A GRANDE JORNADA - CONTO COLETIVO 2023

AINDA HÁ TEMPO PARA AMAR - CONTO COLETIVO 2011

FIGURAS DE LINGUAGEM

DISPOSITIVOS LITERÁRIOS

FERRAMENTAS LITERÁRIAS

BIBLIOTECA - LIVROS EM PDF

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Um farol no meio da escuridão - Hirtis Lazarin


Um farol no meio da escuridão
Hirtis Lazarin

Estamos em pleno verão.  A estação que nos permite quebra- de- regras.

          Lá fora o sol imponente e poderoso pinta o mundo misturando todas as cores.  Alguns raios bem atrevidos invadem meu quarto, através de pequenas frestas na velha janela de madeira.  Caminha e estaciona sobre meus olhos.  Acordo num segundo.  Salto da cama com a agilidade e a leveza da garça e com a alma embebida de paz.

          Prendo meus cabelos  num rabo-de-cavalo, visto um jeans surrado, desbotado e cortado na altura dos joelhos, uma regatinha branca, básica, deixando à mostra, no meu ombro, tatuagem de pássaro em pleno voo, símbolo da minha liberdade.

          Já que tenho a pele clara e sardenta, lubrifico com protetor solar as partes desprotegidas.

         Há muitos meses, evito contá-los, moro num povoado de pescadores na costa de Maine, pedacinho do céu, em terras da Nova Inglaterra.

          Esgotei-me com a vida agitada, com o corre-corre que não nos leva a lugar algum, com  a violência gratuita, o consumismo desenfreado imposto pela mídia, a vida informatizada.  Sentia-me um robô com alma romântica, que ainda sonha, que gosta do abraço apertado, do beijo generoso, da amizade que não finge.  Fui sendo tomada por uma tristeza sem fim, nesta São Paulo tão grande, tão numerosa de gente sem troca de olhares, nem de palavras, pessoas que se aprisionam em casa, priorizando a comunicação virtual.  Celulares enviam mensagens e pensamentos.  Mas celulares não têm voz, não têm cheiro, não têm toque.

          Uma vontade imensa de mudar de roupa por dentro e por fora.  E essa vontade se tornou mais poderosa e convicta dentro de mim quando, de repente, não mais que de repente, partiu meu companheiro e amigo, o homem que elevava minha autoestima nos momentos de fragilidade. Foi embora, e dessa viagem não voltará jamais.

          Vivendo nesse inverno tão rigoroso, virei-me no avesso e descobri que ali dentro havia um verão indomável.  Acreditei nessa força interior e rompi com tudo e com todos.  Vendi meu apartamento, meu carro, organizei um bazar com minhas melhores roupas. Juntei o dinheiro que me foi possível juntar.  Desmontei minha casa e tudo foi transportado por caminhão baú à instituição de caridade.

          Rasquei cartas e fotografias, rasguei cartões de natal que colecionava desde menina. Chorei bastante.  Conservei apenas meu notebook, livros e a grande vontade de viver uma vida simples.

          Pesquisei na internet, visitei agências de turismo e vim parar aqui, nesse simpático vilarejo de pescadores que sobrevivem da pesca da lagosta.

          Ocupo um pequeno espaço anexo à casa rústica e aconchegante do casal, Mary e Bob, amigos verdadeiros que conquistei aqui.

          Fica bem próximo ao Port Head Light, um dos sessenta faróis em atividade que permeiam a costa atlântica de Maine, costa extremamente rochosa, mar de águas rasas e gélidas, propícias à criação e reprodução de lagosta.  Os faróis são estrelas na terra, orientando com seus fachos de luz, os marinheiros na escuridão da noite.

          Durante o verão, turistas de todos os cantos passam por aqui.  O Port Head Light é o farol mais visitado e fotografado, por conta da facilidade que se tem pra chegar até ele.

          Vivendo aqui, aperfeiçoei meu inglês que era só de livros.  Não temos rotina.  Gente nova e interessante aparece a toda hora.

