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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM - Do Carmo

 

                    

UM DINOSSAURO DE ÉBANO E MARFIM

Do Carmo                                                             

Hoje, exatamente hoje, está completando treze dias que este mal-estar começou. Sempre que acordo, abro as janelas de meu apartamento, porém nunca esse ritual incomodou-me como me perturba agora, pois lá está ele: o grande dinossauro, meio de ébano e meio de marfim; olha-me, mostra-me seus dentes bem enfileirados e retorna a costumeira postura: sentado caprichosamente e com negligência repousa seu vigoroso corpo e lá fica até que outra vez eu abra as janelas para um outro angustiante dia.

Como estou aposentada, procuro manter um planejamento diário diversificado, tenho meu dia movimentado e sem rotinas: ocupo-me muito trabalhando na cozinha, minha tarefa predileta, eu gosto de ser elogiada com os tão famosos UH!!!! VOVÓ, QUE DELÍCIA!  Embora tenha uma excelente ajudante, mais companheira que serviçal, existem coisas que são feitas, exclusivamente por mim. Para essas tarefas eu dedico dois dias alternados da semana e os outros três dias úteis, são para meu deleite – meus cursos de Redação e de Jornalismo na USP e mais dois na Casa das Rosas – Escrevivendo e Estudo sobre obras de Machado de Assis, ficando o final da semana para que eu compartilhe com meus filhos e netos.

Mesmo com toda a azáfama do meu dia a dia, meu cérebro não tem conseguido se desligar da persistente angustia causado por essa visão, que não sei dizer, com segurança, se é real ou apenas fruto de minha imaginação. Mas tenho certeza de que me sinto muito desconfortada e inibida a comprovar sua legitimidade.

Mas hoje, exatamente hoje, décimo terceiro dia, acordo com o toque da campainha do interfone e o porteiro anuncia a presença de um vizinho desejoso em falar comigo e pergunta-me se o deixa subir. Respondo que sim, porém peço que me aguarde por alguns minutos, uma vez que preciso   preparar-me para receber o visitante. Eu estava dormindo quando o interfone tocou. Rapidinho, visto uma roupa caseira e sem maiores esmeros; então, peço ao porteiro, pelo interfone, que o faça subir e como é de meu hábito, abro a porta e fico esperando.

Meu Deus! Quem é que sai do elevador? O dinossauro de ébano e marfim. Sinto uma vertigem, tudo gira ao redor e lentamente com o mais lindo sorriso já visto, aproxima-se e com voz firme, mas envolvente, diz:

      — O seu dinossauro  de ébano e marfim, está aqui.

Com um sobressalto de emoção e coberta de suor frio, acordo realmente, levanto-me e corro até a janela, e para minha mais absoluta frustração, o dinossauro de ébano e marfim, não esta ali.

Tudo não passou de uma mentira, ou fruto de minha imaginação.


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