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segunda-feira, 22 de julho de 2024

O PRESENTE DIFERENTE! - Dinah Ribeiro de Amorim


 


O PRESENTE DIFERENTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Eric gosta de brincar até tarde da noite, na rua. Escondem-se em casas abandonadas e tentam achar uns aos outros.

Procuram provocar medo, soltam gritos e urros, mas nada temem. Caem na gargalhada.

Em noite de brincadeira, Eric entra sozinho, numa casa escura e vazia e, de repente, ela se ilumina fortemente, como se o esperasse.

Assustado, fecha os olhos com a claridade. Quando os abre, percebe um ser estranho, meio homem, meio bicho, que lhe joga uma varinha, avisando-lhe que é mágica e poderosa. A varinha obedece a tudo o que ele mandar, mas só para o bem. Se ordenar algo mal, acabará o podê-la.

O menino, segurando-a, não tem tempo de perguntar nada, o ser estranho desaparece e a casa escurece.

Com a varinha na mão, Eric pensa em voltar para casa, fugir dos amigos. E, de repente, ele está em seu quarto, fazendo lição.

Sente fome, lembra-se que ainda não jantou. A melhor macarronada lhe aparece à frente.

Come depressa e desce à sala, onde estão o pai, a mãe e o irmão Lucas, com quem briga constantemente. É mais velho e não se dão nada bem.

Lucas assiste na televisão um jogo que Eric detesta e a um sinal seu, com a varinha, o canal muda e aparece o seu filme predileto.

Todos o olham, muito espantados, e querem saber tudo sobre essa varinha.

Eric é obrigado a contar a verdade, um ser estranho, numa casa estranha, deu-lhe essa varinha para fazer o bem.

A mãe, encantada, já a quer emprestada para levar ao hospital, de manhã, onde trabalha como voluntária.

O pai, também a quer para solucionar alguns problemas dos empregados da firma, que estão com dificuldades.

Lucas, o irmão, enciumado, quer emprestar a varinha para ganhar brigas com colegas da escola.

Eric responde que a varinha só funciona com ele, e para fazer o bem. Não poderá emprestá-la a ninguém e, muito menos, para fazer o mal.

No dia seguinte, o menino vai para a escola e repara, pela primeira vez, no coleguinha que manca de uma perna. A professora o chama até a lousa.

Silenciosamente, pede à varinha, escondida dentro da mala, que o livre dessa aflição.

Imediatamente, quando o menino se vira, volta curado e andando normalmente, até a carteira.

Todos o aplaudem, achando que o novo tratamento que faz curou sua perna.

Eric sente uma estranha alegria com esse gesto e milagre da varinha mágica. Quanta coisa boa poderá fazer com ela!

Sai pelas ruas meio aturdido, rindo sozinho, espantando os transeuntes.

Avista na esquina um velhinho que, sentado no chão, pede esmolas com o chapéu. Parece cansado, desiludido e tristonho, aguardando a hora de morrer. Solicita à varinha mágica que o anime, solucione os problemas de sua vida, embora continue idoso, sem poder alterar a ordem dos anos.

A varinha demora um pouco a se manifestar e Eric pensa que não há mais solução para ele, mas percebe que é uma varinha pensante.  Olha o rosto do idoso e o percebe corado, luminoso, demonstra alegria. Dentro do seu chapéu surgem inúmeras notas valiosas em dinheiro, para garantir uma velhice mais tranquila.

Mais adiante, uma senhora aflita, deseja atravessar a rua com um bebê no carrinho e, o semáforo está quebrado. A indecisão da mulher se manifesta em suas idas e voltas, sem coragem de ir. Eric deseja ajudá-la e, imediatamente, o farol se acende, para os carros e ela atravessa sossegada.

O menino sente novamente aquela sensação de felicidade nunca sentida antes, o prazer em desejar o bem. Segura a varinha contra o peito e a aperta, carinhosamente. Por que será que foi o escolhido para merecê-la? Não sabe.

Volta para casa e encontra a mãe à porta, de saída ao hospital. Vendo-o tão radiante, lembra-se da varinha mágica e convida o filho para ir com ela. Quem sabe farão coisas muito úteis, nesse dia.

A primeira visita que fazem, é uma idosa que caiu e fraturou quase todos os ossos da face. No momento, sofre dores horríveis.

