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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

CARTA PARA BIA - Hirtis Lazarin



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CARTA  PARA  BIA
Hirtis Lazarin

Bia querida,

 Vou contar-lhe um segredo, mas não conte a ninguém, por favor.

Sei que pensará que enlouqueci e nem entenderá como lhe escondi algo tão sério.  Talvez nem me perdoe...

Não estou louca, nem irresponsável.  Estou lúcida e segura como jamais estive.
Às vezes a felicidade bate a nossa porta e estamos entretidos no quintal procurando o trevo de quatro folhas.

Dessa vez foi diferente: a felicidade bateu a minha porta e me encontrou solitária e amuada diante da tevê.

Tudo aconteceu durante a última viagem de Otaviano ao exterior.  Viagem de negócios como sempre.

Conheci Vitor numa fila imensa no banco. Trocamos palavras e telefone.  Um sorvete à tarde, um cafezinho no shopping, um jantarzinho a luz de velas...  Foi assim que tudo começou. Vi  minha vida virar no avesso, e descobri que o avesso era o lado certo.

Já deixamos os cinquenta anos pra trás e filhos não tivemos. Senti que uma história maior e melhor poderia começar ali.  E que eu merecia uma garrafa de vinho só pra mim.

Fique tranquila, estou sóbria.  O adjetivo correto seria estou "audaciosa".  A ideia brotou e, regada vingou.  Fiz a minha escolha.  Conheci alguém que sonha os meus sonhos.

Você sabe, Otaviano foi um esposo bom e trabalhador, mas cansei-me do homem-matemática, do homem que planeja e nunca desvia do rumo, do homem que não se contenta com o resultado quatro, quando multiplica duas vezes dois.  Quer mais, transforma o quatro em seis, oito, dez...

Otaviano ensinou-me a viver com os pés fincados no chão.  Vitor me quer caminhando nesse mesmo chão, descalça e leve, como a pluma que se desgarra da flor da paineira e, sem direção, segue embalada pelo vento.

Já bloqueei todos os meus contatos, excluindo você.

Repito e peço-lhe novamente: não conte nada a ninguém.  Sei que não será fácil e que minha família virá procurá-la.  Todos sabem que somos muito mais que amigas.  Você é a irmã que não tive.  Confio plenamente em você.

Me ausentarei pelo tempo que eu achar necessário.

Não é um adeus.  É um  "até qualquer dia".

Beijos,

(já estamos no aeroporto e felizes)

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