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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Lembranças de tempo que não volta mais - ALBERTO LANDI

 


Lembranças de tempo que não volta mais

ALBERTO LANDI

 

A casa em que viemos habitar na pequena aldeia de Moncaras, no Alentejo, no outono do ano de 2012, era conhecida na vizinhança e em toda a aldeia como a casa de salmão, devido a cor de sua pintura, era a casa de minha família, os Ferreira.

Era um sombrio casarão de paredes internas pintadas de branco que dava a sensação de amplitude do ambiente, com 2 salas e 2 quartos.

A princípio tinha um aspecto triste, pois havia muitos anos que não era habitada, desde o falecimento de meus avós, há 12 anos.

Parecia mais uma residência eclesiástica.

Ao fundo da casa havia um quintal bem simples, abandonado pelas ervas daninhas, um pequeno cipreste, uma pequena cascata seca e uma estátua mediana em mármore logo reconhecida por ser uma réplica de Leda e o Cisne.

Segundo a mitologia Leda foi rainha de Esparta e Zeus transfigurado em cisne, objetivando seduzi-la.

Os Ferreira, era uma antiga família do Alentejo, sem muitas parentelas.

No interior da casa em uma das salas, havia uma bela tela de Van Gogh toda pintada de amarela e uma outra de uma mulher com tricorne de plumas   e vestido cor escarlate típico de uma caçadora inglesa, tendo como fundo uma paisagem enevoada.

Na outra sala, bem menor, um piano, duas tapeçarias de Gobelins, em tons cinza, e algumas faianças portuguesas produzidas na aldeia de Juncal.

Uma tela de Rubens, uma antiga relíquia da casa de meus avós, um Cristo na cruz, destacando   nudez sobre um céu de poente revolto e rubro.

 

Os quartos bem modestos e confortáveis, com tapetes artesanais da vila de Arraiolos e, 2 camas de casais, uma em cada quarto, em madeira de carvalho.

A aldeia de Moncaras tem magnificas histórias de reis audazes, cavaleiros templários e damas de belezas singulares.

A aldeia é constituída de pequenas ruas empedradas e que mantém a memória de muitas vidas que por ali passaram.

Há pequenos monumentos megalíticos que nos leva através dos tempos.

Há um turismo dinâmico, atraído pelo rico patrimônio cultural e gastronômico,

Há uma pequena igreja do século 16, a  Nossa Senhora de Monsaraz, de estilo gótico.

A parte frontal da igreja é decorada por um painel de azulejos e uma Cruz da Ordem de Cristo.

Em seu interior há um misterioso túmulo de um cavaleiro templário desconhecido.

Bem em frente à igreja, há um Pelourinho oitocentista.

Além das ruas empedradas, há uma grande rua principal, onde fica o pequeno comércio de artigos da região e também o centro gastronômico,

No interior da igreja um fato curioso, é que havia algumas telas de Portinari, o que mostra a ampliação de seu acervo cultural.

A pequena aldeia era muito interessante para visitação.

Sobre o altar principal, havia uma tela que mostrava Jesus e os apóstolos.

 

Foi nessa pequena aldeia, que fui morar, após anos de trabalho em cidades grandes, até chegar minha aposentadoria.

A casa de salmão, como era chamada foi uma herança de meus avós para mim, e também foi aqui que encontrei paz e tranquilidade junto com a família para desfrutar minha vida.  

Devo aos meus ancestrais que se sacrificaram muito no decorrer da vida, para que um dia pudesse ter uma vida melhor.

Não há palavras para homenageá-los|  

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O DIA EM QUE ELA VOLTOU - Leon Vigliengo

 




O DIA EM QUE ELA VOLTOU

Leon Vigliengo

 

 

Quantas vezes a nossa mente nos libera memórias que nos trazem fortes emoções e nos fazem sonhar, mesmo acordados...

Quando eu era ainda muito pequeno, os meus pais foram morar provisoriamente na casa de meus avós maternos, no bairro do Bom Retiro, na Rua Ribeiro de Lima, 444, bem próximo ao Jardim da Luz, onde sempre me levavam para passear e brincar.

Ainda me recordo dos coquinhos amarelinhos que se destacavam no gramado muito verde e bem cuidado; muito doces, seus fiapos ficavam presos em meus dentes após saboreá-los. O verde das árvores predominava no Jardim, difundindo uma sensação de tranquilidade, e meu pai sempre encontrava e me mostrava algum bicho-preguiça movendo-se lentamente entre os galhos de alguma jaqueira, cujos frutos me impressionavam por seu tamanho. Lembro-me ainda de um lago redondo que lá existe, onde viviam muitos peixes coloridos. Enfim, o Jardim da Luz era um ótimo local para divertir e mostrar novidades a um menino de quatro ou cinco anos.

