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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

ALEX, O SERIAL KILLER NO VELHO OESTE AMERICANO - Alberto Landi

 


ALEX, O SERIAL KILLER NO VELHO OESTE AMERICANO

Alberto Landi 

O ano era 1878, o cenário é o condado de Dodge City, Estado de Kansas, maior produtor de trigo do país e capital mundial de cowboys. Era final da Guerra de Secessão.

O xerife de Dodge City, encarregado da ordem do condado, era o lendário Bat Masterson. Fazia parte de sua equipe, Wyatt Earp e seus irmãos, formavam os deputies do condado, que eram   os auxiliares do xerife.

Acima do xerife havia o Marshall, agente federal, com acesso direto ao Senado e Congresso.

Alex vivia nesse condado. Ele perdeu seus avós Paulo e Melissa, quando ainda garoto, na idade de 11 anos. Foram mortos com flechas atingidas na garganta. Eles foram encontrados no celeiro do rancho onde viviam com toda a família.

Alex sempre com seu vestuário de cor verde: calças, jaquetas e coletes de lã. Usava também um estilo de gravata borboleta ocidental, que era um pequeno pedaço de tecido ou fita amarrada em um laço no pescoço com largas pontas que pendiam por vários centímetros abaixo do laço, cintos de couro com coldres de armas para proteção contra a violência da época.

Em Ambientes exteriores usava chapéu de cowboy. Tudo lembrava os bons anos que passaram juntos. Era uma forma de homenagear e se sentir mais próximo de seu avô.

Alex, em seus pensamentos sempre planejava vingança e isso fez dele um homem com comportamento frio e insensível, um coração de pedra.

Com 26 anos, era um homem alto, forte, bem-apessoado, cabelos compridos, cavanhaque e bigode, todo mal assentado.

Passava os dias no rancho trabalhando, juntando o feno para armazenar no galpão de madeira, que ficava próximo a casa principal do rancho; ao mesmo tempo, planejava a vingança pela morte de seus avós.

Começou a arquitetar um plano.

Frequentava todas noites o ¨Saloon¨, bebia cerveja e whisky com as demais pessoas, jogava poker e também conversa fora, objetivando se entrosar com os frequentadores, assim, poderia, quem sabe, conseguir alguma pista.

Visitava o xerife constantemente, para verificar se havia alguma evolução na investigação, que já durava alguns anos.

— Como está, Masterson?  Alguma informação sobre a investigação?

— Ainda não, informou o xerife, mas estamos apurando tudo. Aproveitando sua visita vou apresentá-lo ao Sr. Doc Hollyday, agente federal, que está muito interessado na solução desses crimes.

Após alguns dias, para não levantar suspeita, Alex se instalou num pequeno hotel quase em frente ao Saloon.

Numa noite fria e chuvosa, bebericando altas doses de cerveja com outros 3 indivíduos, muitos deles já alterados na conversa efeito da bebida, deixaram escapar algumas informações que levaram Alex a ter fortes suspeitas. Pediu licença e retirou-se da mesa em direção ao hotel.

Na madrugada chuvosa e fria, quando os 3 saíram do Saloon, em um determinado lugar ermo teve início a vingança. Tadeu, o mais jovem caiu mortalmente com a flechada certeira e precisa na garganta. O outro suspeito Nelson, 50 anos, caiu também mortalmente da mesma forma. Restou Basílio, 43 anos flechado nas 2 pernas.

Vingado agora, nada mais o deteria na cidade. Alex embarcou no  primeiro trem da manhã em direção ao Alabama, para nunca mais voltar!     

HISTÓRIAS DO VELHO OESTE - Henrique Schnaider

 


HISTÓRIAS DO VELHO OESTE

Henrique Schnaider

O Xerife Noel nasceu e viveu por muito tempo no rancho dos seus pais. Era do tipo durão domava cavalo xucro no laço e deixava o bicho mansinho. Até que um dia conheceu Rina bela garota pertencente a uma família tradicional da cidade.

Mudaram-se para a city e foi aí que Noel tornou-se o Xerife devido a fama que criou de corajoso e valente. E deste casamento nasceu Siena.

A cena rápida se passa na sala do Xerife Noel sentado com botas e as pernas cruzadas em cima da mesa.

Azeitando o revólver 38, admirando a beleza da arma quando de repente ouvem-se três tiros certeiros ressoando por toda a sala e o Xerife tomba a cabeça para o lado. Estava morto, um filete de sangue escorre bem do meio da testa.

