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quarta-feira, 10 de junho de 2020

A BRAVURA DE JANJÃO - Do Carmo



Garota Na Varanda, Garota, Varanda, Clima, Chuva


A BRAVURA DE JANJÃO
Do Carmo



Estamos vivendo um período de imenso isolamento em reclusão, o que me aborrece deveras. Gosto de conviver com meus amores e amigos, tomar cafezinho às tardes, como nosso hábito entre as amigas do prédio, cada dia em um apartamento, com acompanhamentos bem leves, ou seja, bolos recheados, bolachinhas com patês ou geleias e assim por diante.

Com essa apatia diária, comecei a bisbilhotar pela varandinha, os movimentos dos apartamentos vizinhos e da rua.

Fiquei conhecendo um homem andarilho, que apesar de sua aparência peculiar ao seu estilo, mostra-se educado com os poucos transeuntes, carinhoso com os cãezinhos que passeiam com seus donos, e sorrindo sempre, caminha vagarosamente amparado com uma muleta, pois tem uma improvisada perna de pau.

Hoje por volta das onze horas, como ultimamente tenho feito, depois do café da manhã, debruço-me no parapeito da varandinha e já espero ver o cadenciado andar do Janjão, como o apelidei.

Esperei como sempre até que ele desaparecesse do alcance do meu olhar, e fui cuidar de meus afazeres.

Qual foi minha surpresa ao ouvir gritos vindos da rua, onde se misturavam vozes de jovens e de adulto, e como fundo, uma de criança.

Rapidamente, voltei à varanda e com espanto vi o Janjão segurando um menino pelo braço amparando-o, querendo salvá-lo dos murros e pontapés de dois garotos, muito maiores do que ele.

A indignação do andarilho era comovente, pois advertia em voz alta, com propriedade e sabedoria, porém de nada adiantava. O que fez os malvados se acovardarem foi quando, num impulso de defesa, Janjão curvou-se, puxou sua perna de pau e como espada a empunhou em direção aos agressores, que dispararam em retirada.

Sentados na calçada, acarinhava o pequeno agredido e por alguns minutos, ainda fiquei vendo essa cena comovente.

Quando me refiz da emoção e voltei à varanda, já não estavam mais lá.



Barba Ruiva - Hirtis Lazarin




Imagem relacionada


Barba  Ruiva
Hirtis Lazarin



Suspeito e poderoso navio
Singra veloz o furioso mar
Enfrenta qualquer desafio
Quando a ordem é atacar.


Marinheiros a postos
Disparam canhões
Desfiguram-se rostos
Perdidos em explosões.


O alvo desatento
Rende-se ao ataque
Ao inimigo sedento
É hora do ataque.


A turba enfurecida
Carrega muito ouro
Após idas e vindas
Acumula um tesouro.


Ratos famintos, predadores
Matam, queimam, destroem
Epidemia de horrores.


Barba Ruiva
Capitão pirata
Lenda viva
Não é bravata.


"Eu sou o pirata da perna-de-pau
Dos olhos de vidro
Da cara de mau."


O PERNA DE PAU - Henrique Schnaider




O PERNA DE PAU   
Henrique Schnaider



João nasceu anão, a vida não foi fácil para ele desde pequeno, seus pais também eram, lutavam com muita dificuldade, para conseguir trabalho, sempre iam parar, em algum circo ou viviam de bicos.

Tinham que morar numa casa adaptada, casinha de bonecas. Até os seus primeiros passos, João custou a aprender com aquelas pernas curtinhas, pelo menos o tombo era perto do chão.

Arrumar amigos era problema para o pobre do João, com seu tamanhinho, as crianças vizinhas tinham o pé atrás com ele, já que era mais motivo de piadas, do que de amizade, “tampinha de garrafa, anão de jardim, amostra grátis, chaveirinho, cotoco”. Mas com o tempo, alguns garotos acabaram se afeiçoando a ele, tornaram-se amigos.

João adorava brincar de perna de pau, feitas pelo pai, o menino mostrava uma facilidade incrível com aquelas perninhas, deitava e rolava, os amigos ficavam bobos de ver tamanha habilidade, ganhou o respeito de todos.

Passou pela adolescência, chegou à idade adulta, sem muitas mudanças na vida, cresceu pouco, o mundo continuava grande ao seu redor.

