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quinta-feira, 9 de maio de 2019

TRAIÇÃO – CRIME OU PECADO? - Du Carmo



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TRAIÇÃO – CRIME OU PECADO?
Du Carmo


Ontem à noite, assistindo a um telejornal, desses que gotejam sangue, ouvi uma história interessante.

A protagonista da trama, Isabela, conhecida como Belinha, moça interiorana com vinte e oito anos de idade, totalmente ingênua e muito tímida, veio para a capital morar com uma senhora amiga da família, pois acabara de perder a mãe, ficando só no mundo.

A mudança de vida foi radical. Aqui ela começa a trabalhar em um escritório de advocacia, conclui seu curso de Direito e não fez nenhuma amizade.

Muito calada e tristonha, seu semblante ficou como se de uma boneca de porcelana, bonita, mas sem vida.

Um dos advogados solicitava sempre os seus serviços. Certo dia, pediu que ficasse um tempo além do horário, pois precisava digitar uma petição, mas não se acertava com teclados. Solícita, concordou, avisando dona Amélia que chegaria mais tarde.

Confiante instalou-se na sala do Dr. Eduardo.

Esperou por ele que estava em outra sala, falando ao telefone. A sala estava vazia.  Belinha não deu maior importância por esse fato.
Tão logo Dr. Eduardo entrou na sala, sorrindo disse:

- Belinha, não precisa tratar-me por doutor, diga somente Edu, como os amigos fazem. Bem, agora vamos ao que interessa.

Ingenuamente, Belinha posiciona-se para começar a digitar, quando Edu aproxima dela, e com voz aveludada lhe diz que está desvairado de mor por ela e quer que ela o conheça melhor para que possa pedir, à dona Amélia, permissão para namorá-la.

Belinha que sofria com o amor calado, rompeu em prantos.

Aproveitando a chance de acarinhá-la, abraçá-a e a beija alucinadamente.

Belinha está a ponto de desfalecer de emoção.

Ele continua falando, falando, mas ela não consegue ouvi-lo, pois, o seu coração batia mais alto.  

Acalmaram-se, conversaram muito, e chegaram ao acordo de que no dia seguinte iriam juntos para sua casa e Edu pediria permissão para namorar Belinha.

Nessa noite, Belinha não conseguiu dormir. A felicidade e ansiedade para chegar rápido o final do expediente seguinte, secaram seus olhos, não fechavam. Agradecia a Deus tamanha felicidade.

Finalmente dezoito horas. Todos saíram, o escritório ficou vazio. Belinha demorou em fechar seu expediente, pois esperava Edu, que na sua sala, falava ao telefone. Parecia nervoso. Explicou que era um cliente novo que iria no dia seguinte visitá-lo.

Tudo correu como combinado.

Dias e meses passaram-se e Edu mostrava-se o melhor namorado do mundo. Galanteador, romântico, gentil, sempre com mimos para que ela se enfeitasse para ele, enfim, o namorado que toda moça sonha.

Sem bater à porta da sala de Edu, ia abrir a porta, mas ouve a voz de Edu gritando dizendo:

- Você é minha mulher, mãe dos meus filhos, tem tudo o que quer, então me deixe em paz. Contente-se em eu dormir com você, todas as noites. Chega. Vou desligar.

Tomada por uma coragem sobrenatural, Belinha abre a porta e sorrindo diz:

- Querido, vá hoje consolar sua esposa, eu entendo, amanhã conversaremos. Ela o amo, sente sua falta. Eu sou compreensiva. Boa noite e até amanhã.

Virou-se e saiu.

Edu estupefato não pronunciou palavra alguma.

No dia seguinte, Belinha foi ao setor competente e pediu seu desligamento da empresa, alegando problemas de saúde na família. Despediu-se somente do Diretor e de seu Chefe.

Em casa, contou a dona Amélia o ocorrido e disse que esse pecado ou crime, não queria que pesasse em sua consciência. Edu que pagasse sozinho pela dupla traição.
Vou seguir minha vida com mais sabedoria.

O EXEMPLO NÃO VEM DE CIMA - Henrique Schnaider



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O EXEMPLO NÃO VEM DE CIMA
Henrique Schnaider



Luiza era uma mulher folgada ao extremo, só não era mais, por falta de espaço. Vivia explorando seus pais, estava com quarenta e cinco anos, foi uma péssima aluna, estudou aos trancos e barrancos, cresceu, demonstrando falha de carácter, inerente a sua personalidade, não havia explicações para sua forma de ser, já que seus pais eram trabalhadores, admirados, pela forma que lutavam na vida, para que nada faltasse em casa.