Siena observa com o olhar triste os policiais encostarem a carroça para retirarem o corpo do seu pai inerte na cadeira de Xerife que Joel se sentou por tantos anos e dali tomava conta da cidade e de todos os malfeitores.

A cidade de Farway era típica do velho Oeste. Tinha um Banco e um bar com a tradicional porta giratória onde os rancheiros tomavam Whisky forte, que descia queimando o peito. Uma estrebaria cheia de cavalos e um ferreiro que tinha muito serviço para troca de ferraduras. Carruagens chegando da Cia Wells Fargo. Pessoas chegando cheias de pó da estrada e outras partindo esperando só a troca dos cavalos.

As vezes apareciam bandos de assaltantes para tomar o dinheiro do Banco e lá estava o Xerife Noel trocando tiros com os facínoras. Duelos aconteciam na porta do bar e alguém com certeza sairia morto.

O enforcamento com uma corda enlaçada em uma árvore era comum,  a lei era dura.

Foi neste ambiente rústico e violento que Siena nasceu e cresceu, mas em casa recebia muito amor e carinho dos pais e das tias e estava sendo educada para a vida de uma mulher daquela época que era ser uma boa mãe e ótima dona de casa.

Quando já adulta Siena conheceu o rancheiro John à porta da estrebaria, e aconteciam trocas de olhares tímidos no começo e depois mais corajosos.

Quando Noel soube do flerte da filha, foi tomado de muito ciúme e a relação com a tornou-se amarga.  Ele proibiu Siena de se encontrar com aquele que tomou conta de seu coração.

A situação ia de mal a pior,  e só a mãe dela a doce Rina, a apoiava e via com bons olhos o futuro casamento da filha. As discussões com o marido eram cada vez mais constantes.

Um dia Rina resolveu ter uma conversa definitiva com ele,   e foi até a sala do Xerife. Nesse exatamente instante, ao entrar, soam os três tiros matando Noel, e junto com ela sai outra pessoa.

A aglomeração foi rápida e as  cidade toda achando que Siena havia matado o pai, já estavam ao ponto de linchar a pobre moça, quando o namorado se apresenta ao subdelegado e confessa o crime alegando que aconteceu depois de uma discussão.

Acontece o julgamento. E quinze dias depois, começaram os preparativos para o enforcamento do rancheiro. A cidade estava em polvorosa.  Siena estava inconsolável.  E na hora que o banco iria ser puxado dando o desenlace fatal, Siena grita e pede para interromper:

— Eu sou a culpada! Fui eu! John só quis me proteger

Um silêncio pairou por alguns segundos, e na sequência um burburinho se formou. Justo ela, a filha do xerife!

A lei naquela época era severa e justa, criada pelo próprio Noel, e Siena foi julgada, condenada e enforcada.

E assim foi o triste fim desta história do Xerife Noel que enfrentava bandidos perigosos e violentos, mas que acabou sendo morto pela pessoa que mais amava.

Acerto de contas - Henrique Schnaider

 



Acerto de contas

Henrique Schnaider 

A cena é forte e violenta. O rico empresário recebe 3 tiros a queima roupa e cai morto no chão. O sangue se espalha e tinge o assoalho, duas pessoas se retiram rapidamente.

O rabecão da polícia de São Paulo, levando o corpo sob os olhares da filha Siena, consternada. Coração partido,  a relação com o pai não era boa, mas não era fácil para ela viver essa cena tétrica.

Siena nasceu em berço de ouro, vida boa, filha mimada de um rico empresário.  Joel era casado com Jacira miss São Paulo do ano que se casou, mulher bela, loura, porém, fútil.

A infância da menina foi de mimos e caros brinquedos vindos das tias que compensavam a falta de atenção dos pais.

Joel era um empresário ocupado,  dispunha de pouco tempo para a filha e nada para a esposa. O casamento deles virou uma rotina sem sentimentos. Dando margem para Joel partir para aventuras extracasamento. Siena era filha única e passava boa parte do tempo com sua babá a quem se afeiçoou muito, praticamente a adotando como mãe.

Nos estudos Siena ia muito bem, excelente aluna e se destacava sempre entre as primeiras da classe. Mas não via reconhecimento dos pais e nem incentivo, só recebia elogios das tias que reconheciam o valor da boa aluna que era e por isso ela se motivava cada vez mais.

