Perdida na
Multidão
Fluxo de pensamento
ADELAIDE DITTMERS
O ônibus saiu da estreita estrada e entrou em uma rodovia, que se perdia de vista, cercada por morros verdes e onde, de tempos em tempos, surgia ao longe uma cidade, que parecia adormecida apesar do sol já estar alto.
Sentada em um dos bancos, uma velha senhora, modestamente vestida, acompanhava assustada o entorno, que passava rapidamente pelos seus olhos cansados. Nas mãos, uma velha sacola era apertada com força, para amenizar a insegurança que a pobre mulher estava sentindo ao sair pela primeira vez da cidadezinha em que morava.
Após horas de viagem, uma grande cidade cercou o veículo, com o barulho estridente do trânsito frenético e o cheiro do asfalto e do rio poluído entrou pelas narinas dos viajantes. Os grandes braços da enorme cidade abraçaram o ônibus, que parecia uma miniatura percorrendo por ela. Os olhos da pobre senhora arregalaram-se. Nunca vira um edifício e ali havia muitos deles querendo alcançar o céu. Apertou com mais vigor a sacola junto ao peito.
— Estamos chegando? Perguntou timidamente ao seu companheiro de banco. O homem somente balançou a cabeça indiferente.
— Meu nome é Benedita
O homem fez que não ouviu.
Ela encolheu-se no lugar. Começou a ficar desesperada. Serpenteando pelas ruas, o ônibus finalmente entrou em uma grande estação e parou em uma comprida plataforma. A porta se abriu e as pessoas começaram a descer. Ela se levantou devagar. As pernas trêmulas. Desceu as escadas lentamente e parou na plataforma. O olhar aterrorizado procura a parente.
Os pensamentos se atropelavam em sua cabeça.
“Nossa Senhora Aparecida me ajuda. Tô perdida. Cadê a Maria? Que mundo de gente. Nunca vi tanto povo assim. Correm pra num sei onde. Ninguém se olha. Valha-me Deus Nosso Senhor. Não sei pra onde caminhar. Maria, cadê você? Que gente mais isquisita.”
A angústia transbordava dela. O olhar indo de um lado para o outros cheios de assombro e medo.
Uma policial, que fazia sua ronda, percebeu o desespero da pobre mulher.
— Olá, senhora! Precisa de ajuda.
— Tô perdida! Maria vinha me buscar. Num tá aqui.
— Venha comigo!
— A senhora vai me prendê?
— Não. Vou tentar ajudá-la! Respondeu sorrindo.
Benedita seguiu a policial. Os passos trôpegos desviam das pessoas.
“Minha Nossa Senhora, me salve, o que vai acontecê? Ajudá ou me prendê. Por que vim pra esse inferno. Prometo que vou dá três galinha pro padre da paróquia, se me livrar di tudo isso. Eu tinha que vim, Santa, pra salvar meu sítio. Tô danada.”
A policial a encaminhou para o posto.
— Sente-se, senhora. Quer um copo de água?
— Quero.
— Por acaso tem um número de telefone? Perguntou, oferecendo-lhe o copo.
Ela abriu a sacola, tateando com as duas mãos o emaranhado de roupas, espalhados pelo interior, alcançando um pedaço de papel, que puxou para fora e entregou à policial.
— Tá aí. Num sei lê, não, moça.
— Ah! É uma carta. Pode deixar, eu leio. E passou os olhos pelo que estava escrito.
— Pode ficar sossegada, Dona Benedita.
— Ué, como a moça sabe o meu nome?
— Está aqui na carta e também temos o número de um celular.
— Que é isso?
— Um telefone. Vou ligar para sua prima.
“Cumo é tudo atrapalhado nessa cidade. Celu, o que mesmo? Mas essa moça é uma santinha. Brigada, Nossa Senhora!
A policial ligou e falou com Maria, que a esperava na saída do terminal. Benedita suspirou aliviada e agradeceu à policial.
— Minha mãe também veio do interior e no começo
sofreu muito aqui. E abraçou a pobre mulher, que derramava lágrimas de alívio e
gratidão.
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