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quinta-feira, 4 de junho de 2020

MINHA PREFERÊNCIA - Do Carmo



Cestas de Café da Manhã, Chocolate, Doces e Salgados - Página ...


MINHA PREFERÊNCIA
Do Carmo



Eu sempre preferi salgadinho a doce. E graças a essa preferência, fiquei amiga de um famoso vendedor ambulante que ficava borboleteando a Secretaria de Estado em que eu trabalhava, nas horas críticas da fome. Sempre no horário da saída para o almoço e no final do expediente.

Seus quitutes, realmente, eram pedaços de céu quentinho. Para meu desespero, nunca deixei de comprá-los, fingia ser a Olivia Palito e comia.

Já se havia tornado hábito eu encomendar salgadinhos no almoço e pegá-los ao final do dia e levá-los para casa, além dos devorados na hora.

Certa vez, um vendedor desconhecido, estava no lugar do senhor João, com o qual já tínhamos amizade de querência, como ele dizia.

Curiosa perguntei:

- O senhor João não veio hoje? O senhor o está substituindo? O que aconteceu para ele não vir?

Simplesmente respondeu:

- Aquele velhaco está onde deveria estar a muito tempo. Está no xilindró, a senhora nunca ficou com chifre de bode na barriga depois de comer? Ele usa erva da maldade para viciar as freguesas. Agora ele vai pagar o que fez para mim, dizendo que ele trabalha melhor do que eu.

Bastante incrédula, voltei para casa com os salgadinhos desse novo vendedor, não toquei neles por ter dúvidas, de repente lembrei-me de que havia anotado o telefone do senhor João, para alguma encomenda extra.

Como um raio, liguei para casa dele e quem atendeu foi um dos filhos que muito indignado, respondendo a minha pergunta, contou-me o seguinte:

- Infâmia, senhora, fizeram uma enorme armação para meu pai, batizaram os sanduiches com folhas de erva do Diabo. Um desconhecido comprou um desses sanduiches e logo foi a uma Delegacia próxima e denunciou meu pai, que imediatamente foi algemado e levado preso.

Agora somente nos resta esperar pelo julgamento, que será no próximo mês. Um dos meus professores da Faculdade é seu advogado de defesa, uma vez que é um dos comilões assíduos e amigão. Está confiante na vitória.

Os dias andaram na rapidez de tartaruga, tartarugando a passar.

Finalmente o julgamento começou. Muitos preâmbulos, apresentações e inicia a chamada das testemunhas, sendo primeiro as de acusação.

Ao chamarem a segunda testemunha, uma senhora levanta-se muito alterada, tenta começar a falar, mas, entre cascata de lágrimas confessa que tinha ajudado na troca dos sanduiches bons pelos batizados. 

O acusador tentou fugir, mas os seguranças rapidamente o algemaram, então ele declarou ter sido pago pelo vendedor senhor Fulgêncio, o desconhecido, para denunciar o senhor João do crime de entorpecente.

O senhor João estava lívido, assustado e sem saber o que fazer.
Sua esposa e os filhos revoavam ao seu redor, abraçando e beijando, deixando-o sufocado. De repente, feliz levantou os braços e gritou:

- Agradeço, oh! Meu Deus. Como o senhor é bom e justo comigo!

Os jurados diante da sinceridade do libertado réu, batem palmas.

Depois de uns dias de feliz restauro de vida, volta com seu baú repleto de delícias, vendendo tudo aos famintos e saudosos comilões.



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