Quando ela atingiu a adolescência os problemas começaram. Siena não tinha uma boa relação com o pai incompreensivo. Constantemente entravam em sérios atritos, inclusive a moça chegou a receber tapas na cara, do pai que não sabia lidar com a rebeldia que toda adolescente normalmente passa.

Praticamente não se falavam tornaram-se dois estranhos. Chegaram a se odiar, o diálogo era letra morta.

Coisa rara era alguma refeição que melhorasse a relação da família, onde estivessem presentes os três familiares marido, mulher e filha.

Já na Faculdade, de Direito no Largo de São Francisco. Siena conheceu Paulo. Apaixonou-se por ele e aconteceu um tórrido romance. O pai dela quando soube do namoro, não aceitou e as brigas eram diárias cada vez mais violentas.

Para piorar as coisas Siena engravidou. Resolveram ela e o namorado, que o melhor a fazer era, casarem-se antes do nenê nascer e seria com a benção ou não do pai.

Siena resolveu ir ao escritório do pai contar sobre a sua gravidez e a intenção de casar-se. Entrou no escritório e por coincidência sua mãe estava presente:

— Pai e mãe preciso contar-lhes algo que talvez não seja do agrado de vocês.  — Estou grávida. E eu o Paulo resolvemos que vamos nos casar antes do menino nascer, e espero a vossa benção para que a nossa felicidade seja completa. Joel olhando fixamente para a filha falou:

— Eu nunca vou abençoar este casamento, eu sempre fui contra e você nunca me ouviu, portanto, ponha-se daqui para fora e de hoje em diante não será  mais minha filha.

Neste momento ouvem-se três tiros, e Joel cai morto.  Siena sai e se afasta rapidamente do local dirigindo-se a delegacia de polícia. Parou o carro antes e ficou um tempo pensando. Será que confessaria o crime?

Quando Siena chega à delegacia, lá estava sua mãe que naquele momento acabava de confessar o assassinato do marido. Por motivo de ciúmes, já que Joel tinha uma amante e ela resolveu dar um fim àquela situação. 

Joel foi enterrado num caixão de alto luxo e com todas as pompas que o dinheiro pode dar, apesar de ter tido um triste fim.

Siena casou-se com Paulo e sua mãe não pode comparecer ao casamento, pois estava presa, mas feliz da vida, pois além de ver a filha bem. Ela iria ser avó de um lindo menino.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

ALEX, O SERIAL KILLER - Alberto Landi

 

 


ALEX, O SERIAL KILLER

Alberto Landi

 

Alex perdeu seus avós Paulo e Melissa, quando ainda era pequeno. Eles foram assassinados por um homem com uma arma branca, uma faca beduína curvada. Quando o casal se deparou com o maníaco, era tarde demais! A lâmina de aço afiadíssima penetrou em suas gargantas.

Depois disso, o pequeno garoto sempre usava cor verde: camisa, calça, meias, a cor preferida de seu avô. Isto lembrava os bons momentos que juntos passaram, uma forma de homenagear o falecido. No entanto, a dor, o sofrimento, foram aos poucos endurecendo seu coração. Em seus pensamentos planejava vingança, e isso ao longo da vida fez dele um homem com comportamento frio e insensível.  

Alex tornou-se um homem alto, bem-apessoado, vestia-se em trajes esportivos, cabelos curtos, assentados com brilhantina.

A vingança passou a ser uma obsessão, então ele passava os dias trancado no pequeno apartamento, investigando, sempre, querendo descobrir o assassino. Ele detectou 3 possíveis nomes para esse assassinato. Mas na realidade ele não sabia quem era o verdadeiro responsável por aquela monstruosidade. Havia algo em comum entre os três suspeitos, os 3 elementos pertenciam ao Clube, o ¨Red Light¨. Matarei todos! Pensou secamente.

Alex iniciou seu planejamento de vingança. Começou assassinando o jovem Tadeu, com a arma comprada, no estilo beduíno. Cortou- lhe a garganta e com o sangue escreveu junto ao corpo, a frase: “em vingança pela morte de Paulo e Melissa”!

Depois partiu para outro homicídio, desta vez, foi o segundo suspeito, o Nelson, homem com aproximadamente 50 anos. Empurrando-o pela escada abaixo e deixando junto ao corpo a frase: “Em vingança pela morte de Paulo e Melissa”!