          Quando cheguei, confesso, tive meus momentos de tristeza, solidão e recordação.  Sentava-me a beira-mar e ouvia sua voz sedutora, que sussurra, que murmura, que fala e nos convida a mergulhar em suas ondas e adentrar  seu abismo sem fim.

          Caminhava pela praia entre areia e espuma.  A maré alta apagava minhas pegadas e o vento forte diluía a espuma.  Mas o mar, a praia e eu permanecíamos.

          Nunca deixei o arrependimento tomar conta de mim... Não conseguiu por mais que tentasse.  Eu dava a mim mesma, o tempo que fosse necessário à adaptação à nova vida. Eu tinha certeza de que ali seria mais feliz.

          Bem, Bob saiu bem cedinho em busca do ganha-pão.  Mary e eu tomamos o "breakfast" juntas todos os dias.  Formou-se entre nós uma amizade sem interesses, aquela que não se rompe quando os pensamentos são diferentes.  Nossa amizade segura a barra, segura a mão e a ausência, segura uma confissão, um tranco e um palavrão.  Nossa amizade se traduz num conforto indescritível, faz sentirmo-nos seguros sem pesar o que se pensa, nem medir o que se diz.  Vivemos numa cumplicidade que não se explica, apenas acontece.

           Hoje é dia de abastecer nosso estoque de alimentos.  Pego o meu jipe cor de exército e lá vamos nós duas às compras até a cidadezinha mais próxima.


           Antes da volta, um compromisso:  passar na doceria da amiga Daisy.  Ninguém passa por Maine sem saborear a torta de mitilo selvagem com chantily fresco e beber Moxi, o refrigerante oficial do Estado. 

As duas baratas luminosas -Jorge da Paixão



As duas baratas luminosas
Jorge da Paixão      

Quando cheguei em casa e abri a porta, bem no meio da sala estavam duas baratas!
Imediatamente corri pala pisá-las. Mas, elas foram mais  ligeiras e entraram na greta da porta sumindo...
Pensei, Que coisa diferente, as duas são luminosas, uma dourada e a outra prateada!
Subi para meu  quarto, sentei na cama, e quando  fui tirar os sapatos,  para minha surpresa,  as duas estavam em cima do criado mudo! Rapidamente pequei o chinelo para matá-las. Mas, elas pularam para baixo da cama e sumiram.
Trinta minutos depois quando me sentei à mesa do computador, lá estavam elas sobre ele, peguei uma toalha, ligeiro, para batê-las, mas, ela voaram pela janela e sumiram no infinito.
À noite quando fui dormir, sonhei com as duas fantásticas baratas, as luminosas, uma prateada e a outra dourada. A prateada primeiro se apresentou e disse:  Meu nome é Amor. E a outra imediatamente também se a presentou: Meu nome é Felicidade.  Residimos no país  da  Harmonia, na cidade da Esperança que fica no estado da Paz. Viemos aqui somente para lhe agradecer pelas belas poesias que você faz com nosso  nome ! Deixamos também um beijo para seu coração pelas inspirações!
Voaram pela janela e sumiram no infinito.
Foi quando acordei com o  despertador tocando uma linda canção...




Poesias - Jorge da Paixão

 




As flores significam vida
Jorge da Paixão      

A aurora vem trazendo
Um novo dia no horizonte
Estar no jardim florescendo
Lindas rosas neste instante

As flores surgem na vida
Todo dia, toda hora
É a Natureza enriquecida
De amor, que é a sua glória 

Uma rosa amarela
Se abriu, bem cedinho
Magnifica e tão singela
Perfumando meu caminho

Com a rosa branca sonhei
Desabrochando no jardim
Depois feliz acordei
Sentindo paz dentro de mim

No jarro uma rosa vermelha
Mensageira da paixão
Carinhosamente assemelha
Com a cor do meu coração 

Divina e maravilhosa
Lá no jardim da saudade
A rosa, cor de rosa
É tradução da verdade



Maravilhosa é a vida    

Jorge da Paixão     

Vida é existência.
Existência é verdade
O amor é uma ciência
Que constrói felicidade

Vida é pompa da alegria
Que traduz felicidade
Inspirando a poesia
Na sombra da saudade

Tudo que existe é vida
É uma simples realidade
Entre as flores a margarida
Estar sorrindo com humildade

A vida é uma canção
Os anos um instrumento
Que toca o coração
Feliz a todo momento

Maravilhosa é a Vida
Filha da Natureza
Pelo Sol sempre aquecida
Para realçar sua beleza.



