclamar, pois, aos olhos de todos, casara-se com um príncipe.  Homem poderoso, jovem e cavalheiro.  Aquele que presenteia flores, abre delicadamente a porta às mulheres e nunca se esquece das datas importantes.

A casa mais moderna e requintada, o reconhecimento das maiores autoridades, o paparico da alta sociedade, luxo e a inveja das moças casadoiras.   Quanta ilusão!

Florence levou um susto quando o segurança a acordou.  A estação ferroviária estava deserta e escura, prestes a fechar.  Lá fora, a neve caía em flocos, suficientes para amedrontar até aqueles que sempre conviveram com ela.

Florence saiu à procura de táxi.  Não seria nada fácil àquela hora da noite e com aquele tempo frio.  Esgueirando-se por entre toldos das lojas, cuidando-se para não escorregar na camada de gelo que ia se formando nas ruas e calçadas, viu uma única luz acesa perto da esquina mais próxima. 

Era o “Sweet Café”. Ela espalmou o casaco expulsando floquinhos de neve e entrou.  Uma única cliente sentada próxima ao balcão, papeando com o garçom.  Roupas apertadas e provocantes.  Espartilho apertadíssimo pressionava os seios volumosos que se viam obrigados a saltar aos olhos dos maliciosos.

Florence sentou-se afastada dele.   Um chocolate bem quente era o que mais queria naquele momento incerto e difícil.  Esquentar o corpo trêmulo de frio e esfriar a cabeça quente de medo.  Como voltar pra casa e enfrentar o marido?  Como contar a verdade?

Há mais de um ano, ela conheceu Will, um jornalista hospedado no mesmo hotel onde o casal estava.  Encontraram-se por acaso, duas vezes, no restaurante.  Uma conversa amistosa de pessoas inteligentes, amantes de um bom livro e um bom filme os aproximaram.  Depois, um café da manhã juntos, uma volta pelas cercanias, um passeio de barco, a proximidade cada vez mais próxima, a tentação e o encanto do proibido.  Um beijo de língua.  Paixão ardente incontrolável.  Outros encontros em outras cidades e em outros hotéis.

Will aguardava Florence naquele trem.  Depois de superadas tantas dúvidas e desafios, acertos e desacertos, finalmente se encontrariam naquele trem e juntos chegariam a Londres, com destino a Nova York.

Era o fim de um pesadelo e o começo de uma grande aventura de amor.

O TOURO TWIST - Alberto Landi

 




O TOURO TWIST

Alberto Landi

 

 

Twist era um novilho que destoava dos outros animais de sua espécie, tinha sonhos e ambições diferentes de seus amigos.

Ele era tranquilo, meigo, dócil, e vivia solto no pasto. Não gostava de se misturar com os outros animais. Apreciava a natureza, bem adaptado ao ambiente em que vivia, gostava de ficar embaixo de árvores, principalmente da macieira pelo sabor doce das frutas que caíam ao chão. Gostava também de ficar pastando próximo as flores e os rios.

Enquanto isso os bezerros gostavam de pular, correr e dar cabeçadas. Ele ficava na tranquilidade das árvores do pasto, era feliz sozinho. Afinal não era necessário estar sempre rodeado da boiada para se sentir preenchido.

Twist era muito feliz no seu habitat, que ficava no interior da cidade de Madri. Na fazenda de Helena sua proprietária e amiga.

Com o passar do tempo ele se tornou um animal de grande porte, que assustava qualquer um, que não conhecia a sua personalidade. Era confundido como um animal perigoso, mas um gigante com um grande coração. Não se pode julgar ninguém pelas aparências.

A fama de Twist chegou aos toureiros, que queriam vê-lo na arena. Assim, foi capturado e o trouxeram para Madri. Porém, destemido como era, conseguiu fugir.

O seu pai o touro Rocky não teve a mesma sorte. Foi escolhido para enfrentar um toureiro e nunca mais voltou. Virou churrasco! O desejo de Twist era vingar a morte de seu pai. Mas sendo dócil não levou a vingança a frente.