A mulher era um quiabo, escorregava demais, sempre tirava o corpo fora jogando qualquer obrigação para os pais ou ao seu irmão Ramiro, homem trabalhador, solteiro inveterado, que ainda não alçara voo para ter vida própria, mas pelo menos não era explorador como a irmã. Luiza vivia mordendo Ramiro, pedia empréstimos a toda hora, não parava de explorá-lo, ele que era uma pessoa dócil, fácil de convencer, ajudava a sanguessuga.

Aqueles dias eram de festa para a família Oliveira, morrera um tio distante, muito rico, que só tinha o pai de Luiza como sobrinho, não havia mais ninguém para reclamar aqueles bens, o pai herdou tudo.   A folgada logo convenceu a família, que apesar de tudo, eram de boa-fé, que iria tomar conta de tudo, já que não tinham tempo, nem capacidade para administrar aquela dádiva herdada, e o dinheiro que veio farto.

Os olhos de Luiza faiscavam só de pensar, dançavam de alegria, na expectativa de por a mão naquela fortuna, mas faltava para ela, o tino comercial, a verdadeira esperteza, para administrar todo aquele tesouro, mentia o tempo todo para os familiares, começou a meter os pés pelas mãos, entrando em negócios fracassados, o dinheiro começou a ir embora pelo ralo.

Luiza era espertinha, mas acabou vítima de um oportunista, sempre procurando pessoas incautas como ela, que era ambiciosa a procura de dinheiro fácil, na sua ganância, insistia nos maus negócios, era levada facilmente na conversa do Ricardo, com quem se envolvera, o cara malandro típico, dava golpes às pencas, usando seu charme e conversinha fácil, a inocente útil, entrava com tudo, torrando o dinheiro que não era seu, enquanto isso sua família não tinha noção, das trapalhadas que ela andava fazendo.

Ricardo sugou ao máximo, quando viu que deste mato não sairia mais coelho, deu no pé, sumiu, escafedeu, deixando Luiza no prejuízo, a fortuna do velho tio, se fora toda, deixando a família na mesma situação de quando recebeu a herança.

Luiza que só tirava vantagem com seus familiares, para mentir e convencer, para mostrar que tinha feito bons negócios, mas por circunstâncias pouco esclarecidas, tinha se dado mal, e o pior é que aceitaram de bom grado suas desculpas, perdoando-a, e por incrível que pareça, continuou a viver as custas deles, voltando aquela vidinha medíocre de sempre.

Alimentos Benéficos e Rejuvenescedor - Michel Milhão



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Alimentos Benéficos e Rejuvenescedor
Michel Milhão

   Começando pelo abacate que entre outras propriedades, rejuvenesce, impedindo o envelhecimento precoce, bom para pele e favorece a memória.

Salmão fortalece o cérebro, espinafre, facilita o fluxo sanguíneo, ovo repara as células cerebrais, o chá-verde, estimula a memória, a batata-doce conta com substâncias que afastam o Alzheimer, o chocolate nutre o sistema nervoso.

   O café é bom, mas no Máximo 3x dia, já o limão acaba com as toxinas, a couve reduz o colesterol, o suco verde combate doenças do coração.

Um alimento que eu não dava a menor importância é a berinjela, propago, pois ela é rica nas vitaminas, A, B1, B2, B5 E C.


  A vitamina tem poder antioxidante, isso significa que combate os radicais livres, a berinjela e outros alimentos, nas cores, vermelha, azul e roxa, diminuem os riscos de câncer, a vitamina B, melhora o humor, a B1 e a B5

Ajudam a combater o estresse e no metabolismo a B2 aumenta a absorção de nutrientes.

  A vitamina C traz benefícios para o sistema imunológico, rico em fibras solúveis, a pectina ajuda bastante o transito intestinal, alem de proporcionar maior sensação de saciedade, após as refeições aumenta o tempo de exposição dos nutrientes no estomago, melhorando a digestão em particular dos açucares e gorduras.

 Esse aspecto contribui na regularização do metabolismo energético, melhorando o desempenho de todas as atividades físicas.

