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quinta-feira, 1 de julho de 2021

EM TEMPOS DE PANDEMIA - Alberto Landi

 

EM TEMPOS DE PANDEMIA

Alberto Landi

 

Era um pequeno vilarejo ao pé da Serra da Estrela, em Portugal. Rodeado por grandiosas paisagens, fica junto a uma cadeia montanhosa da Serra da Estrela, a mais elevada em Portugal Continental.

No inverno fica coberta de neve e eventualmente no inicio da primavera. As casas, todas encantadoras, confortáveis e funcionais. A  localização do vilarejo é muito tranquila, e de fácil acesso às principais vias. As casas, na maior parte, em tons claros alaranjados, alinhavam-se no vale como se respeitassem o monte que lhes fornecia sombra.

Como na grande parte dos vilarejos de Portugal, havia uma integração entre os moradores, eram amigos entre si, e de alguma maneira até certo parentesco. Alguns diziam que eram descendentes do rei D. Diniz.

Isa vivia nesse tranquilo vilarejo. Sua casa era conhecida por casa das rosas, não pela pintura, mas sim pelo jardim florido com vários tipos de rosas. Era um sombrio casarão de paredes um tanto severas. Tinha um aspecto triste, parecia mais uma residência eclesiástica. Havia um revestimento quadrado de azulejo fazendo um painel no lugar heráldico do escudo de armas da família, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de rosas e girassóis. Ao fundo um terraço de tijolo, um pobre quintal, abandonado às ervas bravas, com um cipreste e um cedro envelhecendo juntos como dois amigos tristes. Um tanque entulhado e uma estatua de mármore ainda conservada de Vênus.

Isa compartilhava com os moradores um clima de união e bem-estar.  A vida ali era muito saudável.  Tudo que comiam vinham das plantações e criações de animais, como ovelhas, cabras, vacas. A tranquilidade e alegria dos moradores, parecia que jamais terminariam.

A primavera alí era muito abundante. Sobre as florestas da Serra da Estrela navegavam nuvens baixas de algodão com pontas dependuradas, através das quais em saltos, precipitavam-se as chuvas cálidas com cheiro de terra. Era a época em que a terra surge debaixo da neve  quase da mesma forma em que foi coberta , há meio ano. As florestas emanavam umidade e estava toda coberta de folhagem do ano anterior, parecia um quarto desarrumado. Em algum lugar longínquo o primeiro rouxinol testava as suas forças, com intervalos mais longos ainda um melro assobiava como se estivesse soprando em uma flauta entupida.

Isa, nos seus 23 anos, jovem, solteira, olhos verdes claros e pele morena. Tinha feições meigas e semblante calmo. Todos a admiravam pela sua simplicidade e beleza.

Ela não queria mais amar ninguém, pois seu coração foi ferido varias vezes. Mas tudo mudou! O mundo entrou na pandemia.

Milhares de pessoas não se viram mais, isolamento quase total das famílias. Isa tinha casa, mas não tinha a família junto de si.

Os dias iam passando e ela reencontrou um amigo de infância. Tudo estava bem entre eles, mas, um dia ele se declarou. Confessando o quanto a admirava e o quanto gostaria de estar com ela.

Isa se emocionou diante da confissão e pensou que sempre em algum lugar existe alguém que ama em segredo. Ela acreditou que seu amigo estava sendo sincero, e talvez estava. Mas os dois eram como água e óleo, estavam na mesma fase da vida, mas não se misturavam. O coração até queria, mas a razão prevaleceu, não daria certo a mistura.

Uma amiga de Isa, a convidou para participar de um grupo nas redes sociais, para conhecer novas pessoas e assim afastar sua tristeza. Prontamente aceitou, afinal o que fazer em uma quarentena sem a família junto de si, sem trabalho e sem um amor para gostar.

Começou a se interessar pela informática, para afastar uma possível depressão por estar só. A quarentena foi péssima para alguns, mas para ela foi o melhor que podia acontecer.

Num dos grupos que participava havia pessoas que se tornaram interessantes. Havia um rapaz que chamou sua atenção, por terem muitas coisas em comum, era o Marcos, formado em Ciências econômicas.

Com as trocas de mensagens escritas e às vezes por áudio, Marcos confessou a ela que tinha uma voz sensual. Isso fez com que ela se sentisse lisonjeada.

Os dias se passaram, as conversas aumentaram. Após um período ela resolveu se afastar, as trocas de mensagens cessaram, e o medo tomou conta dela.

Meses se passaram e a quarentena continuava. Isa resolveu se reaproximar de Marcos. Aprendeu que a coragem não é a falta de medo, mas o triunfo sobre ele. A pessoa corajosa não é aquela que não sente medo, mas a que conquista esse medo. Não importa quantas vezes você caia, mas o mais importante é levantar-se.

Pensou: hoje estou renascendo.

Nessa pandemia estava se reencontrando, percebendo suas fraquezas, mas também seu lado positivo. As nossas vidas são como um ímã, que atraem ao seu lado, pessoas certas, no momento certo, e você precisa estar consciente disso e reconhecer.

Uma coisa ela percebeu. A pandemia estava lhe favorecendo.

Na semana que antecede o dia dos namorados, Isa resolveu fazer uma surpresa a Marcos. Para isso consultou o site de compras no seu computador.

Começaram a descobrir algo muito além de uma amizade. Mostrando mesmo que em tempos de pandemia, a felicidade pode ser encontrada.....

E assim Isa, sentiu-se novamente com vontade de viver de forma intensa, ela e Marcos...... 

 

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