A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

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quinta-feira, 18 de maio de 2017

Tem acento ou não tem acento?

Nova Gramática
Nova gramática ortografia brasileira reforma revisão ortográfica acordo ortográfico gramatical português língua portuguesa acentos acentuação
Acentos
1) Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói.
Antes
Atualmente
alcatéia
alcateia
diarréia
diarreia
epopéia
epopeia
estréia
estreia
idéia
ideia
lampréia
lampreia
mocréia
mocreia
moréia
moreia
odisséia
odisseia
panacéia
panaceia
andróide
androide
apóia
apoia
apóio
apoio
bóia
boia
clarabóia
claraboia
humanóide
humanoide
jibóia
jiboia
paranóia
paranoia
2) Permanece o acento nas palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis.
papéis, herói(s), troféu(s)
3) Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i ou u tônicos precedidos de ditongo.
Antes
Atualmente
baiúca
baiuca
feiúra
feiura
4) Permanece o acento nas palavras oxítonas terminadas em i ou u seguido de s.
tuiuiú(s), Piauí
5) Não se usa mais acento em palavras terminadas em eem e oo(s).
Antes
Atualmente
crêem
creem
lêem
leem
vêem
veem
abençôo
abençoo
perdôo
perdoo
vôo
voo
6) Acabou o acento diferencial nos seguintes pares:
·    pára/para
·    pêlo/pelo
·    pólo(s)/polo(s)
·    péla(s)/pela(s)
7) É facultativo o acento em fôrma/forma
8) Permanece o acento diferencial em pôde/pode para designar pretérito perfeito e presente do indicativo na terceira pessoa do singular.
9) Permanece o acento diferencial em pôr/por para designar verbo e preposição.
10) Permanece o acento diferencial para designar singular e plural em ter e vir e seus derivados (conter, deter, manter, reter, convir, intervir, advir etc.)
ela tem - elas têm
ele mantém - eles mantêm
11) Não se usa acento agudo no u tônico dos verbos arguir e redarguir no presente do indicativo:
tu arguis
ele argui
eles arguem
12) Os verbos terminados em guar e quar admitem duas pronúncias em algumas pessoas do presente do indicativo e do subjuntivo e no imperativo.
·    Se for pronunciado com a ou i tônicos: (mais corrente nos estados brasileiros)
enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam, enxágue, enxágues, enxáguem.
·    Se for pronunciado com u tônico:
enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam, enxague, enxagues, enxaguem.


Epopeia do pequeno Natan - Ana Catarina SantAnna Maues


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Epopeia do pequeno Natan
Ana Catarina SantAnna Maues

     O carregamento estava concluído. Vários animais de diferentes espécies seriam transportados para um bonito espaço e serviriam de atração aos futuros visitantes do local.  Arrumados em caixas sem muito conforto estavam, araras, periquitos, patos, gansos, uma cabra, um jumentinho, e alguns coelhos. A bicharada estava em polvorosa, cada um gritava mais alto que o outro. Na caixa dos coelhos, Natan era o mais animado, nada escapava a seus olhinhos curiosos e seu narizinho inquieto, viajava em companhia dos primos e agitado com tudo aquilo, pisava no pé de um, hora no pé de outro, que reclamavam e só silenciaram quando o caminhão deu partida e ali de dentro começaram a observar a paisagem que se descortinava para eles, pois deixavam a cidade,  com os prédios, carros e pedestres, avançando em direção a área rural, mudando por completo o visual.                                                                
           Chegando na autoestrada todo aquele verde tinha um cheiro especial, árvores enormes faziam sombra pelo caminho, ficando cada vez mais agradável tudo ao redor, a luminosidade branda, o vento fresquinho. Natan estava atento a tudo, vez por outra colocava o nariz pela fresta da espécie de gaiola e cheirava, e cheirava.  De repente o veículo fez uma curva e entrou numa estrada de terra, começando a   balançar muito quando o motorista desviava dos enormes buracos.  As caixas escorregavam de um lado para o outro, fazendo com que seus ilustres passageiros iniciassem novo alvoroço. Até que aconteceu algo terrível, o caminhão tombou derrubando tudo no chão. As caixas de transporte da cabra, jumento e patos, abriram com a queda, e os animais escaparam. Natan não tinha ideia do que sucedeu, só queria estar lá fora com eles  e por ser   magrinho  passou  por uma estreita  rachadura na caixa que o prendia. Solto apreciava a liberdade com cautela, em passos curtos afastava-se, desbravando os arredores, sem se importar com os apelos dos primos que ficaram presos.    
           Enveredou-se feliz mata  adentro.  Pegou confiança e corria e corria sem direção, extasiado. Passado algum tempo sentiu fome, e uma lembrança surgiu na mente. No seu pequeno mundo anterior não lhe faltavam cenouras, e agora perguntava-se, onde estariam?
      Próximo ao caminhão o motorista tratava de recolher os fujões. Deu falta de Natan, e como estratégia espalhou pedaços de cenouras para atraí-lo. Mas o tempo passou sem que ele retornasse. O socorro chegou e a bicharada seguiu viagem, deixando Natan para trás.