Naquela época, início da década de 1950, viviam no bairro, em casas modestas e até em porões, muitos imigrantes italianos, poloneses, espanhóis, portugueses, e uma representativa colônia judaica, todos contribuindo com seus hábitos culturais e seus sotaques para a formação de uma interessante e amistosa comunidade. As ruas do bairro e de quase toda a cidade eram calçadas com paralelepípedos, muitas ainda de terra batida, e à noite apresentavam uma iluminação fraca e com muitas sombras.

A casa de meus avós era de bom tamanho, embora antiga e modesta, daquelas que tinham a porta de entrada diretamente na rua, como era bastante comum na região. Se bem me recordo, tinha dois quartos, uma boa sala de jantar e uma área de passagem, ligados por um corredor que ao final passava por um banheiro e chegava à cozinha, lugar preferido por meu avô Manoel. Lá também ele recebia os amigos que vinham visitá-lo, como era costume naquela época. Lembro-me bem do senhor Domingos, que sempre me trazia garrafinhas de chocolate com licor.

Em sequência à cozinha vinha um patamar e uma escada que descia ao quintal, onde as roupas lavadas por minha avó quaravam sobre folhas de zinco, nas quais eu costumava arranhar as minhas pernas quando pedalava o meu velocípede, sempre seguido da Bolinha, a cachorrinha da casa.

No quintal, ladeando a cozinha e o banheiro, havia um corredor bem sombreado, largo e sempre fresquinho, com muitas avencas, begônias e samambaias cuidadas por minha avó Camila; nesse corredor estavam duas passagens abertas para o porão, que se estendia por baixo de toda a casa.

Um quartinho na lateral dos fundos do terreno, onde meu avô guardava algumas ferramentas, e um pequeno galinheiro ao lado desse quarto completavam a área.

Nesse ambiente reinava Dona Camila. Espanhola, muito católica, com o seu jeito altivo e seus conceitos austeros, próprios da época e de suas origens, viera para o Brasil já casada, mas ainda jovem, na década de 1910. Ela e meu avô, que por profissão conduzia trens como Maquinista da São Paulo Railways, conseguiram estabelecer-se em São Paulo e criar suas quatro filhas. A mais velha, porém, minha tia Rosalia, adoentou-se e faleceu aos dezenove anos. Um mês depois o sofrimento dessa perda já havia marcado de branco todos os cabelos de Dona Camila, que contrastavam com a sua vestimenta inteiramente de cor preta pelo luto que manteve durante todo o restante de sua vida. Suas três filhas se casaram e os sete netos que vieram lhe deram grande alegria, mas nunca se reduziu o seu sofrimento pela morte de sua filha.

Havia uma creche na esquina com a Rua Prates, onde ela me levava para brincar com as crianças. Desconfia-se que foi lá que peguei catapora, caxumba e sarampo, ficando imunizado para essas doenças. Durante o tempo em que morei com os meus pais em sua casa pude sentir todo o amor que uma avó tem por seus netos. Nada que eu fizesse era errado, eu tinha a companhia permanente e o total apoio dela, mesmo nas traquinagens. Ela ria feliz e me incentivava sempre. Esse relacionamento de convívio durante a primeira infância criou raízes muito profundas que permaneceram para sempre.

São memórias muito antigas, e o tempo as havia escondido de minha lembrança.

O meu avô Manoel faleceu em 1956 e a minha avó Camila em 1970.

Foi num domingo de 2019. Voltei para casa bastante cansado, mas feliz, após fortes pedaladas num longo percurso de bicicleta, como os de meu costume aos domingos. Após almoçar com muita gula e exagero, sentei-me no sofá da sala para assistir a um filme na televisão. Aos poucos, porém, o sono me alcançou e as imagens ficaram instáveis; ora sumiam, ora voltavam, até que sumiram de vez.

Não sei quanto tempo depois ela apareceu. Inicialmente apenas um vulto em um cenário escuro, que foi clareando até a nitidez. Ali estava a minha avó Camila a me olhar e sorrir para mim, depois de quase cinquenta anos de saudades. Mesmos cabelos brancos, mesmas vestimentas pretas; nada disse, não foi necessário. Amigos e cúmplices se entendem sempre, a qualquer tempo.

Acordei chorando pela emoção e pela saudade. Nesse dia ela voltou.


