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quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Teodora - Hirtis Lazarin

 

 


Teodora   

Hirtis Lazarin 

 

Os galhos do majestoso flamboyant estão  esqueléticos, quase nus. 

O vento se incumbe de espalhar o cheiro suave e melancólico das folhas amarelecidas pelo outono. Num voo preguiçoso e silencioso, elas se acomodam, desordenadamente, pelo jardim da pequena casa construída ao fundo do terreno. E atapetam o piso da varanda pequena que tem samambaias de metro pendentes do teto. Cortina e um verde feliz. 

A casa é antiga, mas o frescor da tinta branca que a reveste, ressalta o primor e o zelo de quem lá morava. 

Era ali, nessa varanda, que Teodora, numa cadeira de balanço, passava seus finais de tarde.

As pernas já não caminhavam mais e os olhos embaçados tentavam ler as poesias que escrevera e preenchiam dezenas e dezenas de folhas do caderno todo enrugado pelo uso e pelo tempo. Com dificuldade trocava os versos de lugar e as rimas não mais rimavam com a perfeição de outrora.

Eu fingia que tudo era tão perfeito só pra vê-la sorrir, um sorriso silencioso, mas que eu entendia vir lá da profundeza de sua alma poética. Ela confiava em mim.

Há dez anos, na biblioteca da faculdade, abaixei-me pra apanhar os óculos que escaparam das mãos de uma senhorinha de cabelos brancos. Estava cercada de tantos livros abertos e esparramados sobre a mesa que não sobrava espaço nem pra uma agulha.  À primeira vista, uma “louquinha” perdida no mundo das letras. 

Mas, algumas palavras cordiais e alguns segundos bastaram pra eu entrar em sintonia com aquela senhora. Inexplicável porque sempre fui tímida, introvertida e muito fechada a novos amigos.

Encontrei uma amiga pra beber cerveja em tardes de verão, apreciar um bom vinho em noites frias e analisar um livro de autor desconhecido. E por que não rabiscar poesias?

Dividíamos também todas as tristezas, sem economia nas palavras de conforto.  Sempre juntas, encontrávamos solução aos problemas.

Ela amou calorosamente, mas não se casou. Seu amor ao estudo era tão grande que não poderia ser substituído por um casamento.

Faz uma semana que Teodora me deixou. O vazio da sua ausência desarranjou minha realidade. Não me preparei pra perdê-la.

Sinto saudades do seu abraço que me acolhia com a calmaria azul das águas, rio abaixo. Era gostoso, tinha gosto de um amanhecer ensolarado.

 

 

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