O amor abençoado
Autor: Jorge da Paixão    

Dever é obrigação
Com toda espontaneidade
Para sentir no coração
A paz com naturalidade   

Quem tem pressa de chegar
O pensamento ultrapassa
Impaciente fica a contar
Cada segundo que passa

Na fila se segue em frente
Para depois lá chegar
E logo provavelmente
O objetivo alcançar

Promessa é juramento
Juramento é palavra
Palavra é cumprimento
Da verdade que se fala

Cada rio tem seu nascente
Com sua água a jorrar
E depois caudalosamente
Vai correndo para o mar 

O impossível acontece
Quando é bem planejado
E no coração floresce
O amor abençoado.


A poesia é uma menina 
Jorge da Paixão       

Um jarro florido na mesa
Perfumando o meu lar
É a poesia com certeza
Feita para me inspirar  

Um pedacinho de céu
Mais gostoso da minha vida
Com sabor doce de mel
É a minha poesia querida 

A poesia é uma menina
No meu coração a brincar
Com a esperança cristalina
Que vivo tanto a sonhar   

O paraíso da minha poesia.
É perfumado como a flor
No jardim da harmonia
Decorado de amor 

A poesia me consola
E me dar inspiração
Quando toco minha viola
Ameniza minha paixão.



Deus é minha procedência
Jorge da Paixão    

O amor é uma luz.
De dimensões colorida
Que meu coração seduz
E ilumina a minha vida 

Beleza é uma coisa rara
Que muita gente não tem
Algumas, tem ela na cara
E outras, é na alma que tem

Vou vivendo no embalo
Da felicidade com amor.
Enfrento qualquer obstáculo
Resoluto sem temor  

Todo dia quando acordo
Sinto renovado, o coração
Do passado me recordo
Com profunda gratidão

Bem me quer, eu agradeço
Mal me quer, Eu digo não
O amor nunca tem preço
Pois, pertence ao coração   

Deus, é minha procedência
Ele é minha proteção
Nesta minha existência   
Sinto paz no coração.



O sorriso é uma ladainha
Jorge da Paixão       

Eu não vivo aqui sozinho
Porque Deus é meu abrig.
Sigo firme em meu caminho
E o amor segue comigo

Vou expulsar do coração
Algo muito impertinente
Essa tal de ilusão
Que da verdade é oponente 

O amor é uma grandeza
O coração um tesouro
Que guarda essa riqueza
Num vasilhame de ouro     

O sorriso é uma ladainha
Oração de felicidade
Que o coração encaminha
Numa expressão de bondade   

O coração que tem amor
E nele firme persiste
É um jardim cheio de flor
Aonde a felicidade existe

Beleza é coisa bonita
Que causa admiração
É muito bom para a vista
E faz feliz o coração.



A fé é uma certeza
Jorge da Paixão   

Quero viver na verdade
Pois Deus condena a mentira
O adultério, a falsidade.
A reclamação e a ira

No meu coração o amor
Compassado vai batendo
Cheio de ternura e calor
Minha esperança aquecendo

Não tem coisa mais sublime
Na verdade que o amor
É um conteúdo sublime
Da vida o precioso valor 

É por Deus abençoado
Para a Natureza iluminar
Os raios do Sol dourados
Expressão do verbo amar  

Enxergo uma luz divina
No fim do túnel a brilhar
É a esperança cristalina
Para meu sonho realizar    

A fé é uma certeza
A grande convicção
Radiante de beleza
que habita o coração   

Sentir felicidade
É ter paz no coração
Na Perfeita liberdade
Com amor e gratidão.



