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quarta-feira, 27 de abril de 2022

CARCASSONE - Alberto Landi

 


CARCASSONE

Alberto Landi

 

Sempre que se ouve falar de cidades medievais, castelos, muralhas, torres de pedra e calabouços, pensamos em contos de fadas e cenários de filmes.

Na França há uma verdadeira relíquia da Idade Media e uma das mais fantásticas, a pitoresca Carcassonne.

Situada na região de Languedoc-Roussilon, avista-se no alto de uma colina as muralhas desta cidade medieval e suas 52 torres pontiagudas apontando ao céu.

Começa o conto de fadas ao cruzar uma ponte levadiça.

Dentro de suas enormes muralhas e torres de pedra, há um labirinto de ruas estreitas que liga palácios, igrejas, casas antigas.  São ruas de pedra iluminadas apenas pelos antigos candelabros das casas. É uma volta ao passado.

É interessante visitar locais tão antigos, que foram palcos de muitas batalhas.

Na entrada principal, há um busto da Dama de Carcas, figura lendária, que deu origem ao nome do local.

Os principais atrativos são a Basilique Saint Nazaire com seus vitrais de mais de 700 anos, que foram desmontados e escondidos dos nazistas nas montanhas locais e o Chateau Comtal.

A arquitetura da Basilique é um misto de dois estilos: a românica e o gótico.  O primeiro se caracteriza por construções mais quadradas, pesadas, sem muitas janelas e ausência de vitrais. O gótico tem edificações com linhas mais angulosas, com as aberturas em forma de ogivas, os vitrais dão cor e vivacidade às janelas. 

Em 1840 virou patrimônio e passou por uma revitalização, pelo arquiteto Le Duc, o mesmo que também revitalizou a catedral de Notre Dame de Paris, nessa época.

O Chateau Comtal foi construído para proteger os nobres durante o período das cruzadas. Eles resolveram proteger os cátaros, um grupo que começou a questionar certos dogmas e posturas da igreja católica, e foram considerados hereges. Desta forma, os cruzados passaram a atacar a cidade medieval em busca desses profanadores da fé. A fortificação foi construída no século 12 por um nobre chamado Trencavel. Nessa época acreditava-se que o Santo Graal estivesse sob o domínio dos cátaros e até hoje existe essa lenda referente a esse tema.

Algumas alas chamam a atenção, o pátio, poço, capela interna, os afrescos pintados em parede e no teto, bem como as esculturas e os conjuntos de sarcófagos também esculpidos. Vários elementos remetem aos sarracenos.

Essas fortificações deveriam ser muito insalubres, seja pela falta de esgotamento sanitário, seja pela forma típica de construção, o que tornava os ambientes úmidos e frios.

A vida glamorosa desses castelos é invenção de Hollywood.

Tanto o castelo como as muralhas, possuem diversos nichos, que serviam para que as sentinelas ficassem de guarda.

É a cidade medieval mais preservada da Europa e conhecida pela sua fortaleza, construído entre 890 a 910 para defesa contra os ataques dos normandos.

Foi habitada por romanos, visigodos, sarracenos e cátaros, esses, com as cruzadas do papa Inocêncio III foram perseguidos e dizimados.

É inevitável imaginar as muralhas com 1.200 guerreiros, as suas ruas ocupadas por cavaleiros com armaduras.

Essa é uma pequena historia medieval desse fantástico lugar!

O HERÓI É HUMANO - Henrique Schnaider

 



O HERÓI É HUMANO

Henrique Schnaider


Ariovaldo é um homem destemido. Ele gosta de ajudar pessoas que se veem em situação difícil. Ele é bombeiro. Já salvou nestes 30 anos de profissão, muitas pessoas entre adultos e crianças, das mais diversas maneiras. Pessoas presas dentro de carros no meio da enchente. Crianças que caíram em poços ou perdidas na mata.

