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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Força da bondade - Ana Catarina Sant’Anna Maués

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Força da bondade
Ana Catarina Sant’Anna Maués

              Aprovado em concurso público Federal, dá para imaginar o humor de Beto. Contador recém-formado, obteve ótima classificação e preparava-se para o primeiro dia de trabalho, fazendo a barba em frente ao espelho. Ali sozinho, lembrava das noites em claro debruçado sobre livros, e nos milhares de exercícios praticados até a exaustão. Saiu de terno e gravata,  com peito empinado mostrando todo o orgulho.

              Chegou pontual, e após as apresentações de praxe, foi apontada sua mesa de trabalho, nela uma pilha de papéis. Ficou assustado, sem saber como começar. Um pouco atrapalhado pegava uma porção deles, olhava e largava, pegava outra, respirava e deixava ao lado. No segundo dia iniciou a leitura de um calhamaço qualquer, mas não deu saída. No terceiro, quarto, quinto e assim por diante, chegando à conclusão de que a teoria não tinha nada a ver com a prática. Esta conclusão foi estarrecedora.

           Conforme o tempo passava mais papéis iam sendo depositados na mesa, e seu desespero aumentava, pois não conseguia fazer nada, adiantar algo, progredir em dados, encaminhar; estava absolutamente paralisado. Começou a esconder os documentos dentro das gavetas, para que os colegas de sessão não percebessem o acúmulo. Nesta rotina de fingir trabalhar seguia Beto, até que outros setores começaram a cobrar informações, relatórios, despachos e ele dando desculpas esfarrapadas ia enrolando até que não deu mais, e resolveu sumir, não apareceu mais para o serviço.

             Os colegas ligavam para o celular, para o telefone residencial, e ele não atendia. Todos estavam preocupados com o sumiço, mas só seu Adamastor, um senhorzinho de cabeça bem branca, procurou o setor de recursos humanos, descobriu o endereço de Beto, e num final de semana tomou um ônibus e foi, pessoalmente saber o que tinha acontecido.

           Quem abriu a porta foi a mãe de Beto, que muito feliz recebeu o visitante, e convidou-o a ir até o quarto, dizendo que o filho estava em profunda depressão. Com muito custo seu Adamastor conseguiu fazê-lo falar. Beto contou tudo, falou sobre seu total fracasso no serviço.

            Seu Adamastor não tinha graduação alguma, ou qualquer curso importante. Era o mais humilde funcionário, porém com um conhecimento incrível de tudo, e colocou toda a sua experiência a disposição de Beto.

            Na segunda-feira Beto apareceu para trabalhar. Seu Adamastor cumpriu o prometido. Juntos foram retirando papéis importantes das gavetas e um a um, por grau de prioridade foram resolvendo os assuntos.


             Beto superou o trauma inicial, não sofreu constrangimento por parte dos colegas, e hoje é um contador muito respeitado.     

O VALOR DA HONRA - Do Carmo


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O VALOR DA HONRA
Do Carmo


Cabisbaixo, tal e qual um salgueiro, José caminha para casa e pensativo ensaia um diálogo adocicado para não chocar a esposa.

Pensava: A Elza é tão sensível, se souber da humilhação que sofri, irá banhar-se em lágrimas.

Segue andando quando algo lhe bate à perna, vê uma pasta de couro jogada na calçada.

Apanha-a pensando: será que o dono está desesperado por perdê-la? E se foi roubada, como estará? Assustada, chorando, quem sabe? Chegando em casa, vou abri-la e ver se contem alguma identificação e imediatamente avisarei que está a salvo comigo.

Apressa-se em chegar em casa.

Rapidamente conta para Elza a origem da pasta e colocando-a sobre a mesa, despeja seu conteúdo. Qual sua surpresa ao ver saindo dela, maços de dinheiro envoltos em elásticos, espalhando-se pela mesa. Cai também um comprovante de saque bancário, com o nome do favorecido e o endereço da agência.