O meu reino encantado
Jorge da Paixão       

Eu venho lhe convidar
Para ser meu grande amor
E nós dois ir passear...
Num jardim cheio de flor

Venha ser a minha luz
Que serei o seu brilho
Na estrada que conduz
O amor em estribilho   

É um convite á secreta
Que estou a lhe fazer
Viajarmos em linha reta
Pela estrada do prazer

Sentiremos no coração
O verdadeiro calor
Na mais perfeita união
Alicerçada de amor  

Iremos colher abraçados
Flores maravilhosas
No jardim dos sonhos dourados
Perfumado pelas rosas   

Passear pela campina
Onde pastam os carneirinhos
Depois subir na colina
Aonde cantam os passarinhos

O meu reino encantado
Será o seu coração
Se um dia eu for contemplado
Sentirei essa emoção.



Meu amor lhe ofereci
Jorge da Paixão     

Maravilhoso é o sentimento
Da pessoa que sabe amar
Sentindo á todo momento
A felicidade chegar 

Quando existe confiança
Engrandecido é o amor
Iluminado de esperança
Para um futuro promissor

A singeleza da flor
É igual uma paixão
Desabrochando com ardor
O amor no coração       

Meu jardim é sempre assim
Bem florido e perfumado
Uma ternura sem fim
Que me deixa embriagado    

De maneira muito quente
Invadiu meu coração
Um amor super excelente
Que depois virou paixão  

Meu amor lhe ofereci
Mas, ela não aceitou
A desilusão que senti
Minha esperança apagou.



A flor no jardim é eterna
Jorge da Paixão          

A esperança invisível
Brilha no meu coração
De maneira bem sensível
Me trazendo inspiração  

Rosa...Desenvoltura do amor
Que desabrocha sorrindo
Seu perfume trás o odor
Que a Natureza vive sentindo

Brilha o Sol por trás da gruta
Esplendoroso no oriente
Meu coração é uma fruta
E o amor sua semente   

Como é maravilhoso
Poder acordado sonhar
Com um amor fabuloso
Que se deseja realizar     

A flor no jardim é eterno
Mas, a sua vida não
Desabrochando sempre esbelta.
Seu perfume é oração





quinta-feira, 6 de novembro de 2014

TEMPOS MODERNOS DA BUROCRACIA - M.luiza de C.Malina



TEMPOS MODERNOS DA BUROCRACIA
M.luiza de C.Malina

A tecnologia avançada, o foguete, o celular, Google, toda a modernidade não serviu para facilitar nada, ao contrário, veio para dificultar toda a nossa vida que era mansa e previsível.

Pagar uma conta, por exemplo. Meu Deus! Sim, só clamando Ele para que permita que nossa paciência não se evapore, como a pouca água nas ressecadas represas.

Alguém vai dizer, coloca suas contas em débito automático! Débito automático, jamais! Deste mal já me livrei. Sou mais a moda antiga. Mas, para não me passar por tão antiquado, aceito o uso da internet, que tem lá os seus cuidados.

Muito bem. Aí vem a “coisa”. Viajei, viajei bem. O pensamento de quando retornar acerto tudo, não é seria problema. Vou pagar os juros que provavelmente virão na próxima conta.

Lá fui eu ao Banco mais popular da cidade pagar a tal conta, conforme instruções.

- Senhor, desculpe não posso receber e nem calcular a multa.

Pareceu-me engano, já que estava eu no Banco Popular para pagar uma conta cujo boleto é do próprio Banco Popular.

- Senhorita, a multa virá na próxima conta, está escrito aí.

A caixa olha para o papel, como se estivesse frente a um marciano e arguiu:

- Senhor, o Banco não possui caixa habilitado a fazer este tipo de cobrança, use a Internet.

- Srta. Eu preciso pagar isto! Estou aqui justamente porque, o título está vencido e a Internet não o recebe, fui orientado a vir direto ao caixa do Banco Popular, pela própria empresa, digo, pela atendente computadorizada. E, aqui estou.

- Sinto muito senhor. Tente pagar esta conta no Supermercado LevaFour até às 19:00 horas, uma vez que eles possuem caixa de cobrança.

Desanimado, lá fui eu, pensando pelo caminho. A que ponto chegamos! Um supermercado recebe o boleto de um Banco Popular. E, o que faz este Banco, apenas recebe e lucra com os clientes?