O TROPEIRO GASPAR - Claudionor Dias da Costa

 

      


O TROPEIRO GASPAR

Claudionor Dias da Costa


         O que teria acontecido comigo e por onde eu taria, se naqueles meus vinte anos a Maria da Glória não “houvesse” fugido com meu amigo Fagundes?

         Hoje tô eu aqui pensativo e ainda sortero ruminando uma solidão mas, tô até consolado por esse charuto gostoso. Caramba, fazia 3 dias que não fumava um trem tão bão...

         Parece que foi ontem. E passou 50 ano...Eta Maria da Glória. Ela me tirava o sossego.

         Nos meus 25 ano que eu tinha que me engraça tanto pro lado dela?  Era aquela brancura de pele macia, o sorriso tímido olhando prá baixo, os cabelos lisinhos naquelas tranças ou aqueles oios castanhos da cor da rapadura que o Zé Mineiro fazia no seu sitio? Ela era aquela formosura Era como disse o locutor otro dia no rádio elogiando o compositor sertanejo: ”o conjunto da obra” Ah! Ah! Ah!  Só rindo memo sô...

         E isso aconteceu naquela minha querida Varginha das Minas Gerais.

         Naquele dia gostoso com baita sor,  tava na praça com a turma do Bento Folgado jogando conversa fora , quando surgiu o Dotor  Bermiro  . Eta home rico. Esse tinha parte com tudo que é anjo de proteção prá ganha tanto dinheiro. Dono da Fazenda Estrêla, aquela grandeza de terra que os oios não alcança o fim. Tanto gado que precisava de 200 anos prá conta tudo.

          Ele surgiu do nada, com aquele chapelão de firme americano, camisa enxadrezada e tão apertada que o barrigão de prosperidade chegava antes dele   em quarquer lugar .E aqueles suspensórios bonito com fechos dorados que brilhavam mais que o sor daquele dia. E aí ele sortou aquele vozeirão:

- Bom dia pessoar!

 O Bento inté aprumou e nóis respondemo que nem corar da igreja:

-Bom dia, Dotor Bermiro.

 E ele engatou logo no assunto dizendo que precisava de 2 troperos prá   leva 40 cabeça numa fazenda lá prós lado de " Carmo da Cachoeira”. Eu  e o Camargo logo  falamo que queria ir.

O dificir foi fala  prá Maria da Glória que eu fica uns 15 dia longe dela.

Mas, eu fui. Precisava demais, inté  porque eu tinha combinado de juntá um tanto a mais prá casá . Eta meu Deus...Eu tava apaixonado demais, sô...

Depois de tanta dificurdade eu e o Camargo vortemo cumprindo aquela missão.

Fui direto procurá a Maria da Glória. A Dna Rosinha, mãe dela olhou prá mim com a maior tristeza e vergonha do mundo, cos cabelo desalinhado e com a boca tremendo e nervosa, que inté aparecia as faias dos dentes:

— Gaspar, a Glorinha fugiu com o Fagundes, aquele desgraçado...

De repente o mundo desabou...Eu não consegui falá nada.

Virei as costas e fui direto pro bar do Raimundo. Acho que naquele dia tomei todo o estoque da cachaça dele. E devo ter contado inté demais que nem lembro...

Dormi tudo que podia e no dia seguinte principei a lembrá como o Fagundes olhava pra ela, e aqueles cumprimento com bocão que escondia o bigode. Que raiva!

Nunca imaginei...O Camargo me falo com aquele jeitão tímido dele prá tomá cuidado com o Fagundes, que ele farso e tal e coisa. Eu sabia que ele custumava pega dinheiro emprestado e enrolava prá pagá o pessoar.  Achei que era esse o probrema.

Comecei a ser olhado na cidade e ninguém disfarçava os risinhos quando eu passava.

Num guentei... Saí de lá depressa e tô aqui a esse tempão em Bragança Paulista.

Só vortei prá mor de carregá minha mãe comigo. Coitada, não duro muito.   

Fico sempre a amizade do Camargo, que não esquecia de me procura cum cartas ou  no telefone do Bar do Raimundo, contando os  causos da nossa Varginha. E ele inté me contou do destino da Maria da Glória e do desgracento do Fagundes. Outro dia vo alembra de mais história desse vidão. Olhando pro céu agora, parece que a chuva vem. Vô me recolhe e acabá de fumá esse charuto abençoado e num fica lembrando disso. Nessas baforadas, parece que o sorriso dela está no meio...Eta, memória birrenta ,sô!