Tão logo amanhece, dirige-se ao banco para conversar com o gerente e enquanto espera o horário de inicio do atendimento, faz uma prece pedindo auxílio divino.

Nova surpresa, ao dirigir-se à sala do gerente, ouve vozes e claramente ouve as palavras  pasta de couro. Não pensou meia vez, entra na sala e diz:

- Senhor, olha ela aqui!

- Como o senhor está com ela?

Em poucas palavras ele conta o ocorrido e como localizou o banco. 
Entrega a pasta ao dono e pede que a examine para ver como tudo está como estava antes de perdê-la.

Muito emocionado, o senhor olha o conteúdo da pasta e pegando um dos maços, sorri e entrega-o para José. Este porém, com voz embargada de angustiante emoção, lhe diz:

Dinheiro não resolve a minha situação, porque ele acaba. O que eu preciso é de um emprego que seja duradouro.

Admirado e comovido diante dessa segunda atitude de honradez, imediatamente o convida para ser assessor do presidente da firma em que trabalha, uma vez que é o proprietário dela.

Naquele instante surge uma profunda amizade e a vida do casal José e Elza inicia uma nova fase de felicidade em suas vidas.

UMA HISTORIA VERDADEIRA - Do Carmo


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UMA HISTORIA VERDADEIRA
Do Carmo

Conheci uma garota, hoje senhora, que teve uma reviravolta em sua carreira de trabalho, totalmente inusitada.

Recém-formada em economia, aluna exemplar de renomada faculdade paulistana, tenta conseguir emprego em algum grande banco, sempre se  decepcionando porque não tinha experiência na função pleiteada e desiludida sabia que seu currículo jamais chegaria nas mãos de algum diretor.

Mas, sempre há um mas, e o dela não foi muito ao encontro de suas expectativas, mas era uma porta que se abria para o futuro.

Soube que haveria concurso público para a função de escriturário, dois meses após a inscrição. Ansiosa, informou-se sobre o programa versado, comprou apostilas, frequentou uma escola de datilografia, na época não havia computador.

Finalmente chegou o sábado, dia da prova escrita, cujo resultado seria publicado na terça feira seguinte e os aprovados, fariam a prova prática no sábado seguinte, ou seja, datilografariam um texto com vinte linhas, computando o tempo e erros.

Cinco dias de alegria angustiante demorou uma eternidade.

Sexta feira ensolarada, lá vai ela correndo comprar o Diário Oficial do Estado. Avidamente folheia-o e de repente grita, passei, passei, vou fazer a prova de datilografia, amanhã! Mal conciliou o sono, foi uma noite de preces esperançosas. Queria sentir-se tranquila, porém, seu coração batia mais que um tambor. A sorte estava laçada.

Que alivio, terminou a doída espera do resultado.

Quinta feira, outra corrida à banca de jornal. Quando estava chegando, o garoto entregador correndo gritou:

- Você foi aprovada em décimo segundo lugar!

Sem saber se ria ou chorava, abraçou-se ao menino e depois de alguns minutos, voltou correndo para casa, sem pagar o jornal.

Dez dias depois estava empregada e foi designada para um grupo de engenheiros avalistas, de correntistas que necessitam de empréstimos.

A desiludida economista datilografava o dia inteiro. Mas...

Em certa reunião, foi solicitada para secretariá-los, uma vez que a secretária faltara.

Que dia iluminado!

Atenta ao que falavam, para não deixar escapar nada, percebeu que eles estavam aplicando um índice econômico errado. Sem se dar conta, falou:

- Se vocês usarem tal índice, será mais confortável para o cliente e a rentabilidade para o banco, será a mesma.

Indignado, um dos senhores disse:

-Como se atreve a falar assim? O que você entende de economia?

Altiva, segura e aparentando tranquilidade, contou sua história.

Outro senhor pediu para que trouxesse seu Histórico Escolar, para examiná-lo.

