A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

AINDA HÁ TEMPO PARA AMAR - CONTO COLETIVO 2011

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

BIBLIOTECA - LIVROS EM PDF

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

A DIFÍCIL VIDA FÁCIL - Adelaide Dittmers

 

 


A DIFÍCIL VIDA FÁCIL

Adelaide Dittmers

  

O espocar de fogos de artifício, que riscavam a noite com luzes coloridas de diversas formas e chuvas de ouro e prata, brindava o nascimento de um novo ano, que trazia ao coração dos homens a esperança muitas vezes vã e incerta de dias promissores.

Em uma janela quase apagada, uma mulher já entrada em anos apreciava com um olhar triste e errante o espetáculo, que expulsara o silêncio e a placidez da noite.

Os olhos de sua alma não estavam ali. Vagavam por um passado distante, em que se via em um salão luxuoso sassaricando, bela na flor da mocidade e cortejada por mancebos, que disputavam a vez de com ela girar ao som dos boleros e tangos, que soavam da radiola.

Foi um tempo em que ela brilhava no lupanar da cidade como a mais cobiçada meretriz, atraindo burgueses jovens e velhos para usufruir de seus favores.

Seu rosto se contraiu ao recordar sua queda. 

A beleza gasta pela vida. Uma vida que dizem fácil, mas é difícil e efêmera. Controlada por um sacripanta, que a iludiu e a explorou por anos, abandonando-a à própria sorte, quando perdeu seu viço, o que a jogou em um bordel nos confins escuros da cidade e onde ela desceu a escada, degrau por degrau, até chegar ao porão da vida.

Ironicamente, foi uma carraspana, que a levou quase em coma a um hospital, que a salvou daquela pocilga. Lá, um enfermeiro de bom coração apaixonou-se por ela. Com pachorra, aquele homem simples a tirou do fundo do poço em que caíra.

Aquele homem a ensinou a amar e ser amada, tratou com desvelo as feridas mais profundas de seu ser, enterrando a rameira e a fazendo renascer com seu nome de batismo, Cleusa.

E agora, naquela janela, vendo o novo ano chegar com luzes e alegria, Cleusa se deixou levar pelo caminho duramente percorrido.  E a saudade daquele que foi seu salvador apertou seu coração tão castigado pela vida.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.

Cleuza entre o topo e o fundo. - Alberto Landi

    Cleuza entre o topo e o fundo. Alberto Landi   Diziam na cidadezinha onde vivia que Cleuza nasceu para brilhar, mas a verdade é qu...