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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

A CADEIRA FALANTE - Helio Fernando Salema

 


A CADEIRA FALANTE

Helio Fernando Salema

 

Era uma vez um reino muito grande que possuía vários castelos, alguns pouco usados e abandonados há mais de duzentos anos. Um dos príncipes, que era solteiro, apaixonou-se por uma bela jovem, que também se encantou por ele.  

Quando ele propôs casamento, recebeu da jovem uma resposta nada convencional. Desde que fossem morar num castelo escolhido por ela. Ele achou um pouco estranho, mas muito interessado nela, aceitou.

Ela então pediu permissão para visitar o castelo, que ficava próximo de sua casa, pois tinha conhecimento de que estava abandonado há muito tempo. Mais uma vez o príncipe concordou.

Dias depois, ao amanhecer, a jovem pegou o seu cavalo e foi em direção ao castelo por ela escolhido. Ao chegar, ficou muito emocionada ao sentir que, um dia poderia morar naquele magnífico lugar, que ela, quando criança, ficava várias horas a admirar.

No castelo andando e observando, ficou encantada com os detalhes que ela não imaginava ali encontrar. Até que uma voz provocou um susto tão grande que ela ficou paralisada por alguns segundos:

— Olá, princesa! Como você demorou. Faz tanto tempo que estou aqui sozinha. Pensei que você não viria mais, deixando-me a olhar as paredes e sem ter com quem conversar.

— Eu não sou princesa. Só depois que eu me casar com o Príncipe.

— Mas, para mim, você já é uma princesa. Pode vir e sentar.

Motivada em explorar o que havia no castelo, respondeu:

— Não quero sentar. Primeiro desejo conhecer o castelo por dentro, já que de fora eu sempre olhava, admirava e imaginava como poderia ser aqui dentro.

A cadeira, sentindo que ficaria novamente sozinha, insistiu:

— O castelo é muito grande, você vai se cansar. Descansa aqui primeiro. Eu serei sua companhia e posso lhe contar muitas coisas que já presenciei.

— Há quanto tempo que você está nesta sala.

— Muito tempo. Já conheci muitas Princesas. A última era muito pesada e quase que me quebrou. Mas você é delicada, não vai me destruir.

Mais interessada no castelo do que nas histórias, foi-se afastando. Cada porta que abria revelava uma nova surpresa. Apesar da sujeira que reinava no abandonado castelo, a jovem ficava impressionada com cada novidade que descobria.

Ao retornar à sala, onde estava a cadeira, finalmente concordou em sentar-se, descansar e ouvir as histórias prometidas.

Após ouvir inúmeros relatos, olhando para a única janela que havia, ela percebeu que a noite chegava e ela precisava sair, levantou-se e ouviu:

— Quando você voltar terá uma grande surpresa.

Despediu-se, da agora amiga cadeira e, prometeu que solicitaria ao príncipe que, no preparo do castelo, mantivesse nesta sala somente esta cadeira. Também que viria, sempre que fosse possível, sentar e ouvir outras histórias. O príncipe ordenou a reforma do castelo do jeito solicitado pela futura esposa. E assim aconteceu.

Depois da exuberante festa de casamento, exaustivamente, comemorada por todo o reino, o jovem casal, finalmente, foi residir no castelo tão sonhado pela esposa. Chegaram ao anoitecer.

Logo nos primeiros sinais do novo dia a Princesa se lembrou da cadeira. Foi com muita expectativa para a conhecida sala e ouvir as novas histórias da cadeira falante. Ao entrar percebeu mudanças que a deixaram contente. A limpeza mostrava toda a beleza das paredes e também do piso decorado. Lá no canto estava a sua amiga, aproximou-se e percebendo um silêncio estranho, ficou parada aguardando a manifestação da amiga cadeira, que em silêncio permaneceu:

— Olá amiga!

Sem resposta, insistiu:

— Posso sentar-me?

Como não obteve resposta, decidiu sentar-se.

Sentou-se… Acomodou-se… E a cadeira desmanchou-se.

 

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