       A noite chegou rapidamente. Na mata Natan não encontrou cenouras, mas uns arbustos saborosos mataram sua fome. O cansaço o abateu,  agora precisava de um lugar quentinho pra dormir. Procurou por ali abrigo, entrou no buraco de uma árvore, mas foi expulso por uma família de esquilos. Andou mais um pouco e avistou uma caverna, ficou de longe analisando se havia algum morador, foi quando presenciou a revoada de morcegos gigantes, ele não sabia que eram morcegos, nunca havia visto aqueles bichos, eram milhares deles. Natan esperou e percebendo que não voltariam, entrou sem temor.  Estava dormindo relaxado quando sons estranhos vindos do céu escuro o acordaram, uma forte chuva caia com trovões e raios que clareavam o interior da caverna, nessa hora viu uma enorme sombra tomar conta de toda a entrada. Quem seria? Seus olhinhos nem piscavam, a sombra veio entrando lentamente e acomodou-se lá no fundo. Natan sentiu muito medo, não quis arriscar servir de alimento e saiu dali. Já do lado de fora os pingos gelados da tempestade ensoparam rapidamente seu pelo até então quentinho. Dormiu sem abrigo. Quando amanheceu ainda chovia, e ele novamente com fome lembrou das cenouras. Desta vez não queria os arbustos. Caminhou cheirando tudo por ali, e veio aproximando-se da estrada. Que alegria quando viu pedaços de sua comida preferida. Saboreou-os lembrando dos primos, a saudade invadiu seu coração. Ficou parado roendo e lembrando, do caminhão, da bicharada.  Ao longe vinha vindo o motorista, jogando migalhas de cenoura por onde passava, Natan o reconheceu, e correu para saudá-lo, não via a hora de reencontrar sua amada família.      

terça-feira, 16 de maio de 2017

QUE SUSTO! - Dinah Ribeiro de Amorim


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QUE SUSTO!
 Dinah Ribeiro de Amorim


  — Moço, o Senhor sabe onde moro? É que eu não sei!

   Perguntei aflito, aos quatro anos, ao dono da banca de peixes, na feira perto de casa.

  Insisti com mamãe que queria acompanhar Dorita nas compras da feira, prometendo não largar da mão dela, até chegar em casa. De tanto ouvir falar que na feira tinha muita novidade, frutas gostosas, fiquei curioso em conhecê-la, como se fosse um shopping ou loja de brinquedos.

Dorita levou uma lista de coisas para comprar e eu ia segurando na sua sacola para não me perder.

 Fiquei meio atrapalhado com tanta gente falando e caminhando, misturando frutas, verduras, dinheiro, sacolas, discutindo preços, vozes altas demais. Dorita sempre me olhando e avisando para não sair de perto dela. Grudei forte em sua sacola, mas era tanta gente empurrando, ora eu ia para um lado, ora para outro.

 De repente, passamos por uma senhora muito gorda, maior que a Dª Ivete, lavadeira lá de casa, e fui jogado para trás, soltando minha mão e perdendo Dorita de vista. Tentei encontrá-la,  mas não consegui. Feira é um lugar perigoso para crianças, pensei! A gente fácil, fácil, se perde.  Nem sei como voltar para casa. Tomara que ela esteja me procurando! Acho melhor ficar aqui, no canto, até ela me achar.

 Esperei um tempão, assustado, no meio de tanta gente estranha... Todos vinham falar comigo: “Que criança engraçadinha!” “ Cadê sua mãe!” “ Está perdido! “ Até que um menino grande, desses que ficam rondando por aí, aproximou-se de mim, querendo puxar papo. Fiquei com medo e me aproximei da primeira banca que encontrei, era o homem que vendia peixes. “Será que me ajudaria a chegar em casa!” Perguntei.

