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quinta-feira, 1 de julho de 2021

O ANJO DO CÉU E A LIBERTAÇÃO DE MIGUEL - Leon Vagliengo

 

 


O ANJO DO CÉU E A LIBERTAÇÃO DE MIGUEL

Leon Vagliengo

 

Um conto baseado em recortes sobre o sofrimento e o resgate do viver.

 

Ser feliz é uma responsabilidade muito grande. Pouca gente tem coragem. As razões possíveis são muitas, uma delas aqui exemplificada na história de Miguel, que passo a lhes contar:

Nascido de família de classe média, Miguel carregava em sua personalidade os efeitos de uma educação familiar básica, mas correta, moldada ao longo de sua infância e adolescência para que se tornasse um bom cidadão, capaz de enfrentar as circunstâncias da vida adulta.

Nesse processo, porém, um fator havia prejudicado a formação de seu equilíbrio emocional: o seu pai era um homem bom, correto e trabalhador, mas alcoólatra; não conseguia evitar a bebida, embora ele mesmo tanto o desejasse. Costumava embriagar-se quando não estava no emprego e brigava muito com a sua mãe, submetendo o seu lar a frequentes conflitos.

Outras vezes, embalado pela bebida, causava situações vexatórias perante os conhecidos, em situações como festas de casamento ou aniversário, ou provocava grande tensão e risco ao guiar o seu carro levando a família, apesar de sua grande habilidade na direção.

Nesses momentos Miguel a tudo assistia, às vezes com medo, sempre com muita vergonha, pois o protagonista era o seu pai.

Sua pequena família, porém, mantinha-se estável graças à inabalável consciência que ambos, seu pai e sua mãe, mantinham de suas obrigações familiares, apesar de tão prejudicada pela abominável doença do alcoolismo.

Apesar do amor que tinha por seus pais, essas situações marcaram profundamente e de forma indelével a personalidade de Miguel, pois aconteciam repetidamente durante todo o período mais intenso e sensível da formação de sua personalidade, consolidando nele um sentimento de muita insegurança. Tinha medo de que os amigos percebessem a embriaguez de seu pai, e ficava muito tenso e envergonhado quando eles o viam naquelas condições.

Filho único, tornou-se um adulto muito tímido, e ainda jovem aos seus trinta e poucos anos, permanecia morando com os pais. Não tinha estímulos para realizar os seus sonhos e acreditar em si mesmo na tomada de atitudes, algumas até necessárias para o seu bem-estar.

Tinha consciência de sua inibição, e sofria muito por seus efeitos. Inseguro, era muito difícil para ele aproximar-se de alguma moça para tentar um relacionamento, pois sentia que não saberia como agir e, muito pior, apavorava-se ao imaginar que poderia passar por algum vexame quando em algum inevitável momento se encontrassem com o seu pai naquelas temidas condições.

Não obstante, Miguel era uma pessoa afável, sempre solícito e amigo, simpático a todos que o cercavam, que não percebiam o seu conflito interior.  Mas, como sabemos, o fato de o mar estar calmo na superfície não significa que algo não esteja acontecendo nas profundezas.

Assim, nessa insegurança, passara a sua infância e adolescência; e a sua vida seguia, solitária e sem brilho, voltada quase que tão somente para as atividades formais de estudo e trabalho, em que ele se dedicava com afinco por vê-las como a obrigação a ser cumprida e até como uma forma de descarregar as suas tensões.

Em verdade, todos temos a guerra dentro de nós. Às vezes ela nos mantém vivos. Outras vezes, ela ameaça nos destruir. Com empenho no estudo e no trabalho Miguel compensava as suas guerras internas e sobrevivia, evitando, assim, a sua própria destruição.

 

Apesar de tudo, graças a essa dedicação Miguel obteve bastante sucesso na vida profissional e conseguiu um emprego promissor e estável, onde, apesar de jovem, já era respeitado por sua competência e saber, conquistando um bom salário. Deduzia que, no fundo, esse sucesso era fruto de seus terríveis temores, e que as pessoas são capazes de ir muito mais longe por causa daquilo que temem do que por causa daquilo que desejam. E ele temia desejar alguma coisa que lhe exigisse atitudes.

A sua timidez era um terrível incômodo, sempre presente a atormentá-lo. Procurava ficar longe de festas e outras situações de relacionamento social, dificilmente tomava a palavra nas reuniões de trabalho, sofria muito só em pensar que poderia ser convidado para alguma apresentação em público, pois achava que iria gaguejar, dizer coisas tolas ou sem propósito, perder-se na argumentação, enfim, submeter-se a um imaginário e temido vexame.

A sua vida era por isso uma permanente tensão, sentia como se a qualquer momento tudo iria desabar. Miguel tinha a consciência de que todo aquele sentimento negativo era fruto de sua imaginação, mas estava profundamente arraigado em sua mente, bloqueando as suas ações. Sabia também que tinha tudo para ser feliz: era ainda jovem e já estava bem financeiramente, percebia a admiração que despertava em algumas moças, mas tinha medo de tomar atitudes, inclusive para aproximar-se delas.

Em verdade, achava que ele próprio era o seu maior inimigo, a impedir-se de ser feliz. Às vezes sentia raiva e uma estranha vontade de vingar-se de si mesmo. Em suma, Miguel não conseguia sentir-se feliz. Faltavam-lhe as atitudes.

Foi quando ela entrou em sua vida.

 

A nova secretária do diretor da empresa a quem Miguel estava subordinado, Maria do Céu, com esse nome diferente e doce logo chamou a sua atenção. Na apresentação, ela lhe pareceu muito educada e simpática; e o melhor: era uma morena muito bonita, mais ainda por efeito do belo sorriso, e pareceu interessar-se por ele. Evidentemente, Miguel logo reagiu a essa impressão, concluindo que ela estava apenas mostrando-se educada.