  Os minerais contribuem para o bom funcionamento da memória, fortalecem os ossos, desintoxica e o corpo, o cálcio e o fósforo A e E no esqueleto, prevenindo a osteoporose, regulariza a pressão arterial.

  O fósforo preserva a memória, ativa no controle muscular, evitando câimbras, e tem mais é contra anemia, bom para pele, cabelos e sensibilidade de gustativa, e também as capsulas e farinha de berinjela, até a água da berinjela é diurético, desincha e limpa o sangue.

Outro alimento que impede o envelhecimento precoce é a beterraba.

Essas e outras coisas comunico em alguns programas de rádio que participo.

Finalizando, desejo a todos, boa saúde em todos os sentidos, em todos os aspectos sob todos os pontos de vista já inseridos no contexto.


REVIRAVOLTA - Hirtis Lazarin



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REVIRAVOLTA
Hirtis Lazarin



     Alice, como quase todas as mulheres de sua época, já nasciam com a vida programada: casar; ter filhos, de preferência, vários; administrar a casa e educar as crianças.

     A morte prematura do marido deixou-a transtornada com dois filhos adolescentes para criar.  O dinheiro da pensão era insuficiente.  Viu-se forçada a dobrar a jornada de trabalho.  Durante o dia, era recepcionista num consultório dentário.  A noite, era arrumar, limpar, cozinhar, lavar, dormir.  Uma rotina pesada e angustiante.  Os filhos.... Ah! Esses filhos... Só aborrecimentos e incompreensão.  Com o tempo vieram o estresse, a depressão e os distúrbios do sono passaram a ser constantes.

     Alice esqueceu de si mesma.  Fugia do espelho, pois ele revelava um rosto envelhecido e tristonho.  Os olhos morteiros, parados, olhos de quem sempre vê o que não quer ver, sempre o mesmo do nada.

     Noites e noites, na insônia da madrugada, sentava-se na soleira da porta da cozinha.  O coração cheio de solidão, o rosto molhado de lágrimas doloridas.  Não rezava mais, até a fé já se fora.  Uma Nossa Senhora, que ficava numa pequena gruta de pedras no quintal, foi retirada e esquecida.  Ali sozinha resmungava desabafos, confessava mágoas, falta de esperança.  Os filhos rebeldes e egoístas, o tempo fluindo, a vida em pedaços.  O fardo pesava demais.  E lá no céu, a lua cheia, cheia de alegria, ouvia tudo caladinha, comovida e sem graça.  E o silêncio era tal que até se ouviam as folhas roçando o ar.    

     Mas, a vida continua... As sementes germinam, os filhos crescem, os ponteiros do relógio não param e até os sentimentos se modificam.  Alice não era mais a mulher que chorava pelos cantos a ausência do esposo, não era mais a mãe dedicada, sensível e tolerante. Deu um basta a tudo.  As agruras fortaleceram-na, a tristeza virou raiva, a dedicação virou desleixo, a paciência, desprezo.  No silêncio elaborava planos de superação e libertação.
     No banco havia uma quantia razoável em dinheiro.  Uma herança aos filhos deixada pelos avós maternos.  Fria e determinada, pôs em prática um plano que seria a sua libertação.  Aos poucos, foi transferindo quantias a sua conta até resgatar o valor total.  Remorso?  Nem pensar.  Os filhos já independentes e prontos para serem inseridos no mercado de trabalho e a vida inteira pra conquistar espaço e sonhos.

     Alice deu uma reviravolta naquela vida medíocre: entrou numa dieta rigorosa, cortou e pintou os cabelos cacheados, renovou o guarda-roupa e um kit de maquiagem não se separava mais de sua bolsa.  Rejuvenesceu uns dez anos.  Os filhos não paravam em casa e quase tudo lhes passou despercebido.

     No banho ou na cozinha, Alice flagrava-se cantarolando.  No espelho, os olhos brilhavam e sorriam saborosamente.  Para o trabalho vestia-se com elegância e bom gosto.  Voltava para casa sem horário, frequentava "happy hours", fez amizades e conheceu homens interessantes.  Ressuscitou, enfim, a fêmea que jazia dentro dela.  Pedro Henrique foi uma aparição colorida.  Olhos daquele verde rajado indefinido.  Olhos nos olhos encantados como duas serpentes medindo forças.  Simbiose...