  Ele coçou a cabeça, alisou seus bigodes pretos com as mãos sujas de escamas e respondeu:

—Não sei onde mora, garoto, mas espera um pouco que vou chamar um guarda e ele logo acha quem trouxe você  aqui! Pegou um alto falante, barulhento demais e avisou que tinha um menino perdido na banca de peixes! Morri de vergonha e logo avistei Dorita, toda descabelada, afastando todo mundo e chegando até nós, desesperada.

— Onde se meteu, Jorginho! Sua mãe vai ficar louca comigo! Estou cansada de tanto procurá-lo, sem saber como fazer para encontrá-lo no meio de tanta gente.

  E eu, que nunca tinha me perdido antes, fiquei também sem saber como contar para mamãe o susto que passei e o que tinha realmente achado dessa bendita feira “perto” de casa!


 Com calma, mais tarde, mamãe achou melhor que eu andasse sempre com uma correntinha no pescoço, com nome e endereço gravado, quando saísse de casa com empregada, parecendo o cachorrinho de raça da vizinha, para não ser colocado na carrocinha. Desejei crescer logo! Não gostei muito de ser comparado ao cachorrinho. O melhor era não sair mais de casa! Por enquanto!

É difícil perdoar? - Hirtis Lazarin


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É difícil perdoar?
Hirtis Lazarin

          Cresceram juntos, na mesma rua, na mesma escola, na mesma classe.  Leo e Renato tornaram-se inseparáveis e cúmplices.  Nas coisas certas e nas molecagens.

          Tornaram-se hábeis em pular muros.  O preferido era o do orfanato, no horário em que as freiras e as internas se dedicavam às intermináveis orações matinais.

          O que os atraía era uma mangueira prodigiosa.  Seus galhos carregados de mangas, envergavam com o peso até alcançar o chão.  Era ali que os meninos faziam a festa.

          Uma vez por semana, no mínimo, iam à periferia da cidade.  Ruas sem calçamento e esburacadas eram perfeitas para o "rally" de bicicleta.  Não havia pneus que resistissem a tanto sofrimento.

          Nos estudos, as aptidões tomaram rumos diferentes. 

          Renato brincava com a matemática.  "Debaixo dos caracóis de seus cabelos" havia uma mente onde os números pipocavam.  O rapaz, com destreza, jogava-os pra cima, deixava outros caídos ao chão pedindo socorro, encaixava um "x" aqui, eliminava o "y" trapalhão, arredondava a raiz quadrada e a equação estava resolvida.  Seu jeito de lidar com as ciências exatas refletia no seu jeito de vestir.  Gostava de calça social, camisa bem passada e sapatos intocáveis no brilho.

          Leo era descolado.  Vivia de jeans desbotado, camiseta e tênis desamarrado.  Era o artesão das palavras.  Juntava palavras aqui, eliminava outras ali, encaixava algumas roubadas de Machado de Assis, copiava outras do vocabulário de Suassuna, inventava muitas inspirado em Guimarães Rosa.  Embaralhava estilos e no papel surgia uma obra de arte.  Houve tempo em que andava pra baixo e pra cima com Fernando Pessoa.  Deu pra escrever poesias.

          Os dois já rapazes, se complementavam como o côncavo e o convexo.  A lealdade entre os dois era coisa bonita de se ver.  A lealdade leva tempo pra se instalar.  Só acontece quando há verdade, entrega e sinceridade no relacionamento.

          Leo tornou-se responsável por uma coluna no jornal da cidade.  E, pra socorrer os pais em dificuldades financeiras, aceitou trabalhar num editora fazendo traduções do português para o inglês e vice-versa.

          Nesse período Leo afastou-se das festas e diversões e sobrava pouco tempo pra namorada Helena.  Era Renato quem, muitas e muitas vezes, acompanhava-a às festas.   A juventude quer a felicidade a qualquer custo.  Parece que o mundo está prestes a acabar.  Não há tempo pra perder.

          Bem, o tempo passou... As pessoas mudaram... A vida também.

          A situação financeira da família de Leo foi resgatada e ele, nos próximos dias, deixaria a editora pra cuidar da própria vida. No momento, o vestibular e a Helena eram sua prioridade.