 

CICLOS - Hirtis Lazarin

 


CICLOS

Hirtis Lazarin

 

Apesar dos quase oitenta anos, ele caminhava a passos largos e em ritmo acelerado pela trilha estreita, ladeada por arbustos espinhosos e agressivos.  Todo cuidado era pouco pra não ser espetado.

Em casa, a esposa inquieta ranzinzava por todos os cômodos:   "Teimoso como ele só. Não era pra ir sozinho até o vilarejo, mas quem é que segura aquele velho.  Só Nossa Senhora pra dá jeito".

Meia hora mais tarde, Seu Joaquim chegou esbaforido, pingando suor.  Jogou-se na cadeira de palha e bebeu quase meio litro de água, sem tirar o caneco da boca.

Passado um pouco do cansaço, tomou banho rápido pra evitar desperdício.  O momento era de economia.

Enquanto Dona Rosa preparava o jantar, o homem sentou-se nos degraus à porta da entrada, acendeu um cigarro e, entre as baforadas, pôs-se a observar a paisagem e a remexer em si mesmo.

Sentiu-se melancólico.  A tarde não estava como as outras.  Era o outono chegando sem aviso prévio.  O céu mais escuro, o ar com cheiro sonolento; as árvores, até então de um verde brilhante, começavam a ficar nuas; as folhas pálidas e amarelecidas soltavam-se leves dos galhos deixando-se levar.  O píer cheio de vento bom, o velho barco abandonado à espera de mãos que o tirassem do ócio.

A imaginação do velho senhor voou ao passado e colocou ali, naquele cenário, o menino que o acompanhava nas pescarias.  Ajudava-o a jogar o tarrafo bem longe e, pacientemente, os dois aguardavam os peixes se confundirem nas malhas prisioneiras.  Bons tempos aqueles...Saudade gostosa que dói...

E, sem que o casal percebesse, chegou a hora em que o menino virou homem e se foi como tinha que ser.  Uma despedida molhada e abraço enorme, aquele de se machucar quase sufocando.

Também as árvores, elas têm que deixar as folhas irem para que sobrevivam até a próxima estação.  É o ciclo da vida.

A natureza é sábia.  Mostra-nos que aquilo que não nos serve mais, precisa ser descartado.  É o desapego incitando-nos à renovação.  A natureza é também nostálgica porque a morte silenciosa lembra-nos que a vida é finita.

Seu Joaquim, homem de olhar analítico e personalidade forte, aprendeu muita coisa, não com os livros: onde os peixes nadam; pra onde as andorinhas voam; que não vivemos sempre na calmaria, mas que ela volta e que, pra dar certo, tudo tem planejamento.

"Joaquim, a janta tá pronta".

Ele nem se deu conta da chegada da noite, pois a escuridão veio devagarinho e aos pedaços.

Sentados à mesa, Dona Rosa, cabeça baixa, nem percebeu que dos olhos vermelhos do marido escorreu um bando de lágrimas.  Elas caíram sobre o prato e deixaram o caldo da sopa um tantinho mais salgado.

 

Títulos sugeridos; 

1 -  "Ciclos"  (escolhido)

2 - "Era uma vez..."

3 - "O retorno do velho pescador"

 

O VELHO SOBRADO DE ARMINDA - Henrique Schnaider

 

 

 


O VELHO SOBRADO DE ARMINDA

Henrique Schnaider

 

Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil de navio em 1870, e devido a abolição da escravatura, o Governo deu incentivo a imigração, devido a necessidade de mão de obra para a lavoura de café.

A família dos Rosset veio para o Brasil, no primeiro navio que trouxe imigrantes, de nome Andrea Julia, nele vieram o casal Roberto e Gina, bisavós de Arminda, com dois filhos Armando que viria a ser pai de Arminda, e o irmão Romulo.

Subiram para São Paulo de trem, encantados com tanta vegetação verde, chegaram à Estação da Luz, encantados com tudo que viam, pegaram o trem de Prata, foram para a cidade de Araraquara, depois viajaram muitas horas numa carroça puxada a burros, para fazenda São Luiz, onde trabalhariam na colheita de café.

Foi uma vida dura, trabalharam alguns anos como meeiros, a noite era um doce prazer, comer polenta, angu, polenta frita, doce de polenta, ninguém ligava que era tudo da farinha de milho, para eles abençoado ouro dourado, o almoço era nos campos da plantação de café, comida fria, triste e amargo sabor da miséria, mas a fome ignorava este detalhe, a energia gasta e suada, era muito grande, comiam sem nenhum prazer, pura necessidade de sobrevivência.