Com o coração aos saltos pediu licença para pegá-lo em sua mesa, uma cópia autenticada. Mal conseguia andar.


No dia seguinte, ela foi chamada para apresentar-se ao Diretor Administrativo, que depois de algumas perguntas, nomeou-a Economista Padrão.

O SIGNIFICADO DE UMA ROSA! - (Amora)



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O SIGNIFICADO DE UMA ROSA! 
(Amora)

John e Mary resolvem se casar, após dez anos de vida em comum.

Não eram muito adeptos a cerimoniais, casamentos, papeladas, mas depois que John teve um mal súbito, ameaça de enfarte, Mary, muito assustada, resolve legalizar a situação e, sente-se finalmente grávida, um sonho antigo que ficara no esquecimento.

Como lua de mel, escolhem a bela Itália, Verona, Veneza, Firenze, Roma, Milão, sendo que na Ilha de Capri, têm uma surpresa!

Uma mulher morena, aspecto de cigana, oferece-se para ler a mão. Como Mary não crê nessas coisas, sorri amavelmente e nega-se ao pedido.

Olhando-a intensamente, a mulher estende-lhe uma rosa e pede que a guarde, como lembrança de viagem.

Após algum tempo, distraída, Mary deixa-a cair fazendo com que outra pessoa a pisoteie, sem querer.

Na volta ao hotel, preocupada, comenta com John sobre a linda rosa recebida que havia caído. Que pena! O marido, achando graça na história, prefere comentar sobre a bela viagem feita a Capri, finalizando as férias que tiraram. Voltariam a Roma, de Roma a Amsterdã e, em seguida, La Guardia, Miami, onde moravam.

Bela viagem, com certeza, pensa Mary emocionada. Tantas lembranças e cultura para comentar com amigos e familiares. Sabe Deus quando fariam outra novamente.

Durante o caminho de volta, John teve novamente um mal súbito, mal dando tempo de chegarem em casa. Mary, assustadíssima, leva-o ao hospital e, após alguns dias, recebe a notícia que houvera um novo enfarte e ele falecera.

Chorosa, entristecida, ainda cheia de malas, Mary volta para casa, tentando avisar parentes e amigos que voltaram de viagem e John falecera. Nem sabe direito como falar, engasgada pela emoção. Tão felizes com a viagem, e tão infeliz ela agora, completamente sem ação. Será que foi muita emoção contida! Muita correria! Dúvidas e perguntas que sempre fazemos diante de algo inesperado.

Desliga seu telefone pela décima vez e senta-se um pouco tentando colocar pensamentos em ordem.

Olha distraidamente para um vaso no armário e percebe uma rosa envelhecida, amarelada, sem cair nenhuma pétala, como se a esperasse inteira, antes de se romper toda. De longe, banhada pela luz do sol, parece dourada, transformando o vermelho púrpura em ouro velho.

Quem a colocara ali! Não se lembra de ninguém. A última rosa que recebera foi em Capri, daquela cigana insistente em falar-lhe.

Retira-a com cuidado do vaso e aí ela se desfolha toda! 

E tem gente que não acredita em nada, pensa Mary surpreendida! Talvez fosse algum aviso do perigo que sofreria!

UMA LENDA REAL - Do Carmo

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UMA LENDA REAL
Do Carmo


Rodrigo, um jovem Antropólogo, professor de História, aproveita o período de férias de inverno da faculdade onde leciona, para viajar a procura de aventura.

De personalidade ousada, aventureiro destemido, tem como objetivo mergulhar em profundas águas à procura de seres desconhecidos.

Tão logo se acomoda no luxuoso hotel reservado, vai informar-se dos lugares turísticos e a possibilidade de mergulhar.

Que dia produtivo! Muito organizado, logo depois do jantar, vai para o quarto, faz um roteiro para os dez primeiros dias, deixando os dez dias finais, para repetir os passeios mais exóticos e interessantes.