          Enfim chegou o seu primeiro final de semana livre.  Sabia que Helena passaria alguns dias fora.  Procurou Renato e não o encontrou.  Ninguém sabia informar seu paradeiro.  Nem seus familiares.  Achou estranho. Um sempre sabia do outro.

          Uma semana inteira passou e Leo recebeu um postal.  Helena e Renato estavam juntos.  O convívio entre os dois foi transformando amizade em amor.  Foi evitado, negado, mas não teve jeito.  Aconteceu.  E era amor de verdade.  Foram leais e fiéis até quando deu.

          Difícil foi contar a verdade.

          Se a amizade vai continuar, não sabemos.  Só o tempo dirá.



BENDITA TRANSFORMAÇÃO! - (Amora)



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http://www.ninha.bio.br/biologia/borboletas.html



BENDITA TRANSFORMAÇÃO!
 (Amora)

Uma lagarta muito feia, escura  e espinhosa, caminha, lentamente, com suas pernas curtas, pelo jardim.

Encontra de repente, uma árvore de tronco largo, folhas e galhos verdinhos, apetitosa, resolvendo subir nela.

Escolhe um galho e lá permanece, iniciando seu casulo feito da baba que lhe escorre pela chamada boca!

Estando pronto, penetra nele permanecendo fechada e, escondida, como se estivesse morta.

Podia-se avistar um casulo marrom, pendurado no galho da árvore, por muitos dias! 

Vários meninos da redondeza atiram pedras nele, tentando acertá-lo. Felizmente, nenhum consegue.

Após vários dias, esse casulo arrebenta, aparecendo uma cabecinha, louca para sair. Vai quebrando-o aos poucos.

Quando se liberta totalmente, surge uma bela borboleta de asas coloridas, voando lindamente, cintilante ao sol. Rodeando a árvore e, alçando voo, para mais longe, baila, graciosamente, sobre as flores, enfeitando a paisagem!

Bendita transformação!

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Excesso de apego! - (Amora)


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Excesso de apego!
(Amora)


Ganhei um lindo vaso de porcelana chinesa, em meu aniversário, virando objeto de estimação.

Coloquei-o em cima de uma mesinha da sala e, como era uma antiguidade, chamou bastante a atenção.

No dia da faxina, Marlene, empregada de tantos anos, pegou-o meio sem jeito,  para tirar o pó!

Adverti-a que tomasse cuidado, pois era muito valioso e querido.

Não deu outra. Antes tivesse calado. Deixou-o escorregar e, meu vaso predileto, foi ao chão, quebrando-se todo.

Eu fiquei com muita raiva na hora, e, ela, bastante assustada!

Queria comprar outro e colocar no lugar, mas dei uma risada nervosa, sabendo que nunca poderia substitui-lo.

Mandei-a embora, na hora, arrependendo-me depois.

Essas coisas acontecem! Foi excesso de apego meu, despedindo uma auxiliar de confiança por causa, apenas, de um vaso!


Fiquei meio triste, no íntimo, mas ... Um vaso! Que grande importância tem?...

O prefeito.- (Amora)


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O prefeito.
(Amora)

Tibério, filho de importante fazendeiro da região, mimado e caprichoso, aprontava, desde cedo, muita traquinagem na pequena cidade de Ventura, onde vivia.

Cercado de amigos que o seguiam nas malandragens, compartilhando defeitos e males que, muitas vezes, causavam. Foi crescendo e desenvolvendo personalidade fria e calculista.

Mandão, temido pelos moradores da região, era obedecido em qualquer tipo de  ordenança!

Com a morte do pai, envelhecido prematuramente de desgosto pelo filho que criara, Tibério tornou-se praticamente o senhor da cidade, fazendeiro rico e importante, o coronel, como o chamavam os mais antigos.

Ambicioso, louco por aumentar seu patrimônio, Tibério resolveu comprar as pequenas fazendas do entorno.  Eram vizinhos antigos, amigos do seu pai, que não aprovavam os métodos de enriquecimento do jovem, e  enraivecidos  negaram-se a vender-lhe seus bens.  

Para força-los inventou de candidatar-se a prefeito de Ventura, sondando alguma lei que os obrigasse a vendê-las.

Auxiliado pelos falsos amigos, gananciosos como ele, fez grande campanha eleitoral e, ganhou a eleição para prefeito, afastando o antigo Dr. Honório eleito e reeleito, várias vezes.

