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quinta-feira, 4 de junho de 2020

O trem partiu no horário - Hirtis Lazarin





10 Melhores hotéis perto de Trem de Passageiros da Estrada de ...


O trem  partiu no horário
Hirtis Lazarin


                                     "Atenção, passageiros e passageiras
                                     bem-vindos ao novo trem paulistano.
                                     Tenham todos uma boa viagem!"

Eu era o trem das novidades
Nada igual a todos os outros.
Colorido, animado de verdade
Jamais esquecerei minha primeira viagem.

                                                           Eu e o maquinista Joaquim
                                                           O maquinista Joaquim e eu.
                                                           Eu e o maquinista Joaquim
                                                           O maquinista Joaquim e eu.

Cheirava a tinta nova, nenhum ruído fora do Lugar.  Corria macio sobre trilhos, nenhum defeito pra atrapalhar.
Lá ia eu, destino certo, terra, serra e mar.
Já deixamos a primeira estação tão longe, tamanha era a vontade de chegar.
Um entra e sai de passageiros, cada um com histórias pra contar.
Já aconteceu de tudo nesse tempo que eu nem vi passar.
Levei a moça dengosa com roupa de noiva, pro rapaz que queria casar; entreguei o filho fugitivo, arrependido, que não parava de lastimar; vi a mulher miúda, abatida esperando o marido que nunca quis chegar.
Coisas engraçadas também gosto de lembrar.  A vaca holandesa esparramada nos trilhos tirava um cochilo, teimava em não acordar.
                                                            Era um puxa pra cá
                                                                    um puxa pra lá
                                                                     um puxa de cá
                                                                     um puxa de lá.

E a danada, por birra, não saía do lugar.
Era gente zangando, tinha hora pra trabalhar; era criança torcendo pra vaquinha ficar.
Foi o Seu Toninho, jeitoso como ele só, alisando-lhe o focinho, deu um pulo, liberando nosso caminho.
Houve a noite da agonia.  Espalhou-se nuvem pretinha, fez o dia virar noite, confundindo até as galinhas.
"Meu Deus do céu!  Bem que o pastor avisou e foi difícil acreditar.  Rezem meus filhos, o mundo vai se acabar."
Gente nos bancos subia, gente sob os bancos se escondia; mães desesperadas recolhiam os filhos sob asas improvisadas.  
Lá fora, a coruja se protegia, 
o relincho exagerado do cavalo
punha em fuga a cotovia.
E chovia...Chovia...

Trabalhar com amor era nosso lema e driblar todo e qualquer problema.
Mas...
          Tudo acaba um dia.
          O maquinista Joaquim e eu estamos hoje aposentados.
          Ele vive no conforto da família.
          E eu?  Coitado!  Sou ferro velho enferrujado.



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