Epopeia do pequeno Natan
Ana Catarina SantAnna Maues
O carregamento estava
concluído. Vários animais de diferentes espécies seriam transportados para um
bonito espaço e serviriam de atração aos futuros visitantes do local. Arrumados em caixas sem muito conforto
estavam, araras, periquitos, patos, gansos, uma cabra, um jumentinho, e alguns
coelhos. A bicharada estava em polvorosa, cada um gritava mais alto que o
outro. Na caixa dos coelhos, Natan era o mais animado, nada escapava a seus
olhinhos curiosos e seu narizinho inquieto, viajava em companhia dos primos e
agitado com tudo aquilo, pisava no pé de um, hora no pé de outro, que
reclamavam e só silenciaram quando o caminhão deu partida e ali de dentro
começaram a observar a paisagem que se descortinava para eles, pois deixavam a
cidade, com os prédios, carros e
pedestres, avançando em direção a área rural, mudando por completo o
visual.
Chegando na autoestrada
todo aquele verde tinha um cheiro especial, árvores enormes faziam sombra pelo
caminho, ficando cada vez mais agradável tudo ao redor, a luminosidade branda,
o vento fresquinho. Natan estava atento a tudo, vez por outra colocava o nariz
pela fresta da espécie de gaiola e cheirava, e cheirava. De repente o veículo fez uma curva e entrou
numa estrada de terra, começando a
balançar muito quando o motorista desviava dos enormes buracos. As caixas escorregavam de um lado para o
outro, fazendo com que seus ilustres passageiros iniciassem novo alvoroço. Até
que aconteceu algo terrível, o caminhão tombou derrubando tudo no chão. As
caixas de transporte da cabra, jumento e patos, abriram com a queda, e os
animais escaparam. Natan não tinha ideia do que sucedeu, só queria estar lá
fora com eles e por ser magrinho
passou por uma estreita rachadura na caixa que o prendia. Solto apreciava
a liberdade com cautela, em passos curtos afastava-se, desbravando os
arredores, sem se importar com os apelos dos primos que ficaram presos.
Enveredou-se feliz mata
adentro. Pegou confiança e corria e corria sem direção,
extasiado. Passado algum tempo sentiu fome, e uma lembrança surgiu na mente. No
seu pequeno mundo anterior não lhe faltavam cenouras, e agora perguntava-se,
onde estariam?
Próximo ao caminhão o
motorista tratava de recolher os fujões. Deu falta de Natan, e como estratégia
espalhou pedaços de cenouras para atraí-lo. Mas o tempo passou sem que ele
retornasse. O socorro chegou e a bicharada seguiu viagem, deixando Natan para
trás.
A noite chegou rapidamente.
Na mata Natan não encontrou cenouras, mas uns arbustos saborosos mataram sua
fome. O cansaço o abateu, agora
precisava de um lugar quentinho pra dormir. Procurou por ali abrigo, entrou no
buraco de uma árvore, mas foi expulso por uma família de esquilos. Andou mais
um pouco e avistou uma caverna, ficou de longe analisando se havia algum
morador, foi quando presenciou a revoada de morcegos gigantes, ele não sabia
que eram morcegos, nunca havia visto aqueles bichos, eram milhares deles. Natan
esperou e percebendo que não voltariam, entrou sem temor. Estava dormindo relaxado quando sons
estranhos vindos do céu escuro o acordaram, uma forte chuva caia com trovões e
raios que clareavam o interior da caverna, nessa hora viu uma enorme sombra
tomar conta de toda a entrada. Quem seria? Seus olhinhos nem piscavam, a sombra
veio entrando lentamente e acomodou-se lá no fundo. Natan sentiu muito medo,
não quis arriscar servir de alimento e saiu dali. Já do lado de fora os pingos
gelados da tempestade ensoparam rapidamente seu pelo até então quentinho.
Dormiu sem abrigo. Quando amanheceu ainda chovia, e ele novamente com fome
lembrou das cenouras. Desta vez não queria os arbustos. Caminhou cheirando tudo
por ali, e veio aproximando-se da estrada. Que alegria quando viu pedaços de
sua comida preferida. Saboreou-os lembrando dos primos, a saudade invadiu seu
coração. Ficou parado roendo e lembrando, do caminhão, da bicharada. Ao longe vinha vindo o motorista, jogando
migalhas de cenoura por onde passava, Natan o reconheceu, e correu para
saudá-lo, não via a hora de reencontrar sua amada família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.