 

Os dias seguintes se encarregaram de mostrar a Miguel que ele estava enganado.

 

 A todo momento Maria do Céu aparecia com algum assunto de serviço, feliz em encontrar pretextos verdadeiros para vê-lo, e a amizade entre eles foi se firmando.  Ela não teve dificuldade para perceber a inibição de Miguel e, inteligentemente, passou a abordá-lo sempre com o devido cuidado para não despertar a sua insegurança.

 

A habitualidade desses momentos teve o mérito de dissolver a timidez de Miguel em relação a ela, e ele sentia-se confortável com a sua presença. Em pouco tempo passou a esperar com ansiedade por essas oportunidades, ainda achando que, da parte dela, fossem motivadas apenas pelo trabalho...ou será que não?

 

A resposta partiu dele mesmo, numa dessas ocasiões. Repentinamente, surpreendeu-se ao ouvir a própria voz romper corajosamente as suas barreiras imaginárias, convidando-a para jantar. Ela olhou para ele com ar de incredulidade, durante o que lhe pareceu, aproximadamente, um século. Então, abriu o seu belo sorriso e aceitou, deixando claro o seu contentamento.

 

Depois daquele jantar muitos outros se sucederam e o relacionamento entre eles se estreitou. Maria do Céu teve o cuidado de respeitar o protocolo romântico e esperou que ele, não ela, revelasse as suas intenções, embora fossem as mesmas. Assim, por causa da timidez de Miguel, demorou um pouco para que se confirmasse o compromisso; mas, em verdade, muito antes da confirmação ele já era sabidamente irreversível.

 

Miguel continuava tímido, mas agora tinha um amparo, não se sentia mais sozinho para enfrentar as suas angústias. Maria do Céu procurava incentivá-lo, sempre cuidadosamente para não ferir o seu amor-próprio.

 

Com o passar do tempo Maria do Céu foi conquistando a confiança de Miguel, até que um dia ele criou coragem para abrir-se com ela sobre os seus temores e a culpa que sentia por ser uma pessoa tão inibida e sem atitudes importantes. E concluiu dizendo que, por isso, considerava a si mesmo o seu maior inimigo.

 

Pacientemente, Maria do Céu o ouviu e ao final, sabiamente, sugeriu que ele se perdoasse, pois, como ela aprendera com a sua mãe, a maior vingança contra um inimigo, é perdoá-lo. No caso não seria exatamente uma vingança, como no dito popular, mas este perdão seria o reconhecimento de que ele não tinha a culpa que imaginava, não era o seu próprio inimigo. Tinha que perdoar-se, não mais martirizar-se, e ela o ajudaria a tomar as atitudes que lhes trariam alguma felicidade.

 

E assim tudo aconteceu.

 

Com a ajuda de Maria do Céu, Miguel assumiu o comando de sua vida, deixando a casa dos pais e formando com ela o seu próprio lar.

 

Sentia que nunca superaria completamente a timidez e a inibição geradas pelas circunstâncias que as implantaram em sua mente durante a infância e adolescência, pois as raízes eram muito antigas e profundas. Isso seria muito difícil, se não impossível.

 

Porém, Miguel conseguiu finalmente compreender-se e conviver melhor consigo mesmo, graças ao apoio do Anjo que um dia desceu do Céu para protegê-lo e ficou para viver ao seu lado.

COELHO ESPERTO - Dinah Choichit

 


COELHO ESPERTO

Dinah Choichit

 

Estávamos em um casebre perto de uma trilha estreita com ruídos de animais, alguns eram encantadores e outros me assombravam. De trás do casebre surgiu um coelho assustado pois um animal maior o perseguia, um lobo. De repente foi ouvido um apito, era do guarda florestal. Assim que o coelho ouviu, se assustou e se escondeu dentro de um buraco. O lobo tentou ir atrás, mas o guarda florestal conseguiu espantá-lo.

Ao amanhecer uma águia pousou no telhado do casebre ao ver o coelho se mexer, porém ele não saiu de lá, e após uma tarde de espera ela decidiu ir embora.

Viagem ao passado - Helio Salema

 



Viagem ao passado

Helio Salema

 

Recebi pelo celular a notícia de que a cidade dos meus avós, e de meus pais,  iria ressurgir com o esvaziamento da lagoa. Era minha prima me convidando para irmos assistir.

Embora eu não tenha vivido naquela cidade, me emocionei ao lembrar das histórias contadas pelos meus pais e alguns tios, todos já falecidos. Não imaginava ver a casa, a loja nem o colégio. Mesmo assim fiquei empolgado.

Fiz uma lista do que precisava levar. Liguei para um amigo que gostava de fotografar para lhe pedir sugestões. Expus com detalhes o motivo, ele prontamente me ofereceu uma câmera muito boa que não usava há muito tempo. Separei roupas, dinheiro para as despesas pois minha prima já havia reservado hotel numa cidade próxima. Meu irmão disse que até gostaria, mas estava ocupadíssimo na empresa e não poderia se ausentar. Pediu para tirar muitas fotos e enviar para ele.

 

Viajamos no carro da prima Laura. Ela explicou que sua mãe, tia Clara, devido à idade bastante avançada e muito doente, não foi informada. Duas irmãs de Laura tomariam conta da mãe, enquanto estivesse ausente. Durante a viagem conversamos muito. Como não tínhamos contatos frequentes, foi muito bom ouvir os planos dela para depois de formada em arquitetura. Fiquei sabendo que já trabalhava com arquitetos amigos. Falei do meu trabalho no escritório de contabilidade. Também de minha intenção de fazer Direito, depois de concluir o de Ciências Contábeis.