Ele ama a profissão que escolheu.  Pois sente que nasceu para isso. Porém, ele quando está em missão de salvamento, no afã de salvar pessoas e levar a cabo o atendimento, acaba passando dos limites. Esteve nos dois incêndios que fizeram história nos acontecimentos trágicos de São Paulo. O incêndio do Edifício Andraus e do Edifício Joelma.

No Edifício Andraus, Ariovaldo corajoso determinado a ultrapassar todos os limites para salvar o maior número de pessoas, o bombeiro esqueceu a principal lei que rege a vida de um soldado do fogo. “Em primeiro lugar cuida de ti, para depois salvar os outros. “

Ariovaldo entrou no meio daquelas enormes labaredas não pensando em mais nada, ao ouvir os gritos de socorro desesperados das pessoas. Não recuou, ainda que o fogo chegasse tão perto, quase lambendo a sua face.

Ele conseguiu salvar várias pessoas devido a sua coragem indômita. Pagou um preço caro por isso. Acabou tendo queimaduras de segundo e terceiro graus. Precisou ficar internado num hospital de queimados por dois meses, inclusive tendo que fazer transplante de pele.

Quando recebeu alta do hospital, ainda teve que ficar mais um mês em casa, terminando de se recuperar. Acabou com o rosto um tanto desfigurado. Apesar de todo tratamento moderno que recebeu. Nunca mais seria aquele homem de perfil grego perfeito, antes da tragédia.

Quando ficou na recuperação em casa, percebeu que, por ser um bombeiro extremamente dedicado à profissão, acabou relaxando na vida em família. Não dava a devida atenção à esposa e nem ao filho. Ambos se queixavam da pouca participação de Ariovaldo nos problemas familiares.

A esposa cuidou com todo carinho do marido e do filho da mesma forma e aquele bombeiro corajoso por sua vez, tentando se redimir da pouca atenção que dera a família.

Finalmente, Ariovaldo teve alta e voltou às atividades perigosas da profissão. Ele não perdeu aquele instinto de ir além dos limites toleráveis. Sempre nas missões mais perigosas lá estava o nosso herói pondo novamente a vida em risco.

Apesar do perigo, por diversas vezes entrou em atoleiros de enchentes de morros que deslizaram, soterrando dezenas de casas. Tentava desesperadamente localizar pessoas que ficaram embaixo daquele mar de lama, levando a missão ao êxito e em outras fracassando. Mas, sempre indo um passo além do que devia. Acabava se machucando, precisando de atendimento médico.

No lar as coisas iam de mal a pior. A relação com a esposa esfriou de vez e até pensavam em divórcio. Ariovaldo chegava em casa depois de um dia extenuante de tragédias, cansado, sem fome. Não conseguia sequer assistir T.V., cochilava sob o olhar desanimado da esposa.

Com o filho a relação tornou-se tensa. Já que com a ausência do pai e sem a devida e necessária atenção ao rapaz, a situação ia ladeira abaixo. Por várias vezes os pais foram chamados à escola, devido ao mau comportamento do rapaz.

A esposa de Ariovaldo ainda lhe chamou a atenção. Ultimamente ela notou que o filho estava andando com más companhias. Ela encontrou drogas nas roupas do rapaz, maconha e cocaína. Ariovaldo o herói corajoso, um fracasso como pai, marinheiro de primeira viagem. Não conseguia lidar com tantos conflitos. Covarde, fugiu da sua obrigação paterna. Entrava de cabeça nas missões mais perigosas.

O incêndio do Edifício Joelma foi terrível, morreram dezenas de pessoas. E lá estava o nosso herói pela metade. Não pensou duas vezes e foi prédio adentro. Tentando salvar as pessoas presas naquele mar de chamas. Ariovaldo conseguiu salvar várias pessoas. Na última entrada para mais uma tentativa de tirar alguém, a tragédia aconteceu e desta vez ele não voltou. Seu corpo foi encontrado carbonizado.

