Às
avessas dos olhos
Pedro
Henrique
Ouço emergir do canto os perversos
espinhos que penetram minha alma com a fervura de um passado há muito
defenestrado.
A cada nota retorno ao
antigo porão onde fui coroada pela amargura de se seguir os dias sentindo o
desprazer de ser preenchida com vida.
Pois quando minha memória
é arrastada aquele lugar, não vislumbro se não um desejo hercúleo de beber o
cálice da morte.
Digo a ti caro leitor, que
quando criança saia para brincar com meus amigos da rua de todos os piques. Era
uma espécie de apogeu da felicidade aqueles momentos que foram, com o tempo,
dados para os pássaros comerem.
Eram tantas e tantas
brincadeiras. Pular corda era a minha única preocupação ao chegar à escola. Eu
só queria deleitar-me no olhar aprazível e confortável da boca da infância onde
jazia o amor e a pureza.
Porém, ao chegar em casa,
o que me esperava era um porão sujo, fedido e escuro.
Vovó dizia que lá era o lugar onde meninas más deveriam ficar.
Perguntava-me se eu detinha em mim o próprio inferno, pois dormir com os ratos
não é um castigo, é ser empurrada ao abismo da condenação peremptória de seus
atos e tudo isso por um belo dia ou um triste dia ter jogado mamãe do alto do
nosso terraço.
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