No hotel fomos muito bem recebidos, era administrado por uma família, que nos receberam como se fôssemos parentes. Depois de descansar, desci para o jantar. Uma comida simples mas muito boa. Ficamos por um bom tempo conversando. Laura disse estar ansiosa, pois nunca tinha visto de perto as ruínas de uma cidade inteira. Eu também estava ansioso pela oportunidade de uma experiência nova. Já com a hora avançada fomos dormir.

No dia seguinte acordei cedo, como de costume. Desci,  fiquei conversando com outros hóspedes aguardando Laura. Assim que desceu, juntou-se ao grupo. Tomamos café todos juntos. Pessoas agradáveis e divertidas. Foi uma boa conversa.

Saímos logo após o café, em poucos minutos chegamos ao local. A lagoa já estava vazia. Caminhamos juntos em silêncio naquilo que parecia ter sido uma rua.

Por todo lado o que se via eram pedras espalhadas pelo chão, eu não percebi o menor sinal de que algum dia ali existiu uma cidade.

Eu não reconhecia nada daquilo que descreveram nas histórias,  mas senti uma tristeza enorme por lembrar que ali nasceram e viveram pessoas  importantes na minha vida. Tiveram que abandonar tudo sabendo que nunca mais poderiam rever,  mesmo  estando vivas.

Minha prima Laura examinava longamente os vestígios de possíveis prédios. Como eu não havia usado a câmera ainda,  ela perguntou se eu não iria tirar fotos. Respondi que não sentia vontade. Entreguei a ela que imediatamente começou a fotografar tudo que via.

Eu continuava a pensar nas pessoas. Por mais interessante que fosse a paisagem nos morros ao redor, nada me alegrava. Por que destruir uma cidade, tirar o povo dali contra vontade?

Será que realmente não havia outra alternativa?

Fiz esta pergunta à prima.

 - Provavelmente sim, sempre há várias opções, mas não sabemos o real motivo da escolha.

Sentamos em um bloco de pedras e ficamos por muito tempo em silêncio olhando algumas  poucas pessoas que caminhavam  pelos escombros.

Falei que estava com fome,  ela disse que estava quase na hora do almoço. Caminhamos em silêncio até o carro.

O restaurante do hotel estava vazio. Almoçamos em silêncio.

Fui para o quarto descansar. Dormi o suficiente para recuperar as energias. Acordei com Laura me chamando para irmos embora e chegarmos em casa antes de anoitecer.

Na volta para casa conversamos sobre a oportunidade que tivemos de uma nova experiência. Tudo muito diferente e estranho. Certamente, vamos levar muito tempo meditando sobre tudo que vimos e sentimos. Ela prometeu imprimir as fotos, encaminhá-las para o seu tio.

Ao chegar em casa senti como se estivesse, nas últimas horas, vivido em dois mundos.

LIVRO ANTIGO - Dinah Choichit

 




LIVRO ANTIGO

Dinah Choichit

 

Achei na minha biblioteca aquele livro antigo, esse livro conta a história de um ônibus   em uma cidade. Essa cidade fica o interior de São Paulo, onde tem um parque para crianças e várias outras atrações para adultos. A cidade é turística e possui vários ônibus lotados e cheios de crianças com a intensão de se divertir no parque.

Numa tarde ouvimos um estrondo e percebemos que era um tiroteio vindo de dentro de um dos ônibus, que quase não tinha passageiros. A porta abriu e de lá saíram  dois homens fugindo, entramos e vimos um policial amigo sem sapatos, estava morto. Ele carregava em uma das mãos um pacote de pedras e na outra segurava o bolso.

Essa e a história que lembrei quando li meu livro de papel áspero e grosso. Quando terminei meu livro percebi que já estava anoitecendo, levantei para fechar a janela e foi quando ouvi um grito de horror e vi o carteiro correndo com sua bicicleta. Fiquei preocupada, mas resolvi ir dormir, pois imaginei que o grito poderia ser de uma coruja.

 

 

Livro Antigo - Helio Salema

 


Livro Antigo

Helio Salema

 

Ao procurar um livro antigo para emprestar a um amigo, lembrei de como nos conhecemos.

Eu estava no ônibus para casa quando uma pessoa bem mais jovem sentou-se ao meu lado.  Notei que tinha nas mãos um pequeno caderno e lápis. Olhava para uma pessoa, atentamente, logo em seguida abria o caderno e anotava algumas coisas. Depois parece que escolhia outra pessoa, novamente, abria o caderno e mais anotações.

Guardou o caderno na mochila. Olhou para mim e perguntou se eu usava este ônibus sempre neste horário. Respondi que raramente. Ficou em silêncio, como se minha resposta não fosse a que ele esperava. O silêncio continuou e me incomodou. Então resolvi saber o porquê da pergunta.

Prontamente me explicou que neste horário, nesta mesma linha tinha ocorrido um assalto e um policial amigo dele tentou prender o ladrão quando foi baleado e veio a falecer.

Naquela época ele estava de férias na cidade dos seus pais e só ficou sabendo quando retornou.

Ele disse que era carteiro,  sempre fazia este trajeto de bicicleta. Como hoje completava dois anos do ocorrido e seu dia de folga,  resolveu fazer o trajeto de ônibus. Observar os passageiros para implementar o livro. Dados oficiais, ele já os possuía.

Iria descer logo em seguida, onde aconteceu o fato , para anotar mais alguns detalhes.