Assim que tomou posse, cercado de capangas e amigos corruptos, como ele, inventou que iriam construir uma estrada de rodagem, de grande importância, passando justamente nas terras que ele tinha interesse.  Dessa maneira seriam obrigados a vendê-las por um preço mínimo, como benfeitoria à cidade. Era projeto do Governador do Estado! – argumentava ele.  Teriam que acatar.

Desgostosos, os fazendeiros consultavam-se  sobre o que fazer, diante de tal ordem, dada por tal prefeito, conhecedores que eram de suas habilidades para o mal.
Uma nova estrada seria muito boa para Ventura, aumentaria o fluxo  comercial, traria facilidades de transporte, mas, e eles, como ficariam! Empobrecidos, sem herança aos filhos, sem capacidade de se manterem. Só sabiam lidar com fazendas e gado!

Um deles, mais instruído,  resolve ir até o Governador do Estado, sondar de onde viria o dinheiro para o projeto da rodovia. Quem tivera dado esta ordem! 

Fica sabendo pelo Governador, Dr. Dantas,  conhecido pela honestidade, que não havia verba destinada para tal empreendimento. Ao contrário, a cidade de Ventura era pobre, contribuindo para o Estado com pequena produção de leite e  carne que enviava às outras regiões. No momento, tal construção seria inviável ao Estado. O venturense enfureceu-se com as bravatas de Tibério, e ali mesmo viu o Governador  tomar uma decisão,  mandando ao prefeito, Tibério, uma intimação para comparecer à sede do governo para prestar declarações. Não se brinca com o dinheiro público nem com as mentiras ordenadas ao povo!

E assim, desacreditado, chamado de mentiroso, Tibério, amedrontado, fica obrigado a deixar a prefeitura, passar seu cargo ao vice-prefeito, da oposição, retirando-se à sua fazenda e ainda respondendo a um processo por calúnia!

Desgostoso, lembrou-se, pela primeira vez, da responsabilidade e caráter que tinha seu pai.  


Sorte ou proteção divina! - (Amora)


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Sorte ou proteção divina!
(Amora)


Mário, homem trabalhador, é mandado embora do emprego de tantos anos, por falência da firma.

Entristecido, percorre várias outras, consulta jornais, tudo que falasse sobre “procura-se”! Envia currículo de contador e aguarda respostas, ansiosamente!
Com o tempo, nada surgindo, a situação familiar também vai deteriorando, muitas brigas com esposa e filhos, terminando por ficar só.

Sua angústia vira forte depressão, culminando com uma ideia fixa: o suicídio! Desistiria de viver.

Escolhe uma ponte bem alta da cidade e, subindo no parapeito, atira-se para as profundezas do rio. 

Não cai na água, mas dentro do convés de um barco que, por ali navegava, assustando muito o pescador Pedro, que voltava para casa.

Com muita raiva, Mário ergue-se e faz menção de atirar-se n’água, firme na sua vontade.

É impedido por Pedro que, segurando-o inibe o movimento. Através de uma boa conversa, é dissuadido pelo pescador, que tenta animá-lo, acabar com essa ideia, recomeçar a viver.  Seria, no momento, seu auxiliar, pois com a velhice chegando, o trabalho estava muito cansativo.

Assim Mário renasce para a vida, entre rios, mares, peixes, a calmaria das águas e da natureza, que tanto lhe faltava!

             

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Marilda - Christianne Vieira


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Marilda
Christianne Vieira

O Sol  estava alto, Marilda vinha caminhando a passos largos pela calcada,  preocupações assolavam sua mente. Com certeza seria um dia complicado, teria que escolher sobre qual caminho deveria seguir dali para frente. Mudar de cidade, e trabalho era uma atitude bem radical e definitiva. Não se sentia confortável, seus instintos a alertavam que não seria feliz. Mas, se comprometera com Henrique, seu noivo, ele seria transferido.

Pensava enquanto caminhava. Como poderia dizer não a ele?! Eles namoravam há cinco anos, fizeram muitos planos. Num passe de mágica haviam desparecido. Perguntava-se se realmente o amava? Talvez estivesse acostumada, desde que esse assunto rondava seus dias, ela vivia tensa, e as noites mal dormidas, pioravam ainda mais seu humor.

Marilda se sentia desanimada, ainda mais por ter guardado um segredo sobre sua origem.  Sabia que não conseguiria enganá-los para sempre. Quanto mais se aproximava, seu possível casamento, inevitavelmente teria que contar a verdade.