Em Madri, todos os touros queriam ir para a arena. Mas ele não; preferia ficar no campo e não competir.

O dócil e meigo touro tornou-se agressivo quando foi capturado. Segundo os toureiros, ele era perfeito. O desafio era conseguir domá-lo. Eles o apelidaram de o SELVAGEM.   Puro engano! Nunca foi bravo e não gostava de brigas.

Conseguiu escapar e com a ajuda de Helena sua amiga, voltou para o antigo pasto, na fazenda dela. Twist tinha um grande sentido de território e direção, não foi difícil encontrar o antigo pasto. Naturalmente agressivo quando via seu espaço invadido, atacava qualquer provável intruso.

Fazia exatamente aquilo que o deixava feliz, preferia cheirar flores a lutar nas arenas. 

Hoje ele pasta tranquilamente na fazenda de Helena passando sua docilidade para os demais novilhos.

POR UM TRIZ - Henrique Schnaider

 




POR UM TRIZ

Henrique Schnaider


Luiz sempre foi um rapaz sem juízo. Ainda jovem, dava muita dor de cabeça aos seus pais, era sapeca levado da breca. Reclamações dos vizinhos, brigas com os amigos, o jovem era um estopim.

O velho ditado já diz “pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto”. Com o passar do tempo as coisas só pioraram. Com quinze anos de idade, envolveu-se com gangues, gente da pesada. Não haveria senão, outra consequência do que, entrar de cabeça no mundo das drogas.

As dores de cabeça só aumentaram para os pais do rapaz. Uma coisa puxando a outra. Más companhias, drogas e encrencas dos mais variados tipos. Conflito de gangues. Roubos e assaltos para sustentar o vício. Começou também, para angústia deles, a roubar objetos de dentro de casa, e por último perdeu o respeito, com ofensas e ameaças de agressões.

Toda esta situação de conflitos, levou Luiz à beira do precipício. Estava próximo de um fim muito triste. Seus pais tentaram de todas as formas, levá-lo para um tratamento, uma clínica especializada de recuperação de drogados.

Luiz ia, porém não ficava, e na primeira oportunidade, tratava de fugir e voltava para junto dos infelizes, que passavam pela mesma situação de abandono, de vida precária e se juntavam aos bandos na região conhecida como cracolândia. Os pais desesperados não sabiam do seu paradeiro.

A situação neste mundo do cão, que é a cracolândia, torna os seres humanos, piores do que animais. Falta de higiene, promiscuidade sexual, mulheres engravidando sem sequer saber quem foi o pai. Uma degradação completa.

Luiz sempre que via alguém conhecido passando por ali, tratava de se esconder, pois não queria sair deste Inferno de Dante, já que fazia parte do quadro dos desesperados. Neste lugar ele se integrava. Pois todos que estavam ali, tinham os mesmos problemas que ele.

Um colega de infância, passando naquela região, reconheceu o amigo e ficou chocado ao vê-lo na situação de penúria em que se encontrava. Avisou aos pais dele. Descreveu o local, para que pudessem localizar o filho.

Imediatamente, seus pais se dirigiram para aquela região e não foi difícil encontrá-lo. Luiz estava irreconhecível. Era chocante vê-lo já que se tornara um andrajo humano. Tentaram convencê-lo a voltar com eles para casa. Num primeiro momento, os apelos estavam sendo infrutíferos.

Parece que alguma coisa ainda restava de sentimento no rapaz, e algo mexeu lá no fundo do seu coração, ele percebeu as lágrimas de sangue rolando dos olhos de sua mãe.

Finalmente, ele concordou em ir junto com eles para casa onde puderam transformá-lo novamente num ser humano. Tomou um banho, vestiu roupas limpas e cheirosas, almoçou comidas que sua mãe sabia que ele gostava.