Eu lhe disse que infelizmente, não morava naquele bairro na época, mas gostaria de ler o livro dele. Respondeu que seria um prazer e acrescentou que me mostraria anotações que ele tinha sobre outros contos, que sempre escrevia.

Anotou meu endereço e disse que qualquer dia levaria seus cadernos para eu ler. Fiquei surpreso em conhecer alguém que se interessava tanto em escrever sobre a morte de um amigo. Pensei… o que é uma amizade? Será que algum amigo meu faria isso?

Certamente, não.

Depois de transcorrido uma semana ele apareceu, no meu portão, com dois cadernos. Assim que me entregou disse que estava com pressa. Pedi que aguardasse só um instante. Rapidamente peguei o livro e o levei até o portão. Ao pegar, leu o título, sorriu, agradeceu e saiu muito contente.

Era um livro que comprei há muito tempo, mas não tive oportunidade de usar. Técnicas de Redação.

 

EM TEMPOS DE PANDEMIA - Alberto Landi

 

EM TEMPOS DE PANDEMIA

Alberto Landi

 

Era um pequeno vilarejo ao pé da Serra da Estrela, em Portugal. Rodeado por grandiosas paisagens, fica junto a uma cadeia montanhosa da Serra da Estrela, a mais elevada em Portugal Continental.

No inverno fica coberta de neve e eventualmente no inicio da primavera. As casas, todas encantadoras, confortáveis e funcionais. A  localização do vilarejo é muito tranquila, e de fácil acesso às principais vias. As casas, na maior parte, em tons claros alaranjados, alinhavam-se no vale como se respeitassem o monte que lhes fornecia sombra.

Como na grande parte dos vilarejos de Portugal, havia uma integração entre os moradores, eram amigos entre si, e de alguma maneira até certo parentesco. Alguns diziam que eram descendentes do rei D. Diniz.

Isa vivia nesse tranquilo vilarejo. Sua casa era conhecida por casa das rosas, não pela pintura, mas sim pelo jardim florido com vários tipos de rosas. Era um sombrio casarão de paredes um tanto severas. Tinha um aspecto triste, parecia mais uma residência eclesiástica. Havia um revestimento quadrado de azulejo fazendo um painel no lugar heráldico do escudo de armas da família, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de rosas e girassóis. Ao fundo um terraço de tijolo, um pobre quintal, abandonado às ervas bravas, com um cipreste e um cedro envelhecendo juntos como dois amigos tristes. Um tanque entulhado e uma estatua de mármore ainda conservada de Vênus.

Isa compartilhava com os moradores um clima de união e bem-estar.  A vida ali era muito saudável.  Tudo que comiam vinham das plantações e criações de animais, como ovelhas, cabras, vacas. A tranquilidade e alegria dos moradores, parecia que jamais terminariam.

A primavera alí era muito abundante. Sobre as florestas da Serra da Estrela navegavam nuvens baixas de algodão com pontas dependuradas, através das quais em saltos, precipitavam-se as chuvas cálidas com cheiro de terra. Era a época em que a terra surge debaixo da neve  quase da mesma forma em que foi coberta , há meio ano. As florestas emanavam umidade e estava toda coberta de folhagem do ano anterior, parecia um quarto desarrumado. Em algum lugar longínquo o primeiro rouxinol testava as suas forças, com intervalos mais longos ainda um melro assobiava como se estivesse soprando em uma flauta entupida.

Isa, nos seus 23 anos, jovem, solteira, olhos verdes claros e pele morena. Tinha feições meigas e semblante calmo. Todos a admiravam pela sua simplicidade e beleza.

Ela não queria mais amar ninguém, pois seu coração foi ferido varias vezes. Mas tudo mudou! O mundo entrou na pandemia.

Milhares de pessoas não se viram mais, isolamento quase total das famílias. Isa tinha casa, mas não tinha a família junto de si.

Os dias iam passando e ela reencontrou um amigo de infância. Tudo estava bem entre eles, mas, um dia ele se declarou. Confessando o quanto a admirava e o quanto gostaria de estar com ela.

Isa se emocionou diante da confissão e pensou que sempre em algum lugar existe alguém que ama em segredo. Ela acreditou que seu amigo estava sendo sincero, e talvez estava. Mas os dois eram como água e óleo, estavam na mesma fase da vida, mas não se misturavam. O coração até queria, mas a razão prevaleceu, não daria certo a mistura.

Uma amiga de Isa, a convidou para participar de um grupo nas redes sociais, para conhecer novas pessoas e assim afastar sua tristeza. Prontamente aceitou, afinal o que fazer em uma quarentena sem a família junto de si, sem trabalho e sem um amor para gostar.

Começou a se interessar pela informática, para afastar uma possível depressão por estar só. A quarentena foi péssima para alguns, mas para ela foi o melhor que podia acontecer.

Num dos grupos que participava havia pessoas que se tornaram interessantes. Havia um rapaz que chamou sua atenção, por terem muitas coisas em comum, era o Marcos, formado em Ciências econômicas.

Com as trocas de mensagens escritas e às vezes por áudio, Marcos confessou a ela que tinha uma voz sensual. Isso fez com que ela se sentisse lisonjeada.

Os dias se passaram, as conversas aumentaram. Após um período ela resolveu se afastar, as trocas de mensagens cessaram, e o medo tomou conta dela.

Meses se passaram e a quarentena continuava. Isa resolveu se reaproximar de Marcos. Aprendeu que a coragem não é a falta de medo, mas o triunfo sobre ele. A pessoa corajosa não é aquela que não sente medo, mas a que conquista esse medo. Não importa quantas vezes você caia, mas o mais importante é levantar-se.

Pensou: hoje estou renascendo.