Estudou primeiro e segundo graus, não sentiu ânimo de ir frente nos estudos, quem iria contratar um toquinho de gente?

Incentivou os pais a irem, junto com ele pedir emprego, num circo que passava na cidade de Paripueira, próxima a São Luís do Quitunde, onde moravam, a trezentos quilômetros de Maceió.  

Lá foram eles, falar com o dono do circo, próximos, viram aquela lona vistosa, surpresa, o circo pertencia a sete anões, sentiram-se em casa, o chefe dos sete, era Carlos, o zangado, topou contrata-los, a Companhia era quase só de anões. Os pais iriam trabalhar na coxia, o rapaz deu um show com as pernas de pau, daí o apelido do mesmo nome. Zangado ficou encantado, disse que ia preparar um número de picadeiro só para ele.

Incorporaram a vida ao circo, foram em frente, de cidade em cidade, até chegarem a Maceió, capital do Sergipe. No circo João conheceu Cidinha, anãzinha graciosa, se encantou, adorou o jeitinho faceiro dela, ela por sua vez, se deixou encantar.

Algo imprevisto acontece, eis que chega o inimigo invisível, nada mais nada menos, do que o Corona Vírus, acabaram as apresentações, o circo ficou às moscas, todos os membros do circo ficaram sem trabalho, vivendo de doações. O futuro ficou nebuloso, ninguém sabe qual será.



quinta-feira, 4 de junho de 2020

CAIU DO CÉU Hirtis Lazarin




CAIU DO CÉU
Hirtis Lazarin



Um grito exuberante de dor assustou o dia que amanhecia calmo e preguiçoso.  Depois de uma noite inteirinha de sofrimento, Poty deu a luz a um menino exageradamente comprido e robusto.  Uma gravidez difícil e problemática que fez a parturiente, miúda e atarracada, permanecer em repouso absoluto nos últimos quatro meses, tamanho era o peso que carregava no útero.

Fogo Ligeiro crescia mais rápido e mais forte que outros curumins da aldeia.  As pernas longas tornavam-no veloz feito um alce em fuga desesperada a safar-se da fera faminta. Curioso e observador, descrevia, em detalhes, as cores das penas de cada pássaro que sobrevoava as redondezas e, nas andanças solitárias pela mata, sempre descobria novas espécies de flores.  A cor, o colorido encantava-o.

Atrás dessas habilidades escondia-se um indiozinho medroso.   Desaparecia como rolha de champgne em explosão quando tivesse que participar de caçadas ou pescas. O seu medo amarelava só de ouvir a palavra "piranha".

O pai, índio corajoso, vivia brigando com o menino: não se conformava com esse seu jeito de ser.  Mas a mãe, desde sempre percebia que os olhinhos do filho faiscavam de alegria quando lambuzava as mãozinhas com tintas usadas na pintura dos corpos.  E os dedinhos compridos e buliçosos nunca se aquietavam, sempre riscando e pintando paredes, ou até mesmo o chão de terra batida.

Com o tempo, retas e curvas se aperfeiçoaram, linhas dispersas se encontraram e foram se transformando em desenhos perfeitos; novos traços, novas formas, novas cores foram aparecendo.  Do chão batido, os desenhos saltaram pra pedaços de esteiras de palha tecidas pelas índias. E o menino não mais se assossegava; novas ideias, criatividade fervilhando dentro daquela cabecinha irrequieta.  Fogo Ligeiro não cabia mais no espaço em que vivia.   Seu dom extrapolava tudo que o cercava.  Seus anseios e questionamentos não encontravam respostas.  Vivia insatisfeito e infeliz.

O dia mal começara quando os índios acordaram com um bimotor sobrevoando insistentemente a aldeia.  O avião perdeu altura e o piloto, com destreza e precisão, pousou numa clareira próxima à aldeia Guairirá.  Armados de arco e flecha, os índios cercaram a aeronave.  O território só poderia ser acessado com autorização do governo e aprovado pelo cacique.

O piloto foi o primeiro a descer acenando um lenço branco.  Atrás dele vieram o copiloto e um casal de turistas.  Entre os índios, alguns se comunicavam com um português rudimentar; foi, então, possível entender que o pouso foi forçado por pane elétrico no motor.

