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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O TROPEIRO GASPAR - Claudionor Dias da Costa

 

      


O TROPEIRO GASPAR

Claudionor Dias da Costa


         O que teria acontecido comigo e por onde eu taria, se naqueles meus vinte anos a Maria da Glória não “houvesse” fugido com meu amigo Fagundes?

         Hoje tô eu aqui pensativo e ainda sortero ruminando uma solidão mas, tô até consolado por esse charuto gostoso. Caramba, fazia 3 dias que não fumava um trem tão bão...

         Parece que foi ontem. E passou 50 ano...Eta Maria da Glória. Ela me tirava o sossego.

         Nos meus 25 ano que eu tinha que me engraça tanto pro lado dela?  Era aquela brancura de pele macia, o sorriso tímido olhando prá baixo, os cabelos lisinhos naquelas tranças ou aqueles oios castanhos da cor da rapadura que o Zé Mineiro fazia no seu sitio? Ela era aquela formosura Era como disse o locutor otro dia no rádio elogiando o compositor sertanejo: ”o conjunto da obra” Ah! Ah! Ah!  Só rindo memo sô...

         E isso aconteceu naquela minha querida Varginha das Minas Gerais.

         Naquele dia gostoso com baita sor,  tava na praça com a turma do Bento Folgado jogando conversa fora , quando surgiu o Dotor  Bermiro  . Eta home rico. Esse tinha parte com tudo que é anjo de proteção prá ganha tanto dinheiro. Dono da Fazenda Estrêla, aquela grandeza de terra que os oios não alcança o fim. Tanto gado que precisava de 200 anos prá conta tudo.

          Ele surgiu do nada, com aquele chapelão de firme americano, camisa enxadrezada e tão apertada que o barrigão de prosperidade chegava antes dele   em quarquer lugar .E aqueles suspensórios bonito com fechos dorados que brilhavam mais que o sor daquele dia. E aí ele sortou aquele vozeirão:

- Bom dia pessoar!

 O Bento inté aprumou e nóis respondemo que nem corar da igreja:

-Bom dia, Dotor Bermiro.

 E ele engatou logo no assunto dizendo que precisava de 2 troperos prá   leva 40 cabeça numa fazenda lá prós lado de " Carmo da Cachoeira”. Eu  e o Camargo logo  falamo que queria ir.

O dificir foi fala  prá Maria da Glória que eu fica uns 15 dia longe dela.

Mas, eu fui. Precisava demais, inté  porque eu tinha combinado de juntá um tanto a mais prá casá . Eta meu Deus...Eu tava apaixonado demais, sô...

Depois de tanta dificurdade eu e o Camargo vortemo cumprindo aquela missão.

Fui direto procurá a Maria da Glória. A Dna Rosinha, mãe dela olhou prá mim com a maior tristeza e vergonha do mundo, cos cabelo desalinhado e com a boca tremendo e nervosa, que inté aparecia as faias dos dentes:

— Gaspar, a Glorinha fugiu com o Fagundes, aquele desgraçado...

De repente o mundo desabou...Eu não consegui falá nada.

Virei as costas e fui direto pro bar do Raimundo. Acho que naquele dia tomei todo o estoque da cachaça dele. E devo ter contado inté demais que nem lembro...

Dormi tudo que podia e no dia seguinte principei a lembrá como o Fagundes olhava pra ela, e aqueles cumprimento com bocão que escondia o bigode. Que raiva!

Nunca imaginei...O Camargo me falo com aquele jeitão tímido dele prá tomá cuidado com o Fagundes, que ele farso e tal e coisa. Eu sabia que ele custumava pega dinheiro emprestado e enrolava prá pagá o pessoar.  Achei que era esse o probrema.

Comecei a ser olhado na cidade e ninguém disfarçava os risinhos quando eu passava.

Num guentei... Saí de lá depressa e tô aqui a esse tempão em Bragança Paulista.

Só vortei prá mor de carregá minha mãe comigo. Coitada, não duro muito.   

Fico sempre a amizade do Camargo, que não esquecia de me procura cum cartas ou  no telefone do Bar do Raimundo, contando os  causos da nossa Varginha. E ele inté me contou do destino da Maria da Glória e do desgracento do Fagundes. Outro dia vo alembra de mais história desse vidão. Olhando pro céu agora, parece que a chuva vem. Vô me recolhe e acabá de fumá esse charuto abençoado e num fica lembrando disso. Nessas baforadas, parece que o sorriso dela está no meio...Eta, memória birrenta ,sô!

 

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