O gerente do ¨Red Light¨, Basílio, 43 anos, ao ver as imagens que a polícia havia disponibilizado, ficou assustado, sabendo do assassinato dos 2 homens, e as frases deixadas junto a eles, estimulavam um confronto direto contra o Clube.

O terceiro suspeito, foi Jose, homem de 36 anos, que foi eletrocutado até a morte. Em seu peito foi tatuada a mesma frase. “Em vingança pela morte de Paulo e Melissa”!

Basílio, espantado então, com esse outro acontecimento. Pesquisou nos documentos secretos do Clube e descobriu algo revelador, e após alguns dias, contatou Alex e solicitou a presença dele.

O serial killer, chegando ao Clube, espantou-se com um quadro onde havia uma pintura da faca beduína curvada. Basílio lhe deu acesso a uma pilha de documentos, que revelavam e comprovavam o envolvimento de seus avós no Clube. O casal participava e tinha o mesmo objetivo que todos os demais integrantes; extorquiam, assassinavam e roubavam dinheiro dos políticos e empresários.

Alex ficou com um nó na garganta, face a descoberta, foi tomado por uma grande fúria. Quebrou o pescoço do Basílio e o pendurou numa arvore, até morrer.

Após cometer mais um crime, refugiou-se nas matas fechadas da Serra da Cantareira e de lá perguntava a si mesmo a todo instante:

—Será que valeram a pena todos esses homicídios? Tanto derramamento de sangue, de forma infame! Acredito que todos esses anos em que planejei a vingança, de nada valeram!

Desse dia em diante Alex, nunca mais vestiu roupas de cor verde, queimou- as. O passado agora estava enterrado numa fogueira.

Depois disso Alex nunca mais foi visto, nem encontrado pela polícia, e nem se ouviu falar mais dele.! Sumiu! Mas as investigações continuam, focadas nas matas fechadas da Serra da Cantareira.

 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Rumo a Veneza - Alberto Landi



Rumo a Veneza - Alberto Landi


Saí do hotel de Florença, me dirigi a passos lentos para a Estação Santa Maria Novella, para apanhar um dos primeiros trens rumo ao norte, na cidade de Veneza.

Contando com um pouco de sorte, consegui apanhar o das 7.30 am.

O sol começava a despontar em toda região da Toscana, refletindo no teto lustroso do trem. No percurso, traçava um gracioso arco ao longo da zona rural.

Aproximadamente 2 horas após, cheguei à Estação ferroviária de Santa Lucia, com diversas paragens curtas.

A estação é uma construção baixa, elegante, de pedras cinzentas e concreto.  Foi projetada em estilo bem moderno, com a fachada graciosamente desprovida de qualquer sinalização, exceto por um único símbolo “FS- Ferrovia Dello Stato”.  A sigla fica no meio de 2 asas, o logotipo do sistema ferroviário italiano.

Nessa estação chegam trens de quase toda a Europa.    Mas o que me chamou muito a atenção quando cheguei, foi a paragem do Expresso do Oriente, todo em preto e dourado. Havia saído de Paris, rumo a Istambul. Lembrando que a escritora Agatha Christie, autora de vários livros, se inspirou no Expresso do Oriente.

A primeira coisa que me chamou a atenção ao desembarcar além do   

Expresso do Oriente, foi o cheiro peculiar, uma mistura de maresia com aroma de pizza, vendida pelos ambulantes em frente ao desembarque.

Devido ao vento que havia, o ar trazia também o cheiro de óleo diesel, da longa fila de táxis aquáticos que aguardava sobre as águas do Grande Canal, com os motores ligados.

Havia desde cedo um engarrafamento flutuante de táxis, gondolas, vaporetto e lanchas particulares. Um verdadeiro caos sobre as águas.

Veneza é um museu ao ar livre, mas que está afundando aos poucos.

Atravessando o canal, há a lendária cúpula de San Simeone. A igreja apresentava uma das arquiteturas mais ecléticas da Europa, seu Duomo mais escarpado do que o habitual e seu santuário circular em estilo bizantino.

O nártex de colunas de mármore era inspirado na entrada grega clássica do Panteão de Roma.

Caminhando em direção a Basílica de San Marco, já próximo ao Mar Adriático, havia navios de cruzeiro, que mais pareciam prédios flutuantes, e a marola que produziam ao passar, faziam as outras embarcações chacoalharem, como se fossem rolhas na agua.