     Era sexta-feira.  Cedinho, o sol mostrou a sua cara pela fresta da janela e fugiu pelo corredor.  Alice, ansiosa, irrequieta e buliçosa, organizava roupas, escolhia as mais novas, abria e fechava malas.  Acendeu um cigarro e esperou.  Esperou o táxi e saiu apressada.  Não apareceu no trabalho e nunca mais voltou para casa.

     Alice desceu e conheceu o inferno. Reenergizada subiu aos céus.
   

O AMOR DA JUVENTUDE - Henrique Schnaider


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O AMOR DA JUVENTUDE
Henrique Schnaider



André conheceu Anita na época do colégio, desde que a viu, ficou apaixonado, amor de juventude, tudo azul, explosões de sentimentos, o coração não cabe dentro do corpo, quer sair aos pulos na direção da pessoa amada.

Anita parecia corresponder aos anseios de André, aos poucos se aproximaram, ambos tímidos, o rapaz chegou perto, puxou uma conversa envergonhada, ficou corado, um tomate maduro, não sabia o que falar, sem ser gago, gaguejou muito, as palavras não saiam direito, não conseguiu expressar o amor que sentia pela garota, que por sua vez, sentia um frio na barriga, queria ser invisível, sair correndo dali, pedir socorro a mãe.

Aos poucos o constrangimento foi superado, o amor na sua inocência, é mais forte do que qualquer outro sentimento, ambos adoravam se ver, o mundo é lindo, faziam planos, ficar juntos para sempre, os estudos foram por água abaixo.

As famílias, sentindo que o futuro dos dois, estava sendo comprometido, tratou de afastá-los, Anita foi transferida de Colégio e os jovens pressionados pelos familiares, deixaram o amor para trás. Afinal, cada qual seguiu seu caminho.

André formou-se Engenheiro, conseguiu um emprego numa multinacional, se deu muito bem na escala social, mulheres as pencas, sonhavam em tê-lo como marido, mas o rapaz não esquecera de Anita, não fazia a menor ideia de que sua amada fez na vida.

Anita fez-se mulher, bela, um violão, se formou, médica clínica geral, deu-se bem na vida, ganhava o suficiente para realizar todos os seus sonhos materiais. Ela também não esquecera aquele amor da juventude, seu coração balançava, quando lembrava dos beijos fogosos do André, nessa hora a saudade doía, o coração apertava, dava um nó.

Os anos passaram, nada como o tempo para acomodar as coisas, André conheceu Paula, colega de Faculdade, inteligente, boa aparência, se entendiam muito bem, namoro, noivado, casamento. Casal vinte, tiveram três filhos, crianças lindas, dois meninos e uma menina, viviam felizes.

Com Anita não foi diferente, conheceu Rui, também colega de Faculdade, a vida seguiu o mesmo ritmo, formaram uma bela família, tinham dois filhos, dois meninos, nada atrapalhava aquela felicidade.

Até que um dia, sempre tem um dia, André estava no trabalho, sentiu um mal-estar, resolveu ir ao Hospital,  quando entrou no consultório, , seu coração, sentiu o golpe, era Anita, que linda, uma formosura, ficou parado, uma estátua, Anita levantou-se, lágrimas escorreram, a emoção rolou solta, não pensaram duas vezes, se abraçaram, não resistiram, trocaram beijos quentes. De repente cai a fixa, retrocederam envergonhados, eram casados, aquilo não era certo, amavam seus parceiros, a família. André não resistiu, pediu, Anita cedeu àquele amor impossível, encontraram-se mais tarde, volúpia, sexo irresistível, soltou todo aquele sentimento guardado durante anos.

A fofoca, o disse que me disse, correu, fogo de gasolina, afetando ambas as famílias, mas eles não pensavam em traição, só queriam estar próximos, mergulhar naquele amor. Famílias destruídas, um escândalo, ameaças de divórcio, não havia solução razoável para aquela tragédia grega.

No fim não resistiram, aos olhos punitivos da sociedade, dos princípios éticos e religiosos de família, aquele amor puro que veio da juventude, resistiu ao tempo, mas sucumbiu diante de tantos interesses em jogo, resolveram não se ver mais, voltaram para suas famílias, reunir os cacos, tentar consertar o que estragaram.

  


Um amor infinito - Du Carmo



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Um amor infinito
Du Carmo

Desde criança sonhei em dar e receber a chama de alegria de um amor eterno.

Hoje, adulta, sei que a filosofia da vida moderna e bem diferente, uma vez que a correria para a sobrevivência a faz fria e insensível.

