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terça-feira, 6 de junho de 2023

A Borboleta Azul - Adelaide Dittmers

 




A Borboleta Azul

Adelaide Dittmers

 

Borboletas coloridas voejavam pelo jardim banhado pelo sol da manhã.  Aproximei-me da janela para inspirar o ar puro e perfumado das flores.  Na roseira, uma exótica borboleta-azul e preta me chamou a atenção.  Majestosa em suas cores e na forma delicada.

— Não acredito! Gritei. Uma morpho azul! 

“Vale muito dinheiro! ”, pensei.  Há muito tempo catalogava as diversas espécies de borboletas, que apareciam no jardim. E essa era muito rara.

Coloquei na mesa xícara de café, e corri como um foguete até um pequeno depósito, que ficava ao lado da casa. Precisava do puçá.  Caí, ao tropeçar em uma pedra, mas me levantei rápido.  Precisava pegar aquela borboleta.  Não podia perder a oportunidade de vendê-la.

A porta do compartimento estava fechada por uma corrente presa a um cadeado. A chave estava escondida em um pequeno nicho ao lado da porta.  Com a mão trêmula, tentei agarrá-la, que com a minha pressa, caiu no chão. Nervoso, soltei um palavrão. Olhei para a roseira. A borboleta ainda estava lá.  Desajeitadamente, abri a porta.

De jeito nenhum, podia perder o bolo de dinheiro, que essa caça me daria.

Ao tentar alcançar o puçá, inadvertidamente puxei com força um martelo, que atingiu meu pé. Gritei de dor.  Mesmo assim, peguei o puçá e mancando, fui em direção ao meu objetivo, andando bem devagar para não espantá-la. 

Nesse momento, ela voou para um arbusto próximo.  Lentamente, tentei me aproximar, mas estaquei encantado com o canto de um curió, que no galho baixo de uma mangueira.  Estava com sorte, o curió também valia muito dinheiro.

A indecisão tomou conta de mim. O que deveria caçar, a borboleta ou o pássaro?  Distraído, pisei em uma poça de lama, afundando meus sapatos. Livrei-me deles e decidi pegar primeiro o curió.

De repente, uma lufada de vento balançou os galhos da árvore.  Fiquei azul de medo de que o pássaro voasse, mas fui mais rápido do que ele e, zapt, prendi aquele belo espécime.   O curió tentava desesperadamente se livrar de sua minúscula prisão.

Corri até a casa, onde, com muito cuidado, o coloquei em uma velha gaiola, há muito não usada.

Voltei ao jardim.  Tinha que encontrar a borboleta.  As notas de dinheiro voavam em círculo em torno da minha cabeça.

Espantado, vi o filho do empregado, uma criança de sete anos, vindo em minha direção, segurando a cobiçada borboleta pelas asas.

O menino, com um sorriso triunfante, disse:

— O senhor gosta muito de borboletas e esta é linda! Estendeu, então, sua mãozinha para me entregá-la.

Um rubor coloriu meu rosto.  Fiquei com muita vergonha de só considerar ganhar dinheiro, quando o menino só pensou em me deixar feliz com seu presente.

O sol iluminava o jardim com seus raios generosos.  Dentro de mim outro sol aqueceu meu coração e algo no meu íntimo sacudiu minha consciência.

Sorri para a criança:   

— Realmente ela é linda e... merece ser livre.

Soltei-a com cuidado e ela voou soberana, confundindo-se com o azul do céu.

Virei-me e olhei para o pobre curió, encolhido na gaiola com os olhinhos fechados.  Abri a portinhola.  Peguei-o com delicadeza e o soltei.  Bateu as asinhas vigorosamente.  O vento suave o abraçou e o levou...

O menino bateu palmas.

Sentindo a alegria da criança, disse:

— Nada vale mais do que a satisfação de admirar os pequenos seres enfeitarem a natureza. E abaixei a cabeça ao pensar que quase fui vencido pela minha ganância.

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