Nessa pandemia estava se reencontrando, percebendo suas fraquezas, mas também seu lado positivo. As nossas vidas são como um ímã, que atraem ao seu lado, pessoas certas, no momento certo, e você precisa estar consciente disso e reconhecer.

Uma coisa ela percebeu. A pandemia estava lhe favorecendo.

Na semana que antecede o dia dos namorados, Isa resolveu fazer uma surpresa a Marcos. Para isso consultou o site de compras no seu computador.

Começaram a descobrir algo muito além de uma amizade. Mostrando mesmo que em tempos de pandemia, a felicidade pode ser encontrada.....

E assim Isa, sentiu-se novamente com vontade de viver de forma intensa, ela e Marcos...... 

 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

O dejejum - Ana Catarina Sant’Anna Maués

 



O dejejum 

Ana Catarina Sant’Anna Maués

 

   O dia despertava em mim o viço da juventude, apesar de meu bico e garras já tão desgastadas. Sobrevoava uma trilha estreita com vários ruídos de animais, alguns me assombravam, e outros despertavam meu apetite, pois procurava meu dejejum. Por um momento pensei estar só, sem o bicho homem por perto, mas avistei um minúsculo casebre sinalizando tê-lo por ali.      

   Interrompendo meus pensamentos apareceu lá embaixo, um coelho assustado que corria devido um som, que de onde eu estava parecia um rosnado ofegante e por certo o perseguia, então vi surgir um animal bem maior, um lobo. Um apito ecoou por entre as árvores frondosas, tratava-se do guarda florestal afugentando a fera que havia invadido a reserva. Pousei no telhado do casebre para apreciar o desfecho, quem sabe a sorte me favorecesse e eu, ao invés do lobo, capturasse a lebre. Sem ser convidada a chuva apareceu umedecendo minhas penas, deixando-as pesadas,  um obstáculo a mais a ser vencido, pois isso dificultaria o voo rasante que pretendia dar.

    Com visão privilegiada, pude conferir que o coelho conseguiu escapar do ataque com ajuda do guarda, que vitorioso expulsou o lobo dali.

   Mais alguns instantes me separavam de saciar minha fome, um desavisado esquilo arriscou-se na trilha e eu não o poupei. Tinha pele macia, daí minhas unhas penetraram a carne facilmente e pude saboreá-lo, me lambuzando de prazer. 


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Curon - Adelaide Dittmers

 


Curon

Adelaide Dittmers

Flocos de neve caiam do céu cinzento.  Agasalhados e indiferentes ao frio, brincávamos pelas ruas, jogando pequenas bolas de neve uns nos outros.  A algazarra ecoava por toda a vila.  O sino da velha igreja bateu por doze vezes.  Todos sabíamos que era hora de almoçar.  Como pássaros alvoroçados, corremos para casa.  A refeição quente e convidativa já estava na mesa.

Meu pai sentou-se à mesa com um semblante grave.  Comeu em silêncio, sob o olhar preocupado de minha mãe.  Quando o almoço terminou, pediu a mim e meu irmão que fossemos para o nosso quarto.

Curiosos, ficamos escondidos para ouvir o que ele tinha a dizer.  As crianças sempre tinham que sair quando os adultos tinham algo a dizer que elas não deveriam ouvir.

Assustados e sem entender nada, ficamos sabendo que iam cobrir a cidade com água.  Ouvimos o choro de nossa mãe e, num impulso maior que nós, irrompemos pela sala, perguntando se era verdade aquilo.

Meu pai, zangado, disse que não era bonito ficar atrás das portas, ouvindo a conversa dos outros, mas nos acolheu e nos acalmou, explicando que iriam construir uma usina para gerar eletricidade. Cada detalhe nos foi dado pacientemente para que entendêssemos o que seria a tal usina.

À tarde, quando saímos para brincar com nossos amigos, a notícia já se tinha espalhado como rastilho de pólvora e as crianças não falavam de outra coisa.  As brincadeiras foram esquecidas e todos queriam falar ao mesmo tempo.

Naquela época, Curon era uma pequena vila cercada por plantações.   Meu pai tinha um pequeno pedaço de terra, onde cultivava videiras, cujas uvas se transformavam no bom vinho italiano.  Muitos habitantes eram agricultores e viviam do que plantavam.

A vida, naquele lugar, corria mansa e lenta.  Aos domingos, todos iam à missa e ao sair da igreja, reuniam-se em grupos, em que as conversas e mexericos corriam soltos. Era muito difícil se manter algum segredo naquela aldeia.  No entanto, todos eram amigos e se ajudavam quando era preciso. Naquele domingo, a notícia caiu como uma bomba sobre eles e com intensa gesticulação, uma característica bem típica dos italianos ao se comunicarem, expressavam sua revolta de terem de abandonar suas casas e a história de suas vidas, construída na pequena vila, onde também viveram seus pais e avós.

Foi uma época muito angustiante para todos.  Nós, crianças, no alvorecer da existência, além do assombro de ver nosso mundo desaparecer sob as águas, estávamos mais curiosos do que infelizes pelo destino de nossa terra natal.

No domingo, antes de nossa retirada, foi celebrada a última missa na velha igreja e ouviu-se o badalar dos sinos pela vez derradeira. Os habitantes compareceram em peso, muitos tiveram que ficar de fora para assistir ao culto.  Os olhares de todos voltavam-se para as belas pinturas nas paredes e teto do santuário e se detinham nas antigas imagens, que se distribuíam pelo seu interior, numa despedida dolorida daquele templo, onde tantas vezes rogaram pela proteção divina e que tanto representava para eles. Batizados e casamentos haviam sido celebrados ali e mesmo mortos foram ali chorados.

