Amizade
x Traição
HIRTIS LAZARIN
Eu
sou o último sobrevivente de uma caixa com doze garrafas. Produto de excelentíssima
qualidade, impecável na cor, aroma e paladar. Somos compartilhados com pessoas
de alto nível na sociedade. Gente poderosa e exigente.
A
família me ofereceu num jantar servido numa mesa clássica e versátil, onde
brilhavam castiçais de prata, rodeados de arranjo com lírios e alecrim.
A
comida estava tão boa quanto deveria estar, mas nem tudo aconteceu como deveria
acontecer. Então, vamos lá…
Todos
se foram. Só sobrou ele. Debruçado sobre a mesa, parece dormir. Da sua boca
escorre um fiapo de baba avermelhada, misturada a palavras desconexas.
Você
sabia que o vinho fala e tem língua solta? Observe o bêbado do buteco, o
convidado indesejado, o santo bobo da corte.
O
vinho é um ventríloquo e tem um milhão de vozes. Solta a língua, arrancando
segredos que você nem nunca quis contar, segredos que você nem sequer sabia.
O
vinho grita, vocifera, sussurra e muitas vezes chora. Fala de grandes planos,
amores perdidos, terríveis traições. Ele gargalha aos berros. Ele dá risadinhas
para si mesmo.
“Cuidado
comigo! Eu posso ser amigo ou traiçoeiro”.
Parafraseando
“O Pensador”:
A primeira
taça de vinho é por desejo…
A
segunda, porque o vinho é do Alentejo…
A
terceira, por simples e puro prazer…
A
quarta, porque não tinha mais nada a fazer…
A quinta… como é que eu vou saber!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.