Bem, acredito que vou guardar o dinheiro no colchão.

No LevaFour.

Quantos caixas e que fila!  Bem, é melhor perguntar se isto está certo,  se posso pagar aqui.

- Sim. O senhor pode dirigir-se a qualquer caixa. Incrédulo, lá estava eu, apresentando meu boleto ao caixa.

- O que o senhor deseja?

- Pagar esta conta – outra que olha o papel como se estivesse decifrando uma análise de urina.

- Não posso receber. O senhor precisa ir ao Banco Popular.

Minha paciência estava pedindo muletas ao Deus.

-  SenhoritAA! Acabei de chegar do Banco e fui orientado a pagar neste local, porque eles não tem caixa de cobrança.

- Ora, senhor, se o senhor esteve lá, por que eles não cobraram ou calcularam a multa? - minha paciência estava no limite de olhos esbugalhados e boca salivando. Era mais uma que estava analisando letras que não conseguia entender.

- Sem oras, minha filha, aqui está escrito que a multa virá na próxima conta. – disse batendo o indicador no papel sobre a informação - Por favor, é só receber. Aqui está o dinheiro, uma nota sobre a outra, não tem sequer troco.
- Ah! Um momento. Vou apertar o botão, a luz vai acender e a gerente já vai chegar.

Enquanto isto a fila crescia e via os clientes resmungando e virando bocas,“principalmenteaqueestavaatrásdemimquejáhaviadescarregadotodooocarrinho”. 

Eu já estava no limite.

Mais uma pergunta, uma só, acredito que me transformaria em “Hulk”.

Para minha surpresa, a gerente chega mais rápido do que eu pensava, deslizando corredor afora em cima de patins, equipada com um belo capacete.  Ouve, dá clique, e ordena:

- Pode receber o valor que está aí. A multa virá na próxima conta. Você deveria ter lido as instruções. – Sem mais nenhuma palavra, retorna ao seu deslize levando minhas nuvens no embalo dos patins.

A verdade é que você cai numa rede, tal qual um peixe e não consegue sair, nem sequer comprar um McInfeliz, se o sistema cai.

A burocracia é que deveria estar sobre os patins, porque eu, pobre eu, já estava de patins na rampa, à beira de um colapso.


Resíduos - Jany Patricio



Resíduos  
Jany Patrício                   

        
Acordei cedo naquela quarta-feira. Levantei com cuidado para não incomodar Marcio. Calcei os chinelos e com um casaco sobre o pijama fui até o portão para deixar o lixo. Fazia frio. O sol tentava furar a neblina. Vi que a luz da casa em frente estava acesa e percebi que a cortina da sala se mexia.

            Aquela vizinha tinha o poder de me irritar. Certamente estava me espionando. Ela nunca aceitou a separação, e muito menos que Marcio e eu estivéssemos juntos.

            Foi há cinco . Eu havia me mudado para esta casa que comprei com as minhas e economias e um financiamento bancário. Numa sexta-feira  parei o carro em frente ao portão. Ao chegar na garagem o motor parou de funcionar. Tentei ligar várias vezes, mas não funcionava, ficando o automóvel atravessado na calçada.

            Neste momento, chegava Márcio para buscar seus dois filhos para passarem o final de semana com ele, como havia determinado o juiz durante a separação do casal. Ofereceu-me ajuda. Relutei um pouco, mas aceitei quando percebi que as crianças correram em sua direção e o abraçaram.

            Num instante ele conseguiu ligar o veículo. Fiquei um pouco constrangida, mas dei um sorriso e agradeci.

            Semanas após, no mesmo horário, eu não havia puxado direito o freio de mão do meu carro  movimentou-se, e bateu no carro dele, amassando a lateral. Ele balançou a cabeça negativamente e sorriu.

Eu me ofereci de pronto para pagar o reparo e foi nesta transação que começamos a conversar e estamos unidos até hoje.

           Mas ela não aceita, e inferniza nossa vida. Faz de tudo para colocar os filhos contra ele. Tentou impedi-lo de vê-los. Inventa calúnias.          
 