Tudo muito bem organizado, adormece feliz, depois de duas régias doses de finíssimo wisky.

Mal amanhece, já Rodrigo está todo equipado para seu primeiro mergulho.

Está ansioso, o barqueiro, um senhor muito simpático e falante, já o espera e alegre logo perguntou:

- Você quer encontrar uma sereia?

Sorrindo com a curiosidade do senhor, disse amigável:

- Sim, e prometo levá-la para São Paulo, de onde vim e casar-me com ela. 
Prometo também, que o nosso primeiro filho será seu afilhado.

Rodrigo joga-se nas verdes e transparentes águas e desaparece.

Dois anos depois, o senhor barqueiro, muito sorridente, recebe como passageiros, nada mais, nada menos que:

Rodrigo, Rebeca e o pequeno Marco Antonio.


quinta-feira, 1 de junho de 2017

VISITEM O BLOG DE DESAFIOS E PARTICIPEM



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Pensando em estimular a criatividade e a imaginação, criei um blog com dicas e desafios para escrever mais e melhor.

É pura diversão!

Entre lá e aceite os desafios lançados.

Veja as dicas, e importantes textos que podem ajudá-lo a progredir na escrita.
Boa viagem pelo mundo dos desafios da escrita. É só aqui neste link para acessar o BLOG.

Deixe comentários nas postagens, e mande os textos para o e-mail indicado.
Não tem prazo para mandar os textos, mande quando quiser e quantos quiser.
Divulgue o blog de desafios, convide amigos.

Boa sorte.

Obrigada


Ana Maria Maruggi 

Um Assassinato Alternativo - Rejane Martins


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Um Assassinato Alternativo                                
Rejane Martins

Rodolfo sempre ouviu seu pai dizer que 1977, foi um ano glorioso, primeiro ele nasceu e segundo um atleta sem uma técnica apurada foi o autor do gol que pôs fim a um jejum de 22 anos sem título. Corintiano fanático desde cedo compactuou consigo mesmo que o homenagearia dando o nome de Basílio ao primeiro filho. Esta certeza o acompanhou a vida toda, sendo muitas vezes motivo de chacota de amigos e familiares. Ele não se importava estava convicto e nada o abalaria.

Já na faculdade conhece Carla uma jovem que o conquistou no primeiro olhar. Foi amor à primeira vista. Rodolfo não cansava de proclamar aos quatro ventos de quanta sorte ele foi merecedor. Agora era só uma questão de tempo para que o pacto firmado na infância tornasse realidade.

Tudo aconteceu conforme o previsto, formatura, empregos, casamento, e a primeira gravidez. A expectativa era tamanha que ele acordava durante a noite para alisar a barriga ainda chapada e conversar com Basílio aquelas coisas de homens.

O primeiro e até então o mais doloroso golpe ocorreu aos dois meses, um aborto espontâneo crava uma lança no peito de Rodolfo. Apesar de todo esforço ele não consegue disfarçar sua decepção com o ocorrido. Carla sente-se culpada e inicia um processo de baixa autoestima.

Acreditando ser a única que poderá consertar a situação a esposa engravida mais uma, duas, três vezes e nenhuma delas conseguem ultrapassar os três meses. Para os amigos o afastamento do casal se dava a olhos vistos, pareciam zumbis locados em cantos diametralmente opostos na casa. Não tinham o menor interesse em conversar, em se ajudar, ou ainda solucionar o problema que os consumia.

Certa noite Rodolfo, irritado com a situação, percebeu que Carla era o elo mais fraco. Culpava-se profundamente por ser incapaz de gerar o filho tão esperado, que voluntariamente abria as portas para a depressão debilitando a saúde. A solução apareceu como um passe de mágica, alimentar a culpa e fazê-la lembrar-se sempre de sua incapacidade, com certeza aceleraria todo o processo psicológico culminando num quadro irreversível de apatia e degradação. Sem nenhuma suspeita pairando sobre ele, estaria livre e recomeçaria do zero sua nova procura. Mas agora procuraria uma mulher “completa” que desse a ele o esperado Basílio.