Depois desse dia, cada um seguiu seu caminho. Minha família, depois de um ano, emigrou para o Brasil, onde construiu uma nova vida.  O Brasil, para mim, é minha segunda pátria, terra dos meus filhos e netos.

Certo dia veio a notícia de que, ao reparar a usina, tiveram que esvaziar a represa e a torre da igreja emergiu das águas.  Tomada por recordações perdidas no tempo, acendeu-se em mim um desejo intenso de voltar à Itália para ver o que sobrou de minha pequena cidade natal.

Quando lá cheguei, uma forte emoção apoderou-se de mim ao ver a torre da igreja secular apontada para o céu e rodeada das ruínas do que outrora fora o vilarejo.

Naquele momento, pensei na mudança drástica por que todos daquela vila tínhamos passado. A vila tinha morrido, mas a vida, que correu nela, continuou em outros lugares e, como a torre, que se erguia desafiadora, novos horizontes foram alcançados, novos vôos e descobertas foram realizados por aqueles que a deixaram com um destino incerto num passado distante.

terça-feira, 15 de junho de 2021

CINQUENTA ANOS DEPOIS - Hirtis Lazarin

 



CINQUENTA ANOS DEPOIS

Hirtis Lazarin

 

As dores nas costas eram bem maiores que a vontade de dormir.  Com dificuldade, acendi a luz fraca do abajur e vi que já era depois de uma hora da manhã.

Liguei a televisão e fiz um “tour” com o controle remoto.  Poucas opções.  Bem, notícias são sempre bem-vindas, mesmo que repetidas.

“O vilarejo de Curon, ao norte da Itália, acaba de emergir, após o esvaziamento das águas da represa para conserto de equipamentos da hidroelétrica”,

Levei um choque e, até agora, momento em que estou escrevendo este texto, não me restabeleci.

Escombros do que foram paredes, muros, risos, preces, degraus, parabéns à você, cômodos, sonhos estavam ali misturados feito barro.  Ainda gritando...

Foi então que, sem querer, destampei o frasco como o de um perfume, e liberei lembranças guardadas por cinquenta anos. Cinquenta anos!  Acreditava que a passagem do tempo já as tivesse descolorido.  Que nada!  Saltaram vivas e multiplicadas.

Pés descalços, cabelo desgrenhado, mãos abanando para a felicidade e sorriso atravessado de poesia.  Era assim que nossa turminha, cheia de pensamentos longe de compreender a vida, virava e revirava os cantos do vilarejo de Curon.

Algumas de nossas tantas alegrias eram: correr atrás das cabras até se perderem no descampado, saltar muros, pular cercas em busca de manga verde apanhada no pé, colher matinho e flores pra enfeitar o altar da padroeira, Santa Catherina, aquela à quem os adultos tanto rezavam e faziam pedidos.

O padre Piero tinha o rosto cheio de preguinhas e ensinava-nos o catecismo toda sexta-feira. A gente nunca faltava porque ele nos servia suco de groselha e pão com queijo fresco.  Podíamos comer quantas vezes quiséssemos. 

Obrigava-nos a rezar dez ave-marias e dez padre-nossos quando ficava bravo com nossas sapequices.  Descobrimos que a moradora que não se casou e ia rezar todos os dias era quem nos dedurava.  De bronca, a gente batia na porta da sua casa e saía correndo.

A torre da igreja era tão alta que cutucava as nuvens.  O sino, não sei como, avisava que já eram seis horas da tarde.  Ai de nós se não estivéssemos de banho tomado e prontos pro jantar, comida quentinha e cheirosa na mesa preparada por Mamãe  Rosina.  Lembro-me que todo dia, papai repetia: “Ela não é uma artista?  Mas comer que é bom ... só depois de cinco minutos de oração.

 Nosso maior sonho era poder subir a escadaria que levava ao pico da torre.  Eram mais de mil degraus.  O padre, muito cuidadoso, pendurava no pescoço a chave da porta que dava acesso às escadas.  Era de ferro, bem pesada e maior que duas mãos juntas.  Ele só permitia chegar ao primeiro degrau.  Era ali que esticávamos tanto o pescoço e nossa fantasia brotava como grama no pasto.  A torre escura e gelada deixava os pelinhos do corpo arrepiados.  Lá no alto, com certeza, moravam fantasmas.  Podiam-se ouvir sussurros e gemidos.  Acho que as pessoas que morriam viravam fantasmas.

A maravilha de tudo era que, para nós, tudo era maravilha.

Até que um dia, três homens desconhecidos, vestidos de terno escuro e gravata vermelha, chegaram a nossa vila, num carro Ford.  Nunca me esqueci desse nome “FORD”.

A notícia era de que, no prazo de trinta dias, deixaríamos as casas e seríamos transferidos pra outras aldeias. Era uma ordem e não opção.  Curon seria inundada para a construção de usina hidroelétrica.

Foi a primeira vez na vida que vi tanta gente junta agarrada a uma dor tão intensa e tão igual.

 Era sofrimento de alma.

 

CURON - Henrique Schnaider

 


CURON

Henrique Schnaider

 

Eu tinha 7 anos de idade quando começaram as obras para criação do lago da cidade. Acompanhava caminhões fazendo centenas de viagens para fazer o aterro enorme onde iriam criar o lago.

Este tempo ficou marcado para mim, pois as coisas caminhavam muito bem, eram tempos felizes. Meu pai tinha um sítio próximo da cidade de Curon onde morávamos numa casa boa, com muito conforto. Meu pai cuidava para que não faltasse nada, pois uma boa parte do que era consumido,  vinha de tudo que cultivava.