Ariovaldo teve um enterro com todas as homenagens devidas. Medalha de honra ao mérito post mortem do herói Bombeiro. Toque do silêncio e discursos elogiosos. Presentes a esposa e o filho. Orgulhosos pelo Bombeiro tão admirado que foi, mas tristes, porque apesar de ele ter sido um pai fracassado e ausente, iria fazer muita falta. Retiraram-se arrasados e desconsolados para uma nova vida sem a presença dele em casa.

 

quarta-feira, 13 de abril de 2022

ICAL - HIRTIS LAZARIN NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO

ERA O ANO DE 2012

O ICAL NA BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO


Destaque Nacional entrevista a escritora Hirtis Lazarin na Bienal

Durante o lançamento do livros infantis na Bienal, a Hirtis Lazarin foi entrevistada Destaque Nacional. 

Veja a entrevista e sinta a emoção da escritora ao falar de seus livros, e do ICAL. 

Parabéns Hirts! Parabéns a todas! 

Agradecemos a nossa amiga, escritora Hirtis Lazarin.

Agradecemos ao Destaque Nacional, e ao simpático repórter Edgar Santos pelo bom trabalho.

Adamastor, o gigante - Alberto Landi

 


Adamastor, o gigante

Alberto Landi

 

Adamastor é um mítico gigante, baseado na mitologia Greco-romana, citado por Camões em os Lusíadas.

Representava as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma tempestade, ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o cabo da Boa Esperança e entrasse ao Oceano Índico, que eram os domínios desse gigante.

Ele afundava naus, cuja figura se desfazia em lágrimas, que representava as águas salgadas que banhavam as confluências dos oceanos Atlântico e Índico.

Era uma oposição dele à audácia dos navegadores portugueses. Porém, ele tinha uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso se padece dessa doença benigna, que é o amor.

Os navegadores e marinheiros aprenderam a recusar esses mitos e chegaram a esse Cabo, conhecido pela impossibilidade de se navegar, o que propiciaria abrir às portas da Índia.

Esses mares serviram muitas vezes de sepultura à embarcações e a gentes carregadas de riquezas e de desilusões, como que comprovando as profecias de Adamastor.

Há uma citação interessante de Bocage:

“Bem te vingaste em nós do destemido Vasco da Gama!

Pelos nossos desastres és famoso!

Maldito Adamastor! Maldita fama!”

Representa a figura mítica que Camões criou para simbolizar a passagem para as Índias. Hábeis marinheiros conduzidos por Bartolomeu Dias, em 1488 esse gigante deixou de ser assustador.

Há uma estátua do gigante Adamastor em Lisboa, no miradouro de Santa Catarina, com vista privilegiada para o Tejo, e é hoje a melhor companhia para ver o crepúsculo desde esse miradouro!

 

Fontes; anotações pessoais, leitura de Os Lusíadas e alguns sites.

CARAMELOS DELICIOSOS - Helio Fernando Salema

 




CARAMELOS DELICIOSOS

Helio Fernando Salema

 

Saí da pizzaria, caminhava para tomar o metrô. Meu desejo era ir para casa, ouvir música e dormir. Mas surgiram na minha frente duas amigas. Foi um ótimo encontro.

Só não imaginava a mudança que iria ocorrer.

Ficamos contentes, pois há muito tempo que não nos víamos. Lembramos que a última vez foi numa festa organizada por uma delas, a Sara. Que fez questão de ressaltar a minha participação naquele evento.

Realmente, colaborei com sugestões, ajudei nas compras e na arrumação, que ela insistia chamar de decoração.

Nesse instante aparece a ”figurinha” conhecida como SHIELA, mas no registro Shirlei Elena.

Já chegou intrometendo-se:

— Vocês vão no niver da Margarida? Lógico que vão né?

— Não! Estamos indo para a casa da Marisa. Respondeu Sara.

— Quem? Eu não conheço!

Luciana completou:

— Colega nossa de trabalho.

— Posso ir também?

Sabendo que não haveria outra alternativa, Sara se adiantou:

— Vamos logo, é aqui perto, no outro quarteirão.