Sabia que tinha sido fútil, e desonesta, ao esconder sua historia, mas depois de tantos anos, como poderia contar?

Sempre que falava de seus pais, dizia que estavam viajando para o exterior, montara um  álbum de fotos, de uma vida que não era a sua.

Ele acreditou nas mentiras dela, por terem amigos  parecidos, que mal tinham contato com seus  filhos. Naquele  mundo artificial, tudo era possível. As mentiras se avolumaram de uma forma, que não  tinha como voltar atrás.

No ultimo mês, conhecera Raul, seu colega de trabalho,  a amizade entre eles se estreitara devido ao projeto que comandavam juntos. Ela o achava envolvente, bonito, pensava que ao seu lado sua vida poderia ser mais dinâmica  e divertida. Há algum tempo estava entediada. Os dias sempre iguais e monótonos, Henrique sempre se dizia cansado, sem disposição, não saiam juntos, ou faziam algo interessante, como ir ao teatro ou assistir a um bom filme.

Durante os almoços  com o  Raul, seus olhos brilhavam ao escutar o que fizera no fim de semana, sua vida era muitos mais emocionante. Mas ela não, ela teria que se mudar para Rondônia, lhe parecia o fim do mundo, seria ainda mais infeliz.  A aproximação com o Raul lhe deixara com muitas duvidas sobre a sua vida.

Conhecer  Raul, parecia uma oportunidade de recomeçar uma nova vida longe de tudo isso, sem mentiras. Ele era uma pessoa simples, com uma vida parecida com a dela. Teria a chance de ser ela mesma.

Aproveitando da situação que se encontrava, deveria romper com Henrique, culpando a transferência de cidade, ou talvez, mesmo sendo cruel, dizer que havia conhecido outro homem. O que em parte era a verdade.

De qualquer forma, ela o magoaria, e tinha que se preparar para isso. Combinaram de se encontrar a tarde. Ele muito empolgado pela oportunidade no  trabalho, discorria seus planos, sobre a mudança , e o casamento, Marilda, estava atônita, não sabia o que responder. Tentava em vão mudar de assunto, Ela ao contrario, sentia dor no estomago, enxaqueca, um mal estar generalizado.

Disse que precisava descansar, Henrique estranhou os constantes desencontros, e sentia que alguma coisa ela devia estar escondendo. Perguntou se ela precisava de ajuda, e como ela disse que não, foi para casa aborrecido.

Durante mais uma noite de insônia, Marilda resolveu que logo pela manha, resolveria a situação.

Ligou logo cedo para Henrique e disse que gostaria de falar com ele na hora do almoço, pediu para ele ver a sua agenda e retornar assim que pudesse.

Ele foi buscá-la, e durante o trajeto até o restaurante, ela foi dizendo que não andava bem, e que estava pensando em adiar o casamento. Henrique parou o carro na primeira vaga que encontrou, estava indignado, de forma muito grosseira, perguntou se era brincadeira?

Marilda, encolhida atrás de sua vergonha, disse que não, não era uma brincadeira, havia tomado uma decisão, que há muito tempo deveria ter sido tomada.

Abriu a porta, energicamente, e  a bateu  com forca, saiu andando rapidamente pela calçada, sem olhar para trás. Nos dias seguintes, não atendeu as ligações dele, bloqueou seu contato.

Henrique, estranhando tais atitudes, foi esperá-la na saída do trabalho, quando então a viu conversando sorridente com Raul.

Sem que ela o visse, saiu apressado, entrou no  carro e partiu em disparada. Quando ao virar a rua deu com um caminhão carregado, e em instantes, seu mundo se apagou.

Foi  um grande acidente. Levado pelo pelos socorristas ao hospital mais próximo,  lá permaneceu inconsciente, na UTI. Sua família foi avisada. Abalados, permaneceram no saguão aguardando o boletim médico, ou informações a seu respeito.

Ao amanhecer ligaram para Marilda contando sobre o acidente, ela imediatamente se encaminhou para o hospital, tomada de culpa, não conseguia  dizer nada. Henrique continuou em estado, vegetativo durante muitos meses, os médicos não sabiam como, ou quando ele se recuperaria.


A partir deste dia, ela se apagara para o mundo, apenas cumpria suas atividades básicas, e rezava muito, para que nunca ninguém soubesse o que de fato ocorrera. Sentia-se uma pessoa péssima, em seu intimo, imaginava o que acontecera, pela proximidade de seu trabalho e o horário do acidente. Fora longe demais, suas mentiras, e sua ganancia  haviam acabado com a vida de seu noivo, que durante aqueles cinco anos, estivera ao seu lado.