Reza um antigo ditado que, toda regra tem sua exceção, pois é, eu tenho um rio de palavras para contar a história de um eterno e verdadeiro amor que sobreviveu à indiferença da atualidade.

Uma querida e antiga amiga, hoje com oitenta anos, vive sua acalentada ventura de amor, que ficou aninhada em seu coração por mais de trinta anos.

Em um curso de inglês que fazíamos, na saudosa década de cinqüenta, Silvia amiga desde bebê, por conta de nossas mães serem amigas, conheceu José Luiz, o oásis de amor de sua vida.

A atração entre eles foi tal qual a de uma abelha por uma bela flor, intensa e a cumplicidade saltava aos olhos.

Mas, sempre existe um, “MAS”! José Luiz era de família tradicional paulista, herdeiro de fazendeiro de café e já estava destinado a casar-se com filha de família amiga da mesma classe social. 

Silvia era de classe média, família bem constituída, mas não tinha título nenhum. Quando o romance ficou sendo conhecido pela família do rapaz, imediatamente ele foi transferido para uma universidade fora do pai.

Os melancólicos anos arrastaram-se lentamente e nunca mais Silvia teve notícias dele.

Em uma carrancuda tarde de final de outono, Silvia, em um supermercado, tentava pegar um frasco de mostarda que estava em prateleira mais alta da seção de condimentos, ouve o som de uma voz masculina e sente seu coração disparar.

­- Jose Luiz! Exclama sem olhar sequer para o lado de onde vinha a voz.

-Sim! Meu amor sou eu! Finalmente a encontro.

Sentindo-se desfalecer, Silvia vira-se e num raio de alucinação, joga-se nos braços abertos que vagamente via, pois um rio de lágrimas banhavam seu rosto que era beijado amorosamente. Assim ficaram por alguns minutos, sem se darem conta de onde estavam.

José Luiz foi o primeiro a falar:

- Meu inesquecível amor, mesmo depois de tão longa separação, eu sentia que o nosso amor vivia e que eu a encontraria para então realizaríamos o nosso sonho da juventude. 

Hoje estão casados e o amor com o mesmo fervor dos anos cinquenta.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

FORTES EMOÇÕES - Hirtis Lazarin





FORTES EMOÇÕES
Hirtis Lazarin


     Chris só tinha dezoito anos.  Dinâmica e segura de si.  De personalidade forte vivia quebrando regras.  Era adepta do novo, do diferente, do secreto.  A rotina nunca fez parte de seu cardápio.  Jovem poderosa, se percebesse invasão à privacidade de sua alma, reagia com sarcasmo para proteger seus sentimentos.

     Sua beleza selvagem e cativante abria-lhe caminhos difíceis, transformando-os nos mais fáceis para se adentrar.  Os rapazes paparicavam-na e as meninas sentiam ciúmes. 

     Recentemente, a turma percebeu que Chris andava mais inquieta, mais impaciente e mais efusiva.  Somente Alice, amiga confidente, estava a par de que ela vivia um amor proibido, um amor bandido.  E, mesmo sabendo que Chris sempre buscava o incerto, o duvidoso, o arriscado, foram muitos os seus conselhos: uma desilusão, um adeus repentino ou a descoberta da traição.   O que importava pra Chris era rechear a vida com fortes emoções.  E, nesse momento, ela delirava de deslumbramento.

     Tudo começou no estacionamento do shopping, quando dois pares de olhos verdes se encontraram e aprisionados ficaram.  Eduardo era casado, quarenta e dois anos.  Nada disso impediu a troca de telefones e o primeiro encontro num hotel luxuoso.  O casamento perfeito do frescor juvenil com a virilidade masculina.  Era o jogo de sedução ininterrupto, o fascínio pelo proibido, as horas contadinhas no relógio para não se perder tempo com coisinhas.  O que importava era desfrutar emoções e prazer.  Cada encontro num ambiente novo e romântico, a fuga do cotidiano, um presente, uma flor.  E para apimentar a relação, criatividade é o que não faltava.

     Chris, mulher destemida e aventureira, escolheu viver esse momento intensamente.  Uma decisão consciente, sem promessas... sem compromisso.   Apenas viver...


EU SOU UMA PALAVRA - Hirtis Lazarin



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EU  SOU  UMA  PALAVRA
Hirtis Lazarin


     Eu sou uma palavra da língua portuguesa e tudo começou quando minha curiosidade despertou e eu quis saber exatamente o que sou e o que significo.