Luiz foi tocado, ao ver a tristeza que aparecia nos olhos de sua mãe. Estava disposto a começar um tratamento de desintoxicação, com assistência de Psiquiatra e Psicólogo, e começar uma nova vida.

Seus pais estavam esperançosos que dessa vez, Luiz iria se recuperar e dessa forma, escapar por um triz de uma morte horrível, como acontece com todas as pessoas que se entregam a este tipo de vida.

A INVEJA - Alberto Landi

 



A INVEJA

Alberto Landi

 

A inveja é um sentimento que pode ser nocivo, e paralisar a vida da pessoa.

Nasce da comparação com pessoas similares, mesmo sexo, faixa etária similar e profissão, estando intimamente ligada a um sentimento de inferioridade.

Nem todo sentimento de inveja é negativo. Quando você a sente pela conquista do outro, serve de motivação, de combustível para progredir, algo benéfico, ou seja, você inveja, mas não deseja mal ao outro.

Esse sentimento prejudica a vida do invejoso, é a inveja nociva, é aquela em que a pessoa deseja prejudicar quem desperta esse sentimento nela.

O invejoso fica maquinando formas de impedir que o outro prospere, planos para comprometer a imagem do invejado e diminuir seu status.

Quando a inveja se converte em patológica, pode impelir o invejoso caluniar e perseguir e até mesmo desejar a morte.

Para ficar livre da inveja nociva são necessários:

Investir no autoconhecimento, na autoestima e quando o sentimento é persistente, tem-se que buscar ajuda de um psicólogo, cuidar também do seu emocional, cercar-se de pessoas positivas que valorizem você pelo que você é.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

DESILUSÃO - Hirtis Lazarin

 



DESILUSÃO

Hirtis Lazarin

 

Aquela noite estava diferente de todas as outras.  Nuvens negras e volumosas roncavam no céu, escondendo lua e estrelas.

Uma única janela entreaberta no vilarejo.  Maria Rita, apoiada no parapeito de madeira desbotada, enxugava lágrimas de saudade que insistiam em brotar.  Cabelos amarrados displicentemente numa fita verde com pontas desfiadas.  Nenhum sintoma de esperança.

Ele se foi sorrateiro, sem despedida, nem explicação, numa noite de lua cheia.   

Perdida em aflição, ouviu sons agressivos e ásperos de pedras que se soltavam do asfalto rústico, já bem gasto.  Uma quantidade exagerada.  A moça manteve-se imóvel. Nenhum músculo saiu do lugar, como se nada a abalasse.  A dor imensa que a ardia era maior que o medo de qualquer coisa.

O vulto de um menino de aproximadamente dez anos, num salto acrobático apareceu bem ali à sua frente, quase rosto com rosto.  Emitia sons indecifráveis, acompanhados de trejeitos contorcidos e rápidos.

Uma alma penada?  Ninguém sabe nem nunca saberá.

Maria Rita foi encontrada estendida no chão do quarto.  E nunca mais pronunciou uma única palavra.

POR UM TRIZ - Alberto Landi

 


POR UM TRIZ

Alberto Landi

 

Eu tinha 9 anos quando isto aconteceu. Morava numa pequena cidade do interior paulista, Brodósqui.

Naquele tempo, falar em uma pequena cidade era quase um exagero; somente algumas ruas e uma praceta. O restante eram campos, plantações de trigo, mato, riachos, cachoeiras, muitos animais, espalhados por todo lugar, galinhas, patos, gansos, cavalos, burros.

O mais importante desta história é que havia um touro que ficava pastando junto com vacas, ao lado da pequena estrada, a qual eu usava todos os dias para ir à escola. Por sempre estar atrasado para as aulas, fiz um atalho pelo meio do pasto. Naquele dia, pulei a cerca e caminhei, bem perto das vacas e de um touro com aparência feroz.

Vocês já devem ter ouvido falar que touros não gostam da cor vermelha. Parece mentira isso, mas nas touradas da Espanha, a capa do toureiro é sempre vermelha, para deixá-lo bem bravo. Se isto está certo não sei, mas foi bem verdade para mim, porque estava com agasalho de moletom vermelho naquele dia.