Avisei que não iria. Luciana com aquela postura de mandona, que possuía, olhou para mim e ordenou:

— Vamos!

Usei todo o meu talento e argumentos:

— Claro que não! Não conheço a dita cuja. Não fui convidado. Não tenho vocação para penetra. Ainda mais, não tenho presente para a aniversariante. Acabei de saborear e me empanturrar de pizza. Trabalhei que nem um burro velho, transportando carga pesada.

 

Inclinei-me em direção a Sara para dar os beijinhos de despedida. Luciana me agarrou pelo braço e ordenou:

— Vamos! Não é hora de despedida.

Assim, com apoio da Sara, Luciana foi me puxando pelos braços. Literalmente arrastado por duas mulheres, sem nenhum homem por perto para me socorrer. Somente atrás de mim Shiela, convidando-se:

— Então eu vou com vocês.

Luciana e Sara se mantiveram caladas como se estivessem dando recado para a penetra audaciosa.

Na entrada do prédio, o porteiro que conversava com outras senhoras, arregalou os olhos. Perguntou se precisávamos de ajuda. Imaginei minha cara, era de alguém passando muito mal. Elas que, certamente, eram frequentadoras do prédio, ele as conhecia de longa data. Elas então, apressaram-se em dizer que não havia necessidade.

Por um instante, pensei em fingir que estava mesmo passando mal e assim escapar. Certamente, não daria certo. Perderia de 3 x 1.

Aceitei a derrota. Fomos para outro jogo. Num campo que não conhecia e em desvantagem numérica.

Ao chegarmos fomos recebidos com muita alegria pela aniversariante, Marisa. Também pela meia dúzia de mulheres que ali estavam, ou seja, a maioria numérica era feminina.

Antecipei-me para desculpar e explicar por não ter levado presente. A aniversariante, muito simpática, disse que a nossa presença era o melhor presente. Que eu era muito importante para que não parecesse o Clube das Luluzinhas.

Shiela, como não deixava passar em branco:

— Também se ele trouxesse, pão duro do jeito que é, seria a famosa ”lembrancinha”.

Houve uma explosão de risos, o que me deixou ainda mais envergonhado. No pensamento eu enviei Shiela para vários lugares conhecidíssimos, inclusive para a ponte que caiu.

Luciana explicou que Marisa tinha prazer em receber pessoas. Ela é que nos presenteava com seus maravilhosos doces. Minhas três amigas fizeram questão de me levar até o recanto das formigas.

Meus olhos fitavam e minha boca transbordava de saliva “Meus preferidos caramelos havia, percebi assim que os vi sobre a mesa, uma verdadeira adoração. ”

Minhas amigas, unidas como, três “moscas inteiras”, me acompanharam na maravilhosa batalha de provar todo aquele arsenal. Cada doce era seguido de comentários exaltados de Shiela:

— Nossa, que delícia! …Nunca provei coisa igual! … Não dá mesmo vontade de parar. Não é?

Em silêncio e concentrado nos caramelos, ignorei o palavreado de Shiela.

Para a Marisa, que estava ao meu lado, expliquei o meu encanto por caramelos. À medida que os saboreava fazia sinceros elogios.

Pela expressão da aniversariante, fiquei tranquilo. Vi que ela demonstrava satisfação pela  minha aprovação e elogios, recebia-os como meu presente.

 

Santa Maria di Leuca - Alberto Landi

 



Santa Maria di Leuca

Alberto Landi

 

Santa Maria di Leuca, é uma pequenina cidade, provida de muitas lendas, muita natureza, mar e sol, e outras belezas.

Situada na província de Lecce, entre os mares Adriático e Jônico, bem no extremo do calcanhar da bota, na região de Puglia. Seu nome deriva do grego, Leukos, que significa iluminado pelo sol.

Há uma lenda muito interessante, que dizem, que no extremo da península de Salento vivia uma linda mulher, com delicada pele branca como porcelana, olhos azuis como o mar e cabelos dourados como trigo, seu nome, Tálassa.