Uma pessoa do mal - Henrique Schnaider


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Uma pessoa do mal
Henrique Schnaider

Hildebrando nasceu como algumas crianças nordestinas em uma família abastada, filho de um Coronel, destes que, mandar matar era quase como um habito diário. O menino cresceu observando todas as maldades que o pai cometia, inclusive a forma como tratava seus empregados, verdadeiros escravos.

Certo dia Brando estava cavalgando, e mesmo sentindo a respiração apressada do animal, não estava satisfeito, e já demonstrando o que aprendera com o velho Coronel,  rolava as esporas de sua bota na barriga da égua que toda ligeirinha relinchava e não gostava daquela situação desagradável.

De repente Brando ouve barulho na mata e gritos desesperados. Freou o cavalo e cheio de curiosidade aproximou-se vagarosamente, procurando não fazer barulho para não chamar atenção. Sentiu um frio na barriga, pressentindo o que iria presenciar. O suor escorria pelo seu rosto e costas, tal a ansiedade de decifrar os gritos horrorizados que ouvia. De repente deu de cara com o capataz Tibúrcio que usava um motosserra para esquartejar vivo Antônio de Jesus vizinho da fazenda, que teria se recusado a vender o pequeno sitio onde tinha uma plantação de mandioca, para seu pai que pretendia aumentar a propriedade.  

Estranhamente, o rapaz não sentiu pena do pobre Antônio que estrebuchava dando os últimos suspiros antes da morte, pelo contrario, sentiu certo prazer sádico ao presenciar aquela cena pavorosa. O sangue, os gritos, a morte com a motosserra, tudo lhe dava prazer. Uma indecifrável alegria o dominou. Teve uma vontade incontrolável de algum dia cometer essa mesma barbaridade com suas próprias mãos. Brando olhava para Tibúrcio que sorria não demonstrando o menor arrependimento da barbárie que acabara de cometer,  aliás, possuía o olhar frio de um assassino sanguinário.

Hildebrando Paschoal tornou-se um adulto inescrupuloso como era de esperar. E, por desejo de seu pai, entrou na politica e não demorou muito tempo para que realizasse seu desejo íntimo e há tanto tempo acalentado.

A política de Cabrobó dos Montes era dominada por duas famílias, Oliveira e os Paschoal sendo que ao longo de tantos anos os assassinatos ocorriam entre as duas famílias.

Brando candidatou-se a Prefeito nas eleições daquele ano,  tendo como concorrente João Oliveira, o que demonstrava que agora as duas famílias mais ricas do lugar não disputariam apenas propriedades e dinheiro, mas também poder político.  

A disputa estava extremante acirrada,  cada vez mais inimizando Paschoal e Oliveira. Na cabeça de Brando começou a se repetira ideia alimentada desde garoto, pois matar alguém com a motosserra era ainda seu maior desejo. Começou a traçar um plano que julgava infalível,  tratava-se de uma tocaia para esquartejar seu concorrente João Oliveira. Naquela semana nenhum outro assunto o tocava, nada lhe atraía mais que planejar sua realização. Até que chegou o dia em que tudo poderia dar certo. Pegou o velho motosserra.  de seu pai, lubrificou-a enquanto matutava e sorria. Depois seguiu para o ponto de encontro,  e pôs-se aguardando escondido na estrada vazia, onde sabia que seu inimigo passaria.



João surgiu na curva empoeirada, estava sozinho, como sempre fazia. Tinha na cabeça as eleições que estavam por alguns dias. Tinha como certa sua vitória, pensava enquanto abria um sorriso plano. Vinha montado num trote lento completamente distraído sem ver nada a sua volta. Nem percebeu o inimigo por perto. Brando  aproveitando-se da absorção de Oliveira, rendeu-o  obrigando-o a ir para a mata fechada, lugar que bem conhecia desde quando assistiu o serviço de Tibúrcio, e lá sob o silêncio das copas, praticou o bárbaro crime matando seu concorrente com a motosserra, tendo assim realizado o maléfico sonho de muitos anos.

Sem ninguém para opor a ele, Hildebrando Paschoal ganhou a eleição daquele ano,  e exerceu sua gestão a ferro e fogo eliminando todos os inimigos que se interpunham no caminho.