Com o tempo as coisas começaram a melhorar, tinham uma horta com muita hortaliça, legumes, passaram a criar porcos, galinhas, ovelhas, perus e assim, os sábados e domingos passaram a ter um sabor de festa deliciosa, porquinho assado, pururuca, um franguinho, polentas de todos os jeitos, os sonhos dourados da América estavam se realizando.     

Com o tempo, Roberto conheceu o prazer de ganhar dinheiro, Gina começou a vestir-se muito bem, ganhava roupas da moda do marido, Armando e Romulo, foram para a capital estudar e tentar melhorar na vida. Romulo foi em frente nos estudos, conseguiu formar-se Advogado, já Roberto meio cabeça dura, parou no Ginásio.

Roberto comprou um sitio com a ajuda do pai, próximo de São Paulo, plantava de tudo, legumes, hortaliças e frutas, tornou-se feirante no bairro da Mooca, comprou um velho caminhão, motor no fim, fazia room room, não o chique de um motor novo, rum rum, mas dava pro gasto, e o italiano foi melhorando de vida.

Com o passar do tempo, ampliou sua barraca que ia de vento em popa, comprou um caminhão novinho, e uma casa na Mooca, trouxe seus pais Roberto e Gina para morar com ele, já tinha dois empregados,

Agora era hora do coração pulsar mais forte, dinheiro no bolso, anima o amor que vem do coração, Armando apaixonou-se por Helena, filha do feirante vizinho, que viu com bons olhos aquele romance, a garota se desmanchou pelo feirante, e do namoro ao casamento foi um pulo.

Depois de um ano nasceu Arminda, criança linda, alegria do casal, felicidade tomando conta, assim ela cresceu, numa família católica, ia todos os domingos à igreja, estudou num colégio de freiras, foi só até o Ginásio, mulher naqueles tempos era para se casar e ser dona de casa, e nisso ela era muito boa, foi educada para ser uma esposa exemplar e a melhor dona de casa.

Arminda se casou com Adelino, feirante, para manter a tradição da família, o casal teve dois filhos, que estudaram, se formaram, um Advogado, o outro Médico. Ela está com 85 anos, já não tem os pais. Agora se diverte com os quatro netos que são a alegria da vida dela. Há faz dois anos ficou viúva. Agora virou concheteira de vez, quando não está com os netos, passa o tempo todo na janela, xeretando a vida dos outros. 

 

 

O ursinho de Chloe - Alberto Landi

 

O ursinho de Chloe

Alberto Landi

 

Maria Clara é uma fotógrafa profissional desde há algum tempo, trabalhando para algumas revistas especializadas.

Dedicada naquilo que faz, ela é muito observadora, tem uma boa análise e distribuição de objetos, composição de cenário, aplicação de cor e luz, e também boa observadora no comportamento de pessoas em parques e ruas.

Ela faz isso diariamente.

Sempre buscando novas técnicas, novos projetos e novas formas de fotografar de modo que lá gosta sempre de estar à frente de seus concorrentes.

Criativa e muito habilidosa naquilo que faz.

Num certo dia Maria Clara estava fotografando o cotidiano de pessoas e seu comportamento num parque e se deparou com uma menina passeando com seu pai.

Despertou sua atenção, pois a menina que se chama Chloe tinha uma aparência triste.

Maria Clara se aproximou e tirou de sua mochila um pequeno urso de pelúcia, dizendo que queria fotografá-la para uma revista.

Chloe ficou supercontente e assim foi feita a foto com ursinho de pelúcia.

Chloe pensou que levaria o ursinho para casa e ficou triste e frustrada quando soube que teria que devolvê-lo.

Seu pai para convencê-la a não ficar triste, prometeu comprar um igual.

Mas isso não aconteceu.

Seu pai um funcionário de uma fábrica, com um cargo simples, e com algum tempo e com economias, a presenteou no Natal com uma daquelas bonecas de cabelos louros e olhos azuis, que toda criança gostaria de ganhar.

Porém, Chloe não achava tanta graça, preferia o ursinho do que qualquer outro brinquedo.

Decorridos alguns dias, voltaram a passear no mesmo lugar onde normalmente a Maria Clara fotografava.

Chloe quando a viu largou a mão de seu pai e correu em direção a ela.

Esta cena provocou muita emoção na fotógrafa.

Esta por sua vez a presenteou com o ursinho que tanto ela queria.

Chloe agora bastante adulta, recordava através de seu álbum esta cena fotografada em preto e branco, um pouco amarelada e envelhecida pelo tempo.