Nem bem tinha dado uns passos bem próximo dos animais, quando percebi um barulho esquisito. Parecia um animal raivoso que escavava o chão com as patas e bufava pelas narinas. Era o touro. Cada vez mais bravo e pronto para correr atrás de mim a qualquer movimento brusco que eu fizesse.

Saí correndo. Estava tão apavorado quem nem dava tempo para pedir socorro. Somente pensava em correr o mais rápido para chegar à porteira antes que o touro me trucidasse.

Enquanto corria, tive a impressão de que não ia conseguiria chegarem tempo à porteira. Ele atrás de mim... E, quanto mais perto ele chegava, mais bravo ficava por causa do moletom vermelho. Repentinamente tive uma ideia para salvar minha vida.

Enquanto corria do touro, me lembrei das touradas e muito espertamente joguei meu agasalho vermelho para bem longe, o que fez com que o touro mudasse de direção,  e isto acabou salvando minha vida.  “POR UM TRIZ”.

Quando assisto TV e aparece alguma propaganda com vaca ou boi, preciso me esforçar para não ficar nervoso.

A história inteira lá no campo, deve ter durado alguns minutos, que me pareceram horas e eu jamais esquecerei.

Comigo boi e vaca, só no churrasco!    Nunca mais!

quinta-feira, 29 de julho de 2021

ÊXTASE - Leon Vagliengo

 

 


ÊXTASE

Leon Vagliengo

 

Um soneto de amor, amor profundo e sublime.

 

 

Tão perto, teu rosto exala magia

ao me olhar, perante o beijo iminente,

quando tua emoção me contagia

e tua boca me convida, insistente.

 

Nesses instantes apenas te vejo,

nada mais compartilha a minha mente;

e em meu âmago desperta o desejo          

de mitigar uma ânsia inclemente.

 

Já nem sei se te beijo ou te admiro,

tua imagem, tão linda, me entorpece.

Enfim, se esvai o torpor, e suspiro

 

estreitando o teu corpo nos meus braços.

Num momento não há mais embaraços:

colam-se os lábios, o beijo acontece.


 

Sou - Adelaide Dittmers

 


Sou

Adelaide Dittmers

 

 

Sou pequeno barco,

Singrando por mares inesperados.

Sou água do riacho,

Correndo por campos cultivados,

 

Sou barro da estrada,

Que se pode moldar,

Sou bolha de sabão,

Que se desfaz no ar,

 

Sou pássaro solitário,

Voando livre pelos céus,

Sou pequeno cata-vento,

Que gira ao sabor do momento,

 

Sou por dentro um mundo,

Que me esforço em desbravar,

Sou vale profundo,

Dia ensolarado e noite de luar.

  

LAMENTO - Hirtis Lazarin

 




LAMENTO

Hirtis Lazarin

 

Pelos porões do pensamento

Vagueio buscando meus ais.

Sufocam-me tais sentimentos

Recordá-los, quero mais.

 

               O cenário que se rompe

                Inebria-me de prazer

                É paixão desenfreante

               Que me faz enlouquecer.

 

Despencam do armário embutido

Roupas lançadas ao vento

O paletó enlaça o vestido

Sussurrando-lhe juramento.

 

                    Lençóis brancos retorcidos

                     Corpos entrelaçados e nus

                     Sussurros e gemidos

                     Desprezam os tabus.

 

Boca ardente busca outra boca

Suga-lhe como se fosse abelha

A lua cúmplice lá fora brinca

Alumiando-nos pela fresta da telha.

 

                      A vida passou, foi embora

                       Vejo-me só neste labirinto

                        Será? Isso tudo foi verdadeiro?

                        Minha alma lamenta e chora

                       Saudade é só o que sinto.

 

E no ar o perfume do seu cheiro.                        

