VOLTA AO PASSADO
Adelaide
Dittmers
O
olhar do rapaz percorria os campos de trigo, absorvendo com prazer a fresca
aragem da manhã, que fazia as espigas douradas dançarem brandamente em um belo
espetáculo da natureza.
Sentado nos degraus da casa da fazenda, já
gastos pelos anos, as sublimes lembranças de sua infância vividas naquele lugar
vieram aos borbotões. Os rostos dos avós
meio apagados pelo tempo apareciam em sua mente, trazendo momentos que a vida
deixou para trás.
O avô, um homem alto, de barba e cabelos brancos,
voz áspera, mas quente, mãos grandes e calejadas de agricultor, mas macias no
carinho que lhe dava.
As pescarias no rio que serpenteava pela
propriedade, que aquele homem destemido tanto gostava de praticar. A suavidade
com que o ensinou a manejar a vara e a ter paciência para fisgar um peixe. A
alegria ao conseguir, que fazia aquele homem rude abrir um sorriso e bater nas
suas costas para incentivá-lo a continuar.
A volta pelos estreitos caminhos de terra
entre o trigal, onde às vezes um sapo saltava, fazendo com que ele também
pulasse para trás, provocando a gargalhada do avô. O doce aroma do campo.
A satisfação de se deliciar com os pescados,
que a avó preparava como ninguém.
As tardes em que, ao entrar na grande
cozinha, seus olhos saborearam o cheiro do bolo de fubá, que saia do forno de
lenha.
A grande cama que o abraçava, cheirando a
palha, que recheava o macio colchão. O canto do galo ao amanhecer.
As histórias intermináveis e divertidas, que
o avô contava, de tantos casos e lendas,
que povoavam a imaginação das gentes do
campo.
Aquele homem simples, mas cheio de sabedoria,
muito lhe ensinou sobre a vida, não só com palavras, mas com exemplo.
Agora, sentado ali, a nostalgia de tempos que
jamais voltarão, deu-lhe um banho de saudade. Num ímpeto, sacudindo a cabeça,
levantou-se e foi até o barracão, que ainda guardava os instrumentos de
pescaria. Pegou a vara, que pertenceu ao
avô, apertou-a como quisesse sentir a mão forte, que tantas vezes a segurara.
Olhou em volta, um sorriso brotou em seus lábios, que, ao mesmo tempo, sentiram o
gosto das lágrimas, que sorrateiras desciam pela sua face.
Um forte suspiro irrompeu de seu peito e com
passos firmes e alma trêmula foi até o rio.
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