A imagem da menina sorrindo com um urso nos braços pertence a esse tempo linear e cronológico.

Na vida de Chloe alguns sonhos foram encaixotados e esquecidos no sótão da memória, assim como lá estão alguns de seus fantasmas imaginários.

Mas essa foto, essa cena e emoção jamais foi esquecido pela Chloe.

 

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

CORRENDO ATRÁS DOS SONHOS - Claudionor Dias da Costa

 

O que o motivou a sair de uma aldeia distante, se aventurar e chegar a outro país com dificuldades tão grandes?

Naquele universo que vivia onde transcorria a vida rotineira, tudo era previsível. O que acontecerá com Antônio e seus sonhos?

Sua aventura foi motivada por eles que não cabiam em sua pequena aldeia?

 

 


CORRENDO ATRÁS DOS SONHOS

Claudionor Dias da Costa

 

Era um modesto agricultor em sua terra arrendada. Este era o Antonio, vivendo com muitas dificuldades, se angustiava em ver sua Rosa, esposa dedicada a ele e aos dois pequeninos, frutos de um amor autêntico acontecido na simplicidade de sua aldeia, se esforçar por aceitar tudo aquilo como se fosse predestinada.

Não se continha em contar e contar à sua amada os sonhos de partir para outros lugares buscando vida melhor para eles. Ela ouvia olhando para o vazio, sem murmurar uma palavra.

Enquanto vivia nesses pensamentos, eis que aparece a convocação para ir à guerra. Todo jovem a partir de vinte anos deveria se apresentar.   Era o ano de 1917, em plena Primeira Guerra Mundial e seu Portugal aderia à Aliança dos países envolvidos.

Com seus parcos conhecimentos de artilharia, lá foi ele com coragem e ideal para a região de Flandres na França.

Será que Antonio sobreviveria para voltar à sua Rosa e se alegrar com o nascimento da filha Maria? Era o que a esposa ansiosa, grávida e preocupada desde que ele foi para lugar tão longe, passou a esperar junto aos parentes mais próximos.

Esse português sonhador entre tiros de canhões que disparava e recebia, queria sobreviver e se angustiava por uma juventude inquieta e preocupante deixando sua terra e seus amores.

Foram tantos os pedidos e orações que Deus ouviu os apelos e resolveu pôr um fim naquela guerra. E assim foi...

Em 1918, após um período não muito longo de combates, Antonio regressou à sua querida aldeia a tempo de ver o nascimento da Maria.

Escapou da terrível gripe espanhola que consumia muitas vidas e amedrontou mais do que a guerra. Foi um período difícil para a humanidade.

 A vida corria entre tirar a sobrevivência da terra e sonhos de conquistar o mundo, e assim nasceu o filho Manuel para sua alegria e alívio, pois seriam mais braços e fortes para ajudar na lavoura.

Com tantos percalços e emoções, após escutar vizinhos falarem de uma terra de esperança distante, “onde se plantando tudo dá” chamada Brasil, resolveu entender um pouco melhor do que se tratava esse paraíso que convidava.

Após conversas regadas a vinho, sardinhas assadas e risadas, a empolgação de se aventurar tomou conta dele novamente com muito mais força.

E tão empolgado ficou que correu com alguns vizinhos para se inscrever na lista de candidatos à imigração, assim que ouviu o chamado daquele sisudo alistador postadoà porta da pequena igreja de sua aldeia.

A noite empolgado contou tudo à Rosa, e desconfortado acrescentou que partiria para o Brasil por enquanto sozinho. Quando conseguisse a tão procurada estabilidade mandaria chamá-la junto os pequenos para viverem a vida na beleza e prosperidade do novo país.

Rosa no seu amor paciente ouviu...e ouviu...

Se aquietou e fez orações em silêncio. Mas, acreditou que tudo poderia dar certo.

Nada como a esperança com fé.

E após despedidas, não sem lágrimas da Rosa e dos filhos, Antonio com a garganta engasgada pela emoção e os vizinhos desejando boa sorte, ele partiu.

O que o motivou a sair de uma aldeia distante, se aventurar e chegar a outro país com dificuldades tão grandes?

Naquele universo que vivia onde transcorria a vida rotineira, tudo era previsível. O que acontecerá com Antônio e seus sonhos?

Sua aventura foi motivada por eles que não cabiam em sua pequena aldeia?

Ficaram os questionamentos por conta do destino...

 


 SEGUNDA PARTE


 

A SAGA DE UM SONHADOR

Claudionor Dias da Costa

 

O que o motivou a sair de uma aldeia distante, se aventurar e chegar a outro país com dificuldades tão grandes?