Eric, ao vê-la, impressiona-se muito, acostumado somente a brincar com os amigos. Aperta, emocionado, sua varinha, que o acode rápido, colocando os ossos do rosto machucado, no lugar.

Dra. Ângela, a médica que a socorre, já planejava a sua cirurgia e, ao vê-la, quase desmaia de susto. Pergunta o que aconteceu. A mãe de Eric, emocionada, responde-lhe: “Vontade de Deus, doutora! Essa senhora é muito fervorosa! ” E saem depressa dali.

No quarto ao lado, um menino, bastante magro e carequinha, aguarda tristonho uma sessão de terapia. Tem câncer na medula, essa doença miserável que ataca também as crianças. A mãe de Eric, Dona Paula, costuma contar-lhe histórias engraçadas, infantis, para alegrá-lo um pouco. Leva também revistinhas em quadrinhos, com vários desenhos bonitos, fazendo com que se distraia e esqueça, por momentos, a doença.

Eric, também ao vê-lo, pensa, tristonho: “Quantos problemas em um hospital, sem a gente saber. Precisei de uma varinha mágica para conhecer tanta gente necessitada”.

Ao senti-lo, a varinha, além de mágica, pensante, é também sensível, capta os seus sentimentos; transforma aquele quarto numa sala de brinquedos, como um pequeno parque, com carrossel e tudo, tirando aquela criança da dor e fazendo-a viver horas felizes. Quando a enfermeira chega para atendê-lo, leva muito tempo para tirá-lo dali e levá-lo à químio. Quando volta, avisa aos pais que o médico que o atende irá lhe dar alta por uns tempos. Teve grande melhora.

Dona Paula e Eric saem dali cansados, mas felizes também, encaminham-se para casa. A mãe não se esquece de que tem que esconder muito essa varinha, cuidar dela para não ser roubada ou perder.

O filho responde, calmo: “Só funciona comigo, mãe, não sei o porquê, e também para o bem! Com outra pessoa, se transforma numa varinha qualquer! ”

Os dois chegam em casa e encontram o pai, preocupado com a demora, já adiantando o almoço, e Lucas, o irmão rebelde, enraivecido com a demora em comer. “A mãe, agora, só se preocupa com Eric e sua varinha!”

Após o almoço, Eric, cansado após tantas emoções, vai para o quarto e adormece um pouco. Pelo jeito, sua vida se transformou e há muito trabalho pela frente. Encontra, na mãe, poderosa aliada. Sente-se grato por isso.

Adormece e sonha. Aparece-lhe, em sonho, um lindo anjo branco, brilhante, de asas azuis. Sussurra-lhe, suavemente, para não se descuidar da varinha, atrai o ciúme e a atenção dos outros, que não desejam usá-la para o bem, mas para o mal, e ela, roubada, perde seu poder.

Lucas, entrando no quarto, vê o irmão dormindo profundamente. Instintivamente, sua primeira ação é verificar onde Eric esconde a tal varinha mágica. Observa-o bem. Verifica que está dentro de sua jaqueta escolar. Com delicadeza, a apanha, a examina bem e dúvida dos seus poderes. Resolve testá-la no quintal.

A primeira coisa que vê é o gato da vizinha revirando o lixo de sua casa. Enraivecido, quer chutá-lo para longe, mas lembra da varinha e ordena-lhe que mande o gato embora. A varinha não o obedece.

Ainda com muita raiva, Lucas acredita que é uma falsidade que o irmão inventou e, bastante bravo, joga a varinha mágica dentro da lixeira.

O lixeiro passa nessa hora e a leva embora. Acaba-se assim o poder maravilhoso que seu irmão estava realizando.

Quando Eric acorda, alertado pelo anjo, a primeira coisa que fez foi procurar sua varinha. Não a encontra mais. Desesperado, procura a mãe para saber se a pegou. “Não, ela responde. Nem a vi!”

O menino anda pela casa toda e, nada, não a vê mais. Desconfia do irmão, mas este disfarça logo e vai saindo.

Desesperado, volta à noite na casa abandonada, escura, e nada acontece.

Acabou-se o sonho de curar todos e fazer somente o bem. Que tristeza sente durante dias, até que sua sábia mãe o aconselha a continuar ajudando outras pessoas, principalmente no hospital, mesmo sem a varinha mágica. Quem sabe foi a vontade e um chamamento que teve de Deus.

Eric torna-se um grande voluntário no auxílio aos sofredores dessa vida. 

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