A permanência dos homens brancos na comunidade prorrogou-se por uma semana e três dias, tempo gasto desde que um helicóptero trouxe dois mecânicos ao local.  Durante esse convívio não planejado, a turista paulistana não só se encantou com a cultura e a vida pacífica dos guairirás, como constatou que, entre eles, havia um menino prodígio. Um menino que nunca teve contato com o mundo da arte, era um artista nato, puro, isento de qualquer influência.  Um dom que não se explicava, um dom que se aceitava e valorizava.  E foi o que essa santa senhora fez.  Trouxe pra aldeia, além de professores, todo material que o indiozinho necessitaria pra se desenvolver.  Uma mecena em pleno século XXI.

Fogo Ligeiro pode, então, expressar toda sua imaginação, toda sua criatividade, toda sua excentricidade.

Já participou de várias exposições pelo Brasil, ganhou alguns prêmios importantes e sua renda é empregada para aprimorar sua arte e melhorar a vida de seu povo.



O pra sempre, sempre acaba Hirtis Lazarin



Vizinha Fofoqueira - Home | Facebook


O pra sempre, sempre acaba
Hirtis Lazarin


Quem diria que aquela garotinha se transformaria numa jovem inconsequente e odiada por tantos?  Uma garotinha que chegou a esse mundo pra trazer esperança, alegria e vida a um casal que a aguardou por mais de oito anos?  Uma garotinha mimada que cresceu não num quarto infantil rodeada
 de brinquedos, mas num aposento de princesa.
Ana Vitória descobriu bem cedo que tinha superpoderes naquela família.  Usou e abusou deles...

Aos quatro anos, quis muito o balé.  Mas não entendia que bailarina não combina com pratos de macarronada acompanhados de brigadeiros.  A sapatilha de ponta sofria cada vez em que era obrigada a acomodar aqueles pezinhos gorduchos e desengonçados.  Vi muitas e muitas delas descartadas no lixo, boca aberta pedindo socorro.  A desistência só aconteceu depois de uma queda roliça no “PLIÉ".

Na adolescência foi a vez do piano.  "Quero um piano.  A Julia tem piano.  Adoro o som do piano.  Quero também tocar piano.  O desafio durou alguns meses.  Professores?  Vários.  Impossível tolerar tanto capricho e nenhum talento.

Depois veio a pintura e outras artes...  Eu me angustio quando me lembro daquele corpinho jovem carregando uma menina que não sabia ouvir não, que esperneava se contrariada.  Pais batendo a cabeça nas paredes e cheios de culpa quando o erro foi amar demais.

Ana Vitória não se dava por vencida.  A mente criativa e alerta, um farol em meio escuridão do mar, criou um perfil falso nas redes sociais, uma rede de intrigas e fofocas que se tornou a brincadeira mais gostosa de jogar.  Misturava verdades e mentiras, um jogo de xadrez onde movimentava as peças ao bel-prazer.  Criar conflitos, brigas, inimizades era muito divertido.

Além de cuidar da vida dos colegas, mirava também a vida dos vizinhos.  Da janela do seu quarto de frente pra rua e protegida por cortinas fartas, ela via, ouvia e arquitetava planos.  Bisbilhotar era o verbo que movia suas ações o que lhe causava imenso prazer.  Não se importava com a fama que já alcançava distâncias.

Era uma noite chuvosa.  Ana Vitoria abriu parte da janela para o último cigarro.  A rua arborizada cobria-se de folhas soltas pela ventania passageira.  Um carro com faróis desligados apontou na esquina.  Deslizava silenciosa e morosamente; parecia a procura de algo.  Ela apagou o cigarro e esgueirou-se atrás da cortina.  Não poderia essa oportunidade de ouro, uma boa história pra espalhar.  Do seu jeito, é claro!  O carro parou onde havia sacos de lixo empilhados à espera do coletor.  O motorista olhou pra todos os lados e abriu a porta.  Um ouvido bem atento quanto ao de Ana ouviria o “tec” da maçaneta da porta assim que foi acionada.  Isso não aconteceu.  Ele desceu, certificou-se da solidão da rua, tirou uma mala grande do banco de trás e dispensou-a em meio ao lixo acumulado.  Ao retornar ao veículo, relâmpagos simultâneos fotografam detalhadamente o rosto do rapaz.  Ana sufoca um grito antes que ele denuncie sua presença.  Ela conhece o homem que, sorrateiramente, desaparece na escuridão.  Impressiona-a a sutileza e o cuidado dele ao abandonar aquele fardo.  Aquilo não lhe cheirava bem.  Ali rolava um mistério.