                

 

FRUTOS DA TERRA - Henrique Schnaider

 




FRUTOS DA TERRA

Henrique Schnaider

 

Gravura de um menino correndo preso em uma das pernas numa raiz de uma árvore. Foi feita pelo escultor e pintor João dos Anjos em homenagem ao nosso grande Campeão Olímpico dos oitocentos metros Joaquim Cruz.

O que impressiona nesta gravura é a mensagem que João dos Anjos nos passa, já que fica subentendido que Joaquim é um Campeão raiz, fruto genuíno da Árvore criadora de grandes atletas.

Ao mesmo tempo pode-se ver uma noite maravilhosa cheia de estrelas brilhantes.

É uma obra prima deste grande escultor-Pintor João dos Anjos.

Este gênio brasileiro, nasceu na cidade mineira de Juiz de Fora. Seus pais eram muito pobres e o que ganhavam mal dava para se alimentarem. O menino demonstrou desde cedo seus dons para a pintura e a escultura.

Pedia aos pais um lápis e papel e fazia desenhos de paisagens e de animais e seus pais ficavam encantados com a perfeição com que ele desenhava. Pedia ao pai argila pois aprendera na escola a trabalhar com este material e já fazia com muita facilidade como fazia na pintura, figuras de animais e de pessoas.

Dona Carminha, patroa da mãe de João que se impressionou com o dom que o menino possuía, resolveu patrocinar os estudos do menino João e o trouxe para a Escola de Belas Artes de Belo Horizonte.

A esta altura o precoce menino de Juiz de Fora com quinze anos de idade, se destacou nos cursos de tanto de Pintura e Escultura se formando aos vinte anos de idade. Já famoso por participar em exposições em várias capitais brasileiras, bem como em Paris,  Londres, Madrid e também nos Estados Unidos.

Hoje João dos Anjos é um nome consagrado mundialmente e seus quadros são disputadíssimos, atingindo preços exorbitantes. Os marchands de todo mundo disputam o privilégio de poder representar suas obras.  

Atualmente o gênio de nossas artes trabalha numa escultura maravilhosa de três metros de altura de uma ave símbolo da Amazônia a Ararinha Azul, que ficará na entrada principal do Palácio do Planalto.

João dos Anjos é um gênio das artes do Brasil e será condecorado como um dos principais artistas do nosso País.

ÍCARO VIRTUTE! - Claudionor Dias da Costa

 


ÍCARO VIRTUTE!

Claudionor Dias da Costa

 

Lúcia brincou muito naquele dia e se entregou cansada num sono profundo no sofá.

Sua mãe a deixou à vontade e permitiu que ela dormisse o tempo que quisesse. E algo começou a acontecer que deixou inquieto os seus quatorze anos de idade.

De repente a menina lembrou-se de suas aulas de História sobre a Grécia Antiga. Viajou no tempo e em Atenas descobriu um grupo de estudiosos sobre magia e poderes   e aprendeu um feitiço que lhe permitia voar.

Assim, sempre que queria pronunciava as palavras mágicas: “Icaro Virtute” e imediatamente era dotada de forças que através de movimentos de seus braços,   e saía do solo em voos tão altos e velozes quanto fosse sua vontade.

Este poder trouxe alegrias e conhecimentos fantásticos e foi permitindo que ela conhecesse lugares remotos.

Observando tudo do alto esteve pelo Brasil em todos os estados, voando sobre as grandes cidades. Na Amazônia com sua densa floresta, a forma de viver de seus habitantes, os hábitos dos animais predadores, formas de defesa, características do meio ambiente e acidentes geográficos. Tudo isto, foi ampliando sua cultura e sentia-se radiante e realizada com as experiências que voar lhe trazia.

Conheceu as savanas africanas e seus animais, países asiáticos, o polo Norte com clima extremamente frio e a neve em sua imponência.

Passou a tomar contato com guerras, pessoas sofrendo e morrendo devido à fome e doenças. Era um mundo que, para sua pouca idade, só via pela TV e Internet, como se fossem filmes, fora da realidade. Esta passou a ser chocante para ela.