A arquitetura de Veneza lembra um tempo de esplendor e abundancia de seu comércio. Mas o que causou a decadência, do século XIV foram os ratos escondidos nos navios mercantes que levaram a peste mortal da China até a cidade. Na China já havia dizimado 2/3 da sua população e agora já contaminava os portos da Europa. 1 em cada 3 pessoas faleciam.

A fúria da peste era enorme.  Do século XIV ao XVI foram 20 surtos.  Os governantes instituíram um decreto em Veneza, obrigando todas as embarcações que chegassem a ficar ancoradas longe da costa durante 40 dias completos antes de poderem descarregar suas mercadorias.

Essa foi a sombria origem da palavra quarentena.

Enfim sempre os chinos iniciando as epidemias.

 A viagem continua em sua última etapa em Istambul.


UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM - Do Carmo

 

                    

UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM

Do Carmo                                                             

Hoje, exatamente hoje, está completando treze dias que este mal-estar começou. Sempre que acordo, abro as janelas de meu apartamento, porém nunca esse ritual incomodou-me como me perturba agora, pois lá está ele: o grande dinossauro, meio de ébano e meio de marfim; olha-me, mostra-me seus dentes bem enfileirados e retorna a costumeira postura: sentado caprichosamente e com negligência repousa seu vigoroso corpo e lá fica até que outra vez eu abra as janelas para um outro angustiante dia.

Como estou aposentada, procuro manter um planejamento diário diversificado, tenho meu dia movimentado e sem rotinas: ocupo-me muito trabalhando na cozinha, minha tarefa predileta, eu gosto de ser elogiada com os tão famosos UH!!!! VOVÓ, QUE DELÍCIA!  Embora tenha uma excelente ajudante, mais companheira que serviçal, existem coisas que são feitas, exclusivamente por mim. Para essas tarefas eu dedico dois dias alternados da semana e os outros três dias úteis, são para meu deleite – meus cursos de Redação e de Jornalismo na USP e mais dois na Casa das Rosas – Escrevivendo e Estudo sobre obras de Machado de Assis, ficando o final da semana para que eu compartilhe com meus filhos e netos.

Mesmo com toda a azáfama do meu dia a dia, meu cérebro não tem conseguido se desligar da persistente angustia causado por essa visão, que não sei dizer, com segurança, se é real ou apenas fruto de minha imaginação. Mas tenho certeza de que me sinto muito desconfortada e inibida a comprovar sua legitimidade.

Mas hoje, exatamente hoje, décimo terceiro dia, acordo com o toque da campainha do interfone e o porteiro anuncia a presença de um vizinho desejoso em falar comigo e pergunta-me se o deixa subir. Respondo que sim, porém peço que me aguarde por alguns minutos, uma vez que preciso   preparar-me para receber o visitante. Eu estava dormindo quando o interfone tocou. Rapidinho, visto uma roupa caseira e sem maiores esmeros; então, peço ao porteiro, pelo interfone, que o faça subir e como é de meu hábito, abro a porta e fico esperando.

Meu Deus! Quem é que sai do elevador? O dinossauro de ébano e marfim. Sinto uma vertigem, tudo gira ao redor e lentamente com o mais lindo sorriso já visto, aproxima-se e com voz firme, mas envolvente, diz:

      — O seu dinossauro  de ébano e marfim, está aqui.

Com um sobressalto de emoção e coberta de suor frio, acordo realmente, levanto-me e corro até a janela, e para minha mais absoluta frustração, o dinossauro de ébano e marfim, não esta ali.

Tudo não passou de uma mentira, ou fruto de minha imaginação.


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

OLHANDO ATRAVÉS DA JANELA - Leon Vagliengo

 


OLHANDO ATRAVÉS DA JANELA

Leon Vagliengo

Uma crônica do estágio urbano crônico.


A tarefa parecia simples: fotografar a paisagem através de uma janela de meu apartamento e depois escrever um texto sobre as imagens observadas. Essa proposta me fez lembrar que escolhi morar em andar alto justamente buscando uma visão panorâmica privilegiada, mas também me fez realizar que havia muito tempo, muito tempo mesmo, que eu não me detinha para apreciar a vista pelas janelas.

