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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

O VELHO SOBRADO DE ARMINDA - Henrique Schnaider

 

 

 


O VELHO SOBRADO DE ARMINDA

Henrique Schnaider

 

Os primeiros imigrantes italianos chegaram ao Brasil de navio em 1870, e devido a abolição da escravatura, o Governo deu incentivo a imigração, devido a necessidade de mão de obra para a lavoura de café.

A família dos Rosset veio para o Brasil, no primeiro navio que trouxe imigrantes, de nome Andrea Julia, nele vieram o casal Roberto e Gina, bisavós de Arminda, com dois filhos Armando que viria a ser pai de Arminda, e o irmão Romulo.

Subiram para São Paulo de trem, encantados com tanta vegetação verde, chegaram à Estação da Luz, encantados com tudo que viam, pegaram o trem de Prata, foram para a cidade de Araraquara, depois viajaram muitas horas numa carroça puxada a burros, para fazenda São Luiz, onde trabalhariam na colheita de café.

Foi uma vida dura, trabalharam alguns anos como meeiros, a noite era um doce prazer, comer polenta, angu, polenta frita, doce de polenta, ninguém ligava que era tudo da farinha de milho, para eles abençoado ouro dourado, o almoço era nos campos da plantação de café, comida fria, triste e amargo sabor da miséria, mas a fome ignorava este detalhe, a energia gasta e suada, era muito grande, comiam sem nenhum prazer, pura necessidade de sobrevivência.

Com o tempo as coisas começaram a melhorar, tinham uma horta com muita hortaliça, legumes, passaram a criar porcos, galinhas, ovelhas, perus e assim, os sábados e domingos passaram a ter um sabor de festa deliciosa, porquinho assado, pururuca, um franguinho, polentas de todos os jeitos, os sonhos dourados da América estavam se realizando.     

Com o tempo, Roberto conheceu o prazer de ganhar dinheiro, Gina começou a vestir-se muito bem, ganhava roupas da moda do marido, Armando e Romulo, foram para a capital estudar e tentar melhorar na vida. Romulo foi em frente nos estudos, conseguiu formar-se Advogado, já Roberto meio cabeça dura, parou no Ginásio.

Roberto comprou um sitio com a ajuda do pai, próximo de São Paulo, plantava de tudo, legumes, hortaliças e frutas, tornou-se feirante no bairro da Mooca, comprou um velho caminhão, motor no fim, fazia room room, não o chique de um motor novo, rum rum, mas dava pro gasto, e o italiano foi melhorando de vida.

Com o passar do tempo, ampliou sua barraca que ia de vento em popa, comprou um caminhão novinho, e uma casa na Mooca, trouxe seus pais Roberto e Gina para morar com ele, já tinha dois empregados,

Agora era hora do coração pulsar mais forte, dinheiro no bolso, anima o amor que vem do coração, Armando apaixonou-se por Helena, filha do feirante vizinho, que viu com bons olhos aquele romance, a garota se desmanchou pelo feirante, e do namoro ao casamento foi um pulo.

Depois de um ano nasceu Arminda, criança linda, alegria do casal, felicidade tomando conta, assim ela cresceu, numa família católica, ia todos os domingos à igreja, estudou num colégio de freiras, foi só até o Ginásio, mulher naqueles tempos era para se casar e ser dona de casa, e nisso ela era muito boa, foi educada para ser uma esposa exemplar e a melhor dona de casa.

Arminda se casou com Adelino, feirante, para manter a tradição da família, o casal teve dois filhos, que estudaram, se formaram, um Advogado, o outro Médico. Ela está com 85 anos, já não tem os pais. Agora se diverte com os quatro netos que são a alegria da vida dela. Há faz dois anos ficou viúva. Agora virou concheteira de vez, quando não está com os netos, passa o tempo todo na janela, xeretando a vida dos outros. 

 

 

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