Uma chuva pesada desabou.  Ela reacendeu o cigarro não fumado.  Mil pensamentos... O primeiro foi sair e abrir a mala.  Caminhou até a porta da sala e abriu-a cuidadosamente.  Já estava na sacada quando desistiu.  Ainda bem que o bom senso nessa hora venceu a curiosidade.  Tentou dormir, mas como?  Pegou o telefone e ligou ao serviço de emergência policial e fez denúncia anônima.  Sua ansiedade só foi acalmada horas depois quando o carro policial estacionou em frente ao endereço denunciado.  A mala foi arrastada até o poste mais próximo.  Dentro havia o corpo de uma mulher.  Só foi retirado quando o sol já estava alto com autorização da polícia técnica. 

Durante as investigações muitos moradores da rua foram convocados pra depoimento, inclusive Ana Vitória.  Um conflito enorme martelava sua cabeça.  A fama de fofoqueira, de inventar e distorcer fatos e brincar com a vida das pessoas conspiravam contra ela.  Não teve coragem de contar a ninguém o que viu.  Essa decisão custou-lhe noites e dias de tortura.  E numa dessas noites em que não conseguia dormir, acendeu a luz e displicentemente buscou um livro na estante.  Um deles veio ao chão aberto na página treze.  E ali estava escrito entre outras coisas: "Síndrome de abelha: tem gente que pensa que é rainha, mas é apenas um inseto".  Ana Vitória leu e escreveu essa frase mil vezes.

Hoje, é na terapia intensiva que Ana Vitória busca forças pra se libertar do prazer que o vício da fofoca lhe proporciona.  E quem sabe, esclarecer o assassinato da mala.


O trem partiu no horário - Hirtis Lazarin





10 Melhores hotéis perto de Trem de Passageiros da Estrada de ...


O trem  partiu no horário
Hirtis Lazarin


                                     "Atenção, passageiros e passageiras
                                     bem-vindos ao novo trem paulistano.
                                     Tenham todos uma boa viagem!"

Eu era o trem das novidades
Nada igual a todos os outros.
Colorido, animado de verdade
Jamais esquecerei minha primeira viagem.

                                                           Eu e o maquinista Joaquim
                                                           O maquinista Joaquim e eu.
                                                           Eu e o maquinista Joaquim
                                                           O maquinista Joaquim e eu.

Cheirava a tinta nova, nenhum ruído fora do Lugar.  Corria macio sobre trilhos, nenhum defeito pra atrapalhar.
Lá ia eu, destino certo, terra, serra e mar.
Já deixamos a primeira estação tão longe, tamanha era a vontade de chegar.
Um entra e sai de passageiros, cada um com histórias pra contar.
Já aconteceu de tudo nesse tempo que eu nem vi passar.
Levei a moça dengosa com roupa de noiva, pro rapaz que queria casar; entreguei o filho fugitivo, arrependido, que não parava de lastimar; vi a mulher miúda, abatida esperando o marido que nunca quis chegar.
Coisas engraçadas também gosto de lembrar.  A vaca holandesa esparramada nos trilhos tirava um cochilo, teimava em não acordar.
                                                            Era um puxa pra cá
                                                                    um puxa pra lá
                                                                     um puxa de cá
                                                                     um puxa de lá.

E a danada, por birra, não saía do lugar.
Era gente zangando, tinha hora pra trabalhar; era criança torcendo pra vaquinha ficar.
Foi o Seu Toninho, jeitoso como ele só, alisando-lhe o focinho, deu um pulo, liberando nosso caminho.
Houve a noite da agonia.  Espalhou-se nuvem pretinha, fez o dia virar noite, confundindo até as galinhas.
"Meu Deus do céu!  Bem que o pastor avisou e foi difícil acreditar.  Rezem meus filhos, o mundo vai se acabar."
Gente nos bancos subia, gente sob os bancos se escondia; mães desesperadas recolhiam os filhos sob asas improvisadas.  
Lá fora, a coruja se protegia, 
o relincho exagerado do cavalo
punha em fuga a cotovia.
E chovia...Chovia...

