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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

E, lá vamos nós! - Hirtis Lazarin


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lá vamos nós!
Hirtis Lazarin
  
          Atenção senhores passageiros e passageiras
          Benvindos ao novo trem paulistano
          Tenham todos uma boa viagem!

     Eu era o trem das novidades.
     Nada igual a todos os outros.
     Colorido e animado de verdade.

     Jamais esquecerei a minha primeira viagem.

                    Eu e o maquinista Joaquim
                    O maquinista Joaquim e eu
                    Eu e o maquinista Joaquim
                    O maquinista Joaquim e eu.
     Cheirava a tinta fresca.
     Meu brilho era tanto que tirava fotos do lugar.
     Corria macio sobre os trilhos
     nenhum defeito pra comentar.
     Lá ia eu destino certo: terra, serra até o mar. 
Já deixamos a primeira estação tão longe,
tamanha era a vontade de chegar.

     Um entra e sai de passageiros, cada um com coisas pra contar.
      Já aconteceu de tudo nesse tempo que eu nem vi passar.
     Levei a mocinha vestida de noiva pro rapaz que queria se casar.  Entreguei o filho que de casa fugiu e,  agora arrependido, voltava pra ficar.  Vi a mulher miúda, abatida esperando o marido que nunca quis voltar.
     Muita coisa engraçada gosto de lembrar.  A vaca holandesa deitada nos trilhos tirava um cochilo e nada de acordar.

               Era um puxa de cá
                             puxa de lá
                             puxa de lá
                             puxa de cá.
     E a malvada, por birra, fingia que nem estava lá.
     Quanto mais o pessoal puxava, mais a vaca se esparramava.
     Era gente zangando com hora pra desembarcar.
      Era criança torcendo pra vaca continuar lá.  
     Foi só o seu Toninho esfregar o seu focinho,
que a vaca, num pulo só, liberou nosso caminho.

     Não havia tempo a perder. 
Lá ia eu apitando...apitando...e o bando de cotovias , coitado, levantava voo e se perdia lá pro meio do cerrado.

     Havia noites de agonia.   Nuvens pretas e pesadas.  E já o dia escurecia.
     — Meu Deus do céu!  Punham-se todos a rezar. 
—Bem que o pastor avisou que o mundo podia acabar.
     O vento assobiava arrastando tudo pra todo lugar. 
Eram galhos, pedras, cascalhos.
     Gente nos bancos subia, gente sob os bancos se escondia. Que agonia! 
      Mães apavoradas acolhiam os filhos sob asas improvisadas. 
     Já se foram tantos anos...Tá difícil pra contar. 

Hoje eu e o maquinista Joaquim,  velhos e cansados, vamos nos aposentar.
     Ele volta pra família, vai curtir um punhado de netinhas.

     E eu, com certeza, serei desmontado num punhado de pecinhas.

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