Carla foi definhando, se isolando da vida social, permanecia dias inteiros na cama até que o derradeiro dia chegou. Nenhum amigo à reconheceu naquele momento de despedida, era outra pessoa nem sombra da mulher que fora no passado.

Logo Rodolfo saiu a caça de uma nova mãe para seu filho, comportamento que incitou várias críticas. Encontrou Vanessa, aparentemente uma boa mulher, mas não cometeria o mesmo erro duas vezes. Seguiu o script à risca, incluiu-se na tarefa programada evitando que qualquer suspeita fosse aventada. Proposta singela aceita, o casal realizou vários exames antes do enlace.     

Com os exames em mãos marcaram consulta em um médico especialista bem longe do local onde moravam. Ansioso, tremendo e suando frio Rodolfo entrega os envelopes e aguarda a leitura. Abre um largo sorriso quando ouve que ela é perfeitamente capaz de gerar um filho. Sente de súbito uma vontade de gritar como se estivesse na arquibancada do estádio no momento do gol que deu o título ao Timão.


Desnecessariamente, o médico abriu o segundo envelope, sua voz foi sumindo, seu rosto desfazendo-se na enorme mancha negra que cegava Rodolfo. Era ele o portador de alterações cromossômicas que inviabilizavam a vida do embrião, provocando abortos recorrentes. Saiu tão apressadamente que esqueceu Vanessa no consultório, andou sem rumo. Sem se dar conta, estava debruçado em um túmulo, ensaiava pedidos de desculpas que não se verbalizavam em meio a tantas lágrimas.


A saga de Luiza - Hirtis Lazarin


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A saga de Luiza
Hirtis Lazarin

Já faz mais de cinco anos que Luíza e Beto se casaram.  Foi um romance rápido.  Duas pessoas que se identificaram quanto aos planos e objetivos para uma vida compartilhada.

          Beto é homem de raciocínio rápido e pensamento lógico, chegando ao cargo de diretor de multinacional francesa.

          Luíza é cardiologista, mesmo envolvida na parafernália de aparelhos biomédicos, guarda ainda um "quezinho" de romantismo, sempre disposta a apimentar a relação.  Rotina jamais.

          Podemos afirmar que os dois dedicados e esforçados atingiram juntos parte da meta pré-estabelecida.  Fazem o que gostam de fazer e, financeiramente, desfrutam de situação privilegiada.

          Acabam de se mudar pra casa dos sonhos, num condomínio amplo e arborizado.  Ideal pra criação dos filhos.  À entrada e à saída de cada rua, há uma árvore frutífera, cujo  fruto dá nome à rua.  É onde a passarada faz a festa e as crianças se divertem.

          Chegou, então, o momento pra se pensar em filhos.  Beto  é apaixonado por crianças, se derrete todo pelos sobrinhos e pinta o sete com eles.

          Os meses passam... e nada de gravidez.  Luíza só tem trinta e quatro anos, jovem e saudável.  Repetiu os exames médicos em laboratórios diferentes e todos comprovam uma mulher em pleno vigor físico e fértil.   Duas inseminações artificiais e nada também.

           A esperança vai se esvaindo e as coisas naquele casarão vão se modificando.  Os diálogos se resumem a "sim" ou "não" por um bom tempo.

          Luíza sai cada vez mais cedo e volta do trabalho cada vez mais tarde. 

          Beto dividiu-se em dois homens completamente diferentes.  No escritório, vira e mexe, tem ataques de mau humor.  Grita com assessores, reprime a secretária por conta de uma vírgula mal colocada, tranca-se na sala e não atende telefone.

          Em casa, surpreende a esposa cada dia mais.  Ou chega altas horas da noite alcoolizado ou traz maços de flores.  Os vasos da casa nunca mais sentiram solidão.  Outras vezes, sem avisar, passa no consultório para um jantar à luz de velas e som de piano.

