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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O MANÍACO DA RUA BRETAS - Isabel Lopes



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O MANÍACO DA RUA BRETAS
Isabel Lopes

(...) Abriu a porta num impulso e só então se deu conta de que devia ter confirmado pelo olho mágico se realmente tratava-se de um policial.

Fitou o agente com interesse, enquanto deixava escapar um riso discreto no canto dos lábios: tamanha voz não era compatível com a minguada estatura do homem.

O policial foi logo sacando o distintivo e dando início a um interminável interrogatório.

Meire ia respondendo mecanicamente, sem dar muita importância ao que se perguntava... aquilo já se tornara uma rotina na Rua Bretas: noites ruidosas, tiros perdidos, gritos abafados.

Aos moradores cabia dar sempre as mesmas respostas: “não vi, não sei...”

O policial, impaciente com o olhar sonolento e disperso de Meire, ia despejando perguntas e mais perguntas com voz vigorosa, repetindo algumas para ver se haveria contradições.

Tudo que Meire queria era despedir o soldado e voltar a dormir...

Para manter os olhos abertos, passou a olhar por cima do quepe do policial,  enquanto tentava adiar o bocejo que insistia em abrir-lhe a boca vigorosamente.

Foi assim que viu a sombra de uma figura se movendo no corredor, que ora se encolhia, ora se esticava toda, feito uma lagartixa acuada.

Ficou atônita! Seria ele o suspeito procurado pelo policial?

Continuou ali conversando com o soldado, mas já não ouvia mais nada...

Corria os olhos disfarçadamente pelo corredor tentando identificar a figura que se esquivava.

Foi então que um raio de sol penetrou pela janela e ai não teve mais dúvida: era seu namorado, fugindo da polícia.

O que ele teria feito? Isso explicava sua partida tão sorrateira e inusitada...

Seria ele o maníaco da Rua Bretas?

Meu Deus! Ela o conhecia há dois meses e haviam iniciado um namoro despretensioso até que sem mais, ele resolveu partir.

Analisando a situação, Meire viu que tinha duas opções: denunciá-lo e viver sob a sombra do medo ou manter o protocolo “não sei, não vi” e usufruir da benção da ignorância.

O policial a observava. Perguntou se tinha mais perguntas.
Ele a despediu.

Meire fechou a porta e voltou a dormir. 




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