Num de seus voos resolveu que poderia, quem sabe ajudar. Desceu na Síria e andou pelos lugares destruídos pela guerra. Até se hospedou numa casa de família e observou a vida sofrida das pessoas, em constante tensão, fugindo de bombas, passando por necessidades e temendo que não teriam futuro.

Estava caminhando com as crianças onde foi acolhida num dia de aparente calmaria, quando de repente escutaram gritos, barulho de bombas e só tiveram tempo de se esconderem numa das casas destruídas.

Muitos tanques, soldados passando, muita correria e vários tiroteios.  O medo tomou conta deles que ficaram num silêncio absoluto esperando que a situação acalmasse. E o tempo foi passando... Horas de espera e nada de acalmar.

As crianças estavam muito preocupadas porque os pais não sabiam onde estavam. Anoiteceu.

A espera parece que compensou, pensaram. Houve um grande silêncio. Resolveram sair do esconderijo e voltar para casa.

Com cuidado pé ante pé foram descendo a rua escura. Lúcia nunca poderia imaginar passar por esta situação.

Quando estavam muito próximos da casa ouviram um grito e vários tiros de metralhadora começaram a ser disparados. Correram muito. Seus amigos sírios conseguiram correr mais do que ela e por uma viela cortaram caminho e conseguiram entrar na casa. Ela na escuridão se confundiu e se perdeu por aqueles becos confusos. Os tiros continuaram e ela correu apavorada.

Pensou na sua família e na juventude que perderia... Passou a suar intensamente e a muito custo subiu para se proteger num monte de escombros.

Viu os soldados se aproximando de forma desenfreada.

Num lampejo de lucidez se lembrou do poder do feitiço que aprendeu e não teve dúvidas:

− “Icaro Virtute” bradou!

E numa rapidez incrível de braços abertos se lançou ao alto.

Extenuada, ofegante ainda deu um grande suspiro e ouviu a voz de sua mãe:

− Querida... acorde.

Sua mãe começou a acalmá-la, pois estava agitada e balbuciava palavras sem nexo, saindo daquele pesadelo. Ainda confusa misturando o sonho com a realidade exclamou:

- Mamãe, preciso aprender urgente novos feitiços, porque só voar não adianta.

 Quero descobrir como poderei salvar pessoas e torná-las felizes sem guerras e que possam viver em paz.

Sua mãe a abraçou e sorriu enigmática tentando entender o que se passou com ela.

 

 

TWIST O TOURO CAMPEÃO - Henrique Schnaider

 




TWIST O TOURO CAMPEÃO

Henrique Schnaider


Twist nasceu numa madrugada. Um belo bezerrinho todo malhado de branco e marrom igual sua mãe Mary e ao pai, o Touro campeão de rodeios, Balagan, um valioso reprodutor disputado em feiras e exposições.

Twist era manso, pois conheceu o que era o amor  ao lado mamãe que lhe oferecia aquele peito enorme cheio de leite cremoso onde ele se deliciava, pois, os funcionários já haviam ordenhado o leite para a produção de queijos.

E assim os anos foram passando nesta vida boa do Twist junto da mãe, mas tudo tem um pois “não há bem que sempre dure e nem mal que nunca acabe”.

Finalmente ele se tornou um garboso touro forte e grande suficiente, que despertou a cobiça de um dono de rodeios que fez uma fez uma oferta irrecusável pela compra do touro. 

A partir deste momento a vida de Twist foi do céu ao inferno. O dono do rodeio sabia como usar técnicas maldosas para tornar o touro bravo e furioso. O indigitado se tornou revoltado e invencível e não havia peão de rodeio que se mantivesse montado nele.  

A fama de Twist de ser o touro indomável, correu por esse Brasil afora e atraia muitas pessoas que compravam ingressos só para vê-lo derrubar qualquer peão que o montasse, por melhor que fosse.