Trabalhar com amor era nosso lema e driblar todo e qualquer problema.
Mas...
          Tudo acaba um dia.
          O maquinista Joaquim e eu estamos hoje aposentados.
          Ele vive no conforto da família.
          E eu?  Coitado!  Sou ferro velho enferrujado.



PINDUCA, O CÃOZINHO MAU - Do Carmo



Cachorro Uivando: O Que Significa? Como Fazer Um Cachorro Parar de ...


PINDUCA, O CÃOZINHO MAU

Do Carmo


Dona Elda, minha vizinha, apesar se sua idade avançada, oitenta e sete anos, tem uma vitalidade incrível. Mora sozinha, mas no período de férias escolares, seus três netos passam com ela. É vaidosa, cuida-se com requintes de sua época de juventude, mas com esmero e delicadeza.

Todas as manhãs, por volta das dez horas, impecavelmente vestida para uma festa matutina, sai com seus três netos a passear pela pracinha da pequena cidade em que nasceu e sempre viveu.

Em certa manhã, depara-se estupefata com uma cena assassina, onde uma menininha chora e implora a um cão malévolo, que devolva sua bonequinha ainda salva dos afiados dentes afiados. E olhando para os meninos, banhada em lágrimas, diz que ela só tem essa amiguinha, sua mãe é muito pobre e seu pai já partiu.

O cão, satanicamente, não dá atenção à pequena, continua tentando estraçalhar a boneca.

Um dos meninos, de um salto olímpico, solta da mão amolecidas de dona Elda e cai exatamente encima do perverso cachorro, que com o imprevisto assusta-se largando a boneca, momento exato em que os dois outros meninos distraem a fera, enquanto homericamente o terceiro apanha a boneca do chão e corre a depositá-la junto à pequena que, a abraça com ternura.      
      
Em rapidez de raio, os três netos de dona Elda, freneticamente investem com urros selvagens contra o malvado que apavorado foge em disparada.

Dona Elda em êxtase aproxima-se da menina que ainda soluça e com carinho de uma doce avó a abraça  afagando carinhosamente os netos:

- Que tal se fôssemos tomar um saboroso sorvete de coco queimado e nos alegrássemos ouvindo o Chico cantar desafinadamente Luar do Sertão?

Sorridente, dona Elda pega a mão da pequena, que segura a sua bonequinha,  e alegres acomodam-se numa mesinha. Minutos depois, os cinco novos amigos, saboreiam o inigualável sorvete de coco queimado. 

Com o rabo entre as pernas e orelhas caídas Pinduca volta pelo mesmo caminho que chegou.




Dona Elda, minha vizinha, apesar se sua idade avançada, oitenta e sete anos, tem uma vitalidade incrível. Mora sozinha, mas no período de férias escolares, seus três netos passam com ela. É vaidosa, cuida-se com requintes de sua época de juventude, mas com esmero e delicadeza.

Todas as manhãs, por volta das dez horas, impecavelmente vestida para uma festa matutina, sai com seus três netos a passear pela pracinha da pequena cidade em que nasceu e sempre viveu.

Em certa manhã, depara-se estupefata com uma cena assassina, onde uma menininha chora e implora a um cão malévolo, que devolva sua bonequinha ainda salva dos afiados dentes afiados. E olhando para os meninos, banhada em lágrimas, diz que ela só tem essa amiguinha, sua mãe é muito pobre e seu pai já partiu.

O cão, satanicamente, não dá atenção à pequena, continua tentando estraçalhar a boneca.

Um dos meninos, de um salto olímpico, solta da mão amolecidas de dona Elda e cai exatamente encima do perverso cachorro, que com o imprevisto assusta-se largando a boneca, momento exato em que os dois outros meninos distraem a fera, enquanto homericamente o terceiro apanha a boneca do chão e corre a depositá-la junto à pequena que, a abraça com ternura.      
      
Em rapidez de raio, os três netos de dona Elda, freneticamente investem com urros selvagens contra o malvado que apavorado foge em disparada.

Dona Elda em êxtase aproxima-se da menina que ainda soluça e com carinho de uma doce avó a abraça  afagando carinhosamente os netos:

- Que tal se fôssemos tomar um saboroso sorvete de coco queimado e nos alegrássemos ouvindo o Chico cantar desafinadamente Luar do Sertão?