Para a escolha das imagens eu tinha quatro alternativas, uma para cada lado do prédio. Escolhi a que me pareceu mais promissora, uma janela voltada para o Parque do Ibirapuera, levantei a persiana e abri os vidros, preparando-me para me encantar com o que veria.

Não foi o que aconteceu.

Fiquei decepcionado ao constatar o que eu já deveria ter imaginado: No espaço onde a paisagem outrora oferecia boa amplitude e alguma vegetação, vê-se agora a prevalência quase absoluta do concreto, amontoado na forma de prédios de moradia. Nenhuma passagem visual para o Parque do Ibirapuera, como havia antes. No começo da Rua Tuim, há, sim, várias árvores. Vistas de cima, parecem um pequeno bosque. Porém, estão sufocadas pelos prédios, e parecem estar em plena e renhida batalha contra eles. Uma imagem muito estranha, provocando até, no observador, certo desconforto estético, se é que se pode dizer assim.

Tentei as outras janelas, não encontrei nada melhor em nenhuma delas, todas as paisagens com horizontes limitados pelos prédios. Voltei então para a primeira escolhida, pois a tarefa mal fora iniciada, e capturei a imagem.

A seguir, observando a foto, nela procurei alguma inspiração que alimentasse o pretendido texto. Mas o meu pensamento recusava-se a produzir ideias interessantes.

Resolvi suspender essa tarefa para aguardar um momento de maior inspiração e aproveitei para sair em busca de um presentinho para a fisioterapeuta que tem me atendido, pois ela anunciou que está esperando o seu primeiro bebê.

Andando pelas ruas de Moema, tranquilas e bem arborizadas, diluiu-se completamente aquela má impressão causada pelas imagens vistas das janelas. As ruas boas para passeios, o comércio variado e de boa qualidade, os bons restaurantes, a proximidade do Parque, tudo isso compondo um ótimo bairro para residir. Assim deveriam ser todos.

Voltando para casa examinei novamente a foto que não pode captar a antiga paisagem, prejudicada que fora pela barreira de concreto formada pelos prédios. Logo pensei nas vantagens oferecidas pelo bairro e me veio à mente o conhecido dito popular: “tudo tem o seu preço”.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Através da minha janela - Adelaide Dittmers

 

Através da minha janela

Adelaide  Dittmers


Sempre as janelas se abrem para o mundo lá fora, para a vida que corre pelas ruas, muitas vezes frenética, outras, tranquila ou carregando tristezas.

Da minha janela posso ver uma pequena amostra da minha cidade.  Avisto as cisalpinas, que nesta época do ano não estão cobertas de flores, mas mesmo assim, verdes e bonitas embelezam e refrescam as ruas. 

Vejo o céu, que ao entardecer, tinge-se de um tom azulado e rosa.

As ruas estão vazias. De vez em quando passa um carro.

Abaixo, pequenos sobrados se unem como irmãos siameses.  Num deles uma linda primavera florida sobe pelo muro, talvez querendo alcançar as nuvens, que se movem lentamente, formando inúmeras figuras.  Há um sobrado com pintura desbotada e muito maltratado.  Quem será que mora lá? Talvez uma pessoa solitária, sem condições financeiras para torná-lo mais bonito e arrumado.

Vejo também um prédio, cuja fachada está com várias falhas, pois as pastilhas que a recobrem caíram. Parece abandonado, mas pertence a uma só família, que, segundo sei, vivem lá, e é endinheirada.  Será que o descuido com ele é por causa de algum desentendimento familiar?

Mais adiante, por um pequeno pedaço, posso avistar a grande avenida, que quase corta a cidade de norte a sul.  Carros passam correndo por ela, levando pessoas de um lado para outro.  Quantas histórias carregam.  De ambições, frustrações, conquistas, esperanças.  Seus ocupantes passam indiferentes, focados nos seus objetivos. Não vêem nada em sua volta, preocupados em chegar logo a algum lugar, e para isso, mudam constantemente de faixas.   Por que tanta pressa, pergunto-me, aonde querem chegar?   Passam correndo pela vida, não a apreciam por inteiro. Agem como se fossem máquinas, não homens.

Ouço o barulho de um avião levantando voo.  Para onde irá?

Um vento fresco entra pela janela, amenizando o calor do dia.

Através da minha janela, vejo a natureza, as construções humanas e a vida que passa lá fora.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Um brinde à descoberta - Hirtis Lazarin

 



Um brinde à descoberta

Hirtis Lazarin


Olhei para o relógio e os ponteiros do relógio já marcavam 1:30 horas da manhã.  O calor era tanto que expulsou meu sono.  