O seu canto chamava a atenção, até que um dia, um pastor chamado Menelau, passando com seu rebanho, foi atraído pela sua voz suave e delicada.

Tentou seduzi-lo, mas foi em vão, ele já estava comprometido com uma mulher da aristocracia de Lecce, de nome Ilítia.

Furiosa diante da recusa, Tálassa jurou vingança.

Com o decorrer do tempo, ela percebeu que o casal gostava de caminhar ao longo da costa, evocou os deuses, para que uma grande tempestade desabasse, deixando os céus cinza, o mar revolto e ventos ferozes.

Caíram no mar, e morreram.

Minerva, a deusa, vendo esta cena do Olimpo, sentiu muita pena do casal e resolveu petrificar os corpos, para eternizá-los. Para isso criou dois promontórios, entre os dois mares.

Assim, eles puderam manter o amor, porém, sem poder se tocar.

Com muito remorso, Tálassa, perdeu sua linda voz e por fim se suicidou.

Dizem que ela se transformou em rochas brancas que ficam entre dois cabos. Essa é uma das lendas muito comentadas nessa região.

O lugar mais interessante e com um visual de tirar o fôlego, é da Basílica, situada ao lado do farol, onde há um templo dedicado à Minerva, e para os cristãos simbolizam o portal para o paraíso. Deste ponto se avista os mares Adriático e Jônico, com suas águas cristalinas e o céu azul, parece uma pintura feita por um grande artista.

Descendo para a marina, há escadarias, são 284 degraus para descer e outros tantos para subir.

É um pedaço da Itália sensacional!


quarta-feira, 6 de abril de 2022

VIAGEM DE NAVIO - Alberto Landi

 



 VIAGEM DE NAVIO

Alberto Landi

 

Um dos meus sonhos era viajar de navio, num cruzeiro, atravessando mares!

O desconhecido para alguns representa o medo, para outros, a fascinação de novas descobertas com suas maravilhas. E quem se aventura a ir onde pessoas jamais estiveram, se torna um afortunado!

Mas aconteceu, e quando subi as escadas, não acreditei que era real.

Foi assim que resolvi embarcar num cruzeiro rumo ao Alasca, partindo do porto de Seattle.

A vantagem de se estar embarcado, é o conforto e a comodidade de ver paisagens lindas e inesquecíveis sem precisar se preocupar com locomoção e hospedagem. A cada parada é possível conhecer pequenos lugares que ainda mantêm estilo de vida pacato e quase isolado do mundo ou lugares movimentados, mas inesquecíveis.

Escolhi o Alasca, porque é terra de superlativos, é o maior estado americano, abriga o maior pico, o maior parque nacional e a maior floresta dos Estados Unidos. Há glaciares mais extensos que países inteiros, baleia Jubarte de até 15 metros e ursos polares de até 500 kilos.

A primeira parada seria em Anchorage, que é a maior cidade desse estado, situada entre a cordilheira do Alasca e as montanhas Chugach.

Ao adentrar, após as formalidades de praxe, me dirigi à cabine, sendo esta com varanda com vista para o mar, garantindo um visual deslumbrante.

A acomodação da cabine era como de um hotel de luxo, possuindo todas as amenities, uma cama com um edredom branco   e toalhas dobradas, imitando cisne!

A janela que ocupava toda a parede mostrava uma paisagem maravilhosa do mar de cor azul e bem lá no horizonte, o encontro com o céu azulado e o sol se escondendo atrás das nuvens, parecia mais um quadro pintado pelo mais poderoso Arquiteto da natureza. Tanto o quarto como a sala de estar da cabine exalavam um perfume de lavanda propiciando ao ambiente leveza e aconchego.

Espaçosa, confortável, com entrada de luz natural, a varanda privativa ideal para relaxar, ler um livro, tomar café da manhã, tinha um bom isolamento acústico, localização distante de espaços de movimentação noturna, como teatros, cassinos e boates, e dos elevadores.