Sorridente, dona Elda pega a mão da pequena, que segura a sua bonequinha,  e alegres acomodam-se numa mesinha. Minutos depois, os cinco novos amigos, saboreiam o inigualável sorvete de coco queimado. 

Com o rabo entre as pernas e orelhas caídas Pinduca volta pelo mesmo caminho que chegou.

PINDUCA, O CÃOZINHO DE DONA ELDA. - Do Carmo



Biblioteca de vetores Velha senhora, ilustrações Velha senhora ...


PINDUCA, O CÃOZINHO DE DONA ELDA.
Do Carmo



Dona Elda, minha vizinha, apesar da idade avançada, oitenta e sete anos, tem uma vitalidade incrível. Mora sozinha com o cãozinho, Pinduca. É vaidosa, cuida-se com requintes de sua época de juventude, mas com esmero e delicadeza.

Todas as manhãs, por volta das dez horas, impecavelmente vestida para uma festa matutina, sai com Pinduca a passear pela pracinha da pequena cidade em que nasceu e sempre viveu.

Em certa manhã, depara-se estupefata com uma cena assassina, onde uma menininha chora e implora aos três meninos malévolos, que devolvam sua bonequinha salva das maldades que habitualmente fazem, pois ela só tem essa amiguinha, sua mãe é muito pobre e seu pai já partiu.

Rindo satanicamente, não dão atenção às lágrimas caídas dos olhinhos da pequena. Continuam tentando estraçalhar a boneca.

Pinduca, de um salto olímpico, se solta das mãos amolecidas de dona Elda e cai exatamente no meio dos perversos meninos, que com o imprevisto assustam-se largando a boneca, momento exato em que Pinduca, homericamente, a abocanha e corre a depositá-la junto à pequena que a abraça com ternura.   
          
Em rapidez de raio, Pinduca latindo freneticamente, investe contra os malvados que apavorados fogem em disparada.

Dona Elda, em êxtase, aproxima-se da menina que ainda soluça, e com carinho de uma doce avó, a abraça afagando carinhosamente a cabeça de Pinduca:  

- Que tal se fôssemos tomar um saboroso sorvete de coco queimado e nos alegrarmos ouvindo o senhor Chico cantar desafinadamente Luar do Sertão?

Sorridente, dona Elda pega a mão da pequena, segura a guia da coleira do Pinduca e conversando alegres acomodam-se numa mesinha. Minutos depois, as duas novas amigas saboreiam o inigualável sorvete de coco queimado. 

Cabisbaixo os três meninos voltam pelo caminho que vieram, com grande diferença, pois agora o remorso está estampado em seus rostos.




Era pra ser um sábado comum...- Hirtis Lazarin




Era pra ser um sábado comum...
Hirtis Lazarin



Estava distraída tirando o pirex do forno, quando o interfone me interrompeu.  Era o jardineiro que me aguardava na portaria do edifício.  Desci não antes de tomar o cafezinho coado na hora e deliciar-me com fatia generosa, ainda quentinha, do bolo de milho, receita herdada da minha bisavó.

Fazia um ano que Toninho cuidava do nosso jardim.  Mãos abençoadas.  Antes um espaço árido, hoje uma obra de arte.  Arbustos esculpidos limitam um tapete branco de lírios da paz, entremeado por caminhos estreitos de cascalho.  Orquídeas presas aos caules longos e finos de dois coqueiros caem em pencas num festival de cores. 

Nossa conversa foi interrompida por gritos histéricos que vinham da rua.  O muro-fortaleza não nos deixava ver o que estava acontecendo, até que alguém chegou ao portão eletrônico.  Tomada por ira fria e violenta, uma jovem exigia, aos gritos, que o porteiro o abrisse.   Queria entrar a qualquer custo.  Diante da insistência da moça, ele saiu da guarita, tentou, mas não conseguiu convencê-la do contrário.  À essa altura, moradores já se apinhavam nas janelas.  O escândalo saíra de controle.

Como síndica do prédio, desci as escadas,  a fim de resolver o problema.  Deparei-me com uma garota de apenas vinte e poucos anos, alta e esguia.  Os cabelos encaracolados e desalinhados escondiam parte do rosto miúdo e bem desenhado.  Uma enxurrada de lágrimas borrava a maquiagem dos olhos, pintando de preto o rosto branco e sardento.  Gritava palavrões de desgosto e fúria que não combinavam com sua aparência cuidadosa.  Fiz de tudo para acalmá-la.  Falhei como psicóloga.  Deixei-a extravasar todos aqueles sentimentos negativos até que o cansaço e o desânimo desarmaram-na.  Convenci a jovem a entrar até a saleta do hall e após longos e angustiantes momentos de silêncio, um nome foi repetido mil vezes:  "Eduardo...Eduardo..."