          Luíza pensa logo em traição, mas um detetive contratado prova que não.  Procura respostas por todos os cantos, mas elas não vêm.

          Há alguns dias Luíza não se sente bem. Começou com náuseas e falta de apetite.  Depois vômito e diarreia.  O diagnóstico é o de sempre, comum nos dias de hoje: virose.  Semanas passam, os sintomas vão se agravando e Luíza não sai mais da cama.   Exames e mais exames e os médicos não chegam a um resultado.  Ela perde peso e os olhos profundos e vazios vagam num rosto amarelo-sofrimento.

          Dona Maria, a governanta, sem querer, viu Beto colocando um pó no chá da esposa. Estranhou e, sem ser notada, acompanhou-o fazendo o mesmo todas as vezes em que servia-lhe algum alimento.

          Vasculhou os armários todos da cozinha até encontrar, bem escondidinho, um frasco contendo um pó acinzentado.  Separou uma porção bem pequena e levou ao laboratório para análise.  O resultado foi arrasador: chumbinho para matar ratos.  Beto estava assassinando Luíza aos pouquinhos.

          A serviçal substituiu o veneno por um pó neutro, semelhante na cor e na textura.  Ensaiou várias vezes para contar à patroa, mas na hora "H" faltavam as palavras.  Assim que percebeu que Luíza aparentava uma pequenina melhora, criou coragem.  Não só relatou os fatos, como mostrou as provas do laboratório.

          Que momento difícil para as duas!  Desespero e uma cachoeira de lágrimas.  Como acreditar que o homem da sua vida a matava devagarinho?  Por que não pedir a separação?  Por quê?  Muitos porquês...

         A fase da incredibilidade passou.  Veio a certeza da veracidade e, o mais difícil, a aceitação dos fatos.   O momento agora seria de fingimento.  Só fingir.... Fingir.... Até decidir o que fazer.

           Nasce ali uma "FERA FERIDA".

          Uma "FERA" com unhas e dentes afiadíssimos capazes de estraçalhar um homem.  "FERIDA", precisava se recuperar emocional e fisicamente.

          Cada dia um pouquinho melhor, até que conseguiu lidar com o "notebook".  Transferiu dinheiro da sua aplicação e todo dinheiro de uma conta conjunta para outra aberta fora do Brasil.  Era dinheiro que não acabava mais. Se quisesse, daria para viver de papo pro ar pro resto da vida.

     Naquela mesma noite, enquanto Beto, embriagado, dormia profundamente, Luíza, pé ante pé, lotou o porta-malas do carro com malas e mais malas de roupas, tirou-o da garagem, espalhou álcool ao redor da casa toda.  Um só fósforo riscado.  Labaredas, sem dó nem piedade, invadiram todos os cômodos simultaneamente.

         Ao amanhecer do dia, Luíza sobrevoava o Atlântico em direção às Ilhas Malvinas.

          Quando um ser humano é traído, enganado, no mais profundo de sua alma, é extremamente difícil até para a justiça condená-lo.


O ABSTÊMIO - Do Carmo


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O ABSTÊMIO
Do Carmo


Zeca, alcoólatra desde adolescência, sofre um colapso cardíaco e precisa abster-se definitivamente do álcool.

Foi um período terrível em sua vida, já casado e com um filho formando-se em engenharia, percebeu como tinha feito sofrer a sua paciente esposa e seu filho.

Sentia-se envergonhado e arrependido, com desejos absurdos de sumir da vida, mas o amor e carinho que recebia dos seus, davam-lhe coragem para suportar as alucinações e controlar sua agressividade.

Uma vizinha de apartamento, ficou sabendo da situação da família e solidária ao problema, informou à esposa que na igreja do bairro, aconteciam reuniões de uma entidade antialcoólica, o dia e horário, prontificando-se ainda em acompanhá-los, caso achassem necessário.

