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domingo, 17 de janeiro de 2021

O TÍMIDO ESQUELETO BRANQUINHO Um conto bem infantil - Leon Vagliengo

 


O TÍMIDO ESQUELETO BRANQUINHO

Um conto bem infantil

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Branquinho é um esqueleto muito especial. Vive sozinho, não tem filhos, não é casado. Recebeu esse nome justamente porque é, mesmo, muito branquinho. Seu corpo é absolutamente magro, feito só de ossos, e ele não tem medo de engordar, como as pessoas geralmente têm, porque não come nada. Nada mesmo. Além de ser branquinho é também completamente careca, o que o deixa muito engraçado e simpático. É um pouco tímido, mas está sempre sorrindo, e os seus dentes brilham e se destacam em sua cabeça redondinha. Com essa aparência tão leve e inofensiva, não entende porque as pessoas fogem dele apavoradas quando o encontram pelas ruas em seus passeios. Isso o deixa muito triste, porque parece que ninguém gosta dele.

Para evitar que isso aconteça, sabendo que as pessoas geralmente têm medo de locais escuros, quando vai passear prefere sair à noite e andar por ruas menos iluminadas, tentando não cruzar com ninguém. Mas sempre aparece alguém que se assusta ao vê-lo e sai correndo, em desespero, deixando-o cada vez mais chateado.

Ele não, não tem medo do escuro. O que lhe dá medo, de verdade, é encontrar-se com algum cachorro faminto quando sai para passear. Na verdade, ele gosta de cachorros, e tem muita vontade de brincar com eles como fazia quando era uma pessoa inteirinha, mas para um esqueleto esses bichinhos são muito perigosos porque gostam de roer ossos. Sabendo como os cachorros gostam de roer ossos, Branquinho já imagina o quanto os cachorros gostariam dele. Mas, que pena! Desse jeito não, não é assim que ele espera ser querido.

Uma vez ele resolveu se aventurar. Aproveitou que estava chovendo um pouco, criou coragem e se arriscou a sair em plena luz do dia, pois estava com muita vontade de passear e não esperou o anoitecer. Para não ser visto e não espantar ninguém, como sempre, caminhou pelas ruas que lhe pareceram mais tranquilas, com a esperança de que as pessoas não estivessem circulando por causa da chuva. Levou um grande guarda-chuva preto, que serviria para que não se molhasse e também para escondê-lo, caso encontrasse alguém no caminho. Se surgisse alguém, abaixaria o guarda-chuva e ficaria atrás dele.

Quase deu certo. Passou uma pessoa, ele se escondeu atrás do guarda-chuva e não foi visto; depois passou outra, também não o viu escondido. Foi fácil porque eram poucas pessoas. Porém, com a atenção voltada para o movimento na calçada, não se lembrou de se esconder de quem passasse de carro.

E não é que vieram dois carros ao mesmo tempo, um de cada lado? Quando os dois motoristas viram aquele esqueleto, caminhando pela rua em plena luz do dia e ainda segurando um guarda-chuva, se assustaram, perderam o controle da direção e deram uma bela e barulhenta trombada: BLUUUM!

Percebendo que tinha provocado um acidente, Branquinho também se assustou, arrependeu-se de ter saído para passear durante o dia e resolveu correr de volta para casa; mas errou o caminho, entrou numa rua movimentada, cheia de gente. Naquela corrida maluca os seus ossos estalavam, fazendo muito barulho plec, plec, plec chamando a atenção de todo mundo por onde passava e causando um grande alvoroço, muita gente fugindo e gritando, assustada com aquele esqueleto que apareceu de repente correndo por ali.

Era tudo o que Branquinho não queria.

Nesse momento a chuva diminuiu e agora era apenas uma garoa, mas ele ainda estava longe de casa. Foi quando começou um vento muito forte, carregando muitas folhas das árvores bem na direção da sua casa. Então, teve a ideia de levantar o guarda-chuva para que o vento o carregasse também, pois é levezinho e iria muito mais rápido, sobrevoando aquela gente toda.

E assim foi.

Logo, ao passar por uma esquina voando pendurado no guarda-chuva, viu um jacaré verde que estava lambendo um sorvete de morango. Indignou-se com aquela invasão, mas não conseguiu parar para discutir, pois a ventania o levava. Porém, não conteve a exclamação:

Que atrevimento! Esta não é história de jacaré! E ainda mais de um jacaré tomando sorvete!  Será que eu vi direito? Que absurdo!

Por sorte, justamente aquele jacaré verde que apareceu de repente na história errada, todo lampeiro, chupando sorvete de morango sem ligar para a chuva, serviu para apavorar ainda mais as pessoas, que já estavam assustadas com o esqueleto e agora corriam e gritavam também com medo de levar uma mordida do jacaré. Bobagem delas, era um jacaré bem mansinho.

Foi a maior confusão!

Pendurado no guarda-chuva e levado pelo vento, Branquinho foi deixando tudo para trás e finalmente conseguiu chegar a sua casa, parar segurando-se no galho de uma árvore e aterrissar em seu quintal. Seu alívio foi tão grande que até achou graça quando se lembrou do jacaré e nem ficou bravo com a invasão de sua história. Mas desse dia em diante nunca mais se esqueceu do tremendo susto e das fortes emoções que teve ao sair à luz do dia. Agora só passeia à noite, mesmo.

            Por falar nisso, quem sabe você ainda se encontra com o Branquinho numa rua escura qualquer noite dessas, hein?     

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