     Aconselharam-me a perguntar ao Google, mas a dificuldade no manuseio das tecnologias ultramodernas fez-me buscar outros meios.  E, num sótão empoeirado e invadido por traças famintas, encontrei um velho dicionário entre pilhas e pilhas de livros abandonados.  Abri-o com muito cuidado para não se desfazer em minhas mãos.  As folhas fininhas e amareladas mostravam o quanto fora usado.  Havia nele anotações, observações e muitas palavras coloridas com marca texto.  Emocionei-me e um nó formou-se na minha garganta quando li a dedicatória na contracapa:  "Eduardo, meu filho, na juventude, ganhei este dicionário do meu pai (naquela época poucos podiam ter um).  Você nem pode imaginar quanto me foi útil.  Espero que seja para você também.  Artur (02/03/1950)".

     Seguindo a ordem alfabética, encontrei-me.  Eu sou a palavra "FURACÃO".  Eu sou ciclone, tufão, tempestade, ventania devastadora.  Devastada ficou a minha alma.  Rancor e ódio vieram depois.  Tantas palavras lindas encontrei nas páginas e me presentearam com "FURAÇÃO".  Olha só as que rimam comigo: explosão, destruição, devastação.  Eu provoco medo, terror, pânico e morte.  Destruo tudo que vem a minha frente: campos e campinas, cidades e cidadãos, animais e plantação.  Eu sou odiada e creio que as pessoas nem ousam pronunciar meu nome.

     Encontrei no dicionário tantas outras palavras que eu gostaria de ser, mas o que me apaixonou mesmo foi a palavra "FELICIDADE".  Felicidade rima com serenidade, tranquilidade, bondade.  Lembra realização, paz, amor.          Frequentemente, as pessoas perdem-se por caminhos tortuosos em busca da felicidade, mas na verdade ela está sempre pertinho ou dentro de cada uma delas.  É só entender que felicidade não é ter o que se quer.  É querer o que se tem.  Uma simples bola faz um menino sentir-se o mais feliz do mundo.  Uma rosa faz da mulher romântica, a mais amada.  A volta do beija-flor e borboletas faz o jardineiro sonhar.

     "FELICIDADE" é poesia, é purpurinar o mundo de cor-de-rosa.  É vida.

     "FURACÃO" é tormenta, é guerra.  É morte.


quinta-feira, 28 de março de 2019

Era desnecessário sofrer tanto - Hirtis Lazarin




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Era  desnecessário sofrer  tanto
Hirtis Lazarin


   
          Charles era filho único de pais mais idosos.  Amor e carinho nunca lhe faltaram, mas sempre acompanhados de normas bem rígidas.  Estudar muito, não perder tempo e encarar a vida com responsabilidade.  O resultado chegou na forma de um rapaz competente, seguro e aberto a novas ideias.  Um líder nato.  Por mérito tornou-se o responsável por um escritório contábil e mais quatro jovens promissores.  Duas lentes grossas escondiam olhos pequenos e observadores.  Capazes de controlar cada movimento de seus subordinados.  Embora cobrasse deles eficiência, atenção e raciocínio rápido, era paciente e não se importava em gastar o tempo que fosse necessário para treiná-los até que se sentissem seguros.  Charles tinha coração de ouro: repartia conhecimentos, distribuía entusiasmo e doava boa vontade.  

     Entretanto, algumas manias o incomodavam e aos outros também.  Maníaco por arrumação e limpeza.  Não tolerava nada que estivesse fora do lugar por ele definido.  As gavetas sempre fechadas porque abertas denunciavam nossas defeitos, documentos e pastas bem organizados ao lado do computador.  Celular, nem pensar.  Uma caixa na entrada recolhia-os desligados. 

      A organização de sua mesa era o exagero do primor, meio afeminada para um homem de um metro e oitenta, de jeito educado e fino, mas viril.  Ao centro da mesa o computador imóvel como se colado fosse com super bonder, à esquerda um porta-retratos dos pais, à direita um vaso solitário de cristal que oferecia todos os dias uma rosa branca à Nossa Senhora.  Sobre outra mesinha colada à sua, uma bandeja de prata ornamentada com toalhinha de renda da Ilha da Madeira, presente da avó, um copo, uma xícara e um pires de porcelana.