Naquele universo que vivia onde transcorria a vida rotineira, tudo era previsível. O que acontecerá com Antônio e seus sonhos?

Sua aventura foi motivada por eles que não cabiam em sua pequena aldeia?

 

Com essas perguntas, Claudio voltou-se a seus dois filhos Leonardo e Daniella fazendo suspense pelo interesse demonstrado em saber quem era aquela figura na fotografia antiga, amarelada e meio desbotada.

Aparecia um homem alto, forte, com sorriso sóbrio, cabelos até que alinhados vestindo camisa branca e calça preta amparada por suspensórios, acessório até bem curioso para as duas crianças, e segurando um chapéu que elas não entendiam para que servia. O pai sorria e explicava.

Naquele chão de madeira, sentados frente a frente pai e filhos se sentiam donos de uma história que começava a empolgá-los cada vez mais.

Enquanto Claudio continuava com seu ar de mistério falando de uma terra distante, de pequena aldeia onde morou aquele homem, os olhos das crianças brilhavam e o interesse aumentava.

E a narrativa continuou.

Seu nome era Antonio. Vivia numa aldeia. Nesse instante Claudio se deteve para explicar o significado e detalhes desta palavra, não sem fantasiar e contar curiosidades desse lugar.

Assim, surgiu a pequena igreja, feita com pedras que eram abundantes na região, com sua única torre com a cruz no topo, até meio desproporcional que chamava muito a atenção. A porta de madeira imensa e as janelas pequenas nas laterais. As casinhas no entorno, até bem construídas que compunham um cenário interessante. As ruas de terra onde carroças passavam transportando produtos das lavouras e, que serviam aos domingos para os encontros na igreja. Todos os moradores com os seus “trajes de missa” compareciam e, após o culto ficavam conversando sobre os acontecimentos e últimos detalhes das colheitas. Também falavam de política, muito embora as informações chegassem bem depois dos fatos acontecidos.

Novamente uma parada para explicar que naquela época não havia os recursos modernos de televisão, celulares e mesmo telefone. Acrescentou que no máximo chegavam as informações pelo rádio e jornais. Na mente das crianças tudo soou estranho e muito distante.

Daniella segurava a foto em suas mãozinhas inquietas e Leonardo espichava o pescoço para ver melhor aquele personagem que parecia ter saído de um filme.

Contou sua história com a esposa Rosa, descrevendo-a como moça simpática, de rosto redondo, alegria contida, mas com certa melancolia, talvez causada pela luta difícil e preocupante de ajudar Antônio na lavoura e ainda cuidar da casa e dos filhos. Procurou mais fotos naquela caixa velha de papelão e justificou que não encontrou a foto dela no momento, mas, procuraria com calma no seu amontoado sótão e com certeza encontraria e continuaria a história outro dia.

Leonardo não perdeu tempo e exclamou:

— Papai, mas quem é esse homem afinal? Ele é seu amigo?

Claudio sorriu, ficou pensativo, olhou para a claridade que entrava da mansarda e com os olhos que começavam a ficar úmidos disse:

— Sim... Ele era um grande amigo... Era o bisavô de vocês...

 

Um relato - Alberto Landi Jr.

 

 


Um relato

Alberto Landi Jr.

 

A minha felicidade hoje é quase que completa, porque agora vivo em kahala, um planeta que orbita a estrela Ramis, localizada na constelação de Nazca.

Longe do planeta Terra, a vida aqui é quase eterna, não tem guerras e nem doenças.

Desde o tempo estudantil, sonhava em conhecer e viver em outro planeta.

Uma certa ocasião assistia uma palestra, onde o tema nesse dia era a vida extraterrestre e a possível comunicação entre os seres humanos e os alienígenas.

Esse assunto começou a me fascinar.

No decorrer da palestra perguntei ao professor:

O senhor acredita que algum alienígena possa ter recebido mensagens de humanos?

Professor: mesmo que isto seja possível demoraria muito para chegar até nós e vice-versa.

Professor, talvez essas comunicações não sejam tão impossíveis assim, afinal se outras civilizações forem muito mais avançadas que nós, as mensagens enviadas por nós não seria tão problemático assim.

Pensei, e me convenci que ir embora para outro planeta seria a melhor escolha.

Quanto mais admirava o céu estrelado, mais sentia vontade de ir embora.

Comentei isso com amigos e todos riram dizendo que tudo isso era loucura.

Retruquei, tudo é possível nesse universo.