Mas quem era esse Eduardo?  Aos trancos e barrancos, contou-me, aos soluços, que era seu namorado.  Há mais de vinte dias desaparecera sem deixar qualquer sinal.  Não atendia aos telefonemas e cancelara todos os contatos sociais.  Não houveram desentendimentos, muito menos brigas.  E o pior,  tinha certeza que vira o rapaz abraçado a uma mulher entrando no prédio.  Consultei a listagem dos moradores, que não era grande, e não encontrei nenhum Eduardo.  A certeza da garota era tanta que não ouvia meus argumentos e conselhos. 

Inesperadamente, ela disparou numa corrida e abraçou por trás um rapaz que saía do prédio acompanhado por um idoso.  Ouvimos, então, um grito trêmulo e prolongado:  

"Eduardoooooooooooooooo".  

Assustadíssimo, o rapaz usou força para se libertar daqueles braços indesejados.  Não era Eduardo.  Não era quem ela achava que era.

Mônica caiu de joelhos debruçada num choro dolorido e sem fim. Uma certeza desfeita.  Uma esperança despedaçada.
Ela teria que colar os cacos por ela mesma.

O INVENTOR. - Do Carmo



Quem foi Nikola Tesla? O cientista que sacudiu o mundo com suas ...

O INVENTOR.
Do Carmo



Tenho um amigo, Joselino, que desde criança gostou de inventar, transformar, criar e reciclar coisas. Armadilhas, peças que assustavam os amigos, com misturas químicas que exalavam odores muito fortes ou soltavam fumaças malcheirosas ou ainda coloridas que faziam lacrimejar os olhos.

A garagem de sua casa era o seu desorganizado laboratório. Ele deixava um mínimo espaço para seu pai estacionar o carro.

Com o decorrer dos anos, seus estudos foram lhe dando maiores conhecimentos de química e física, o que lhe proporcionou melhores e mais elaboradas invenções. 

Sua criatividade não tinha limites.

Certa ocasião, assistindo a um jornal na televisão, que mostrava audaciosa invasão de um banco por uma gangue, teve uma idéia indescritível, fazer um cordão invisível e com guizos barulhentos, que impedisse a entrada de qualquer pessoa quando acionado.

Faria dois modelos de cordão: um cordão como barreira das portas comerciais e outro como cinturão ao redor das casas ou edifícios.

Dias e dias ficou elucubrando como seria essa façanha. Faltava alguma coisa para completar sua obra defensora dos meliantes.
Passaram-se semanas e nada de surgir, sequer, uma luzinha de pirilampo salvadora para começar a sua invenção milagrosa.

Antevia os noticiários alardeando seu feito, como sendo um emérito benfeitor dando tranqüilidade ao povo.

Sonhava ter uma empresa com muitos funcionários, encomendas fabulosas, convites de outros países para apresentar seu invento e todo tipo de expansão de mercado consumidor.

Eureca! Gritando acordou certa manhã. Já sei o que falta ao cordão para ser indispensável e infinitamente eficaz.

Vou criar uma corrente elétrica de alta tensão e adaptar a ele, fazendo com que qualquer contato, por menor que seja, paralise o transgressor.   

Mais alguns meses tentando sem resultado aplausível. Desanimado de tantas tentativas e falhas, estava propício a desistir dessa abominável façanha, quando viu um morcego dependurado num galho de árvore dormindo, veio-lhe um meteoro de idéias, as quais lhe pareceram coerentes.

Novamente grita – Eureca!  Vou instalar e através de ondas de radar, automaticamente eletrifica o cordão paralizador ao ser tocado.    
 Extremamente feliz, dormiu um sono festivo. Acordou bem cedo e “Mãos a obra”!

Tudo correu muito bem. Suas expectativas estavam todas a contento. Desceu da escada saltitante, mas não pode voltar ao laboratório, pois a escada ficou do lado de dentro do cordão e ele preso pelo seu invento.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...