            Agora achou de vascular o lixo. Logo nesta viela que a vizinhança é tão educada e deixa tudo organizado para facilitar o trabalho dos garis.

Ela abre o lixo orgânico, o reciclável. Tudo!

            O que ela pensa que vai encontrar lá?

            O pior é que deixa tudo espalhado pela calçada. Então, vêm os cachorros de rua e os pombos, e terminam o serviço!

            Ah meu Deus, eu não sei mais o que faço! O pior é que não consigo pegá-la em flagrante.

            Mas já combinei com os outros vizinhos que vamos instalar uma câmera de vigilância na rua. Aí ela não escapa!



A OUTRA - Another Woman - (Woody Allen 1988)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ah! Os faróis de Maine... - Dinah Ribeiro de Amorim


Ah! Os faróis de Maine...
Dinah Ribeiro de Amorim

  Maine, uma bela cidade litorânea dos Estados Unidos, além das belezas naturais e das incríveis construções, tem uma enorme produção de lagostas em suas águas, tornando-se a grande riqueza econômica da região. Atrai inúmeros turistas, e pessoas interessadas nesse tipo de comércio. A movimentação de embarcações em seu porto é grande, por causa disso há cerca de sessenta faróis que iluminam suas noites, cruzando os ares com suas luzes, orientando nos mares bravios os navios mais tardios. Seu observatório é um dos mais altos e poderosos do mundo.

  Neste lugar encantador, aportou um dia, Richard, um robusto rapaz holandês, muito louro, bonito, que apaixonando-se pelo local, acabou se estabelecendo na pensão da simpática Shirley, e sua filha Nancy de dezesseis anos, muito desenvolvida para a idade, aparentando ser mais adulta.

Richard e Nancy, atraídos mutuamente, logo travaram grande amizade. Combinavam passeios, trocavam palavras desconhecidas, aprenderam um a linguagem do outro.

Numa bela noite enluarada, dessas que não se consegue ficar em casa, resolveram ir até o cais, observar os faróis.

Caminharam até o observatório da ponte, subiram seus inúmeros degraus, chegando cansados, ao ponto mais alto. Maravilhados com aquele encontro de luzes, águas negras batendo nas rochas em forma de espumas brancas, semelhante a flocos de neve faiscantes, como se as estrelas do céu estivessem refletindo seu brilho dentro do mar, perceberam uma pequena embarcação chegando, calmamente, aproximando-se do ancoradouro.

  Olhando mais atentamente, reconheceram o barco de Mestre William, um dos pescadores locais, chegando tardiamente e pouco iluminado. Preocupados, supondo que poderia estar ocorrendo algo anormal, avisaram a guarda costeira que logo o iluminou com seus faróis, tornando totalmente visível a embarcação.

Ah! Os faróis de Maine!

Sessenta faróis iluminando em cheio o barco de Mestre William, era como se tivesse nascido o dia!

Assustado, Mestre William, apareceu no convés, seguido de uma mulher desajeitada, com os cabelos desalinhados, tentando rapidamente se compor. Muito sem jeito, o Mestre fez um sinal com as mãos, avisando a polícia que estava tudo bem.

Saíra apenas para um pequeno passeio com a namorada – pensou - e logo ficou todo a descoberto.

  Nancy e Richard, com gargalhadas maliciosas, desceram rapidamente as escadas, loucos para contar a nova fofoca da cidade: o namoro de Mestre William com uma desconhecida.

  Ao entrarem em casa, procuraram por Shirley, mãe de Nancy, acreditando que ela amaria saber o que haviam feito. Shirley era louca por uma piada!  Mas, não a encontram. Chamaram seu nome e, nada. Esperaram na sala e, meio sem jeito, apressada e desarrumada, de olhos baixos, depararam à porta com uma Shirley tímida, envergonhada, que correu para seu quarto.


O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA - Pedro Henrique

  O SEGREDO DE UMA LÁGRIMA Pedro Henrique        Curioso é pensar na vida e em toda sua construção e forma: medo, terror, desejo, afet...