     No escritório não se podia pronunciar a palavra ”problema” porque junto dela vinha uma série de tropeços e muito azar.  Se Charles estivesse em pé, parado no mesmo lugar, olhar perdido, mexendo nervoso nos botões da camisa, a ponto de arrancá-los, era sinal vermelho.  Era fácil saber que algo o incomodava, difícil era descobrir onde estava o erro.

     Era sexta-feira, primeira reunião do ano no escritório central.  Charles chegou mais tarde ao trabalho trazendo novidades e distribuindo bom humor.  Seria um príncipe, não fossem as marcas profundas no rosto deixadas por um batalhão de espinhas que o atormentaram tanto na adolescência.  Um sofrimento reprimido que lhe presenteou com complexo de inferioridade somado à introspecção.  Ele vestia um terno marinho bem talhado, camisa azul bem clarinho e gravata vermelha.  Um executivo.  Luciana, a menina debochada, não se conteve e gritou: "os sapatos!"  Os olhares num coro mudo convergiram para os pés do chefe.  Uma confraternização de gargalhadas.  Era a primeira vez que Charles colocava a cabeça fora da concha.  Nos minutos próximos, escondeu-a novamente, todo desajeitado.

     Os funcionários chegaram às oito e trinta, como todos os dias.  A porta não estava trancada e a sala silenciosa na escuridão.  Estava estranho.  Charles chegava sempre mais cedo, abria a porta, acendia as luzes, abria a cortina e o dia de trabalho começava.  Chamaram a polícia e dois deles entraram armados.  A sala estava um deserto revirado de ponta cabeça.  As cadeiras no chão, as pastas e documentos espalhados, a cortina rasgada.  O estrago maior estava na mesa de Charles.  O porta-retratos espatifado no chão, o vaso em cacos sobre a mesa, a água escorria vagarosa danificando documentos e a rosa branca desfolhada, não teve tempo de pedir socorro e morreu em paz.

     No banheiro, encontraram Charles sentado no chão, sem camisa, pernas flexionadas e rosto enterrado entre os joelhos.  Chorava e soluçava baixinho.  Muito lentamente levantou a cabeça, rosto branco esverdeado, tremia tanto que demorou um século para soletrar a primeira palavra: ba - ra - tas.  Baratas causavam-lhe pânico.  Era medo, dor, muito sofrimento.  Tinha coragem para enfrentar um animal selvagem, mas baratas ”NÃO”, “NUNCA".

     Charles nunca mais voltou ao trabalho.


REGINALDO O CAMPEÃO - Henrique Schnaider




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REGINALDO O CAMPEÃO
Henrique Schnaider


Reginaldo era um cara dez, admirado por todos, alto imponente, musculoso, troncos bem-feitos, a mulherada suspirava quando ele passava, olhos verdes, como esmeraldas, chamava atenção de todos, gostava de ser o tal, adorava elogios, queria sempre ser o rei da festa, não deixava por menos.

Era praticante de corrida de barcos de vela ligeira, super. Campeão, já trouxera, medalhas de prata, bronze, participando das olimpíadas, mas nunca conseguiu uma medalha de ouro, sua grande frustração, apesar disso, não desistia nunca. As olimpíadas estavam próximas, aconteceriam no Japão, faltavam trinta dias para o início dos jogos.

O rapaz treinava diariamente na lagoa Rodrigo de Freitas, no meio daquela tremenda poluição, podridão para todos os lados, mas não esmorecia, firme na busca daquele ouro tão sonhado, tão dourado que ofuscava os olhos.

A mãe e a noiva Raissa incentivavam o rapaz o tempo todo, acompanhando os treinos, não deixando que ele desanimasse, preparavam coquetéis de vitaminas para deixá-lo bombado. Reginaldo se expunha, todo pimpão, as pessoas o olhavam com inveja.

Certa manhã, bem cedo, lá foram os três para a lagoa, os jogos estavam próximo, eram os últimos treinos, Reginaldo pegou seu veleiro azul ararinha, e sai para treinar com incentivo da mãe e da noiva, eis que do nada surge uma lancha numa velocidade de formula um e acerta em cheio o veleiro do rapaz.

Foi um Deus nos acuda, explosão enorme, o fogo toma conta dos dois barcos, Lívia e Raissa, entram em desespero clamando por socorro, que não tardou a chegar, com equipamentos para combate a incêndio, lutaram para acalmar as chamas que consumiam tudo, conseguiram tirar Reginaldo todo machucado e queimado, mas vivo. O rapaz da outra lancha faleceu no local.

