A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Marilda - Christianne Vieira


Imagem relacionada

Marilda
Christianne Vieira

O Sol  estava alto, Marilda vinha caminhando a passos largos pela calcada,  preocupações assolavam sua mente. Com certeza seria um dia complicado, teria que escolher sobre qual caminho deveria seguir dali para frente. Mudar de cidade, e trabalho era uma atitude bem radical e definitiva. Não se sentia confortável, seus instintos a alertavam que não seria feliz. Mas, se comprometera com Henrique, seu noivo, ele seria transferido.

Pensava enquanto caminhava. Como poderia dizer não a ele?! Eles namoravam há cinco anos, fizeram muitos planos. Num passe de mágica haviam desparecido. Perguntava-se se realmente o amava? Talvez estivesse acostumada, desde que esse assunto rondava seus dias, ela vivia tensa, e as noites mal dormidas, pioravam ainda mais seu humor.

Marilda se sentia desanimada, ainda mais por ter guardado um segredo sobre sua origem.  Sabia que não conseguiria enganá-los para sempre. Quanto mais se aproximava, seu possível casamento, inevitavelmente teria que contar a verdade.

Sabia que tinha sido fútil, e desonesta, ao esconder sua historia, mas depois de tantos anos, como poderia contar?

Sempre que falava de seus pais, dizia que estavam viajando para o exterior, montara um  álbum de fotos, de uma vida que não era a sua.

Ele acreditou nas mentiras dela, por terem amigos  parecidos, que mal tinham contato com seus  filhos. Naquele  mundo artificial, tudo era possível. As mentiras se avolumaram de uma forma, que não  tinha como voltar atrás.

No ultimo mês, conhecera Raul, seu colega de trabalho,  a amizade entre eles se estreitara devido ao projeto que comandavam juntos. Ela o achava envolvente, bonito, pensava que ao seu lado sua vida poderia ser mais dinâmica  e divertida. Há algum tempo estava entediada. Os dias sempre iguais e monótonos, Henrique sempre se dizia cansado, sem disposição, não saiam juntos, ou faziam algo interessante, como ir ao teatro ou assistir a um bom filme.

Durante os almoços  com o  Raul, seus olhos brilhavam ao escutar o que fizera no fim de semana, sua vida era muitos mais emocionante. Mas ela não, ela teria que se mudar para Rondônia, lhe parecia o fim do mundo, seria ainda mais infeliz.  A aproximação com o Raul lhe deixara com muitas duvidas sobre a sua vida.

Conhecer  Raul, parecia uma oportunidade de recomeçar uma nova vida longe de tudo isso, sem mentiras. Ele era uma pessoa simples, com uma vida parecida com a dela. Teria a chance de ser ela mesma.

Aproveitando da situação que se encontrava, deveria romper com Henrique, culpando a transferência de cidade, ou talvez, mesmo sendo cruel, dizer que havia conhecido outro homem. O que em parte era a verdade.

De qualquer forma, ela o magoaria, e tinha que se preparar para isso. Combinaram de se encontrar a tarde. Ele muito empolgado pela oportunidade no  trabalho, discorria seus planos, sobre a mudança , e o casamento, Marilda, estava atônita, não sabia o que responder. Tentava em vão mudar de assunto, Ela ao contrario, sentia dor no estomago, enxaqueca, um mal estar generalizado.

Disse que precisava descansar, Henrique estranhou os constantes desencontros, e sentia que alguma coisa ela devia estar escondendo. Perguntou se ela precisava de ajuda, e como ela disse que não, foi para casa aborrecido.

Durante mais uma noite de insônia, Marilda resolveu que logo pela manha, resolveria a situação.

Ligou logo cedo para Henrique e disse que gostaria de falar com ele na hora do almoço, pediu para ele ver a sua agenda e retornar assim que pudesse.

Ele foi buscá-la, e durante o trajeto até o restaurante, ela foi dizendo que não andava bem, e que estava pensando em adiar o casamento. Henrique parou o carro na primeira vaga que encontrou, estava indignado, de forma muito grosseira, perguntou se era brincadeira?

Marilda, encolhida atrás de sua vergonha, disse que não, não era uma brincadeira, havia tomado uma decisão, que há muito tempo deveria ter sido tomada.

Abriu a porta, energicamente, e  a bateu  com forca, saiu andando rapidamente pela calçada, sem olhar para trás. Nos dias seguintes, não atendeu as ligações dele, bloqueou seu contato.

Henrique, estranhando tais atitudes, foi esperá-la na saída do trabalho, quando então a viu conversando sorridente com Raul.

Sem que ela o visse, saiu apressado, entrou no  carro e partiu em disparada. Quando ao virar a rua deu com um caminhão carregado, e em instantes, seu mundo se apagou.

Foi  um grande acidente. Levado pelo pelos socorristas ao hospital mais próximo,  lá permaneceu inconsciente, na UTI. Sua família foi avisada. Abalados, permaneceram no saguão aguardando o boletim médico, ou informações a seu respeito.

Ao amanhecer ligaram para Marilda contando sobre o acidente, ela imediatamente se encaminhou para o hospital, tomada de culpa, não conseguia  dizer nada. Henrique continuou em estado, vegetativo durante muitos meses, os médicos não sabiam como, ou quando ele se recuperaria.


A partir deste dia, ela se apagara para o mundo, apenas cumpria suas atividades básicas, e rezava muito, para que nunca ninguém soubesse o que de fato ocorrera. Sentia-se uma pessoa péssima, em seu intimo, imaginava o que acontecera, pela proximidade de seu trabalho e o horário do acidente. Fora longe demais, suas mentiras, e sua ganancia  haviam acabado com a vida de seu noivo, que durante aqueles cinco anos, estivera ao seu lado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

Quem era ela? - Hirtis Lazarin

  Quem era ela? Hirtis Lazarin     A rua já estava quase deserta. Já se ouvia o cri-cri-lar dos grilos. A lua iluminava só um tantin...