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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Imigrando - Henrique Schnaider

 


 Imigrando

Henrique Schnaider

 

Rodolfo Crespi conheceu Mirna durante a viagem do imponente Vapor Conte Grande ao Brasil, trazendo dezenas de imigrantes italianos. Durante esta viagem, o amor típico italiano, explodiu em duas pessoas, Rodolfo e Mirna. Nada os impedia de se unir em matrimônio. Como era costume da época, pediram ao Capitão do navio Senhor Giovanni que os casasse e sob intensa emoção e encantamento, a cerimônia foi realizada.

Chegaram da Itália no ano de 1920. O navio branco levado pelo rebocador, encostou no Porto de Santos, soltando suas grossas amarras para que, aqueles negros estivadores lustrosos, com os dorsos amostra, suados com o calor do sol do meio-dia, prenderem firme    aquele imenso Vapor.

Na chegada, a emoção tomou conta de todos os passageiros. Na sua maioria vindos da Itália. Cantavam muitas músicas da saudosa terra natal. América! América! Lágrimas rolaram nos rostos grosseiros de lavradores que trabalhavam a terra na região de Puglia.

Depois de todo trabalho para passar na Alfândega e na Imigração, pegaram um trem da Cia Paulista de Trens em direção a São Paulo. Viagem que pareceu uma eternidade, até chegarem na Estação da Luz. Rodolfo e Mirna foram de ônibus para o bairro da Mooca, veículos estes, que haviam recentemente substituído as carroças.

Foram morar no bairro da Mooca numa pensão barata que pertencia à italiana Bruna, fofoqueira de primeira, uma chiveta como diziam os italianos. Os primeiros meses foram muito difíceis para o casal de imigrantes. Tinham alguma reserva para viverem de forma bem simples.

Depois de um ano de muito sofrimento e uma vida dura, Mirna grávida do primeiro de seus 10 filhos, (O italiano era fogo na roupa). Assim, cada ano nascia um filho Maschio. Conseguiu comprar, com muito sacrifício, a barraca de frutas do seu conterrâneo Aristide, que queria se aposentar.

Rodolfo era muito alegre e comunicativo. Buscava frutas muito bem escolhidas no Mercado Central. Montava a barraca às seis horas da manhã. Logo nos primeiros raios de sol. Os primeiros clientes chegaram. Rodolfo cantava as músicas da velha Itália e, ajudado por Mirna com aquela barrigona, prestes a dar à luz ao primogênito Armando, vendiam as frutas. O burburinho já era grande de pessoas indo e vindo. A gritaria dos feirantes era enorme e cada um querendo vender o seu produto. Pega três e paga duas, leva uma dúzia paga só 6. O aroma era uma mistura enorme do cheiro de frutas da estação, verduras e legumes. Era uma alegria só, e a feira ia até as 13,30 horas. No final era a hora da xepa.  Hora de comprar barato, tudo liquidando.

O paisano conhecia este trabalho como poucos. Desde as plantações e colheitas de frutas lá da sua amada Puglia. Assim a vida foi melhorando e a barraca aumentando e o dinheiro entrando. Depois de dois anos de trabalho intenso, Rodolfo comprou sua casinha de pintura fresca cheirando a tudo novo. O casal não cabia em si de tanta felicidade.

Os anos foram passando, a família aumentando. Além da feira, Rodolfo começou a frequentar o Clube Atlético Juventus. Tempos depois, tornou-se o Presidente do Clube. Barraca de frutas indo cada vez melhor e a família tornou-se abastada.

Rodolfo e a esposa Mirna e os dez filhos presenciaram uma homenagem que o Clube Juventus fez. Condecorou Rodolfo com o título de Conde e o Estádio do Clube Atlético Juventus, passou a se chamar, Estádio Conde Rodolfo Crespi.

A idade foi chegando para o velho imigrante italiano. Assim finalmente com muita tristeza, depois de cinquenta anos de muito trabalho naquela feira. Onde todos os feirantes e os clientes, tornaram-se uma grande família de imigrantes italianos e após centenas de feiras realizadas.

O filho primogênito Armando, passou a tomar conta da barraca de frutas, estabelecida no querido bairro da Mooca. Quanto ao Conde Rodolfo e a esposa Mirna, depois de uma viagem nostálgica a querida Puglia, começaram a usufruir da merecida aposentadoria, ambos já próximos dos noventa anos.  


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