A primeira reunião foi tão tocante, que sem pensar duas vezes, em um determinado momento, em que o dirigente pede para que se algum dos presentes quisesse fazer um voto de abstinência, que se levantasse e aproximasse da mesa.

Qual foi a surpresa da esposa, filho e vizinha, quando entre lágrimas Zeca, lívido e trêmulo, vai até a mesa e pede que lhe ajudem, que não aguenta mais ver seus entes queridos sofrendo pelo vício dele.

Daquela noite em diante, não faltou mais às reuniões, e naquele ambiente de paz e solidariedade, conseguiu recuperar-se.


Há mais de quarenta anos que não desonra seu voto, e até doces, antes de provar pergunta se contém alguma bebida alcoólica.

“QUEM DUVIDA?” - Rejane Martins

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“QUEM DUVIDA?”
Rejane Martins

Solveig um sueco audacioso, adorava explorar novos lugares, viagens para ele eram mais que frequentar lugares turísticos, onde os badulaques e passeios vendidos a preços exorbitantes eram rotina. Procurava por hospedarias adaptadas em casas de habitantes que representavam o verdadeiro folclore do lugar.

Ainda na área do aeroporto de Recife, procurava uma daquelas banca de jornal metida a besta, aquela que todo aeroporto tem, comprou um guia que o subsidiasse na escolha da cidadezinha mais atraente.

Passou os olhos pelas folhas, e dentro das condições analisou as possibilidades. Um local na Paraíba chamou a atenção, a bucólica Tuparitama. Contratou ali mesmo uma corrida de taxi e sem perder tempo seguiu viagem.

Assim que chegou foi orientado a procurar a casa do Seu Manezinho e Dona Quitéria. Era uníssono os elogios com a limpeza, e as iguarias servidas eram de lamber os beiços.

À noite, refastelado na rede armada na varanda, ouvia atentamente Dona Quitéria adverti-lo não se aventurar pela mata depois que escurecesse. Sob o luar ela tinha dono, um animal fogoso que a considerava propriedade exclusiva, ficava irado com invasões. Perdia literalmente a cabeça, inicia-se a combustão pelos olhos que rapidamente se alastrava, tomando todo o crânio.

Seu Manezinho, apressou-se em completar a informação de que até então, ninguém sobreviveu a visão para contar como o evento se desenrolava realmente.

O jovem hóspede europeu, com real interesse na história prometeu a si mesmo que no dia seguinte começaria a investigação fantasiosa. Por hoje ele dispensava, estava muito cansado da longa viagem, ele era merecedor de uma boa-noite de sono, precisava repor as energias antes de se aventurar por aí.

Assim ao cair da segunda noite, saiu nas pontas dos pés, a justificativa polida era para não incomodar o casal. A extraoficial era o temor que os velhinhos o tentassem dissuadi-lo da saída. Começou a trilha, iluminava o terreno com uma potente lanterna antes de pisar, tomou o cuidado de marcar o caminho de volta, sentiu-se o verdadeiro protagonista da história dos irmãos Grimm.

Depois de algum tempo, muito cansado mais por causa do calor e da umidade do que pelo esforço físico, decidiu retornar e ter o repouso dos justos, sem ter ideia de que a decisão foi tomada aquele era o momento exato. Mais um passo despencaria em um abismo bem a frente, desequilibrou-se e por sorte só deixou cair a lanterna antes de firmar os pés em terra firme.

Sem muita visão foi tateando o caminho de volta, na esperança de encontrar os marcos deixados na ida. Logo sentiu uma fungada quente no pescoço, arrepiou-se inteiro. Virou-se cuidadosamente e avistou um belo alazão, iniciando o processo de queima pelos olhos que logo se completou.


Calmamente o animal passou pelo turista curioso, e com o movimento do rabo, deixou claro que ele deveria segurá-lo firme. O animal iluminando o caminho, conduziu Soveig até a hospedaria são e salvo.     

O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...