Sua carreira foi meteórica e logo foi eleito Deputado Federal, cargo em que se deu muito bem, já que o ambiente no Congresso Nacional é propício para todo tipo de politico.

Chegou facilmente a Presidência da Câmara e cometeu todos os tipos de barbaridades que se possa imaginar para chegar onde queria:  intimidou parlamentares e empresários, corrompeu, chantageou, e assassinou.

Mas Brando não contava com inimigos no Congresso, tão ou mais criminosos que ele. E, finalmente, fez-se a Justiça ainda que por vias tortas, Hildebrando Paschoal foi desmascarado, cassado, preso julgado e condenado.


Atualmente depois de longos quinze anos de prisão, conseguiu direito a prisão domiciliar e passa seus últimos dias de vida em casa sofrendo de um câncer incurável.       

Sonho não realizado - Henrique Schnaider


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Sonho não realizado
Henrique Schnaider



Sempre sonhei que algum dia na minha vida conseguiria ser um ator famoso, e para isto segui o caminho que todos sonhadores como eu  fazem, ou seja, matricular-se na Escola Estadual de Teatro.

No meu caso, porém, havia um problema que todos os jovens de família pobre passam, ou seja, nem eu nem meu pai, tínhamos dinheiro para bancar o curso de teatro.

Comecei a procurar um trabalho que me proporcionasse renda, com a qual pudesse seguir em frente com o meu sonho de ser ator.

Passei por vários empregos, mas não conseguia adquirir estabilidade devido a minha falta de experiência e dessa maneira o tempo passando e eu adiando o inicio dos meus estudos de dramatização.

Quando finalmente consegui um bom emprego, logo percebi que era muito eficiente naquilo que fazia. Vi aos poucos as tarefas sendo realizadas com certa facilidade e dinamismo, o que chamou atenção do gerente do departamento. Não demorou muito para que nova oportunidade batesse à minha porta. Chegou-me a proposta de que a empresa patrocinaria meus estudos desde que eu firmasse acordo de estabilidade, o que para mim seria muito bom.  Assim que aceitei a proposta, logo me veio uma promoção em que passava de simples funcionário a encarregado de departamento.

E iniciei meu tão sonhado curso de ator, que me levava a um mundo totalmente diferente do que eu vivia.

Durante três anos, batalhei duramente, não fraquejando em nenhum momento tanto no meu trabalho como na  Escola de teatro.

Aprendi muita coisa durante este período em que frequentei as aulas e muitos métodos de teatralização do famoso Stanislavski, sendo o mais utilizado e passando por Samuel Bekett, não deixando ver Grotovski e muita aula de psicodrama.

Com os personagens que aprendi a representar, me permiti um grande enriquecimento cultural. Conheci pessoas incríveis, todas com o mesmo objetivo de atingir a gloria.

Neste ínterim recebi mais uma promoção na Empresa me deixando num cargo de muita responsabilidade.

Findo o curso passei por várias experiências interessantes, apresentações em cidades do interior, teatros de circos mambembes.

Minha vida seguia certa rotina, até que um dia uma pessoa que assistia minha apresentação me convidou para um teste em um estúdio para participar de uma novela como personagem secundário, fato este que para mim já seria algo fantástico.

Finalmente começaram as gravações e fui tão bem e para minha enorme surpresa, o diretor da novela, gostou tanto de minha participação e acabou me convidando para ser o ator protagonista.

Foi grande o meu sucesso e tinha tudo para seguir uma carreira de glorias.

Até que um novo caminho me foi apresentado nesta fase da vida.

Há anos trabalhando na mesma empresa fui galgando cargos de confiança até atingir o nível de Diretor. E numa manhã o Presidente do Grupo Empresarial me chamou para uma conversa particular que marcou minha vida para sempre. Ele simplesmente propôs a Vice Presidência de um dos maiores Grupos Empresariais do Brasil.  E ainda completou dizendo que, como não possuía herdeiros, eu seria o próximo Presidente no momento em que se afastasse das atividades. Era realmente uma proposta para a qual não se diz não. E ainda mais, fiquei soberbamente orgulhoso em saber que era tido em boa conta pelo dono da empresa. Aceitei sem relutar.


Hoje posso dizer que continuo a ser um ator frustrado, mas o Presidente de um grupo gigante industrial e totalmente realizado na profissão,  e confesso que não me arrependi da decisão que tomei.   

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