No entanto, estava bem próxima da proa, de forma que se sentia mais intensa a movimentação da embarcação. A cabine não era obstruída por nenhum bote salva vidas ou outra estrutura, porém, é a mais afetada pelo movimento das ondas que à noite embalava o sono

Há a vantagem também de os percursos, entre um destino e outro, serem feitos à noite, enquanto se assiste a ótimas peças  de teatro ou cinema,  ou ainda outras atividades.

Sempre que se aproximava de um porto, havia bandos de aves sobrevoando toda a extensão do navio.

No terceiro dia de navegação, acordei cedo como habitualmente faço e nesse momento, vejo o horizonte e contemplo o seu esplendor com o céu límpido e ainda semiescuro que se estendia até os limites do horizonte, se erguendo ao céu com luzes alaranjadas que se espalharam em um leque vivo de cor intensa que se desvanecia à medida que o sol começava a apontar na vasta imensidão do oceano.

Esses mares do Alasca são frios e perigosos, muitos já se aventuraram em pequenas embarcações e poucos voltaram, não se pode contar apenas com a sorte.

Nesse dia o mar estava calmo e na varanda fui surpreendido com um grande número de peixes voadores, fiquei maravilhado, pois pareciam peixes de prata polida, e ao longe havia tubarões que com certeza seguiam aqueles cardumes.

O sol oscilava na vastidão do oceano e os meus olhos eram capazes de acompanhá-lo lentamente, subindo e descendo majestoso, formando uma ponte de ouro que brilhava na água, quase tocando a linha do horizonte.

De repente, um ciclone surgiu em nossa rota, tornando a navegação complicada, ondas gigantescas e ventos fortes apareceram, fazendo a embarcação inclinar para ambos os lados; isso continuou até o entardecer.

Um nevoeiro se fez e foi preciso fazer desvio de rota. Conforme o nevoeiro se dissipava, nos deparamos com uma enorme parede glacial que mais parecia um território desconhecido e inexplorado.

Nessa enorme parede glacial jamais foi encontrada uma abertura, quaisquer fissuras ou promontórios em sua face que permitisse adentrar.

Parecia que estávamos navegando em um círculo fechado, essa parede glacial se estendia muito mais além do alcance de nossas vistas, circundando e mantendo juntas as terras continentais para as quais tenham sido fixadas desde a criação.

Enfim, foi a mais espetacular viagem que fiz em toda minha vida!


É aqui que eu quero morrer - Hirtis Lazarin

 



É aqui que eu quero morrer

Hirtis Lazarin

 

Finalmente, eu e o taxista chegamos ao topo do penhasco, mil seiscentos e quarenta e cinco metros acima do mar.

O caminho irregular e cheio de curvas estreitas, uma serpente negra e lisa incrustrada no verde da natureza viva.

A chuva fraquinha se fora e a lua crescente, num sorriso quase cheio, apareceu entre nuvens velozes e iluminou-nos com uma luz incerta.  Um punhado de estrelas surgiu e o céu concluiu sua rotina de escurecer.  Noite suave e serena.  Apenas o cri-cri-cri dos grilos invisíveis e a cantoria de uma nota só das cigarras.

Era só o que eu queria quando deixei o trabalho, a cidade grande e mil problemas não resolvidos.

A pousada que escolhi era de madeira. Além do aconchego, a madeira proporciona conforto térmico, deixando o ambiente fresco no verão e aquecido no inverno. Rodeada de salgueiros e hortênsias mais parecia um ateliê de artista.

Adormeci com os pássaros e assim que o clarão da manhã primaveril entrou no quarto por vacilo das cortinas mal-ajeitadas, saltei disposto a desfrutar cada pedacinho daquele vilarejo medieval.

À primeira vista, “COLFOSCO” cabia num só olhar.  Mais parecia um quadro ou um cenário fotográfico.  Uma paisagem com charme pitoresco que guarda um patrimônio: a história, a arquitetura, as belas paisagens e a cultura do país, uma vez que nos remetem à Idade Média.