Abri a janela do meu quarto e lá estava a lua cheia, cheia de beleza.  Há tempos não a via assim explodindo de felicidade.  Parecia tão perto de mim que, quando me dei conta, eu estava na ponta dos pés, braço esticado tentando apalpá-la.  Senti vergonha desse gesto tão infantil.

Lá embaixo, as ruas bem iluminadas e solitárias.  Muitas árvores copadas.  As folhas aquietadas nos galhos por conta da ausência de uma brisa que as acalentasse.

Muros de concreto, janelas de edifícios  e casas vizinhas.

Vários containers sobrecarregados com pedaços de tijolos e de madeira que já foram paredes, portas e janelas.  São histórias de famílias antigas do bairro que desabam, se misturam à espera daqueles que as enterrarão.

Meus olhos buscam e, no prédio em frente, encontro uma sacada iluminada.  A única. Fixo atentamente os olhos e distingo a figura de um rapaz.  Na mão uma garrafa de cerveja.  "Boa ideia”.  Corro até a geladeira e imito-o naquele silêncio sem o latido de um cachorro assustado, sem o pio de uma ave noturna.

Brindo sozinha a descoberta.

VIAGEM À TOSCANA - Alberto Landi

 





VIAGEM À TOSCANA

Alberto Landi

 

Quando planejei minha viagem à Toscana, procurei ficar num hotel com uma boa localização e bom visual, de tal modo que eu pudesse saborear um bom café da manhã ao mesmo tempo olhar pela janela do apartamento do hotel, a vida cotidiana da cidade de Florença. Todas as manhãs, antes de sair para visitar os locais mais pitorescos da cidade, contemplava da janela o nascer do sol.

 

Os transeuntes passeavam logo cedo pela Ponte Vecchio e pelas ruas medievais. Conforme o sol despontava, via passar os primeiros trens com o reflexo do sol no teto lustroso em alta velocidade, que saía da estação de Santa Maria Novella.  Era o Flecha de Prata seguindo rumo ao norte, em direção a Veneza, traçando um gracioso arco ao longo da zona rural da Toscana.

 

Apesar de se afastar de Florença a uma velocidade de 300 km por hora, o trem quase não fazia barulho apenas leves estalos repetitivos e seu balançar suave surtiam um efeito relaxante nos passageiros.

 

O sol nascente da Toscana começava a tocar as torres mais altas da cidade de Florença, que despertava o Campanille, a Santa Maria del Fiore e Palazzo del Popolo.

 

O ar límpido e gelado daqueles primeiros dias de março ampliava todo o espectro da luz solar que agora despontava sobre as colinas.

 

A imponência da arquitetura de Florença se sobressaía ainda mais com aquele lindo por do sol.

 

Bem no meio do horizonte erguia-se uma cúpula descomunal de telhas vermelhas com o topo enfeitado por uma esfera dourada que reluzia como um farol. É Il Duomo. Sua grandiosidade, beleza, estética são motivos de encantamento para os que contemplam.

 

Brunelleschi já dominava bem os elementos da matemática e geometria ao projetar a cúpula del Duomo.

 

Ele tinha entrado para a história ao projetar a imensa cúpula, e agora, mais de 500 anos depois, a estrutura de quase 115 metros de altura continuava de pé, um gigante inabalável na Piazza Del Duomo.

 

Os campos de lavanda e girassóis reluzia ainda mais na Toscana, naqueles dias frios e ensolarados do mês de março.

 

O rio Arno cortando o centro histórico da cidade enfeita ainda mais o cenário com suas lindas pontes.

 

Admirar o rio Arno, com suas águas esverdeadas e limpidas, é outra atração.

 

Afinal, não estou acostumado com rios limpos cruzando a cidade onde moro.

 

Então, mais do que um encanto, o rio Arno é uma paixão para muitos, inclusive para mim também.

 

Percorrer ruelas por onde circularam Dante Alighieri, Maquiavel, Michelangelo, Vasari, entre outros, são experiências marcantes e inesquecíveis que enriquecem a alma.

 

Em cada canto, uma riqueza histórica e artística.  Toscana conhecida por suas belas paisagens, densas florestas e vegetação mediterrânea incluindo a videira, carvalho, oliveira e o cipreste, sendo este a arvore sagrada dos etruscos.