Até que um dia, sempre tem um dia, um peão, pessoa simples, veio do sertão de Goiás, mas o danado do peão era bom de montar. Ele subiu no Twist e todo mundo dizendo que ele não duraria nem dez segundos. O limite era de trinta segundos e não é que o João boiadeiro ficou o tempo necessário, como fez o Touro se acalmar e ficar ali bonzinho olhando para ele e como estivesse dizendo: — Pois é João reconheço que você me venceu!

E assim o tempo passou e o Twist já velho foi comprado pelo João Boiadeiro, que o levou para sua fazenda e o soltou no campo enorme onde o touro passou seus últimos dias pastando tranquilamente.

O olhar de uma avó - Adelaide Dittmers

 

O olhar de uma avó

Adelaide Dittmers

 

Sob o brilho intenso do sol

Correm como o sopro do vento,

Gritos e risos esparramados pelo jardim,

Botões de flores, que se abrem

Na aurora nascente da vida.

 

Pássaros aprendendo a voar

Por horizontes longínquos e incertos.

A curiosidade percorrendo caminhos,

O saber chegando devagarzinho.

 

 A água, que jorra da mangueira,

O grilo, que salta pelo gramado,

O sagüi, que desce pela árvore,

Tudo é alegremente festejado

 

Grandes mestres em nos ensinar

A alegria de pequenas coisas, viver,

 As indesejadas emoções, domar,

E a deixar fluir por rios caudalosos,

A vida, que imprevisível  passa a correr.

VIZINHANÇA - Henrique Schnaider

 




VIZINHANÇA

Henrique Schnaider

 

 

Quando mudei para a minha residência confortável, onde moro até os dias atuais, olhando os vizinhos, foi como conhecer uma nova família. Procurei aos poucos ver quem eram e se valia a pena me relacionar com eles.

À minha esquerda morava a Sonia, excelente pessoa. Logo passamos a conviver muito bem e toda hora conversávamos pondo as fofocas em dia. Infelizmente faleceu há alguns anos.

Nessa casa veio morar o Fabio, rapaz muito legal, temos em comum o Palmeiras. “Como ajuda a nós homens, o futebol”, que dá motivos para inúmeras conversas. Ele sempre se põe à disposição e me lembra que se houver necessidade, ele está ali para me ajudar.

Em frente, à esquerda, morou por muitos anos o Luiz, meu massagista, amigão até hoje. Devido a sua profissão, sabe da vida de todo mundo e é muito engraçado saber das coisas que acontecem na vizinhança. Ele é muito bem-informado. Sua esposa Lúcia é um doce de pessoa e adora minha cachorra Teca. Constantemente saía com ela para passear. Infelizmente, como a casa era alugada, tiveram que mudar, e agora moram a alguns quarteirões daqui, mas a gente se comunica por aplicativo. A Lúcia, de vez em quando, ainda vem passear com a Teca. Agora mudou para essa casa um senhor de nome Rubens com o qual já fiz amizade, mas não é a mesma coisa.

Tem na casa um senhor que deduzo seja o pai do Rubens do qual, fico condoído, pois o pobre coitado passa o dia todo na garagem sentado numa cadeira. Que triste fim de vida.

Em frente à minha casa morava a Yara, pessoa muito estranha com a qual não convivi tão bem. Se dizia macumbeira e achava que os vizinhos queriam fazer –lhe mal, e me dizia que iria fazer uns trabalhinhos contra todos. Tudo bobagem, pois ficou muito doente, não resistiu e morreu. Já que este é o destino de todos nós seres humanos.

A filha que, de juízo não tinha nenhum, vendeu logo o imóvel por alguns míseros trocados e quem comprou, mandou derrubar tudo para construir uma nova casa. Acabou fazendo da minha vida um inferno com sujeira e barulho ininterrupto, caminhões a toda hora, caçambas e a proprietária não se deu ao trabalho de trocar nem três palavras comigo, para se justificar.