Passar por essas estradinhas é voltar séculos no tempo. São ruínas de pedras, o castelo construído no século XIII, o monastério dos monges beneditinos, fileira de casas de pedra com telhas vermelhas próximas umas das outras e ruas sinuosas de paralelepípedos. Elas sobem até o relógio da torre, no coração daquele paraíso.

Era domingo e a missa do padre Piero durou mais de uma hora. No lado leste da igrejinha, a sombra adocicada de uma castanheira em floração tolera crianças irrequietas de bochechas vermelhas que correm e gritam alto à revelia dos pais.

Do alto do penhasco, pode-se ver o mar preguiçoso em seu momento de calmaria. Não pretende espantar o bando de gaivotas famintas que caminha indiferente ciscando entre as pedras.

E, pra encerrar a noite, há uma festa gastronômica regada a vinho produzido no local.

Já se passou uma semana e eu não sinto vontade de voltar. Angustia-me esse pensamento.  Voltar ao mundo complicado do progresso que nos trouxe maravilhas, é verdade, mas engoliu a simplicidade, o equilíbrio e a capacidade de viver com menos coisas e mais tempo.

É impossível fugir dessa ciranda traiçoeira.



Imigrando - Henrique Schnaider

 


 Imigrando

Henrique Schnaider

 

Rodolfo Crespi conheceu Mirna durante a viagem do imponente Vapor Conte Grande ao Brasil, trazendo dezenas de imigrantes italianos. Durante esta viagem, o amor típico italiano, explodiu em duas pessoas, Rodolfo e Mirna. Nada os impedia de se unir em matrimônio. Como era costume da época, pediram ao Capitão do navio Senhor Giovanni que os casasse e sob intensa emoção e encantamento, a cerimônia foi realizada.

Chegaram da Itália no ano de 1920. O navio branco levado pelo rebocador, encostou no Porto de Santos, soltando suas grossas amarras para que, aqueles negros estivadores lustrosos, com os dorsos amostra, suados com o calor do sol do meio-dia, prenderem firme    aquele imenso Vapor.

Na chegada, a emoção tomou conta de todos os passageiros. Na sua maioria vindos da Itália. Cantavam muitas músicas da saudosa terra natal. América! América! Lágrimas rolaram nos rostos grosseiros de lavradores que trabalhavam a terra na região de Puglia.

Depois de todo trabalho para passar na Alfândega e na Imigração, pegaram um trem da Cia Paulista de Trens em direção a São Paulo. Viagem que pareceu uma eternidade, até chegarem na Estação da Luz. Rodolfo e Mirna foram de ônibus para o bairro da Mooca, veículos estes, que haviam recentemente substituído as carroças.

Foram morar no bairro da Mooca numa pensão barata que pertencia à italiana Bruna, fofoqueira de primeira, uma chiveta como diziam os italianos. Os primeiros meses foram muito difíceis para o casal de imigrantes. Tinham alguma reserva para viverem de forma bem simples.

Depois de um ano de muito sofrimento e uma vida dura, Mirna grávida do primeiro de seus 10 filhos, (O italiano era fogo na roupa). Assim, cada ano nascia um filho Maschio. Conseguiu comprar, com muito sacrifício, a barraca de frutas do seu conterrâneo Aristide, que queria se aposentar.

Rodolfo era muito alegre e comunicativo. Buscava frutas muito bem escolhidas no Mercado Central. Montava a barraca às seis horas da manhã. Logo nos primeiros raios de sol. Os primeiros clientes chegaram. Rodolfo cantava as músicas da velha Itália e, ajudado por Mirna com aquela barrigona, prestes a dar à luz ao primogênito Armando, vendiam as frutas. O burburinho já era grande de pessoas indo e vindo. A gritaria dos feirantes era enorme e cada um querendo vender o seu produto. Pega três e paga duas, leva uma dúzia paga só 6. O aroma era uma mistura enorme do cheiro de frutas da estação, verduras e legumes. Era uma alegria só, e a feira ia até as 13,30 horas. No final era a hora da xepa.  Hora de comprar barato, tudo liquidando.