 

Foi uma experiência inesquecível.

 

 

 

 

LEMBRANÇAS DO PASSADO - Henrique Schnaider

 



LEMBRANÇAS DO PASSADO

Henrique Schnaider

 

Esta foto que tirei da minha janela me remete ao passado e a vontade de fazer um conto memorialista, quando em São Paulo havia prédios apenas no centro velho de São Paulo hoje minha querida cidade não para de crescer, me lembro de uma antiga vinheta da rádio Jovem Pan, vamos embora, vamos embora olha a hora, olha a hora, deixa São Paulo crescer.

Vejo a miríade de prédios, enxergo muito ao longe o estádio do meu querido Palmeiras, clube do coração, vejo um guindaste a direita, sinal da subida vertical de mais um arranha céu, à noite o céu se ilumina com tanta luz de lusco fusco de centenas de prédios. Vejo as torres iluminadas da Band e da Gazeta.

Parafraseando o cantor da minha preferência Zeca Baleiro. Estou aqui na minha janela, não me sinto um solitário paulistano, não me sinto só sozinho, não quero dar um beijo no português da padaria e nem vou receber um telegrama nem do Aracaju nem do Alabama.

Na parte baixa da foto visualizei três casas. A da esquerda é a do Luiz e da Lúcia, ele é meu massagista e assim foi durante alguns anos toda sexta feira, lá ia eu cair nas mãos dele para relaxar e sair pisando nas nuvens.

Veio a Pandemia e ele ficou meses sem ver ninguém e faltou seu ganha pão, o aluguel vencendo o dinheiro não chegando. Aos poucos os clientes foram voltando, só que eu sou dos grupos de risco e fico quietinho na minha casa.

Da casa de frente a minha no centro, morava a Yara mulher difícil geniosa, era complicado se relacionar com ela, morava sozinha, nunca foi para a beira do fogão, recebia comida em casa, não se relacionava bem, nem com filha única.

Aos poucos foi chegando à decadência, o Alzheimer pegando, esquecia chaves, não falava coisa com coisa e dizia que todo mundo queria o mal dela e assim ela ia no candomblé fazer um trabalho contra todos. Teimava em sair com o carro não batia por milagre.

Por fim faleceu sem reconhecer ninguém e agora eu olho para casa abandonada cheia de mato crescendo e é triste de se ver.

A direita fica a casa da pimenta italiana Domênica e do marido Petras, filho de lituanos, aí eu penso que só o Brasil conseguiu esta miscigenação de raças, de povos imigrantes vindos de todos os cantos do mundo.

Eu me relaciono bem com eles, ajudamo-nos mutuamente nas horas de necessidade. Domênica é cozinheira de mão cheia e vira e mexe lá vem ela, toca a campainha toda sem graça me trazendo macarrão com porpeta e outros pratos da cozinha italiana.

Como sou chegado na cozinha e o Petras também, ficamos trocando figurinhas, eu faço pratos da cozinha judaica, levo para ele e tenho a retribuição dele, trazendo para mim da cozinha lituana.

Enfim com tudo que eu vi da minha janela, me sinto feliz pois não estou só sozinho e nem sou um solitário paulistano, pois tenho muitos amigos onde moro e curto eles sempre que posso.

 

Da janela - Ana Catarina Sant'Anna Maués

 



Da janela

Ana Catarina Sant'Anna Maués

 

   Da janela lateral do meu quarto, eu o vejo todas as tardes. De onde virá? Para onde irá?

   Será que carrega algum empresário famoso? Será que disfarça malotes de dinheiro sujo? Talvez seja contrabandista de armas?  Não, não, por certo derrama todas os dias pétalas de rosas para alguma amada?

   São tantas indagações todas as vezes que o contemplo reluzindo ao sol, mas hoje ouso apostar que ele passa para me ver, observar minha janela lá de cima, pois eu aceno todas as vezes e ele, por certo, já espera por isso, não conseguindo mais viver sem essa visão.

   Do alto ele não enxerga meus cabelos alvos em neve, nem as maçãs enrugadas do meu rosto, mas nem por isso menos ruborizadas com a ansiedade de um dia ele chegar próximo e trocarmos juras de amor com olhinhos faiscantes de emoção. 

 Eu e meu piloto desconhecido mantemos um elo, a altura não é empecilho  para a paixão.

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