Os amigos comentaram, o homem mal chegou a Marte e você quer ir viver em outro planeta?

Os amigos me alertaram para parar com essa loucura.

Vocês não entenderam, eu quero ir para uma civilização mais evoluída e não voltar mais.

Comecei a comprar e pesquisar material que falava sobre ufos, galáxias, planetas e assuntos afins.

Com a intenção futura de ser abduzido comecei a ler e treinar sobre telepatia.

Comprei telescópio e comecei a observar diariamente a galáxia.

Com o tempo me tornei um astrônomo amador, convicto de que algum dia eu iria embora para outro planeta.

Uma noite já em altas horas dormindo, ouvi um barulho externo, parecia de um avião.

Acordei e corri para o meu quintal para ver o que era.

Olhei para o céu estrelado e pairado sobre o teto da minha casa havia uma grande nave emitindo luzes brilhantes, coloridas e lindas, de forma intermitente.

A nave era de cor prateada, sendo que a parte inferior se abriu e um SER que parecia uma mulher saiu de dentro da nave.

Vestia roupa de cor prateada e capacete prateado também

Nesse momento fiquei vislumbrado.

A mulher tirou o capacete e com um sorriso, observei a beleza e perfeição que ela tinha, nada comparado com os mortais do planeta Terra.

Olhos azuis, brilhantes, pareciam diamantes lapidados, de tanta beleza.

Pele branca com textura macia como se fosse uma pluma.

Sorrindo estendeu sua mão direita para mim, me convidando a entrar.

Dentro da nave havia uma outra astronauta mulher, mas, não tirou o capacete.

Através de alguns gestos, compreendi que era para me vestir com as roupas idênticas a elas.

 

Perguntei à elas: Por que vieram, e obtive a resposta em meu pensamento, ela me disse por telepatia:

Escutamos os seus pensamentos de decidimos vir buscá-lo.

Mais uma vez me convenci que estamos rodeados de belos planetas, repleto de belas e milhares estrelas.

TENTATIVAS - Hirtis Lazarin

 



 TENTATIVAS 

HIRTIS LAZARIN


Eram dezessete horas quando Cícero subiu no ônibus.  E assim fazia todos os dias.  

Do sonho nordestino em busca de uma vida melhor na cidade grande, restavam apenas fiapos.

O rosto vincado pelo cansaço, os olhos sem brilho mostravam qualquer coisa de assustado que lembrava um bichinho tímido.

Atravessaria a cidade toda até chegar em casa.  Uma viagem que lhe permitia recostar a cabeça na mochila gasta e tirar uma soneca.

 Ele vivia numa viela com esposa e três filhos miudinhos.

As construções pareciam grudadas umas às outras.  Todas as casas eram muito pequenas e nervosas.  Não mais que duas janelas pra espiar o mundo lá fora.  Tijolos à vista desequilibrados e cimento escorrido feito sorvete derretido.  Poucas árvores.  A maioria nus mais parecendo porta-chapéus à entrada de residências estilosas.

As ruas no conjunto eram um longo tubo cinzento e corredores úmidos.  Um labirinto.

Cícero preferia descer alguns pontos antes, adiando pouco mais a chegada em casa.  A caminhada e uns goles de cachaça no boteco faziam-no inventar uma esperança que o deixava mais sereno.

Trocava conversa com conhecidos no bar, quando rajadas de vento chegaram inesperadamente, levantando poeira das ruas, arrastando lixo e atirando longe coberturas improvisadas dos barracos.

Nuvens negras mexiam-se tanto no céu parecendo sopa em ebulição; a chuva despencou e os bueiros entupidos devolviam água suja e garrafas pets rodopiavam na loucura do abandono.  Em pouco tempo, ruas e calçadas ficaram inundadas.

Cícero tentou correr, mas não deu.  Abrigou-se no bar.  O celular sem bateria.  Sua casa frágil, o teto com goteiras que não se opunham nem aos pingos finos da chuva.  As crianças indefesas... A ansiedade ardia... Aceitar o fracasso?  Arrumar as malas e voltar pro sertão? 

A chuva finalmente afinou.  Já era possível ver o asfalto esburacado.  As pessoas se juntando solidárias pra refazer o que tinha que ser feito.  Tudo voltaria como era antes. 

Cícero sabia que a noite é apressada, que o dia amanhece rápido e que às cinco da manhã tem que estar novamente dentro do mesmo ônibus.  Tudo igual outra vez.

 

"Nada pode nos salvar da morte, mas o AMOR pode nos salvar a vida."

 

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...