A aroma dos doces e pães que minha avó e minha mãe faziam, enfeitavam de delícias nossa casa. Meu avô se sentava na cadeira de preguiça e me contava histórias na língua italiana macarrônica. Eu ouvia com toda atenção e sonhava juntamente com ele participando das aventuras da sua juventude.

Aos domingos todos os moradores da cidade participavam da missa rezada pelo Padre Jousepe. No final da missa havia uma confraternização e cada família trazia comida típica. Macarronada, Polpetone, brachola, pernil de porco e deliciosas sobremesas e doces variados.

Conforme fui crescendo, passando pela juventude, devido ao lago, a igreja foi reconstruída em um novo lugar, mas eu não esquecia da antiga e da sua torre e da missa e das reuniões dominicais, doces momentos guardados para sempre na lembrança.

Foi na antiga igreja que conheci Lina. Enquanto nossas famílias conversavam e trocavam guloseimas e fofocas quentinhas, nós dois brincávamos de corre-corre, pega-pega. Corríamos um do outro num  esconde-esconde que mexia com nossos pequenos corações.

Foi com Lina que me casei, numa cerimônia inesquecível ainda na antiga igreja antiga e celebrado pelo ancião, Padre Jousepe. Depois da cerimônia do casamento, a festa ficou na lembrança de todos. A alegria e a felicidade tomaram conta dos moradores de Curon, presentes naquele que foi o dia mais feliz da nossa vida.

Eu e Lina formamos uma família dos sonhos, 3 filhos encantadores,  2 meninos e uma menina. O tempo se encarregou de fazer a sua parte e meus avós e meus pais partiram, e os da Lina se foram, da mesma forma.

Passei a cuidar da pequena lavoura que meu pai me deixou e continuei com os mesmos costumes que meus pais me deixaram, e que eu e Lina passamos aos nossos filhos.

Estes dias a prefeitura da cidade iniciou pela primeira vez desde a criação do lago, a drenagem e limpeza do mesmo e à medida que a água baixou, começou a aparecer a torre da Igreja e da mesma forma vieram à minha mente as doces lembranças da minha infância e juventude e dos melhores momentos que vivi na minha querida Curon.

Emoções memoráveis. - Dinah Choichit

 



Emoções memoráveis.

Dinah Choichit

 

Que emoção! Quantas histórias já ouvi de minha vó sobre minha terra natal! E, a última trouxe-me inquietação. Agora a cidade estaria emergindo.  A primeira coisa que apareceu foi justo a igreja. Fiquei tão feliz que resolvi convidar toda a família, incluindo os familiares dos países de fora, para ver aquele milagre.

Todos chegaram cedo, com seus filhos, para conhecerem a história das origens da vovó.

Fomos ver também os escombros das casas do lago, havia algumas que estavam completamente danificadas e outras ainda mantinham sua fachada completa com seus detalhes e desenhos. Decidimos tirar algumas fotos e principalmente da casa de minha avó que era uma bela mansão

O passeio foi muito agradável, principalmente por reunir a família novamente. Depois, procuramos um Restaurante ali perto, e encontramos, era um dos que eu frequentava quando pequena. Conversamos bastante e fiquei conhecendo os sobrinhos que nasceram quando eu estive fora.

Resolvi entrar na casa de minha avó, antes de partir.  Fiz muitas fotos para mostrar aos familiares, algumas fotos de utensílios que pertenceram à igreja do lago. E, e encontrei a foto da vovó na porta da igreja.

Em seguida nos despedimos e todos estavam muito emocionados com as histórias desse lindo lago.

Em tempos de pandemia - Alberto Landi

 



Em tempos de pandemia

Alberto Landi

 

 

Isa levava uma vida simples e tranquila. Morava num pequeno vilarejo ao pé de uma das montanhas mais altas da Serra da Estrela, em Portugal, mas ela não sabia que essa tranquilidade estava prestes a acabar.

Isa, uma menina meiga, não queria mais amar ninguém, pois seu coração havia sido ferido várias vezes. Mas, tudo mudou!

O mundo entrou em pandemia, milhares de pessoas não se viram mais, isolamento quase total das famílias.

Isa tinha casa, mas não tinha família junto de si.

Os dias iam passando e ela reencontrou um amigo de infância. Tudo estava bem até que um dia ele fez uma revelação, confessando o quanto a admirava e o quanto gostaria de estar com ela.

Isa se emocionou diante da confissão e pensou que, sempre em algum lugar existe alguém que se ama em segredo. Ela acreditou que seu amigo estava sendo sincero, e talvez estava sendo mesmo. Mas os dois eram como água e óleo, estavam na mesma fase da vida, mas não se misturavam. O coração até queria, mas a razão prevaleceu, não daria certo essa mistura.

Uma amiga de Isa, a convidou para participar de um grupo nas redes sociais, objetivando conhecer novas pessoas e assim afastando sua tristeza.

Prontamente aceitou, afinal o que fazer em uma quarentena sem família junto de si, sem trabalho e sem um amor para curtir.

Começou a se interessar pela informática, para afastar uma possível depressão de estar só.

A quarentena foi péssima para alguns, mas para ela foi o melhor que pode acontecer.

Num dos grupos que participava havia pessoas que se tornaram interessantes. Havia um que chamou sua atenção, por terem muitas coisas em comum, era o Marcos, formado em Ciências Econômicas.

Com as trocas de mensagens escritas e as vezes por viva voz, Marcos confessou a Isa que a voz dela era muito sensual. Isso fez com que ela se sentisse lisonjeada.

Os dias se passaram, as conversas aumentaram. Após um período ela resolveu se afastar, as trocas de mensagens cessaram, e o medo tomou conta.