O paisano conhecia este trabalho como poucos. Desde as plantações e colheitas de frutas lá da sua amada Puglia. Assim a vida foi melhorando e a barraca aumentando e o dinheiro entrando. Depois de dois anos de trabalho intenso, Rodolfo comprou sua casinha de pintura fresca cheirando a tudo novo. O casal não cabia em si de tanta felicidade.

Os anos foram passando, a família aumentando. Além da feira, Rodolfo começou a frequentar o Clube Atlético Juventus. Tempos depois, tornou-se o Presidente do Clube. Barraca de frutas indo cada vez melhor e a família tornou-se abastada.

Rodolfo e a esposa Mirna e os dez filhos presenciaram uma homenagem que o Clube Juventus fez. Condecorou Rodolfo com o título de Conde e o Estádio do Clube Atlético Juventus, passou a se chamar, Estádio Conde Rodolfo Crespi.

A idade foi chegando para o velho imigrante italiano. Assim finalmente com muita tristeza, depois de cinquenta anos de muito trabalho naquela feira. Onde todos os feirantes e os clientes, tornaram-se uma grande família de imigrantes italianos e após centenas de feiras realizadas.

O filho primogênito Armando, passou a tomar conta da barraca de frutas, estabelecida no querido bairro da Mooca. Quanto ao Conde Rodolfo e a esposa Mirna, depois de uma viagem nostálgica a querida Puglia, começaram a usufruir da merecida aposentadoria, ambos já próximos dos noventa anos.  


ÉVORAMONTE - Alberto Landi

 


ÉVORAMONTE

Alberto Landi

 

No Alentejo há vilarejos charmosos e muitas maravilhas naturais; cenários inesquecíveis que ficam ainda mais incríveis ao pôr do sol.

Évoramonte, situado nas planícies verdejantes, são imensas de perder de vista. Ela é salpicada por sobreiros e colinas, com casas caiadas de branco criando paisagens deslumbrantes.

 Alguns vestígios megalíticos são vistos também.

É possível vislumbrar no alto da colina, a vila protegida pelas muralhas, casarios caiados de branco a contrastar com a cor castanha da fortaleza e de onde se destaca a Torre de Menagem.

Ao subir a colina, o visual começa a mudar, sendo provável admirar do alto toda a beleza da planície alentejana e ate um lago com pequenas ilhotas.

É uma vila charmosa, que fica em posição perfeita para observar o por do sol. Em dias claros pode se visualizar a Espanha.

É protegida por muro alto, espesso e extenso para defesa da fortaleza, com ruazinhas de pedra e casinhas brancas, parece um conto de fadas!

Campos, vinícolas e muito verdes rodeiam o vilarejo, que está localizada próxima a Evora.

No seu ponto mais elevado fica o castelo. Dentro da muralha, metade da área é de gramado, vegetação e ruínas.

Sua construção é estimada por volta de 1160 após a reconquista cristã aos mouros. Seu estilo limpo e simples mistura elementos do gótico com o renascentista de inspiração italiana. Canhoneiras e frestas de tiro guardavam a vila.

Ao adentrar, é como se fizéssemos uma viagem ao passado, as ruas de xisto negro a contrastar com branco das paredes das casas e os apontamentos medievais bem conservados, é como se o tempo tivesse parado nesse lugar.

O castelo e a cidade murada, outrora, tiveram elevada importância geográfica e militar. O paredão de 5 lados, tem uma forma quase triangular.

Encerrar o dia, é realmente mágico, garante um por do sol, fascinante e perfeito, refletindo tons de amarelo, laranja e vermelho na planície.

Contemplar o poente nas planícies alentejanas, é um verdadeiro presente para os olhos!

 

 

Fontes: anotações pessoais e leitura de vários sites


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