Em frente à direita, desde que mudei para minha casa, e até hoje, moram o casal Petras e a italiana Domênica. Ela, uma pimenta malagueta, barraqueira de primeira e eles sim são muito bons vizinhos, com os quais mantenho muito bom relacionamento.

Ela sabe das notícias melhor do que o Jornal Nacional. Sempre me põe ao par das últimas futricas dos vizinhos. Me conta tudo tim tim por tim tim. Sabe tantos detalhes que me faz lembrar aquele samba antigo. “Pum Pum Pum, estourou a bomba na casa dela, ela falava da vida dos outros e acabava falando da vida dela”.

Trocamos muitas guloseimas e eles me enchem de mimos, vira e mexe o Petras ou ela, me trazem novos pratos e querem que eu dê minha opinião de como está a comida. Querem saber do sabor e se acho que tem algo a acrescentar ou tirar.

Estes são os vizinhos que me dou bem. Por fim aqueles que nem sequer cumprimento. Um caminhoneiro grosso e pelo que sei, até tiro já tomou, e dá para perceber que esse é daqueles que o velho ditado diz que: “não dá para gastar vela com mau defunto”.

Mais ao lado, mora um tipo alemão atarracado. O mínimo que posso dizer, é que é, um cavalo de pessoa, põe grosso nisso. Quando cheguei para morar na minha casa, toda noite ouvia uma gritaria. Era ele agredindo a esposa. Me parece que ele parou de bater nela, pois não ouço mais nenhum barulho. Vai saber lá o que acontece?

Não olho na cara dele e sempre que nos cruzamos, um ignora o outro e me parece que antipatia é recíproca.

Posso dizer que é importante se relacionar com os nossos vizinhos desde que eles sejam boas pessoas e queiram ser nossos amigos também.

A VIZINHANÇA Alberto Landi

 



A VIZINHANÇA

Alberto Landi

 

Quando mudei do apartamento para uma casa, foi porque estava procurando um lugar espaçoso, tranquilo e seguro para se viver.

Encontrei esse paraíso em uma vila próxima, romântica cheia de flores. A princípio observei que os vizinhos não falavam entre si.  A vizinha da direita, geminada com minha casa, era sisuda e implicante.

Não permitia nem mesmo estacionar o carro à porta de sua casa mesmo sem ter a guia rebaixada.  Quando alguém o fazia, ela riscava o carro com um prego. Tentei de todas as maneiras me aproximar, mas não houve reciprocidade.

As paredes das casas eram finas e assim pude aos poucos conhecer os membros da família pelas vozes.

Um dia, estava fazendo compras quando fui abordado por uma senhora, me solicitando ajuda para carregar suas sacolas explicando que de uma forma estranha havia dado um mau jeito na coluna e não estava conseguindo andar direito.

Claro que me prontifiquei em ajudá-la e ao chegar em sua casa me agradeceu muito, mas bastante surpresa, descobriu que éramos vizinhos.   É claro que eu já sabia, reconheci sua voz.

A vizinha da esquerda que nunca vi, tinha uma voz doce e triste. Às vezes a ouvia chorando, e uma voz masculina forte e autoritária discutindo ou gritando!

Passados alguns dias não ouvi mais vozes, nem movimento. Observei também que as plantas da frente da casa estavam murchas. Fiquei preocupado, e relatei o fato a um posto de bombeiros.  Eles foram até a casa e estranharam, porque   havia latidos desesperados de um cachorro.

Arrombaram a porta e a encontraram sentada no sofá, televisão ligada, falecida há alguns dias e o cão latindo tentando avisar os vizinhos!

Foi muito triste! Acredito que serviu de lição a todos os demais, pois temos sim que preservar as amizades, o convívio com amigos, parentes e vizinhos. Mesmo sendo aparentemente diferentes ou estranhos ao nosso modo de ver.

E o cão, mais “humano” que todos nós, só falta falar, tentou ajudar da forma que podia, pois sabia que alguma coisa estava errada e quem sabe a vizinha morta por falta de socorro, tivesse sobrevivido.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...