Alguns meses se passaram e a quarentena continuava. Isa resolveu se reaproximar. Aprendeu que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. A pessoa corajosa não é aquela que não sente medo, mas o que conquista esse medo. Não importa quantas vezes você caia, mas o mais importante é como você se levanta.

Pensou: hoje estou renascendo. Nessa pandemia estava se reencontrando, percebendo suas fraquezas, mas também seus pontos positivos.

As nossas vidas são como um ímã que atraem ao seu lado as pessoas certas, no momento certo, e você precisa estar consciente e reconhecer.

Uma coisa é certa a pandemia estava lhe favorecendo.

Na semana que antecedia o dia dos namorados, Isa resolveu fazer uma surpresa a Marcos, e para isso estava consultando o site de compras em seu computador.

Começaram a descobrir algo muito além de uma amizade, mostrando mesmo que em tempos de pandemia, a felicidade pode ser encontrada....

E assim a vontade de viver voltou para Isa.....  

O bom deputado - Dinah Choichit

 


O bom deputado

Dinah Choichit

 

Alberto era um deputado estadual muito querido, pois o que ele fazia era se preocupar com a educação da sua cidade. Tudo que ele prometia, ele colocava em prática. Alberto procurava andar com amigos que tinham a mesma preocupação, assim ele conseguia apoio aos projetos, e dava andamento às ações. Com todo esse apoio ele conseguiu colocar mais quatro deputados que defendiam a mesma causa dentro da Assembleia.

Durante o seu mandato Alberto conseguiu abrir muitas escolas, e todas com professoras competentes que possuíam ricos currículos. Porém, havia uma escola que era da preferência dele, e que ele não saia de perto, mas ninguém sabia o porquê. Apenas eu. Eu descobri o seu segredo bem rápido! Ele estava apaixonado pela professora Camila, uma das mais queridas da cidade.

Depois que cumpriu com tudo que prometeu, no fim do ano, pediu Camila em casamento. Ela aceitou e a cidade se maravilhou.

 

Surpresa na festa - Helio F Salema

 



Surpresa na festa

Helio F. Salema

 

Numa pequena cidade as crianças estão indo para o primeiro dia de aula. Duas chegam quase ao mesmo tempo. O suficiente para olharem uma nos olhos da outra. Assim começou uma amizade duradoura entre Jane e Jessica. Até completarem o segundo grau, todo ano na mesma escola, mesma sala e em encontros em casa. Em alguns passeios estavam juntas.

No último ano, do segundo grau, a família de Jane  resolveu que mudariam, no ano seguinte, para outra cidade onde havia faculdades. Jessica que já estava com casamento marcado para depois da formatura permaneceu na sua cidade natal.

Apesar da distância , a comunicação entre elas permaneceu constante, e-mails e telefonemas.

No casamento de Jessica, Jane  voltou para ser madrinha da amiga. Conversaram por longas horas na véspera do casamento. Após a cerimônia , uma enorme alegria para ambas, muitas fotos juntas e a promessa de continuar se comunicando.

 

No dia seguinte Jane retornou, pois tinha que trabalhar no escritório de advocacia de uma amiga do seu pai. Trabalhou neste emprego enquanto durou o curso de Direito.

Embora não tivesse acontecido nenhum contato pessoalmente com Jessica, durante este período, mantiveram telefonemas e e-mails. Jessica mencionava  pouco sobre o casamento e quando dizia era para lamentar o relacionamento.

Após se formar, Jane  passou num concurso,  mudou-se para a Capital e foi morar sozinha. Sempre em contato com amiga, falava  de sua nova vida agitada, porém proveitosa.

Nos últimos meses, Jessica várias vezes reclamou do relacionamento com o marido. Ciúmes era uma das principais queixas. Jane sempre dava a maior força para a amiga.

Até que um dia Jessica informa à amiga que estava se separando.

Depois de uma longa conversa Jane sugeriu que viesse morar junto com ela.

Jessica ficou contente, mas disse que já tinha aceitado convite de seus tios e padrinhos, para morar com eles. Eles viviam em outra cidade numa casa grande, mas sozinhos, pois não tinham filhos. Ela iria trabalhar na loja com eles.

A partir daí a comunicação entre elas retornou intensa como antigamente. Cada uma falando do seu dia e planos, ouvindo da outra, histórias, totalmente, diferentes.

Numa noite, Jane chega em casa toda eufórica. Pelo celular percebe que sua amiga está online e decide não esperar o dia seguinte para contar a novidade.

- Oi, Jessica, tudo bem?

- Olá, tudo certo.

- Acabei de chegar e não consegui esperar até amanhã para lhe dar uma notícia. Lembra daquele médico que conheci quando fui ao hospital visitar uma amiga?

- Sim, estou lembrando.

- Fui no aniversário de uma colega de trabalho. Quando cheguei vi vários casais. Eu era a única sem par, o que me deixou um pouco aflita. Apesar da minha colega e o namorado conversarem comigo.

Surpreendentemente, quem chega?

Justamente ele. Cumprimentou a todos e veio se sentar onde nós estávamos.

Você imagina como fiquei. Pouco depois minha colega e o namorado saíram e ficamos a sós.

Lembrou que tínhamos estado no hospital e perguntou pela minha amiga. Estávamos numa conversa muito agradável, quando o celular dele tocou. Pediu licença e ali mesmo atendeu.

Em seguida pediu desculpa,  pois tinha que atender uma urgência. Perguntou se poderia me ligar outra hora para continuarmos a conversa, eu disse que sim, pediu meu telefone, anotou no celular e saiu.

Amiga, agora penso, imagino e desejo uma mudança enorme na minha vida.

 

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...