O pobre coitado foi levado as pressas para o Hospital Sousa Aguiar, foi direto para o centro cirúrgico tratar das queimaduras e das pernas quebradas. A cirurgia durou sete horas, pobre do rapaz teve as duas pernas amputadas, ficou uma semana entre vida e a morte, enfrentando o perigo de infecção generalizada devido as fortes queimaduras, mas sobreviveu. O sonho da medalha de ouro foi-se água abaixo, nem importava mais, a luta agora era que ele sobrevivesse.

Os dias passam, as olimpíadas começam e Reginaldo assiste aos jogos pela televisão, frustrado, mas feliz pois estava vencendo a dura batalha para sobreviver, com apoio da mãe e da noiva, estava melhorando dia a dia.

A vida sofrida no hospital, durou três meses, mas o rapaz venceu a dura luta, foi para casa, recebendo todo carinho e amor e calor humano, das duas pessoas mais importantes de sua vida, Lívia e Raissa.

Um ano se passou, Reginaldo se recuperou, se adaptou as duas próteses das pernas, voltou a ter gosto de viver apesar de tudo, não desanimou, muito pelo contrário já está pensando em participar da próxima Paraolimpíada, certamente com todo apoio e incentivo de sua mãe e da amada Raissa. 

O VELEIRO - Hirtis Lazarin



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O  VELEIRO
Hirtis Lazarin


     O ancoradouro escondia-se na neblina do amanhecer, quando o veleiro baixou as velas e zarpou às quatro horas da manhã.  Sua primeira viagem; uma semana com roteiro bem planejado.

     Éramos três rapazes eufóricos e cheios de planos, carregando na bagagem conhecimentos sobre a magia, os segredos do mar e expectativas fantasiadas de corais, peixinhos listrados e criaturas abissais.

     Fazia dois dias que estávamos em alto mar.  A brisa noturna que embalava as velas alvíssimas, o cheiro adocicado da água salgada, o movimento ritmado das ondas acalentando o veleiro...  Era a perfeição!  A lua clareava o convés e as estrelas eram tantas que, na disputa por espaço, poderiam até despencar lá de cima.

     Nós três bebericávamos jogando conversa fora até o sono chegar.  Eu, na verdade, não pretendia dormir tão cedo.  Aquele momento da mais absoluta serenidade aquietava minha alma, refinava meus sentimentos e purificava meu jeito de ver a vida.  Do meu jeito fiz uma oração de agradecimento. 

     Sem que déssemos conta, o veleiro embrulhou-se num denso nevoeiro.  Não se enxergava um passo à frente.  Apenas nossos gritos de alerta.  Uma ventania furiosa virava e revirava tudo.  Objetos soltos voavam sem direção e misturavam-se num emaranhado de destroços.  Tudo ia sendo engolido por ondas gigantes.  Era uma montanha de espuma.  Nós, agarrados aos mastros, éramos desafiados e nada podíamos fazer.  Uma batalha injusta e desigual.
  
     Eu odeio ventania. Senti enjoo, náuseas e vomitei de pavor.  

     Nuvens negras e emboladas desmancharam-se em granizo; verdadeiras bolas de pingue-pongue que esburacavam as velas como se de papel fossem.

     Não sei quanto tempo passou.  Acordei zonzo com o rosto sangrando; preso a um pedaço de madeira, eu boiava em alto mar.

      Zeca, Leo onde estão vocês?  Não me abandonem... Minha vida só tem sentido junto de vocês... Leo me respondeu.  Estava preso a uma boia.  De onde apareceu essa boia? Oi Zeca, você tá me ouvindo?  Por mais que eu gritasse, Zeca não deu sinal de vida.  Ele e o veleiro jazem na profundeza das águas.  Eu choro sem parar, grito mil palavrões, desabafo até me sentir exausto e sem forças.  Isso não podia acontecer...Você não merecia isso.  Sempre foi o mais entusiasmado, o mais dedicado e o mais apaixonado pelo mundo marítimo.

     Neste momento, nada me resta senão consolar-me com versos em que o poeta dizia: "Navegar é preciso.
                                                                                                                                                         Viver não é preciso." 
     Olho pro céu e as estrelas todas estavam lá.  E a lua também.  Testemunhas caladas.

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...